domingo, setembro 19, 2010

ELIO GASPARI

Companheira Dilma, comissária Rousseff
ELIO GASPARI

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/09/10

Segundo a superstição petista, Dilma Rousseff é uma executiva altamente qualificada. Que seja. Ela teve um loja de cacarecos panamenhos chamada "Pão e Circo", no centro comercial Olaria, em Porto Alegre, mas a aventura durou 17 meses. Fora daí, seu currículo ficou na barra da saia da viúva. Nele, embutiu um doutorado pela Unicamp que nunca foi concluído, mas deixou de mencionar sua única, banal e pitoresca passagem pela atividade privada.

Nomeada ministra de Minas e Energia, por Nosso Guia, assistiu ao loteamento de sua pasta e a ida do engenheiro Silas Rondeau para a presidência da Eletronorte. Qualificava-se com títulos da Universidade Sarney, onde teve como orientador o eletrizante empresário Fernando, filho do ex-presidente. Em 2004, a ministra fritou o presidente da Eletrobras, Luiz Pinguelli Rosa, engenheiro nuclear, doutor pela UFRJ, com passagens por sete universidades estrangeiras. Para o seu lugar, turbinou Rondeau, que acabou substituindo-a no ministério. Em maio de 2007, um assistente do doutor foi preso pela Operação Navalha. Acusado pela Polícia Federal de ter recebido R$ 100 mil de uma empreiteira, Rondeau deixou o cargo. Denunciado por gestão fraudulenta e corrupção passiva, ele se tornou o sétimo ministro de Nosso Guia apanhado pelo Ministério Público.

Rondeau subiu na vida por conta da aliança política com José Sarney, Erenice foi para a Casa Civil com credenciais típicas do comissariado: a fidelidade ao aparelho petista e à comissária Rousseff. Juntas, deixaram as impressões digitais no episódio da montagem de um dossiê com as despesas de Fernando Henrique Cardoso no Alvorada.

(Há dias, um cálculo da Rede Guerra de Trabalho e Emprego informava que, em 15 anos, Erenice, seus três irmãos e dois filhos passaram por pelo menos 14 cargos. Há mais: foram pelo menos 17, distribuídos pelos setores de urbanismo, educação, saúde, transportes, segurança, energia, planejamento e pela burocracia legislativa. Israel, filho da doutora, tinha uma boquinha na Terracap e José Euricélio, irmão dela, bicou na editora da Universidade de Brasília e estava na teta da Novacap.)

Um negócio quadrúpede contra os bípedes 

O presidente do Jockey Club do Rio, doutor Luiz Eduardo Costa Carvalho, enriqueceu o patrimônio de pérolas da demofobia nacional.

Ele e a construtura Norberto Odebrecht batalham por um projeto de transformação da área das cocheiras do Jockey, equivalente a 20 campos de futebol, num megaempreendimento imobiliário, com garagem subterrânea para 2.500 carros. Deixando-se de lado as questões legais, financeiras e urbanísticas, o doutor informou o que pretende fazer com as 25 famílias que vivem em casas modestas na Vila Hípica do Jockey:

"Se o projeto for aprovado, teremos que conversar com essas pessoas, que serão convidadas a se retirar. Para quem trabalha com o turfe, haverá a opção de se mudar para a Região Serrana, onde construiremos um centro de treinamento que prevê espaço para moradia."

Beleza, um projeto de R$ 650 milhões, que poderá render cinco vezes isso, começa pela discussão de despejo do pessoal do andar de baixo.

Se o doutor Costa Carvalho quiser conhecer suas vítimas, poderá ser apresentado a uma jovem que vive numa das casas da vila. Ela jamais teve ajuda do pai e mora com a mãe (auxiliar de serviços gerais numa escola) e a avó de 71 anos. Como há gente com outro tipo de cabeça, a moça acaba de ter todo o seu curso de Comunicação numa universidade e pequenas despesas pessoais custeados por um empresário muito mais abonado que Costa Carvalho.
Tucanopatia 

O tucanato parece ter vocação para virar espécie extinta. Está no auge de uma campanha eleitoral e de seu cardinalato põe nos jornais a informação de que José Serra poderá ser candidato a prefeito de São Paulo em 2012. Avisam que entregaram os pontos. Algo como um time que pede para ser dispensado de jogar o segundo tempo.

Se isso fosse pouco, o próprio candidato informou publicamente que, no dia 25 de janeiro passado, comunicou a Nosso Guia que decidira disputar a Presidência da República. As primeiras notícias de que Serra informara ao PSDB a sua disposição de ser candidato só apareceram uma semana depois, sempre encapuzadas. À choldra, oito dias depois de sua conversa com Lula, ele dizia o seguinte: "Eu nunca afastei a possibilidade de vir a ser candidato, coisa que declarei há mais tempo. Existe a possibilidade de eu ser candidato? Existe sim. Ela não foi afastada."

Nesses dias, Tasso Jereissati e Jarbas Vasconcelos faziam exortações públicas para que ele anunciasse claramente a candidatura. Mal sabiam que Nosso Guia estava melhor informado que eles. Tirando partido disso, acusava Serra de inaugurar maquetes.

Serra reciclou a dúvida de Garrincha. Combinou tudo, só com os russos.

Souvenir 
Para quem quiser se divertir com a lembrança dos dois anos da falência do Banco Lehman Brothers, a loja eBay oferece os seguintes souvenires, todos com a elegante marca da firma:

Boné: US$ 13.

Malinha de computador: US$ 35,50.

Camiseta: Entre US$ 5 e US$ 30.

Bola de golfe: US$ 6.

Caneta (uma gracinha, com estojo): US$ 24.

Dinheiro vivo 
Repentinamente, verifica-se que os hierarcas do lulato têm uma predileção pela forma mais primitiva e sigilosa de poupança: o colchão. Dilma declarou ao TSE que guardava em casa R$ 113 mil, dinheiro equivalente a 11% de seu patrimônio.

Otacílio Cartaxo, secretário da Receita, guardou até R$ 155 mil na mala. Sabe-se disso porque sempre listou esse dinheiro nas suas declarações de Imposto de Renda.

Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, pagou um apartamento com R$ 150 mil em dinheiro vivo. Logo ele, cuja instituição gasta milhões de reais estimulando depósitos da patuleia em contas e cadernetas de poupança.

Roosevelt na Receita 
Consolo para os companheiros. Quem inaugurou o método de jogar a Receita Federal em cima dos adversários foi Franklin Roosevelt.

Assumiu em 1933 e soltou os cães em cima do banqueiro Andrew Mellon, secretário do Tesouro de seus três antecessores.

Três anos depois, sem saber que seria absolvido, Mellon presenteou o povo americano com sua coleção de obras de arte (um pedaço dela comprada ao camarada Stalin) e o prédio da National Gallery, em Washington. Coisa de quase um bilhão de dólares em dinheiro de hoje. Conta a lenda que houvera um acerto.

Chegada do verão 
Na manhã de quarta-feira, uma sucessão de atrasos no tráfego da CPTM de São Paulo resultaram num quebra-quebra na estação de Guaianazes. Cinco agentes de segurança ficaram feridos.

Se os transportecas de todas as grandes cidades brasileiras investigarem porque seus trens enguiçam e o trabalhador mofa esperando para chegar no serviço, poderão prevenir os distúrbios que normalmente ocorrem no fim do ano. 

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