FOLHA DE SP - 01/07
SÃO PAULO - Não é preciso integrar movimentos como o Occupy Wall Street para chegar à conclusão de que a turma do mercado financeiro cometeu tolices que levaram à crise de 2008, cujas repercussões ainda assombram o mundo. Na verdade, agiram com intemperança semelhante na bolha anterior e em todas as que a antecederam. Como é possível? Eles não aprendem nada?
John Coates, ex-banqueiro convertido à neurociência e à endocrinologia, acaba de publicar o livro "The Hour Between Dog and Wolf", em que procura explicar o fenômeno recorrendo à biologia, mais especificamente a hormônios e neurônios.
É uma obra interessante. Coates sustenta que as ondas de exuberância irracional e pessimismo que desestabilizam a finança global podem ser fruto de alterações fisiológicas nos corpos dos operadores, em resposta às idas e vindas do mercado.
Quando os ganhos são fartos e o sujeito está por cima, são liberadas substâncias como a testosterona, que favorecem apostas de risco. Nessas horas, o mercado fica cego para a possibilidade de desastre e, amparados por mecanismos altamente abstratos e potencialmente catastróficos, como derivativos, banqueiros criam verdadeiras bolhas financeiras que, mais cedo ou mais tarde, estouram.
E, se as coisas vão mal, sai a testosterona e entram moléculas como o cortisol, que exacerba o pessimismo. Nessas ocasiões, até bons negócios são vistos com as lentes do derrotismo, e o mercado cai ainda mais.
Como é difícil alterar a biologia humana, Coates sugere que mudemos algumas práticas da banca que, em vez de contrabalançar nossas vulnerabilidades fisiológicas, contribuem para realçá-las. Para o autor, deveríamos ter mais mulheres nas mesas de arbitragem. Elas são menos sensíveis aos poderes inebriantes da testosterona. Outra medida urgente é redesenhar o sistema de bônus, que hoje empurra os operadores para riscos pouco razoáveis.
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