sábado, maio 29, 2010

RUY CASTRO

A força maior 

Ruy Castro

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/05/10


Uma juíza americana proibiu a atriz Lindsay Lohan de beber álcool. Lindsay está cumprindo uma condicional por dirigir embriagada. A juíza decidiu que ela será chamada de surpresa a fazer exames e terá de usar uma pulseira eletrônica capaz de acusar álcool em seu sangue.
Sei pouco sobre Lindsay Lohan. Tem 24 anos, é bonita, talentosa e gay – aprendi no Google. Nunca vi seus filmes e só há pouco ouvi falar dela, e sempre associada a substâncias. Vive sendo fotografada, na rua ou em boates, em situações desprimorosas. Enfim, como disse, sei pouco a seu respeito. Mas sei o suficiente para dizer que a juíza está errada e que não entende patavina do problema.
Se fosse possível fazer alguém parar de beber por ordem judicial, bastaria um decreto-lei para acabar com o problema do alcoolismo. A juíza supõe que Lindsay seja uma sem-vergonha que, em vez de 'moderar' e beber pouco, como uma boa moça, manda todas para dentro porque gosta de provocar tumulto. Ou seja, a juíza supõe que pessoas com alcoolismo agudo poderiam beber sob controle se tivessem, talvez, 'força de vontade'.
Pena que na vida real não seja assim. Se os alcoólatras conseguissem controlar a bebida não seriam alcoólatras. Não é o bebedor que modera racionalmente o seu consumo – a natureza de seu organismo é que o faz ingerir menos ou mais álcool. Aliás, os fabricantes de bebida sabem disso. Daí aquela advertência ao fim de cada comercial de cerveja exibido na televisão, 'Beba com moderação', ser de um acachapante cinismo.
É possível que, em seus momentos de depressão causada pela intoxicação, Lindsay pense em 'moderar' ou mesmo em abster-se. Mas, no estágio de dependência em que já está, apesar de ter só 24 anos, não é mais a razão que a comanda. Há uma força maior, orgânica, que a leva inexoravelmente à garrafa

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