FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/10
RIO DE JANEIRO - Os olhos ampliados pelas lentes absurdas pareciam crescer mais ainda quando se falava de certos nomes. Conversar sobre música com Sabá era assistir a um espetáculo de admiração. Sua paixão pelos grandes pianistas ou cantores com quem trabalhara refletia-se na sua expressão, na gesticulação, no tom de voz. Deixava de ser um colega de palco, era um fã.
Mas o próprio Sabá merecia todo o respeito. Paraense de 1927, era um senhor contrabaixista. Em 1955, foi o primeiro a acompanhar Johnny Alf quando este chegou a São Paulo vindo do Rio -e tocar com Alf tornou-o o baixista favorito dos músicos modernos paulistanos. Dez anos depois, com Cido ao piano e Toninho na bateria, formou o Jongo Trio, um grupo instrumental/vocal que estourou com "Menino das Laranjas". Chamados a acompanhar os jovens Elis Regina e Jair Rodrigues no show "O Fino da Bossa", no Teatro Paramount, co-estrelaram um LP que vendeu milhares e não lhes rendeu tostão.
Em 1967, sem Cido e com Cesar Camargo Mariano, o Jongo se tornou o Som 3, que acompanhou Wilson Simonal nos dias de glória do cantor. Eram 365 shows por ano, em cidades, Estados ou países diferentes, com escalas quinzenais em Congonhas para beijar a família e trocar as malas de roupa. Em 1972, sem Cesar, ele se juntou a outro pianista: Dick Farney.
Sabá foi uma fonte inestimável sobre a bossa nova em São Paulo para meu livro "Chega de Saudade", de 1990. Lembrava-se de cada boate e de quem tocara nelas, onde, quando e com quem. Anos depois, fiz palestras sobre bossa nova ilustradas musicalmente por um conjunto que ele armou para a ocasião. Ali conheci melhor o ser humano. E conquistei o privilégio de poder dizer que trabalhei com Sabá.
Sabá morreu em São Paulo, na terça passada, aos 83 anos.
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