Tapas e beijos
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/03/2010
Neste momento, o diálogo com os EUA sobre subsídios e retaliação será mais inteligente e produtivo que os safanões
OTEMA principal da visita ao Brasil da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na semana passada, foi a questão do Irã. O assunto é um dos mais complexos e delicados do atual momento da política internacional.
Prefiro observar que a visita também serviu para reacender o debate sobre as relações comerciais entre Brasil e EUA, que atravessam um péssimo momento.
Hillary defendeu a retomada do diálogo sobre as sanções comerciais que o Brasil foi autorizado a adotar contra os EUA pela Organização Mundial do Comércio. Esse contencioso surgiu em 2002, quando o Brasil fez queixa na OMC contra os subsídios americanos aos produtores de algodão, que prejudicavam e ainda prejudicam as exportações brasileiras. Depois de longa tramitação, a OMC deu ganho de causa ao Brasil e autorizou o país a retaliar os EUA com sanções de até US$ 800 milhões. O governo já preparou a lista dos bens sujeitos a sanções, mas deu um prazo de 30 dias para colocar as medidas em vigor. Foi uma boa iniciativa. O comportamento amigável que tem marcado os encontros públicos dos presidentes Lula e Barack Obama também pode pautar o comércio entre os dois países.
É preocupante observar a decadência do intercâmbio comercial bilateral, marcado não por superavit ou deficit, mas pelas seguidas reduções no valor total da corrente de comércio nos dois sentidos. Em 1989, esse valor representava 23% do comércio exterior brasileiro. Em 2009, passados 20 anos, caiu quase pela metade, para 12%. Parte dessa queda tem a ver com a crise global, mas, mesmo antes da crise, em 2007, o índice já havia baixado para 15%.
No ano passado, pela primeira vez desde que se contabilizam as exportações e as importações, os chineses superaram os americanos na corrente de comércio com o Brasil: o intercâmbio Brasil-China somou US$ 36,1 bilhões, e o Brasil-EUA, US$ 35,6 bilhões.
A ascendência dos chineses como grandes compradores de produtos brasileiros, principalmente commodities, é bem-vinda. Esse relacionamento foi muito importante na atual crise global para compensar as perdas que o país teve com a recessão euroamericana. De 2008 para 2009, a exportações para os EUA caíram 43%, enquanto as vendas para a China subiam 22%, praticamente ignorando a crise.
Mas o mercado americano, com ou sem crise, não pode ser negligenciado. Em 2009, ano de recessão, as importações dos EUA ainda atingiram quase US$ 2 trilhões. O Brasil precisa estar preparado para o momento em que o gigante consumidor se levantar e tudo indica que esse movimento já começou.
Em sua visita a Brasília, Hillary prometeu enviar ao país nos próximos dias uma missão para tratar de compensações comerciais para que o Brasil desista das retaliações decorrentes do contencioso do algodão. É uma boa hora para negociar. Os prejuízos do subsídio americano ao algodão continuam a sangrar o produtor brasileiro. Amparado pela OMC, o Brasil tem cartas na manga para cobrar compensações que o governo americano pode fazer sem autorização do Congresso. Por exemplo, a criação de um fundo para ajudar o produtor brasileiro a investir e combater pragas do algodão.
O país precisa buscar cada vez mais novos parceiros -a China é um deles. Mas não pode considerar secundária a manutenção de vigorosas relações comerciais com os EUA. Para isso, neste momento, o diálogo será mais inteligente e produtivo que os safanões.
OTEMA principal da visita ao Brasil da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na semana passada, foi a questão do Irã. O assunto é um dos mais complexos e delicados do atual momento da política internacional.
Prefiro observar que a visita também serviu para reacender o debate sobre as relações comerciais entre Brasil e EUA, que atravessam um péssimo momento.
Hillary defendeu a retomada do diálogo sobre as sanções comerciais que o Brasil foi autorizado a adotar contra os EUA pela Organização Mundial do Comércio. Esse contencioso surgiu em 2002, quando o Brasil fez queixa na OMC contra os subsídios americanos aos produtores de algodão, que prejudicavam e ainda prejudicam as exportações brasileiras. Depois de longa tramitação, a OMC deu ganho de causa ao Brasil e autorizou o país a retaliar os EUA com sanções de até US$ 800 milhões. O governo já preparou a lista dos bens sujeitos a sanções, mas deu um prazo de 30 dias para colocar as medidas em vigor. Foi uma boa iniciativa. O comportamento amigável que tem marcado os encontros públicos dos presidentes Lula e Barack Obama também pode pautar o comércio entre os dois países.
É preocupante observar a decadência do intercâmbio comercial bilateral, marcado não por superavit ou deficit, mas pelas seguidas reduções no valor total da corrente de comércio nos dois sentidos. Em 1989, esse valor representava 23% do comércio exterior brasileiro. Em 2009, passados 20 anos, caiu quase pela metade, para 12%. Parte dessa queda tem a ver com a crise global, mas, mesmo antes da crise, em 2007, o índice já havia baixado para 15%.
No ano passado, pela primeira vez desde que se contabilizam as exportações e as importações, os chineses superaram os americanos na corrente de comércio com o Brasil: o intercâmbio Brasil-China somou US$ 36,1 bilhões, e o Brasil-EUA, US$ 35,6 bilhões.
A ascendência dos chineses como grandes compradores de produtos brasileiros, principalmente commodities, é bem-vinda. Esse relacionamento foi muito importante na atual crise global para compensar as perdas que o país teve com a recessão euroamericana. De 2008 para 2009, a exportações para os EUA caíram 43%, enquanto as vendas para a China subiam 22%, praticamente ignorando a crise.
Mas o mercado americano, com ou sem crise, não pode ser negligenciado. Em 2009, ano de recessão, as importações dos EUA ainda atingiram quase US$ 2 trilhões. O Brasil precisa estar preparado para o momento em que o gigante consumidor se levantar e tudo indica que esse movimento já começou.
Em sua visita a Brasília, Hillary prometeu enviar ao país nos próximos dias uma missão para tratar de compensações comerciais para que o Brasil desista das retaliações decorrentes do contencioso do algodão. É uma boa hora para negociar. Os prejuízos do subsídio americano ao algodão continuam a sangrar o produtor brasileiro. Amparado pela OMC, o Brasil tem cartas na manga para cobrar compensações que o governo americano pode fazer sem autorização do Congresso. Por exemplo, a criação de um fundo para ajudar o produtor brasileiro a investir e combater pragas do algodão.
O país precisa buscar cada vez mais novos parceiros -a China é um deles. Mas não pode considerar secundária a manutenção de vigorosas relações comerciais com os EUA. Para isso, neste momento, o diálogo será mais inteligente e produtivo que os safanões.
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