BRASÍLIA - Depois de se declarar "mais firme do que as pirâmides do Egito", Mário Negromonte desabou do Ministério das Cidades ao ruírem seus três pilares: o PP, o governador Jacques Wagner (BA) e a presidente. Virou pó no deserto.
Se ele saiu mal, seu sucessor, o também deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), não entrou muito melhor. Dilma preferia Márcio Fortes, que já foi ministro. O PP, dividido, lhe impôs Ribeiro. E quem fez o anúncio do seu nome não foi o Planalto, e sim o presidente do partido, Francisco Dorneles. Soou como demonstração de força -em cima da presidente.
Se Dilma entrega ministros enrolados à própria sorte, é bem mais cautelosa ao tratar os partidos deles. Como regra, os ministros voltam para casa, mas os partidos continuam com a chave do gabinete e do cofre, apenas vigiados de perto por alguém de confiança do Planalto. O problema só muda de figura e de nome.
Com Aguinaldo Ribeiro no lugar de Negromonte, a premissa parece mais do que verdadeira, e os motivos vêm de longe. Pode-se argumentar, com razão, que ninguém responde pelos atos e crimes do avô e que pode acontecer nas melhores famílias ter um coronelzão citado em dois livros do governo federal por envolvimento no assassinato de líderes camponeses. Mas não é tão simples.
Ribeiro tem boa cara, mas vem de uma cultura em que os nomes, os mandatos, não raro os métodos e, sobretudo, o poder passam de pais para filhos, de avós para netos. A herança costuma incluir uma farta distribuição de cargos públicos para a parentada. Daí a surgirem escândalos é um passo -ou uma reportagem.
Ao abdicar de Márcio Fortes e engolir Aguinaldo Ribeiro, Dilma sabia o que estava fazendo: o governo passou um "pente fino" no histórico do novo ministro. Só que, como os partidos têm cada vez menos opções e os cargos têm que ser dos partidos, os "pentes" vão ficando cada vez mais largos, flexíveis, convenientes.
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