Histórias de prisão
O GLOBO - 16/03/10
Enfim, o equívoco foi corrigido com a construção do complexo penitenciário de Bangu, e semana passada o que restava na velha penitenciária foi pelos ares para dar lugar a um conjunto habitacional.
Restaram também as histórias da prisão secular. Como as que tiveram como protagonista a extraordinária figura de Gregório Fortunato. Para quem esqueceu ou nunca soube: um negro alto e forte, cara fechada, que viera para o Rio como principal guarda-costas de Getúlio Vargas nos anos 30. Em 1954, quando o patrão era pela segunda vez morador no Palácio do Catete, Gregório comandou, por conta própria, o atentado contra Carlos Lacerda, em que morreu o oficial da Aeronáutica Rubem Vaz. Menos de um mês depois, Vargas se suicidou e Gregório acabou na cadeia.
Foi condenado a 25 anos de reclusão. Mas dois presidentes, por coincidência inimigos políticos de Lacerda, reduziram a pena: Juscelino Kubitschek a cortou para 20 anos, João Goulart a diminuiu para 15. Na Frei Caneca, os internos o respeitavam, embora não tivesse posição de comando na hierarquia extraoficial das galerias. Quem mandava era o bandidão Mineirinho, No Natal de 1961, um episódio extraordinário.
Houve um motim na penitenciária, e Lacerda, governador da Guanabara, decidiu que o que lhe cabia fazer era simplesmente entrar sozinho e desarmado (naturalmente) no pátio da penitenciária para falar aos amotinados trepado numa cadeira. Não sabia, e pouca gente soube na época, que Mineirinho decidira não piorar as coisas, e simplesmente escalara Gregório para garantir a segurança do governador. E tudo deu certo. Dá para desconfiar que já não se fazem mais bandidos e políticos como antigamente.
No ano seguinte, Mineirinho fugiu da prisão e pouco tempo depois foi encontrado morto, com 13 balas no corpo. Gregório foi assassinado na Frei Caneca, numa briga nunca explicada direito, envolvendo ciúmes entre protegidos.
São histórias de um tempo em que os traficantes ainda não dominavam a população das penitenciárias.
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