sábado, janeiro 29, 2011

DANDARA TINOCO


Guerra de ex-companheiros

Dandara Tinoco
O GLOBO - 29/01/11


Eduardo Cunha e Garotinho trocam acusações no Twitter e em seus blogs

Aliados durante os oito anos de governo Garotinho/Rosinha no estado, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e seu futuro colega de plenário Anthony Garotinho (PR-RJ) fizeram da internet arena para troca de ofensas e acusações. As denúncias de tráfico de influência em Furnas, publicadas pelo GLOBO, foram o estopim.

A briga começou na quinta-feira, quando Cunha disse que Garotinho e ele deveriam detalhar reuniões que tiveram, o que "contribuiria muito para o país" . Ontem, Cunha chamou Garotinho de "chefe de quadrilha" e insinuou que ele usaria laranjas. Já o ex-governador classificou Cunha de "muito baixo" e relembrou escândalos na Companhia Estadual de Habitação (Cehab) e na Prece, fundo de pensão da Cedae, nos quais o deputado estaria envolvido.

Ainda de madrugada, Cunha publicou em sua página no Twitter: "Quanto a Garotinho respondi a nota de seu blog e óbvio que respondo pelos meus atos assim como ele deveria responder pelos dele", referindo-se a uma declaração de Garotinho sobre as denúncias de Furnas. E emendou:

"Mas não é com ele essa briga, com ele se precisar sei como brigar. Ele que leve a vida dele e me esqueça, porque eu já o esqueci graças a Deus".

Garotinho havia dito na quinta-feira que há dois anos não fala com Cunha. O deputado desmentiu: "O Garotinho só não precisa mentir porque a última vez que ligou para pedir ajuda para se livrar de problemas foi em maio de 2010 faz (sic) 8 meses". Depois, Cunha desafiou: "@blogdogarotinho vamos fazer juntos em entrevista coletiva. A Cehab era sua,você era governador", acrescentando: "@blogdogarotinho quem está condenado criminalmente com pena de 2 anos e meio por ser chefe de quadrilha é você ". Cunha declarou ainda que "Garotinho é caso de polícia e não de política".

Em seu blog, Garotinho - que, procurado, não quis dar entrevista - escreveu uma nota desafiando o deputado para um debate na Câmara dos Deputados, após a posse. E afirmou que as denúncias contra ele foram articuladas pelo governador Sérgio Cabral e seus aliados e são "politicagem pura". A assessoria de imprensa de Cabral informou que o governador não comentaria as acusações.

No texto, Garotinho diz que "existem graves documentos" no Ministério Público nos quais o nome de Cunha aparece "em situações delicadíssimas". Ele ainda escreveu que, no fins de semana, Cunha "vai para Nova York, onde se hospeda em hotéis de luxo", citando supostas aplicações no mercado financeiro e uma mansão. O ex-governador termina o texto com uma ameaça: "Toma cuidado Eduardo, porque além da "casa cair" (Cehab) você também "pode entrar pelo cano" (Cedae). Acho bom o deputado Cunha, nos próximos dias, fazer uma boa PRECE, pois seus pecados são grandes. Quem quiser mais informações ligue para o juiz afastado Roberto Wider e seu lobista Eduardo Raschkovsky. Os dois sabem muita coisa da vida dele".

Horas mais tarde, Cunha também recorreu ao seu blog para atirar contra Garotinho. Em uma nota, cujo título foi "RESPOSTA A GAROTINHO: A pior aliança que realizei em toda a minha trajetória política foi com este cidadão, cujo nome é um plágio de um apresentador de rádio", Cunha acusa Garotinho de usar laranjas. "Tudo que tenho ou tive e tudo que gasto faz parte das minhas declarações de renda. Não possuo e nunca possuí bens e nem efetuei despesas em nome de laranjas, o que já não posso afirmar sobre ele", escreveu. No texto, Cunha rejeita o convite para debater com Garotinho na Câmara e diz que não será "escada" para o "palanque" do ex-aliado. O deputado critica ainda o fato de Garotinho fazer insinuações sobre órgãos do governo estadual do qual foi governador.

A discussão continuou no início da noite de ontem, quando Garotinho publicou nova nota, insinuando ligações de Cunha com a Delta Construções, empreiteira que mais recebe verbas do PAC no estado e foi sua doadora na campanha eleitoral. "Embora sabendo que o deputado gosta muito de laranja, recomendo que neste momento tome um suco de maracujá e sobrevoe o patrimônio que construiu praticando um esporte que ele gosta muito: Asa DELTA", escreveu o ex-governador, que falou sobre suposta interferência de Cunha na gestão dos Correios:

"Não vou lhe mandar estas palavras pelo Correio, porque corre o risco da diretoria do Rio extraviá-la, afinal, Eduardo diz que é o dono da situação".

Em entrevista, concedida por e-mail, Cunha disse que não chamou Garotinho de chefe de quadrilha, mas sim "reproduziu a decisão judicial que o condenou por esse motivo". Afirmou não ter provas de que o ex-governador usou laranjas: "Não acusei, apenas disse que não poderia afirmar".

Cunha falou sobre o pedido para que Garotinho revelasse o teor de suas reuniões: "Não fui eu quem me referi a reuniões e sim ele em uma menção a uma reunião que teve em 2002 com o então candidato ao Senado Hélio Costa, onde ele buscava apoio para a sua candidatura a presidente. Felizmente, o Hélio preferiu o Lula. Aí, achei deselegante revelar reuniões dessa natureza e disse que deveríamos detalhar todas". Segundo o deputado, Garotinho ligou para ele várias vezes, até maio do ano passado: "A última foi pedir para eu interferir para que a Rádio Melodia respondesse a uma demanda da Justiça Eleitoral sobre outdoors do seu programa de rádio".

Cunha negou que tenha participado de indicações na Prece. Ele não comentou as acusações de Garotinho e as denúncias sobre sua suposta interferência na gestão de Furnas.



Entenda a troca de acusações

Citadas pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) e pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR), a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) e a Prece, fundo de pensão da Cedae, estiveram no centro de investigações que envolveram os então aliados.
Cunha foi presidente da Cehab entre1999 e 2000, quando a primeira crise atingiu o governo Garotinho, marcado depois por uma série de escândalos. Ele foi acusado de fraudar diversos processos de licitação para beneficiar empresas, entre elas a paranaense Grande Piso, que teria sido favorecida na construção de casas populares em Sepetiba, na Zona Oeste.
Segundo denúncias, ele também teria participado de um esquema de propinas para registro dos imóveis em cartórios. Cunha aparece como réu em um processo que investiga supostos crimes de improbidade administrativa e dano ao erário, entre outros deslizes, na Cehab. Em entrevista por e-mail, o deputado afirmou que desconhece qualquer processo contra ele sobre a Grande Piso e acrescenta: "Se existir, não fui citado".
Nos anos seguintes, mesmo sem assumir cargos oficiais, Cunha esteve por trás de indicações importantes nas gestões de Garotinho e de sua mulher, Rosinha Garotinho. Foi dele a sugestão do nome de AluízioMeyer para presidir a Cedae no governo Rosinha. Cunha teria tido forte interferência também na gestão da Prece, fundo de pensão da estatal que foi investigado pela CPI dos Correios.
A comissão constatou que o fundo acumulou, entre 2001 e 2005, perdas de até R$ 300 milhões em operações na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), por conta de opções de investimento arriscadas. Entre as beneficiadas com as operações estavam a Quality Corretora de Câmbio Títulos e Valores Mobiliários S/A e a Erste Banking Empreendimentos e Participações Ltda. A Erste pertence ao doleiro Lúcio Funaro. ACPI apontou que ele teria pagado o aluguel de um apart-hotel em que Cunha morava em Brasília. O peemedebista nega o favor. Segundo as denúncias recentes, Funaro teria sido beneficiado também em operações de Furnas. Cunha nega também que tenha tido qualquer participação na indicação de gestores da Prece.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tudo Bem? fascinante este site parece muito estruturado.........bom trabalho :)
Gostei muito faz mais posts assim !