O Estado de S. Paulo - 22/11/2011
Que são anormais os tempos na economia disso ninguém mais duvida. Mas ainda é lenta a aceitação de que, em tempos anormais, também não podem ser normais as políticas econômicas mais adequadas para enfrentar esses tempos. Substituir - ou pelo menos flexibilizar - fórmulas consolidadas em décadas de aplicação bem sucedida é compreensivelmente difícil. Essa dificuldade, no caso brasileiro, é ainda maior porque o passado recente - este que, na economia, vem sendo atropelado por um presente repleto de surpresas - localiza-se num ponto fora da curva.
O ritmo de crescimento da economia brasileira em 2010 descolou da média da última década e meia. A alta de 7,5% do PIB apurada pelo IBGE - que na revisão de praxe a ser anunciada no fim do ano pode chegar perto de 8% - produziu uma série de desequilíbrios e estes se refletiram em distorções nos indicadores, sobretudo quanto observados em relação aos últimos 12 meses.
Isso é verdade, entre tantos outros, para os índices de inflação e para os de evolução do crédito. Mês a mês, em meio à ampliação do contágio da crise global, números exuberantes do mesmo período do ano passado vão dando lugar a índices mais moderados do momento. A "febre", medida pelo termômetro dos 12 meses, em razão da troca de números mais altos por novos mais moderados, está baixando aos poucos. Examinada, porém, com instrumentos prospectivos, já mostra, com clareza um firme esfriamento.
O governo, tendo à frente o Banco Central, parece ter entendido esse fato intertemporal e vem atuando de acordo com uma nova régua, mais voltada para os sinais da redução da velocidade projetada para a economia do que para os indicadores quando observados daqui para trás. É o que explica as "surpresas" não só com o início do ciclo de cortes dos juros básicos em agosto, mas também com o alívio das medidas de contenção do crédito no ano passado. Seria difícil mesmo entender esses movimentos diante dos níveis elevados, em 12 meses, tanto da inflação quanto do ritmo de concessões de crédito.
Quando, porém, se constata que a expansão acelerada de 2010 vem sofrendo uma forte reversão, fica mais fácil compreender porque a política macroeconômica também vem passando por reversões, substituindo anteriores providências de aperto por novas medidas de alívio. O que, em resumo, poderia ser visto como lenha na fogueira parece ser, na verdade, uma tentativa de manter avivada uma brasa que se apaga.
Assim como a taxa de desemprego chegou ao ponto mínimo e agora tende a aumentar, também a inflação bateu no teto e começa a recuar. Ao mesmo tempo, o endividamento das pessoas chegou ao limite, devendo entrar numa trajetória de queda. São todos movimentos recentes, que tomaram corpo no segundo semestre, período em que a política econômica ainda se esforçava para segurar o nível de atividades aquecido que transbordou de 2010. A reversão das curvas de acompanhamento da evolução da economia - não uma ou outra, mas paulatina e praticamente todas - dá indicações já bastante seguras de que o esfriamento então pretendido agora pode dispensar as restrições antes adotadas. E até mesmo receber reforço de novos alívios, como a esperada nova redução da taxa básica de juros, na reunião do Comitê de Política Monetária, prevista para a próxima semana.
Por vários ângulos, os sinais do momento são de moderação na economia brasileira. O saldo das contratações formais no mercado de trabalho cai mês a mês, refletindo um arrefecimento que atinge todos os setores de atividade. Em linha com essa tendência, a inadimplência do consumidor recua há dois meses, assim como a demanda por crédito para consumo já registra duas quedas mensais consecutivas.
Não parece se tratar de um quadro apenas temporário. O economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, classifica o momento atual como um período de recuperação de crédito. Nunca, aliás, a intenção de utilizar o 13.º salário para quitar dívidas foi tão disseminada, alcançando agora o recorde de 60% dos entrevistados, na tradicional pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças. Rabi considera que os consumidores, com a renda mais comprometida pelo efeito do repique da inflação até setembro, dos juros em ascensão no primeiro semestre e das medidas de restrição ao crédito, decidiram promover uma correção de rota, depois de um ano e meio de altas acentuadas nos níveis de endividamento. Para o economista, o alívio agora anunciado no crédito, justamente por essa razão, pode demorar mais do que se imagina para fazer o serviço pretendido de reestimular o consumo.
O vento virou. Seria estranho se os rumos da política econômica não virassem também.
O ritmo de crescimento da economia brasileira em 2010 descolou da média da última década e meia. A alta de 7,5% do PIB apurada pelo IBGE - que na revisão de praxe a ser anunciada no fim do ano pode chegar perto de 8% - produziu uma série de desequilíbrios e estes se refletiram em distorções nos indicadores, sobretudo quanto observados em relação aos últimos 12 meses.
Isso é verdade, entre tantos outros, para os índices de inflação e para os de evolução do crédito. Mês a mês, em meio à ampliação do contágio da crise global, números exuberantes do mesmo período do ano passado vão dando lugar a índices mais moderados do momento. A "febre", medida pelo termômetro dos 12 meses, em razão da troca de números mais altos por novos mais moderados, está baixando aos poucos. Examinada, porém, com instrumentos prospectivos, já mostra, com clareza um firme esfriamento.
O governo, tendo à frente o Banco Central, parece ter entendido esse fato intertemporal e vem atuando de acordo com uma nova régua, mais voltada para os sinais da redução da velocidade projetada para a economia do que para os indicadores quando observados daqui para trás. É o que explica as "surpresas" não só com o início do ciclo de cortes dos juros básicos em agosto, mas também com o alívio das medidas de contenção do crédito no ano passado. Seria difícil mesmo entender esses movimentos diante dos níveis elevados, em 12 meses, tanto da inflação quanto do ritmo de concessões de crédito.
Quando, porém, se constata que a expansão acelerada de 2010 vem sofrendo uma forte reversão, fica mais fácil compreender porque a política macroeconômica também vem passando por reversões, substituindo anteriores providências de aperto por novas medidas de alívio. O que, em resumo, poderia ser visto como lenha na fogueira parece ser, na verdade, uma tentativa de manter avivada uma brasa que se apaga.
Assim como a taxa de desemprego chegou ao ponto mínimo e agora tende a aumentar, também a inflação bateu no teto e começa a recuar. Ao mesmo tempo, o endividamento das pessoas chegou ao limite, devendo entrar numa trajetória de queda. São todos movimentos recentes, que tomaram corpo no segundo semestre, período em que a política econômica ainda se esforçava para segurar o nível de atividades aquecido que transbordou de 2010. A reversão das curvas de acompanhamento da evolução da economia - não uma ou outra, mas paulatina e praticamente todas - dá indicações já bastante seguras de que o esfriamento então pretendido agora pode dispensar as restrições antes adotadas. E até mesmo receber reforço de novos alívios, como a esperada nova redução da taxa básica de juros, na reunião do Comitê de Política Monetária, prevista para a próxima semana.
Por vários ângulos, os sinais do momento são de moderação na economia brasileira. O saldo das contratações formais no mercado de trabalho cai mês a mês, refletindo um arrefecimento que atinge todos os setores de atividade. Em linha com essa tendência, a inadimplência do consumidor recua há dois meses, assim como a demanda por crédito para consumo já registra duas quedas mensais consecutivas.
Não parece se tratar de um quadro apenas temporário. O economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, classifica o momento atual como um período de recuperação de crédito. Nunca, aliás, a intenção de utilizar o 13.º salário para quitar dívidas foi tão disseminada, alcançando agora o recorde de 60% dos entrevistados, na tradicional pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças. Rabi considera que os consumidores, com a renda mais comprometida pelo efeito do repique da inflação até setembro, dos juros em ascensão no primeiro semestre e das medidas de restrição ao crédito, decidiram promover uma correção de rota, depois de um ano e meio de altas acentuadas nos níveis de endividamento. Para o economista, o alívio agora anunciado no crédito, justamente por essa razão, pode demorar mais do que se imagina para fazer o serviço pretendido de reestimular o consumo.
O vento virou. Seria estranho se os rumos da política econômica não virassem também.
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