O que será o amanhã?
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 19/03/11
Responda quem souber, porque nós, jornalistas, astrólogos, sociólogos, historiadores, economistas, não sabemos responder. Os acontecimentos de agora demonstram mais uma vez que somos bons em prever apenas o que passou. Com perdão do paradoxo, somos profetas do passado. E isso não é de hoje. Não previmos a queda do Muro de Berlim, o desmantelamento da União Soviética, o fracasso do comunismo, o 1968, a derrubada das Torres Gêmeas, só para ficar nos acontecimentos mais significativos. Os últimos não previstos são estes de agora. Já não digo o terremoto e a tsunami, que são inevitáveis, mas os desastres ocorridos nas usinas que, ao que tudo indica, poderiam ter sido prevenidos ou pelo menos não deveriam ter alcançado o grau de gravidade que alcançaram.
Algum analista seria capaz de antever um futuro imediato que não fosse tranquilo para os japoneses? Não sei se alguém poderia imaginar que leria esta semana a manchete "O Japão perdeu o controle". Como um país conhecido por sua disciplina urbana, limpo e ordeiro, exemplo de civilidade e organização social, pôde experimentar, quase de um dia para o outro, uma débâcle como essa, uma situação de caos pior do que a de uma guerra, com aeroportos fechados, falta de água, luz, combustível, comida e remédio?
Quanto a nós, ainda bem que o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, mudou sua retórica autossuficiente da véspera - "não temos nenhuma necessidade de revisão em nada"- para um discurso mais cauteloso. Não disse se o governo vai alterar o projeto de Angra 3, em construção, e nem se vai investir mais em fontes alternativas, como a solar e a eólica, mas prometeu: "Vamos ter um cuidado especial com a política nuclear." A atitude mais sensata é mesmo tirar da tragédia japonesa a lição de que, se ocorreu lá, apesar de toda a precaução, pode ocorrer com mais probabilidade onde não existe "cultura de prevenção", como notou o secretário de Ambiente do Rio, Carlos Minc, ao sugerir que "Angra 1 e 2 tenham monitoramente externo". Por que não? Qual seria o inconveniente da medida? Em face dessa crise - e mesmo que haja exagero da mídia e histeria coletiva, como há quem acuse - tudo deve ser feito para diminuir as incertezas do amanhã em matéria de energia nuclear, não só lá como aqui.
Correndo perigo e operando em precárias condições, até sem dormir e sem comer direito, três repórteres que cobrem in loco os acontecimentos do Japão e cujo trabalho venho acompanhando - dois de televisão, Roberto Kovalik e Marcos Uchoa, e uma de jornal, Claudia Sarmento - estão enchendo de orgulho o jornalismo brasileiro. E de reverente admiração este velho colega de ofício.
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