O GLOBO - 01/07
No recente debate promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso sobre as tendências globais para 2030, ficou patente que o Brasil está bem posicionado para o futuro. O empresário Roberto Teixeira da Costa escreveu para o próximo numero da revista Política Externa um artigo onde relata os principais pontos do debate, do qual participaram representantes do ESPAS – European Strategic and Policy Analysis; da ISS – European Union Institute for Securities Studies; The Office of the Director of National Intelligence dos Estados Unidos; e do Atlantic Council.
O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas no Rio, apresentou informações e projeções sobre o crescimento das classes C e D na economia brasileira que confirmaram o Brasil como partícipe de um importante movimento de inclusão social e emergência da classe média que vem sendo registrado no mundo nos últimos anos, especialmente na Ásia.
Teixeira da Costa avalia que “se nos detivermos em alguns outros temas levantados pelo estudo do Global Trends 2030, podemos constatar que o Brasil tem vantagens competitivas e comparativas naquele cenário e em alguns deles, nossa posição continuará diferenciada”.
Além da mobilidade social acentuada, não corremos o risco de ter uma escassez de alimentos, pois temos ainda um grande potencial de áreas agriculturáveis, alta produtividade no campo e um quesito básico: a água, que os analistas identificaram como produto escasso que gerará conflitos.
Na questão energética, com nosso potencial hidroelétrico, pré-sal, energia eólica, tudo indica que não teremos problemas nesse setor, analisa o empresário.
Os brasileiros têm mostrado excelente resposta às novas formas de comunicações. Dos mais de 901 milhões de usuários ativos doFacebook, 500 milhões acessam a rede social em aparelhos móveis.
Somos o segundo país com maior número de usuários totais (46 milhões), e ocupamos o sexto lugar entre os que mais usam o site em smartphones, tablets e outros dispositivos móveis, segundo a empresa de pesquisa Socialbakers.
O país fica à frente de Alemanha, França e Canadá em milhões de usuários móveis. A Índia, que recentemente perdeu a segunda posição em acessos totais para o Brasil, ocupa a terceira posição.
O policentrismo será acompanhado por um maior poder conferido à Ásia, onde metade da população mundial estará concentrada em 2030.
Projeta-se que a China terá 19% de participação do PIB mundial e será a maior potência mundial.
A Índia continuará crescendo e poderá tornar-se um exemplo bem sucedido de crescimento sustentável nas próximas duas décadas.
Portanto, haverá uma mudança do atual poder mundial dos USA, Europa e Japão, dependendo, é claro, da duração da atual crise mundial e do seu impacto em suas economias e de quanto tempo a Rússia levará para modernizar-se.
Ao redor de 2030 a Ásia estará a caminho de retornar a ser a potência mundial que era antes de 1500. Os Estados Unidos continuarão sendo a maior potência militar mundial, mas estima-se que a capacitação da China nessa área irá ampliar-se.
Uma constelação de países, incluindo Indonésia, Turquia e África do Sul vai tornar-se mais proeminente, como é o caso do Brasil hoje.
O México, superando o problema da segurança interna e dos narcotraficantes, estará nesse grupo. O National Intelligence Council dos Estados Unidos identificou 16 tecnologias capazes de mudar paradigmas (“disruptive tecnologies”) com potencial de ter significado global até 2030 nos setores de energia, alimentos, água etemas relacionados a inovação, comportamento mental e anti-envelhecimento.O apoio governamental precisa estar presente para incentivar esses setores.
O The Economist indicou que a área de manufaturas sofrerá sensíveis modificações, o que batizaram como a “Terceira Revolução Industrial”.
A digitalização no processo de fabricação será revolucionária. O desenho de um produto em 3D e posteriormente impresso, criará um objeto sólido pela construção de sucessivas etapas dos materiais empregados.
Como em outras revoluções, alertam para as consequências no mercado de trabalho. Alguns fabricantes de automóveis já produzem hoje duas vezes mais veículos por empregado do que uma década atrás.
Os empregos não estarão no chão da fábrica, mas sim nos escritórios próximos, cheios de engenheiros, especialistas em tecnologia (TI), técnicos em logística, mercadológos e outros profissionais.
Os trabalhos de produção no futuro irão requerer mais talento. Os consumidores, sem maiores dificuldades, irão ajustar-se a essa nova era.
A maior dificuldade estará com os governos que buscarão proteger indústrias e empresas já existentes e não favorecer aquelas inovadoras. Esses comentários, aliás, estão em linha com o que foi discutido no Global Trends, quanto as tendências de maior protecionismo pela concessão de subsídios e proteção às indústrias já existentes.
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