quinta-feira, janeiro 12, 2012

Haddad e o seu Midas - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 12/01/12


SÃO PAULO - O ensino brasileiro enfrenta problemas tão rudimentares que chega a ser inusitado o fato de Lula ter escolhido para disputar a Prefeitura de São Paulo alguém que tem o Ministério da Educação como seu principal mostruário eleitoral.
Fernando Haddad, que deixará nas próximas semanas o governo para se dedicar à campanha, está há quase sete anos no ministério. Após todo esse tempo, o país continua a ter indicadores educacionais muito frágeis. Cerca de 70% dos alunos do ensino médio, por exemplo, não dominam o português adequadamente e quase 90% sabem menos de matemática do que se espera.
Haddad também não conseguiu reverter o enorme deficit de professores. Faltam hoje mais de 300 mil docentes nas escolas, sobretudo para disciplinas como física, química, matemática e biologia. A tal ponto que é muito comum encontrar em um colégio público um professor de física dando aula de química ou um professor de matemática que nem mesmo passou por uma universidade.
Mas nada disso altera o cálculo político de Lula. A indicação do ministro foi feita a partir de algumas premissas. O ex-presidente queria um nome novo -sem o ranço de uma Marta Suplicy, que provoca ojeriza em parte da população paulistana à simples menção de seu nome.
Buscava também um perfil técnico, com imagem de eficiência e sobriedade para tentar quebrar a antiga resistência da classe média paulistana ao PT.
Desejava ainda alguém que tivesse em seu portfólio algo que fosse caro aos mais humildes. E Haddad tem o ProUni, que distribuiu mais de 900 mil bolsas em faculdades privadas para estudantes de famílias pobres.
Para além de qualquer raciocínio, no entanto, o que sustenta Lula na hora de fazer suas escolhas é a sua enorme autoconfiança. É a convicção, depois de eleger uma desconhecida como presidente da República, de que consegue transformar tudo o que toca em ouro.

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