sexta-feira, maio 04, 2012

Internet para os ricos e os demais - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 04/05/12


O jornalismo de qualidade será pago, o que nos dividirá ainda mais. É urgente combater isso


Duas das principais tendências atuais são o acesso cada vez maior da população mundial à internet e o acirramento das desigualdades socioeconômicas. No futuro, essas duas tendências vão convergir.
Existirá uma internet para os que possuem mais e outra para os demais. Isto não significa que haverá duas "redes" diferentes, ou que a internet para os internautas com renda mais baixa deixe de oferecer as possibilidades maravilhosas que a rede abriu a todos nós, sem distinções de idade, nível econômico ou nacionalidade. De fato, a popularização da internet vem servindo para contrabalançar, de alguma maneira, a concentração de riqueza, renda e poder em muitos países.
Mas o problema é que aqueles que possuem menos serão mais vitimados por meio da internet que aqueles que têm meios para proteger-se.
Todos nós já fomos vítimas dessa internet "má": vírus, spams, hacking, cracking e perda de privacidade. As transações fraudulentas e o "roubo de identidade" são delitos em ascensão. Em 2012, os prejuízos sofridos em nível mundial chegarão a US$ 114 bilhões.
Desde esse ponto de vista, não é arriscado prever que a experiência com a internet que terá um usuário de baixa renda no Brasil, na Itália ou no Canadá, por exemplo, será muito diferente daquela de um internauta que possua meios para comprar as maiores proteções que o mercado oferece.
O "desnível digital" entre países pobres e ricos vai se reproduzir no interior de cada país: os usuários pobres viverão num mundo de internet mais perigoso que o dos ricos.
Isso acontece porque será necessário gastar valores altos com proteções e barreiras tão sofisticadas quanto os programas muito avançados que envenenam a rede. Se organismos de inteligência, grandes bancos, empresas e instituições de todo tipo são atacados regularmente por cibercriminosos, é natural que os indivíduos sejamos vulneráveis.
John Brennan, o principal assessor da Casa Branca para o antiterrorismo, afirma que, "num dia útil qualquer, empresas em todos os setores da economia são submetidas a uma enxurrada incessante de ciberataques.
São roubados sua propriedade intelectual, os desenhos de novos produtos ou as informações pessoais de seus clientes. Os dados mais delicados sobre sistemas de defesa e armamentos também estão em risco. No ano passado houve mais de 200 ciberataques, alguns bem-sucedidos e outros fracassados, contra os sistemas de controle de nossas redes elétricas, sistemas de transporte, aquedutos e refinarias -cinco vezes mais que em 2010".
Mas a desigualdade na internet não decorre apenas dos criminosos.
Também haverá desníveis entre quem pode pagar por conteúdos jornalísticos da mais alta qualidade e quem acede apenas à informação gratuita que circula pela rede. Desta última -informação gratuita- continuará a haver cada vez mais.
De conteúdos que ajudam a entender objetivamente o que significa essa informação, haverá muito menos. O jornalismo de qualidade será pago, e isso nos dividirá. É urgente combater essas tendências

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