sábado, abril 10, 2010

ROBERTO RODRIGUES

Eleição e articulação

Folha de S. Paulo - 10/04/2010
 
Articulação é a palavra-chave para eleger aqueles que se comprometerem com o Brasil real, o Brasil rural

ESTÃO DEFINIDOS os candidatos à Presidência da República, com o anúncio oficial, hoje, do ex-governador de São Paulo José Serra, que disputará com os ex-ministros Dilma Rousseff, Marina Silva e Ciro Gomes o posto mais importante do Executivo brasileiro.
São todos candidatos experimentados na vida pública e, salvo diferenças ideológicas manifestadas no passado, todos têm posições muito parecidas quanto aos maiores problemas do país, pelo menos naquilo sobre o que já se manifestaram. Agora precisam mostrar suas ideias sobre o que ainda não falaram, para os eleitores decidirem em quem votar. Nesse sentido, o que sabem ou pensam eles do agronegócio brasileiro?
Será que estão a par, por exemplo, de que o agronegócio tem um PIB de quase 30% do nacional, que gera 37% dos empregos do Brasil e que é responsável por um saldo comercial maior do que o saldo do país inteiro?
Será que sabem que a demanda mundial de alimentos deverá crescer 70% até 2050, e que somos, de longe, o país mais preparado para atender grande parte disso? Será que sabem que temos a melhor e mais sustentável tecnologia tropical do planeta, dominada a duras penas pelos extraordinários técnicos dos nossos institutos de pesquisa, esparramados pelos Estados, como Embrapa e IAC, e difundida por nossos heroicos extensionistas?
Será que sabem que dominamos a agroenergia, produzindo biocombustível e bioeletricidade capazes de mudar positivamente a matriz energética do planeta e assim melhorar a geopolítica global na direção da economia verde tão almejada? Será que sabem que competimos em condições desiguais com os subsidiados produtores rurais dos países ricos?
Será que sabem que temos um respeitável movimento cooperativista, crescente no cenário internacional? Mas, principalmente, será que sabem dos inúmeros problemas que o setor tem para continuar gerando empregos, renda e riqueza para todos os brasileiros, abastecendo-os com preços cada vez menores, mesmo pagando juros e impostos pesadíssimos? Eis a tarefa que cabe agora aos órgãos de representação dos produtores rurais e do agronegócio em geral: ensinar-lhes tudo isso.
É tempo das nossas lideranças se unirem em torno de um programa de governo que defina metas a alcançar nos próximos anos, contemplando políticas de renda (como o seguro rural funcionando para valer, com o crédito rural modernizado, com plena atuação dos novos mecanismos de comercialização) com investimentos em infraestrutura e logística, com vigorosa política de comércio exterior avançando em acordos bilaterais se a Rodada Doha de fato fracassar e, sobretudo, com uma firme estratégia de longo prazo, para conquistarmos de maneira definitiva mercados enormes que ainda estão fechados para o Brasil.
As entidades de classe já estão se movimentando na direção desse projeto. É importante que todas se articulem para montar um programa único de metas, com propostas que contemplem todos os segmentos, independentemente do tamanho do produtor rural ou das empresas do agronegócio.
Não é bom que cada entidade apresente um programa diferente: essa é a delícia dos candidatos -se cada qual tem uma proposta, o candidato, e depois o governante, fica à vontade para negar todas. Agora é para valer: articulação é a palavra-chave para eleger aqueles que se comprometerem com o Brasil real, o Brasil rural.

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