segunda-feira, fevereiro 15, 2010

RUY CASTRO

Aritmética do Carnaval

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/02/10


RIO DE JANEIRO - Todo Carnaval é assim. Enquanto milhões se jogam na folia, outros amarram a cara pelo fato de que, num país de miseráveis, onde a fome, a doença e a morte campeiam e não faltam assuntos sérios, como inundações, desabamentos e demais desgraças, a mídia dá tanto espaço à cobertura de blocos, escolas de samba, mulatas e outras futilidades.
Velho adepto de futilidades, há alguns anos comecei a me perguntar sobre a aritmética do Carnaval. Exemplos. Quantas pessoas estariam envolvidas no desfile de uma única escola de samba, entre designers, folcloristas, pintores, figurinistas, escultores, costureiras, chapeleiros, bordadeiras, carpinteiros, eletricistas, ferreiros, soldadores e outros artesãos? Quem paga essa turma? Sem contar os empurradores de alegorias, os manobristas do carvalhão e os adorados garis, que passam varrendo e sambando depois de cada escola.
Quem mede a quantidade de tecidos, plumas, pedrarias, lantejoulas, miçangas e vidrilhos que cobrem os cerca de 4.000 figurantes dessa escola? E a de isopor, madeira e ferragens usados nos cenários dos carros? Quem calcula e compra tudo isso em nome da escola? E compra de que fornecedores? Há concorrência por preços mais competitivos? E qual é a margem de recuperação do investimento quando, passado o Carnaval, a escola revende o que sobreviveu do material a escolas de praças menores?
Isto apenas no que se refere à mecânica das escolas. Mas, e o dinheiro movimentado pelos blocos, bailes, feijoadas, televisões, patrocínios, publicidade, comércio, hotelaria, táxis, cerveja, água de coco, reciclagem de latas, carros de som, engov, buscopan na veia, fotos da Madonna etc.?
Fútil ou não, o Carnaval oferece emprego e sustenta mais famílias brasileiras do que supõem os que amarram a cara contra ele.

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