Por falar em coração
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO -06/06/10
SÃO PAULO- Quer dizer, então, que Dilma Rousseff, para os tucanos, não tem coração? Parece mais letra de bolero que alta política.
Por isso, prefiro falar do coração que tende a ser o que definirá a eleição de outubro. Antes, um "flashback" para a eleição francesa de 1974. O conservador Valéry Giscard d'Estaing conseguiu virar o jogo no segundo turno, depois de perder no primeiro, ao vender ao público a tese de que a esquerda "não tem o monopólio do coração".
Claro que esse coração não é a máquina que supostamente não pulsa no peito de Dilma, mas a compaixão pelos deserdados da fortuna. Com esse bordão, Giscard bateu por poucos votos, mas bateu, o socialista François Mitterand.
No Brasil-2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende, sim, ter o "monopólio do coração", no sentido "giscardiano". E é geralmente aceito que tem mesmo, de que dá prova o fato de que seu adversário José Serra disse, não faz muito, que Lula está acima do bem e do mal.
Falta que Dilma Rousseff, a candidata de Lula, seja plenamente identificada como coproprietária desse monopólio, o que ainda não ocorreu, a julgar pela pesquisa mais recente do Datafolha.
A Serra compete repetir Giscard e tentar tirar da cabeça do eleitorado a ideia da copropriedade, com a dificuldade agregada de não poder atingir Lula no percurso porque não seria crível.
Ou, então, tentar mexer com outras emoções que, para ser bem franco, não consigo ver bem quais possam ser, pelo menos não a esta altura do jogo.
O que parece óbvio é que o diz-que-diz em torno de dossiês não emociona a massa. É coisa de políticos, que não chegam a compor a raça mais amada do planeta. Para fazer efeito, seria preciso uma radiografia exibida na TV, para provar que Dilma de fato não tem coração. Difícil, não?
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