quinta-feira, julho 15, 2010

CELSO MING

Prova de fogo 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 15/07/2010

Dia 23, o Comitê Europeu de Supervisores Bancários juntamente com o Banco Central Europeu (BCE), presidido pelo francês Jean-Claude Trichet, deverão divulgar o teste de estresse a que estão sendo submetidos os principais bancos da região. A expectativa é a de que mude para melhor a percepção sobre a saúde financeira de toda a Europa.

Teste de estresse é um exercício feito por computador, a partir de dados econômicos previamente assumidos, para conferir até que ponto o patrimônio das instituições (no caso, os bancos) está exposto a calotes dos seus devedores.

Os mais importantes devedores dos bancos europeus são os Tesouros nacionais da área do euro e, entre eles, estão aqueles cujos títulos levam risco crescente de calote ou de reestruturação (renegociação em termos mais favoráveis ao devedor).

Por que esse teste? Porque os bancos europeus são pouco transparentes e, nessas condições, suas finanças estão mais expostas a crises de confiança. Como são os próprios bancos que não confiam nas finanças dos concorrentes, espera-se que a divulgação desse raio X da situação patrimonial dessas instituições financeiras provoque grandes alívios nos mercados.

Nenhuma recuperação econômica da área do euro será sustentável enquanto pairar tanta suspeita sobre a solidez dos seus bancos. A ideia é tanto passar informação sobre a saúde da maior parte deles quanto medir a necessidade de capitalização das instituições mais vulneráveis.

O pressuposto é o de que as autoridades estarão preparadas para uma injeção de emergência caso alguma surpresa ruim aparecer, o que parece inevitável. Alguns bancos manifestaram restrições sobre a divulgação desses resultados. Temem um diagnóstico inadequado de analistas e investidores e, portanto, temem uma nova rodada de crise de confiança. No entanto, eles não podem se recusar a passar por essa prova de fogo, sob pena de aumento da desconfiança sobre a qualidade de suas finanças.

Tanto as autoridades europeias como o mercado apoiam a iniciativa com base na experiência relativamente bem-sucedida dos Estados Unidos, que ajudou a recuperação das principais instituições financeiras do país.

Mas, convenhamos, o buraco é mais embaixo. O problema não pode ser reduzido a uma crise bancária. Mais séria é a situação fiscal da maioria dos países da área do euro. O eventual impacto da deterioração da qualidade dessas dívidas sobre o patrimônio dos bancos é consequência e não causa dos males.

Cresce a percepção de que é inevitável a reestruturação da dívida de alguns países, especialmente da Grécia e de Portugal, pois o atual comportamento de suas economias (e de suas finanças) não mostra folga suficiente para que os compromissos de dívida sejam honrados. E é por isso que as agências de classificação de risco (Moody"s, Standard & Poor"s e Fitch) vêm rebaixando a qualidade dos títulos de alguns desses países.

Isso sugere que a provavelmente bem-sucedida tacada psicológica que sobreviria com a divulgação dos testes de estresse dos bancos leva o risco de reverter-se imediatamente se determinadas formas de calote começarem a pipocar nos mercados.
Confira
Incertezas 
A ata do Fed (o banco central dos Estados Unidos) contém mais incertezas do que certezas. O Fed está preocupado com o baixo nível de crescimento econômico, mas não está certo sobre se é preciso mais estímulo (injeção de recursos).
Deflação 
Outra incerteza tem a ver com a tendência dos preços. Não está descartado um período de deflação. E deflação seria tão ruim quanto inflação, pois deteriora as dívidas, derruba a arrecadação e tende a ampliar os problemas fiscais.

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