UM ANO atrás, o ambiente econômico estava carregado de indisfarçável apreensão e nervosismo. Já se sabia que, pela primeira vez depois de décadas de prosperidade, o mundo entraria em recessão. Todos concordavam com essa perspectiva mundial. No Brasil, havia dúvidas sobre o comportamento da economia. Às vésperas do Natal do ano passado, concluí artigo nesta página dizendo que, excluído o exorbitante custo financeiro, não havia nada de errado com o Brasil. E acrescentei que o país, mesmo atingido pela tempestade da crise, poderia manter seu rumo, desde que fizesse alguns ajustes internos. Há um ano, as mentes menos ortodoxas sugeriam que a mais importante tarefa para escapar da recessão era criar mecanismos de estímulo ao mercado interno, de forma a compensar a inevitável queda das exportações decorrente da menor demanda global. A receita básica incluía a continuidade das desonerações tributárias, de forma a manter o consumo em nível elevado. Compreendia também a adoção de uma política de juros mais realista, para que os financiamentos à produção e ao consumo pudessem crescer. Àquela altura, os juros básicos no Brasil eram de 13,75% ao ano, enquanto nos EUA, por exemplo, já haviam caído para um intervalo entre zero e 0,25% anual, nível mais baixo em 50 anos. Outro ingrediente da receita era impedir a retomada da tendência da sobrevalorização do real, que havia sido atenuada com a crise externa -em dezembro de 2008, a cotação média do dólar foi de R$ 2,37. Um ano se passou e, às vésperas do Natal, a avaliação do desempenho brasileiro em 2009 é, felizmente, positiva. O país deve terminar o ano com o PIB no mesmo valor do ano passado. Diante da recessão internacional e das condições gerais adversas, o crescimento zero é um feito a ser comemorado. Deu certo, por exemplo, acreditar no efeito da redução de impostos. Na contramão do que ocorreu nos EUA e na Europa, a indústria automobilística brasileira pode ter a maior produção anual de sua história, com 3,2 milhões de veículos. Deve esse resultado ao mercado interno, turbinado pela oferta de crédito e pelo corte no IPI. Desonerações para eletrodomésticos, computadores, móveis e outros itens também tiveram efeito positivo nas vendas. Incentivos na área habitacional, de outra parte, colocaram a indústria da construção civil em um novo ciclo de expansão. Na área monetária, a receita foi aviada pela metade. Os juros básicos foram reduzidos para 8,75% ao ano e aí ficaram, um dos níveis ainda mais altos do mundo. O impacto para o tomador de crédito foi importante, mas poderia ter sido maior. Em média, o juro cobrado pelos bancos em novembro foi o mais baixo em 15 anos. Mas a taxa média -6,95% ao mês- é ainda abusiva. Basta dizer que significa 124% ao ano, para uma inflação de 4,5%. O ano de 2009, portanto, ficará na história para mostrar que a economia brasileira reage rapidamente a estímulos fiscais e monetários. Essas armas poderosas, entre elas o exercício da desoneração tributária, podem e devem ser usadas em diferentes situações para incentivar a produção e criar empregos. Durante muitos anos, por ideologia ou falta de audácia, elas foram relegadas. Esse é um legado de 2009 para ser lembrado às vésperas de um Natal que poderia se dar em clima recessivo, como em muitos países, mas que será comemorado em ambiente de otimismo e esperança. Boas festas a todos. |
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