segunda-feira, janeiro 09, 2012

Nossas tragédias - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 09/01/12
Iniciamos o ano, mais uma vez, sob a marca da tragédia.

É inevitável, em cada um de nós, uma mistura de solidariedade e de indignação diante de situações que se repetem e em que a única mudança é o endereço: Minas, Rio, Espírito Santo, Santa Catarina...

A dimensão e a gravidade de cada uma dessas situações não permitem que nos transformemos em torcidas organizadas no demagógico jogo de ver diferentes instâncias de governo empurrarem responsabilidades umas para as outras.

O fato de que ninguém, em sã consciência, considere possível corrigir, em poucos anos, danos provocados por erros acumulados em décadas não é pretexto para a aceitação da omissão. A pergunta que precisa ser feita a todo governante não é "por que não resolveu tudo antes?", mas, sim, se fez, no seu tempo, tudo o que estava ao seu alcance.

Assim, o inexplicável contingenciamento de recursos do governo federal destinados à prevenção de enchentes e dos danos causados pelas chuvas, assim como a liberação deles sem que sejam respeitados princípios básicos do equilíbrio federativo, devem ser motivo de protesto e de cobrança não apenas da oposição, mas de toda a sociedade. Até porque a falta de critérios republicanos e a baixíssima execução orçamentária do governo não se dão apenas em uma área.

Acredito que, como agentes públicos, devemos examinar essas situações de duas formas, simultaneamente.

A primeira é olhando para trás e reconhecendo que há um grande passivo de erros que só poderá ser superado com muito trabalho, planejamento e integração de ações. Passivo que é fruto de omissões de administradores que, muitas vezes, até por desinformação, não avaliaram o gravíssimo problema das ocupações desordenadas de áreas urbanas. Passivo que é fruto de uma época em que nos orgulhávamos de domar rios em vez de respeitá-los. E como o longo prazo em política, para muitos, é sinônimo de problema dos outros, o ciclo em que todos perdem se impôs.

A segunda é olhando para o futuro, entendendo que não temos o direito de seguir reproduzindo os erros do passado.

Qualquer administrador, mesmo o do menor município, tem acesso a informações e sabe bem dos riscos de uma ocupação precária de encostas ou margens de rio. Obras feitas às pressas, sem planejamento, cobram da sociedade um alto preço, que não se restringe ao desperdício financeiro.

As repetidas tragédias representam vidas perdidas. E, em respeito a cada uma delas, precisamos abandonar a demagogia, partilhar a solidariedade e cobrar responsabilidade. Os brasileiros não estão condenados a viver apagando incêndios de incompetência ou submergindo em tempestades de omissões.

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