FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/10
Os 82 soldadores dekasseguis do estaleiro EAS indicam que Pindorama vive um novo tempo
A REPÓRTER ANGELA Lacerda trouxe uma das melhores notícias da vida nacional dos últimos tempos: para a construção de seus navios, o Estaleiro Atlântico Sul, de Suape, foi buscar no Japão trabalhadores brasileiros qualificados. Já trouxe 82 e deverá trazer 200. Pela primeira vez, desde o final do século passado, quando a ruína nacional levou milhões de brasileiros a emigrar, registra-se um movimento inverso.
É notícia boa em estado puro. Em primeiro lugar, porque os navios da Petrobras estão sendo fabricados em Pindorama. Como faltam operários especializados no mercado brasileiro, uma indústria pode ir ao Japão buscar trabalhadores que deixaram o país em busca de oportunidades.
Se a Petrobras continuasse comprando barcos e plataformas no exterior, um estaleiro nacional jamais precisaria de soldadores. Aliás, nem de estaleiro se precisaria. (O EAS tem uma encomenda de 22 navios e do casco da plataforma P-55.)
Um soldador de estaleiro japonês ganha o equivalente a até R$ 9.000, não tem expectativa de carreira nem direitos semelhantes aos dos nativos. O EAS paga na mesma faixa e lhes devolve a cidadania trabalhista. No Japão, há 280 mil brasileiros, chamados de dekasseguis, descendentes dos imigrantes que chegaram a São Paulo a partir de 1908.
As décadas perdidas espalharam 3 milhões de brasileiros pelo mundo. Eles batalham nas mais diversas ocupações, quase sempre submetidos a regimes de exploração. Como diria Nosso Guia, nunca na história do nosso país acontecera coisa semelhante.
Em 1995, o Itamaraty tinha calígrafo, mas não dispunha de sala para cuidar dos interesses da diáspora nacional. O presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou três garçons brasileiros no banquete do Dia da Vitória, em Londres. Em 2002, um brasileiro que precisasse conversar por telefone com um funcionário do seu consulado em Nova York deveria fazê-lo entre as 15h e as 17h. Na cidade viviam 300 mil nativos.
Havia burocrata que chamava uma parte dessa diáspora de "os ilegais". De fato, cerca de 2 milhões de brasileiros vivem sem a necessária documentação dos países para onde foram, mas um funcionário pago pela Viúva não deveria chamar um compatriota de "ilegal", a menos que ele descumprisse alguma lei de seu país. Esse pedaço da patuleia remete anualmente cerca de US$ 7,5 bilhões para suas famílias, ervanário equivalente às exportações de soja.
O episódio das contratações do EAS é pontual, provocado pela carência de soldadores. Vale registrar que a maioria dos soldadores trazidos de volta estava empregada no Japão, onde quase todos qualificaram-se. Quando emigraram, há dez ou 20 anos, tinham escolaridade, pouca experiência e, em alguns casos, eram pequenos empresários arruinados pelo Plano Collor.
O estaleiro EAS poderia emprestar uma equipe à comissária Dilma Rousseff para cuidar dos cronogramas do PAC. Em julho do ano passado, quatro soldadores brasileiros que trabalhavam no Japão buscaram trabalho em Suape. Em novembro, surgiu a necessidade de contratar mais soldadores. A coordenadora de recursos humanos do estaleiro, Marcia Marques, 36 anos, lembrou-se dos dekasseguis e em dezembro embarcou para Tóquio. Em janeiro, chegou o primeiro grupo de oito trabalhadores. Alguns deles ralam na construção do primeiro petroleiro do EAS, que irá ao mar até o final do mês.
É notícia boa em estado puro. Em primeiro lugar, porque os navios da Petrobras estão sendo fabricados em Pindorama. Como faltam operários especializados no mercado brasileiro, uma indústria pode ir ao Japão buscar trabalhadores que deixaram o país em busca de oportunidades.
Se a Petrobras continuasse comprando barcos e plataformas no exterior, um estaleiro nacional jamais precisaria de soldadores. Aliás, nem de estaleiro se precisaria. (O EAS tem uma encomenda de 22 navios e do casco da plataforma P-55.)
Um soldador de estaleiro japonês ganha o equivalente a até R$ 9.000, não tem expectativa de carreira nem direitos semelhantes aos dos nativos. O EAS paga na mesma faixa e lhes devolve a cidadania trabalhista. No Japão, há 280 mil brasileiros, chamados de dekasseguis, descendentes dos imigrantes que chegaram a São Paulo a partir de 1908.
As décadas perdidas espalharam 3 milhões de brasileiros pelo mundo. Eles batalham nas mais diversas ocupações, quase sempre submetidos a regimes de exploração. Como diria Nosso Guia, nunca na história do nosso país acontecera coisa semelhante.
Em 1995, o Itamaraty tinha calígrafo, mas não dispunha de sala para cuidar dos interesses da diáspora nacional. O presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou três garçons brasileiros no banquete do Dia da Vitória, em Londres. Em 2002, um brasileiro que precisasse conversar por telefone com um funcionário do seu consulado em Nova York deveria fazê-lo entre as 15h e as 17h. Na cidade viviam 300 mil nativos.
Havia burocrata que chamava uma parte dessa diáspora de "os ilegais". De fato, cerca de 2 milhões de brasileiros vivem sem a necessária documentação dos países para onde foram, mas um funcionário pago pela Viúva não deveria chamar um compatriota de "ilegal", a menos que ele descumprisse alguma lei de seu país. Esse pedaço da patuleia remete anualmente cerca de US$ 7,5 bilhões para suas famílias, ervanário equivalente às exportações de soja.
O episódio das contratações do EAS é pontual, provocado pela carência de soldadores. Vale registrar que a maioria dos soldadores trazidos de volta estava empregada no Japão, onde quase todos qualificaram-se. Quando emigraram, há dez ou 20 anos, tinham escolaridade, pouca experiência e, em alguns casos, eram pequenos empresários arruinados pelo Plano Collor.
O estaleiro EAS poderia emprestar uma equipe à comissária Dilma Rousseff para cuidar dos cronogramas do PAC. Em julho do ano passado, quatro soldadores brasileiros que trabalhavam no Japão buscaram trabalho em Suape. Em novembro, surgiu a necessidade de contratar mais soldadores. A coordenadora de recursos humanos do estaleiro, Marcia Marques, 36 anos, lembrou-se dos dekasseguis e em dezembro embarcou para Tóquio. Em janeiro, chegou o primeiro grupo de oito trabalhadores. Alguns deles ralam na construção do primeiro petroleiro do EAS, que irá ao mar até o final do mês.
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