Mãezonas, megeras e mulherzinhas
NELSON MOTTA
O Globo - 17/06/2011
Existe um "jeito feminino" de governar? Tão duras como o mais duro dos homens, Margaret Tatcher, Golda Meir e Indira Gandhi provaram que só existem bons ou maus governantes, só homens e mulheres honestos e competentes, ou não. Mas preparem-se para novas empulhações. Assim como qualquer crítica a Lula era rebatida como preconceito contra um operário nordestino, qualquer contestação à presidente e às suas ministras agora será desqualificada como machismo, o truque barato que Marta Suplicy usa quando está em desvantagem no debate.
O que diria Lady Tatcher ouvindo a doce ministra Ideli dizer que até as mulheres políticas têm um lado mãezona ? Parlamentares, ministros e burocratas que tremem diante de Dilma conhecem bem o seu lado mãezona, alguns até choram com as suas broncas maternais. Hoje é constrangedor lembrar de Lula vendendo Dilma ao eleitorado como quem ia cuidar do povo brasileiro como uma mãe, assim como cuidou maternalmente do PAC. Mãe era o Lula, pelo menos para os políticos, empresários e banqueiros.
Apesar do possível fracasso das opções de Dilma para substituir Palocci, foi delicioso ver a macharia partidária gemendo de impotência, arrancando os cabelos implantados e babando de frustração - sem poder fazer nada a não ser resmungar, bem baixinho, e entubar. Não é todo dia que se vê uma presidente enfrentar as elites dos atuais partido-gang-empresas e ignorar os supostos sócios do poder para impor as suas decisões pessoais, sem um macho para encará-la. Assim como burrice e ladroagem, autoritarismo e covardia não têm gênero, só graus.
Embora Shakespeare diga que os infernos não conhecem fúria maior do que uma mulher rejeitada, passada a fúria, talvez para elas seja mais fácil perdoar do que para eles. É o que sugere o depoimento de Dilma sobre os 80 anos de Fernando Henrique, em que reconheceu, com grandeza, elegância e justiça, todos os seus méritos e conquistas, deixando Lula de saia justa, porque ele sempre os negou com a fúria e obsessão de uma mulher rejeitada, ao mesmo tempo em que se apossava de suas conquistas, como as mulherzinhas rancorosas e vingativas.
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