sábado, julho 10, 2010

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
A nação rubro-negra e seus bad boys
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Vencer, vencer, vencer. Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer. O clube planeja processar o goleiro Bruno por perdas e danos. Danos morais, porque o crime macabro de Eliza manchou a imagem do Flamengo e traiu uma torcida apaixonada, do tamanho da população do Canadá. Danos financeiros, porque só faltava a assinatura no contrato que venderia Bruno ao Milan por 15 milhões de euros. Foi um golpe no coração rubro-negro. Foi um rombo no caixa da Gávea.
O goleiro Bruno é o exemplo mais radical e extremo de uma geração de talentosos atletas rubro-negros que, em quase duas décadas, se tornaram astros mimados, vaidosos, indisciplinados e sem limites. Foi depois da era Zico. Entrou a turma do oba-oba. Como em famílias ricas que passam a mão na cabeça dos pimpolhos que acabam em delegacias, acusados de tráfico de drogas e acidentes de trânsito com morte, o Flamengo permitiu que destrambelhados vestissem o manto rubro-negro e fizessem suas estripulias impunemente.
Um time que apostava nas categorias de base e sempre teve como lema “Craque o Flamengo faz em casa” passou a sofrer com o antiprofissionalismo e a falta de pudor de alguns elementos.
Em 1992, um artilheiro do Flamengo, o Gaúcho, foi uma das más influências sobre o grupo. Apresentou a boemia aos Gaúcho’s boys, Djalminha, Marcelinho, Marquinhos, Paulo Nunes. A partir do ano 2000, quando o Flamengo passou a lutar várias vezes contra o rebaixamento, surgiu a “turma do chinelinho”. Para quem não sabe, eram os jogadores que apareciam de chinelo alegando contusão para não treinar. Poder, dinheiro, estrelismo, vaidade, tudo isso sobe à cabeça de muitos jogadores que saíram de favelas. Alguns eram os mais promissores, os que atraíam mais torcedores aos estádios. Ou se dá limite, ou já era.
Só faltava assinar o contrato para vender Bruno ao Milan por €15 milhões. O Flamengo quer processá-lo
Quando o Edmundo, o Animal, chegou ao Flamengo, em 1995, ele e o baixinho Romário deram uma contribuição musical à glamorização da malandragem: o Rap dos Bad Boys. Com bad boys no seu time, você pode comemorar/Somos bad boys, isso não tem nada a ver/..../O point preferido: quiosque Viajandão/Tem muito futevôlei, e o pagode é da pesada. Em dezembro de 1995, Edmundo provocou um desastre de trânsito que matou três pessoas.
Não é preciso proibir sexo nem sorvete, ou virar evangélico. Mas integridade e caráter são essenciais, especialmente em ídolos que inspiram nossas crianças. É uma ironia que, logo quando a dupla exemplar Patricia Amorim e Zico assume para arrumar a casa, ídolos do Flamengo como Adriano, Vágner Love e Bruno mergulhem numa escalada de violência e escândalos envolvendo traficantes, mulheres, brigas, orgias... culminando agora com um homicídio triplamente qualificado, com requintes de crueldade. Na sexta-feira, Bruno, herói altivo de tantas disputas em campo, tinha trocado seu figurino elegante de goleiro por um uniforme vermelho de presidiário em Minas Gerais. E ouvia de populares os gritos que sempre o perseguirão: “Assassino!”. Seja qual for o desfecho da investigação.
O Flamengo gastou ao todo em torno de US$ 5 milhões para ter os direitos econômicos sobre Bruno. Em troca do goleiro, deu ao Atlético Mineiro um atacante, Tardelli, que valia US$ 2 milhões, e pagou US$ 1,5 milhão em dinheiro. O restante foi pago a Bruno e seu empresário. Agora, na negociação com o Milan intermediada por seu ex-jogador Leonardo, o Flamengo ganharia uma fortuna. “Esse pateta pôs tudo a perder”, disse a ÉPOCA uma fonte do clube. O Flamengo brigará na Justiça para não ser obrigado a pagar metade do salário a Bruno enquanto não for condenado, como prevê a lei trabalhista.
“Um débil mental que jogou sua vida no ralo e comprometeu o clube” – essa é a imagem de Bruno no Flamengo. Por que o goleiro não tirou de sua remuneração mensal de R$ 300 mil um naco para dar de pensão a Eliza e ao filho dele, Bruninho? Totalmente alheio à realidade, como se fosse um psicopata desprovido de remorso, Bruno só se preocupava, na delegacia de homicídios do Rio, com sua improvável escalação para a Copa de 2014 no Brasil.

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