domingo, julho 11, 2010

CLÓVIS ROSSI

O polvo, a Copa e a economia
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/07/10


SÃO PAULO - Se eu fosse dono do Fundo Monetário Internacional, chamaria o polvo Paul para fazer as previsões sobre a economia mundial que o Fundo divulga periodicamente. Afinal, na Copa do Mundo, o bom Paul acertou todos os resultados até agora, ao passo que os "senhores do universo", espalhados pelas mais badaladas consultorias do planeta, erraram todas.
Só a brasileira LCA ainda tem chance de escapar do fiasco, pois apostou na Espanha (assim mesmo com muito leve vantagem sobre o Brasil, já eliminado).
Acertar palpites sobre futebol é difícil, eu sei, todo o mundo sabe. Mas é muito mais difícil acertar palpites sobre o desempenho econômico de países. Do planeta todo, nem se fala.
Afinal, na Copa, bastava adivinhar o desempenho de 736 atores (23 jogadores vezes 32 seleções). Na economia, são milhões, às vezes bilhões, de agentes ousando ou se acovardando, poupando ou gastando -e por aí vai.
Não obstante, há um grupo de economistas que dá palpites e finge que está fazendo ciência. Tanto que erram uma e mil vezes, mas voltam a apostar -e os jornais publicam, de novo, mansa e acriticamente, os "chutes" de todos eles, como se fossem oráculos.
Claro que não me refiro a todos os economistas, mas apenas aos que insistem em fingir ciência no que é tão científico quanto os palpites de Paul, o polvo.
Aliás, talvez esteja até sendo injusto com Paul. A "Deutsche Welle" foi entrevistar Drosos Koutsoubos, professor de Biologia Marinha da Universidade do Egeu (Grécia). Seu depoimento sobre Paul: "Esse grupo de animais se caracteriza por ter um sistema nervoso bem desenvolvido, o que lhes dá a possibilidade de desenvolver comportamento avançado".
Nada disse nem lhe foi perguntado sobre o sistema nervoso de economistas-palpiteiros.

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