sexta-feira, junho 03, 2011

RUY CASTRO - O segundo ato


O segundo ato
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/06/11
RIO DE JANEIRO - O escritor F. Scott Fitzgerald dizia que não há segundo ato na vida dos americanos. Ele próprio foi uma prova. Derrubado (pelo alcoolismo e outras tragédias) do posto de maior revelação dos anos 20, o criador de "O Grande Gatsby" nunca se levantou. Quando morreu, em 1940, muitos se espantaram de que estivesse vivo.
No Brasil, o primeiro ato não termina ou o segundo é infalível, principalmente em certas categorias profissionais. Políticos, por exemplo. Mesmo que caídos em desgraça e condenados ao opróbrio, logo voltam à tona e retomam suas carreiras em grande estilo. A desmemória e o beneplácito do eleitorado garantem que eles nunca fiquem muito tempo fora de cartaz.
O ex-presidente José Sarney, que deixou o Planalto em 1990, e já o deixou tarde, nunca saiu dos subúrbios do poder. Até hoje, não passa uma semana sem ter de se explicar por algum passo em falso, mas sua vida é um ato único e interminável. Seu sucessor, Fernando Collor, foi limado da cena política em 1992 -e, tudo levava a crer, para sempre. Pois, cumprido certo período de carência, voltou para uma confortável zona fantasma no Senado, da qual pode sair a qualquer momento.
O ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que parecia liquidado pelo mensalão, continuou correndo em sua raia -passou apenas para o lado da sombra, que lhe assenta mais. E até seu correligionário Delúbio Soares, apanhado na mesma ratoeira, também já foi readmitido em sociedade. Ou na sociedade.
O único pecado que um político não pode cometer é morrer -os que fazem isso têm de encerrar prematuramente a carreira. Como a morte não parece estar em seus planos, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, quando livre das peias do poder, poderá dedicar-se a continuar engordando seu patrimônio e preparar-se para, daqui a quatro anos, voltar à vida pública.

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