domingo, novembro 08, 2009

CELSO MING

O culpado pelas bolhas

O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/11/09


Quando o desastre aconteceu, antes mesmo do socorro às vítimas, os acusadores de sempre procuraram pelos culpados. E, nessa crise, um dos mais alvejados foi Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

E foram duas as principais críticas. A primeira, mais profunda, foi a de que Greenspan deixou o mercado inundado de dinheiro no período entre junho de 2003 e junho de 2004. Foi quando os juros básicos nos Estados Unidos permaneceram ao redor de 1% ao ano. Esse dinheiro fácil, distribuído por um crédito mais fácil ainda, se tornou o enorme produtor de bolhas financeiras de todos os tipos, que acabaram por estourar em 2007 e 2008. Enfim, o Fed não tomou a iniciativa de adotar políticas prudenciais.

A segunda crítica é a de que, uma vez formadas as bolhas, Greenspan nada fez. Em nome da autorregulação, deixou os bancos e todo o sistema financeiro soltos demais para perpetrarem as lambanças que bem entenderam. E deixou que as bolhas estourassem e produzissem o estrago que conhecemos.

Essa segunda crítica é quase irrespondível. O Fed pouco fez para enquadrar os bancos. Se os tivesse submetido às regras da Basileia, talvez não tivesse sido tudo, mas teria sido um passo importante.

A primeira crítica parece menos relevante. Greenspan argumenta, com certa razão, que não havia em 2003-2004 inflação a combater. Além disso, os índices de produtividade vinham aumentando substancialmente e a necessidade de aumentar o emprego sugeria que havia dinheiro à vontade para turbinar o crescimento. E foi o que fez.

Não importa aqui se Greenspan estava certo ou errado. Ele já fez algumas autocríticas e provavelmente fará outras. O importante é entender que o potencial atual de formação de bolhas é ainda maior do que naquele período. Os juros internacionais estão no fosso há mais tempo, os bancos centrais injetaram dezenas de vezes mais dinheiro nos mercados. E os Tesouros não ficaram atrás. Há cerca de US$ 10 trilhões a mais zanzando nos mercados, assoprando todo o tipo de bolhas no mercado de ações, no de commodities e, provavelmente, também no de petróleo.

Desta vez, os bancos centrais adotam o mesmo discurso de então para não mexer nesses recursos. Avisam que não há inflação a combater, como se viu nas justificativas da semana passada, tanto do Fed como do Banco Central Europeu. E que, por isso, não há contraindicação importante para manter os juros onde estão. E acrescentam outro argumento: o de que a recuperação da economia continua frágil, como os números sobre o emprego estão demonstrando. E que, dessa forma, não se pode começar a puxar os juros de volta para cima.

Certos ou errados, os bancos centrais não estão sendo condenados pela fartura nos mercados. De vez em quando um durão qualquer (ou durona, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel) se atreve a criticar a leniência dos bancos centrais. Mas são logo engolfados por elogios que espocam por toda parte.

Mas, ninguém se iluda, quando começarem a estourar as bolhas, os dedos indicadores serão apontados para os atuais dirigentes dos grandes bancos centrais: "A culpa é deles, porque em 2008, 2009... e, assim, mantiveram os juros no subsolo."

Confira
Sem discurso - Continua dramática a falta de discurso da oposição. As regras do pré-sal vão sendo empacotadas do jeito que o governo quer. Não há posicionamento sobre a questão ambiental. Ninguém sabe o que a oposição pensa do trem-bala e o que fará com o PAC.

José Serra, principal aspirante das oposições à Presidência da República, só manifestou duas opiniões contrárias à atual política do governo Lula: ele é contra o câmbio e contra a política de juros.

São colunas mestras da atual política. E, no entanto, ninguém sabe o que um possível governo Serra colocaria no lugar delas.

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