domingo, dezembro 06, 2009

ELIO GASPARI

O Lulismo chavista apresenta o Chaveco

FOLHA DE SÃO PAULO 06/12/09



Nosso Guia quer convocar a Constituinte, mas não diz que só se consegue isso com o país em estado de choque

QUANDO LULA disse em Kiev que "os partidos políticos deveriam estar defendendo, neste momento, para depois das eleições de 2010, uma Constituinte específica para fazer uma legislação eleitoral para o Brasil", ele informou que no seu baralho há a carta do chavismo plebiscitário. Melhor dizendo, do chaveco.
Lula atribui as malfeitorias do PT e do DEM a imperfeições das leis eleitorais. A solução estaria numa reforma política e acrescenta que já mandou dois projetos ao Congresso, mas eles não andaram. Há aí uma mistura de bobagens com fantasias.
Bobagem é dizer que o governo mandou projetos de reforma política ao Congresso. É fantasia que se tenha empenhado no assunto. O que o PT quer é o financiamento público de campanha e o voto de lista para a escolha dos deputados. Ganha uma vigem à Ucrânia quem acha que o financiamento público impedirá o movimento dos maços de dinheiro do governador José Roberto Arruda e dos aloprados da campanha do senador Aloizio Mercadante. Ganha um fim de semana em Caracas quem acredita que o sistema político brasileiro melhorará se as direções partidárias do DEM, do PT e do PSDB passarem a determinar as chances de seus candidatos serem mandados à Câmara.
Tudo isso é pouco diante da proposta da Constituinte. Lula diz bobagens absolutas ("minha mãe nasceu analfabeta"), mas deve-se prestar atenção nas batatadas que, parecendo bobagens, são espertezas, das boas. Nosso Guia sabe que só se pode convocar uma Constituinte com três quintos do Senado (49 votos) e da Câmara (308 deputados). Ele sabe que não tem esses votos e que não os conseguirá sem que a política brasileira entre num estado de choque.
Como conseguir os três quintos? Emparedando o Congresso, botando nas ruas os companheiros das centrais sindicais e dos movimentos sociais (uma viagem a Cuba para quem souber o que é isso). É uma manobra difícil e perigosa, João Goulart que o diga. No estilo de Nosso Guia: o dado concreto é que, de mansinho, o presidente da República colocou a carta da Constituinte no baralho do debate político.
Teme-se que o Lulismo deságue num Chavismo. Nessa batida, apareceu o Chaveco.

A PATRANHA DE JOBIM COMPLETOU DOIS ANOS

Transcorreu sem sobressaltos o segundo aniversário do dia em que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, convocou a imprensa e anunciou a maior lorota de seu mandarinato. Em dezembro de 2007 ele informou que o governo concluíra um pacote de medidas para ressarcir os passageiros de companhias aéreas que ralassem atrasos nos aeroportos ou não conseguissem embarcar porque as empresas venderam mais passagens do que podiam. Coisa fina. Num voo do Rio para Brasília o passageiro seria ressarcido em 5% do valor do bilhete caso o voo atrasasse mais de meia hora. O percentual subiria, chegando a 50% nos atrasos superiores a cinco horas. A compensação poderia ser dada com milhas.
O ministro disse que o plano entraria em vigor logo depois do Carnaval de 2008, por meio de uma medida provisória. Cadê?
O Ministério da Defesa garante que o projeto da MP está na Casa Civil. Cadê? Nem MP, nem iniciativa do governo remetida ao Congresso, onde tramita, desde 2004, um projeto da senadora Serys Slhessarenko. Na sua versão atual ressarce as vítimas de overbooking e pega pesado no caso dos atrasos superiores a duas horas. Pelo jeito, tramitará por mais cinco anos.
Quem acreditou em Jobim fez papel de paspalho. Ele não voltou a falar do assunto e a doutora Solange Vieira, da Anac, acha que o consumidor maltratado tem mais é que procurar o Procon. Boa ideia, para dar queixa da propaganda enganosa de Jobim.

BOBEIRA
Os companheiros Obama e Lula estão brincando com coisa séria. O contencioso das relações Brasil-Estados Unidos está se expandindo e nenhum dos dois países tem embaixador morando na capital do outro. Quando Obama chegou à Casa Branca havia divergências na área comercial, e só. De lá para cá apareceram as bases colombianas, os golpistas hondurenhos, o flerte do Brasil com o Irã e até o garoto Sean. O chanceler Celso Amorim parece estar em busca de uma encrenca que lhe permita montar um palanque antiamericano.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota, defende a teoria do "choque de gestão" do governador Aécio Neves e convenceu-se de que em Brasília funcionava um laboratório para o desenvolvimento de novos paradigmas administrativos. Isso porque Aécio disse o seguinte: "O governador Arruda, do ponto de vista da gestão, faz um governo que é reconhecido pela população de Brasília como um governo extremamente eficiente".

MADAME NATASHA
Madame Natasha adoraria ser assediada pelos rapazes da Uniban. Ela resolveu dar uma de suas bolsas de estudo ao vice-reitor do educandário, doutor Ellis Wayne Brown, pelo seguinte raciocínio: "A dimensão do valor agregado contempla a diferença entre o nível de formação de ingresso do aluno no ensino superior e o de saída, ao término dos estudos. O ensino superior privado, dados os níveis de qualificação dos ingressantes, precisa gerar maior valor agregado do que o ensino público para atingir um mesmo nível de qualificação final". Natasha acredita que o doutor tentou dizer que os alunos chegam às faculdades privadas sabendo menos que os calouros das universidades públicas.

PESADELO TUCANO
O tucanato paulista teme que a crise do DEM de Brasília transborde para a cidadela do prefeito Gilberto Kassab. Num pesadelo, a relação apareceria no início de janeiro, com negócios semelhantes ao da Uni Repro Serviços Tecnológicos. A conexão poderia virar uma flor do recesso, nome que se dá aos temas que, por falta de assunto, ocupam o noticiário nas férias.

EVASÃO
Os ministros do Supremo Tribunal Federal mandaram ao Congresso um pedido de reajuste de até 56,5% para os servidores do Poder Judiciário. Entre outros motivos o aumento seria necessário para conter a migração de servidores da Justiça para outras carreiras. A fuga de mão de obra estaria entre 20% e 23%. Esse número não quer dizer nada. Nos últimos 23 anos a taxa de evasão do Supremo ficou na mesma faixa, entre 20% e 25%. Os ministros não deixaram a corte porque o dinheiro era pouco, pois se esse fosse o caso teriam abandonado o serviço público há décadas. Desde 1986 foram nomeados 20 ministros. Quatro foram-se embora antes da aposentadoria compulsória dos 70 anos: Célio Borja, Francisco Rezek (evadiu-se duas vezes), Nelson Jobim e Sepúlveda Pertence, que deixou o tribunal poucos meses antes de completar 70 anos. Pode-se somar a essa lista a ministra Ellen Gracie, que tentou migrar para a Corte de Haia e para a Organização Mundial do Comércio, sem sucesso.

MEIAS BLINDADAS
O deputado Leonardo Prudente, do DEM, explicou que guardou dinheiro nas meias, "em função da minha segurança". Tem toda razão. Brasília está cheia de ladrões.

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