sexta-feira, setembro 28, 2012

Mulher nua - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 28/09
Não houve unanimidade: os leitores do jornal que escrevem cartas dividiram-se no julgamento da capa de revista que mostrou, pela primeira vez na imprensa brasileira (não posso garantir, mas muito provavelmente também foi fato inédito na história da imprensa séria internacional), a genitália feminina.
A reação teve dois capítulos. No primeiro dia, foram 17 cartas de leitores: 14 condenaram a audácia da capa e apenas três a aplaudiram. No dia seguinte, foram seis a favor e cinco contra. Parece evidente que a foto da capa atingiu o que me parece ter sido o objetivo dos editores: abrir um debate sobre conceitos e preconceitos do respeitável público.

O que está em questão são, simplesmente, os padrões de comportamento da sociedade em que vivemos - e que são, indiscutivelmente, diferentes daqueles de nossos pais. A nudez sempre esteve presente em quadros e esculturas da civilização ocidental.

O que se viu na capa da revista está presente em museus do mundo todo. E ninguém se ofende com isso.

Leitores do jornal que condenaram a capa da revista - e tinham, claro, o direito a isso - falaram em mau gosto e falta de respeito. Os que a defenderam argumentaram que a nudez feminina está presente em nossa sociedade, nos museus e no carnaval, há muito tempo - e ninguém se ofende com isso.

É verdade que ainda não se vira isso na capa de um jornal importante e de grande circulação. Mas não foi a foto do GLOBO que levou a beleza de uma jovem nua para as casas de família. Já convivemos com a nudez há muito tempo - e ninguém se ofende com isso.

Curiosamente, a condenação de leitores não incluiu um argumento: por que não mostrar também a nudez masculina? A resposta para isso poderia ser que está combinado, nesta nossa sociedade machista, que mulher nua é algo muito mais bonito do que homem nu. E, sejamos francos: é o que a gente acha mesmo.

No cinema, no teatro e nos desfiles de carnaval, a nudez feminina é vista e aplaudida há muito tempo. E nunca se ouviu algum protesto contra a ausência de machos pelados. No fim das contas, a audácia do jornal teve duas consequências positivas: mostrou uma mulher bonita e abriu um debate interessante e até importante. O que é uma das missões da imprensa. 

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