A lenta queda dos juros
SUELY CALDAS
O ESTADÃO - 13/11/11
Mais do que necessário,é vital mudar esse quadro. Matéria publicada no domingo passado no Estado informou que a presidente Dilma Rousseff está realmente disposta a reduzir os juros.
No dia seguinte,em seminário organizado pelo PSDB, os economistas tucanos que formularam e executaram o Plano Real fizeram coro a Dilma: este é o momento apropriado para reduzir os juros, mas o governo não pode deixar o Banco Central (BC) isolado nessa tarefa, pois o custo para o País será redobrado.
Há muito não se ouvia discurso tão sincronizado entre governo e oposição.
No dia seguinte ao seminário tucano, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, concordava com Arminio Fraga, Pérsio Arida e Gustavo Franco: é preciso fazer convergir a taxa Selic definida pelo BC (11,5%) com a TJLP praticada pelo BNDES (6%). Se isso fosse possível comum simples toque de mágica, há muito teria acontecido. Os dois lados ainda concordam ser necessário cumprir certas condicionantes para fazer a Selic recuar para 6%. Para Coutinho e, em dose mais amena,para Dilma,é preciso manter a inflação sob controle, reduzir as despesas do governo, aumentar o superávit primário e sustentar a confiança na economia. São condições indispensáveis e óbvias, mas para este governo é um avanço reconhecê-las.
Os economistas tucanos vão além.Arminio Fraga concorda com o que tem sinalizado o BC:há,sim,espaço para reduzir a Selic neste momento em que a crise na Europa se agrava e por aqui tem produzido efeitos de retração econômica e queda da inflação. Mas o governo precisa perseguir com mais força o equilíbrio fiscal.
Gustavo Franco propõe dobrar o superávit primário para 6% ou 7% do PIB para reduzir a taxa sem risco de produzir inflação.E Pérsio Arida observa que a poupança acumulada pela incidência de uma Selic mais baixa na dívida pública poderia financiar obras do governo na infraestrutura ou ser usada na desoneração fiscal. Para o futuro, Fraga sugere a redução da meta de inflação em 0,25% a cada ano. Na verdade, o governo não tem mostrado compromisso firme com a queda da inflação, visto que mantém a meta em 4,5% desde 2005, nível que estendeu até 2013. "Se pensar em queda de juros maior no longo prazo, tem de pensar também em reduzir a meta de inflação", alerta Arminio.
Desse discurso mais ajustado entre governo e oposição brota o equilíbrio fiscal como o recurso mais forte e indispensável para reduzir juros sem prejudicar a inflação. Nisso os dois lados concordam, mas divergem na dosagem e na forma de ataque.Quando Fraga fala em reestatizar o Estado, ele defende pôr fim à captura de verbas públicas por interesses privados, à distribuição política de cargos no governo e à transferência do dinheiro de impostos para ONGs de fachada.E quanto mais inchada a estrutura do governo, maior a necessidade de dinheiro para sustentá-la.
O que fazem 38 ministérios, além de abrigar apadrinhados de partidos políticos? EUA,Alemanha e França têm 15 ministérios; o Chile, 20; e a Índia, 13. Por que o Brasil precisa de 38? Como justificar um aumento salarial de 56%, como quer o Poder Judiciário, se metade do País não dispõe de água e esgoto tratados e a saúde pública é um desastre? Quanto mais perdurar tal desequilíbrio fiscal,mais lenta será a queda dos juros.
SUELY CALDAS: Jornalista , é professora da Puc-Rio
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