quinta-feira, outubro 04, 2012

A turma do Zé - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 04/10


O julgamento do mensalão começa a rachar o Campo Majoritário do PT em dois grupos: o que considera importante e necessário a presidente Dilma Rousseff sair logo em defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu antes do voto dos outros magistrados do STF e aquele que acha mais acertado a presidente manter uma distância segura do julgamento. Essas duas facções vão, sem sombra de dúvida, se digladiar dentro do maior grupamento petista tão logo terminem as eleições municipais.

Até agora, ninguém ouviu uma avaliação pública de Dilma sobre o julgamento. E, se depender daqueles que a rodeiam, ela não falará tão cedo sobre esse tema. Afinal, Dilma é presidente da República e “meter o bico” (para usar uma expressão que está na moda) no julgamento feito em outro Poder não é aconselhável. Dentro do núcleo petista mais próximo de Dilma, formado basicamente por seus ministros, há a certeza de que ela ajuda mais o partido trabalhando nos projetos governamentais do que tratando do mensalão. Ontem, por exemplo, o balanço do Brasil Carinhoso feito no Planalto dividia espaço de capa dos principais dos sites de notícias, nos quais o destaque no fim da tarde era o voto do relator Joaquim Barbosa pela condenação de Dirceu, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.

O grupo de Dirceu considera esse comportamento de Dilma equivocado. Em conversas reservadas, “a turma do Zé”, apelido dos petistas ligados ao ex-ministro, afirma ser ingenuidade política a presidente achar que sobreviverá ao tsunami que se abate sobre o PT a partir do julgamento do mensalão neste momento de eleições municipais. E que ela erra ao se deixar embalar pelos altos índices de popularidade.

Esses amigos do Zé construíram inclusive uma ópera em três atos tentando prever o futuro. O primeiro ato começou ontem e, calculam esses petistas, se encerrará com a condenação de Dirceu pelo colegiado do Supremo Tribunal Federal. O segundo ato será um movimento para atingir Lula. Não por acaso, volta e meia alguém diz, “se tudo isso aconteceu, como é que Lula não sabia de nada?”. Cumprida essa etapa, a luz do terceiro ato recai forte sobre a presidente Dilma Rousseff. Sem muito jogo de cintura para lidar com aliados e garantir uma maioria no Congresso, ela entrará 2013 duramente atacada no principal atributo que o presidente Lula apresentou ao eleitor para trabalhar a candidatura dela em 2008: a capacidade gerencial. E, assim, Dilma perderá musculatura.

O grupo dos amigos de José Dirceu avalia que não será difícil a oposição — tão logo termine o julgamento do mensalão e as eleições municipais — começar a bater pesado nas paralisações dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um conjunto de obras de infraestrutura que a privatização — das rodovias, por exemplo — já deixou menor do que o lançado originalmente. Dentro dessa perspectiva de ataques diários à gestão por parte dos oposicionistas e com os aliados migrando para outros projetos, a turma do Zé acredita que o fim desse enredo será uma queda na popularidade presidencial e uma vitória da oposição.

A turma de Dilma, entretanto, considera essa visão pessimista fruto da imaginação daqueles que hoje vivem uma tragédia e tentam transportar as agruras para todo o PT e o governo. Como já bem deixou claro o deputado André Vargas (PT-PR) dia desses a esta coluna, “as pessoas em julgamento têm CPF, e não CNPJ”. E Dilma vem trabalhando os fundamentos da economia nacional de forma prudente, logo, não é seguro que sua popularidade vá desabar.

Apostas à parte, é dentro desse clima de guerra interna entre facções mais afeitas ao estilo Dilma e outra a José Dirceu é que se darão as próximas reuniões petistas, em especial a de 10 de outubro, quando o partido fará uma avaliação dos resultados eleitorais e da Ação Penal 470. Não por acaso, há quem defenda a candidatura de Lula a presidente pelo Partido dos Trabalhadores em 2014, se a saúde do ex-presidente permitir. É que Lula é hoje o único ser petista que paira absoluto sobre todos os grupos. Dilma conquistou mais simpatias para seu governo perante o eleitor, mas, dentro do PT, esse pódio ainda é de Lula.

Enquanto isso, na Avenida Paulista…

Há tempos São Paulo não vive uma disputa municipal tão acirrada, na qual ninguém é capaz de dizer ao certo quem irá para o embate final. Celso Russomanno, José Serra, Fernando Haddad e até Gabriel Chalita, do PMDB, que pega uma onda tardia de conquista de votos, passam por um teste de nervos. O tempo de hoje até 7 de outubro parecerá uma eternidade para esses quatro cavaleiros. Que vença o melhor.

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