terça-feira, maio 22, 2012

Bons ventos - LUIZ GARCIA

GLOBO - 22/05

Está tudo quase pronto para a grande e triste festa: o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do escândalo conhecido pelo prosaico apelido de Mensalão. Não fosse pelo tamanho físico — são 69 mil páginas reunidas em 147 volumes. A propósito, o processo merece o “ão” por um motivo que nada tem de jocoso: trata- se do nosso mais grave escândalo político desde que Brasília é capital. É “ão” que não acaba mais.

No que se refere ao elemento de tristeza na festa, basta lembrar que, independentemente da filiação partidária do batalhão de acusados, ela com certeza produz no eleitorado brasileiro um tanto de desconfiança e uma medida de preocupação sobre os cidadãos que se propõem a representá-lo na administração da vida pública. Podem ser sensações vagas e imprecisas, e sempre é bom não esquecer que episódios de mau comportamento na classe política frequentemente mais provocam passivo desânimo do que saudável indignação no eleitorado.

Desta vez, não é assim, e há mesmo sinais de que o povão está mobilizado pelo julgamento no STF. Estão em ação em diversos estados movimentos mobilizados contra os réus do mensalão, e já foram colhidas mais de 28 mil assinaturas em manifestos cobrando do tribunal rapidez no julgamento dos 28 réus no processo. Também há manifestações programadas em mais de dez cidades.

Não se deve esperar que iniciativas como essas tenham influência direta sobre os votos dos ministros — e, tanto quanto se sabe, não são necessárias para isso. Por outro lado, a manifestação espontânea e sem cor partidária de cidadãos da maioria do estados brasileiros tem, com certeza, uma repercussão saudável na classe política. Ministros do Supremo não precisam de votos populares, mas senadores e deputados dependem da vontade do povo — e todos eles sabem muito bem que ventos estão soprando na planície.

O próprio STF parece disposto a agir com rapidez. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, deve emitir seu voto em meados de junho, o que permitirá um julgamento em agosto, logo depois do recesso de julho.

São bons ventos esses que são notados em Brasília nestes dias — principalmente porque repetem os que, pelo visto, sopram no país inteiro.

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