Questão social, questão policial
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/05/10
SÃO PAULO - Era uma vez uma certeza: as obscenas pobreza e desigualdade brasileiras eram as principais responsáveis pela igualmente obscena violência urbana. Aí, veio uma expressiva redução da pobreza. Veio também uma queda na desigualdade entre assalariados, embora não tenha caído a brecha mais importante e mais espetacular, que é entre rendimento do capital e rendimento do trabalho.
Mas, como pobre só vê os muito ricos na televisão e nas revistas, o fato de ter diminuído a distância entre os que se cruzam todos os dias nas ruas só pode ter contribuído para reduzir igualmente a sensação de marginalidade.
Logo, a conclusão inescapável é a de que diminuiu a violência urbana, certo? Errado, mostram as estatísticas que esta Folha divulgou ontem, relativas justamente a um período (primeiro trimestre de 2010) em que a economia está bastante aquecida e, por extensão, aquece almas e corações de pobres e classe média (ricos nunca passaram frio, nem na idade do gelo na economia).
Aumentaram os homicídios, os roubos a bancos e os sequestros, talvez as categorias de crime que mais afetam o ânimo da população. Ainda mais que, onde melhorou (roubos e latrocínios, por exemplo), os números são ainda inaceitavelmente altos. É fatal concluir que a questão social continua sendo relevante, como é óbvio, mas não pode ser tomada como a única nem a principal causa da violência.
Há também uma questão policial, de que dá prova o Rio de Janeiro: a violência, que aumentava mesmo nos anos de queda da pobreza, só se reduziu com as UPPs -Unidade de Polícia Pacificadora-, que recuperaram territórios antes dominados pela delinquência. Tomara que neste ano, de eleições também estaduais, esse duplo enfoque passe a fazer parte do discurso dos candidatos.
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