quarta-feira, junho 06, 2012

Investir - ANTONIO DELFIM NETTO


FOLHA DE SP - 06/06

Já devíamos ter aprendido que a única constante da evolução econômica é a ciclotimia que, a cada crise, coloca a ideia de que é preciso mudar tudo.

Quando se olha o enorme fracasso das economias centralizadas no século 20 com relação às descentralizadas, mesmo as que se mantiveram politicamente fechadas, temos quase um experimento em condições controladas: a organização das atividades econômicas através dos mercados bem regulados e apoiados num Estado que mantém com eles relações amigáveis provou ser muito mais produtiva.

A volta à centralização não parece, pois, ser a solução. A explicação é que os mercados produzem incentivos que conciliam melhor os interesses individuais com os coletivos. Os preços relativos que se formam estimulam o uso mais eficiente dos fatores produtivos e dão maior liberdade de escolha aos consumidores. Em compensação, são menos estáveis: há maior flutuação da atividade e do nível de emprego.

O caso chinês é paradigmático: a combinação de economia de mercado selvagem do século 18 com ausência quase total de liberdade política construiu, em 35 anos, a segunda potência econômica mundial.

Na Constituição de 1988, o Brasil escolheu para si a combinação de um Estado forte -constitucionalmente limitado pela vigilância do STF-, capaz de regular amigavelmente o setor privado com um comportamento republicano e democrático e cujo objetivo é o de uma sociedade em que a igualdade de oportunidades vá ampliando cada vez mais o seu espaço.

No momento em que o mundo está caindo aos pedaços e parece reduzir-se o entusiasmo com a economia brasileira, é preciso reafirmar nosso compromisso com aquela construção. Temos melhorado muito. Infelizmente, a taxa de crescimento anual continua medíocre: entre 1985 e 1995, ela foi de 3%, e, entre 1996 e 2011, de 3,1%, mas houve uma redução importante da taxa de inflação, que caiu de 933% ao ano para 6,5% no período.

Houve, também, uma significativa melhora na distribuição de renda: em 1996, a relação entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres era de 32. Em 2009, havia caído para 21.

A mudança mais importante foi no setor externo, no qual soubemos aproveitar os bons ventos. Depois de termos frequentado o FMI por duas vezes (1998 e 2002), somos hoje credores daquele organismo e temos reservas da ordem de US$ 370 bilhões.

Nossa situação interna e externa é melhor do que a da maioria dos países, mas não podemos retardar mais o esforço para aumentar a eficiência do setor público e ampliar os investimentos, cooptando o setor privado, diante do crescimento anual do PIB de 1,9% no primeiro trimestre de 2012.

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