terça-feira, outubro 27, 2009

CARLOS ALBUQUERQUE

Mudanças de hábito

O GLOBO - 27/10/09


Ação pessoal contra aquecimento é mais eficaz do que imaginado



Contra as transformações no clima, mudanças caseiras.

Um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que pequenas ações individuais — como não deixar aparelhos em modo standby e trocar regularmente os filtros de ar do carro — são mais importantes do que se imaginava. Segundo a pesquisa, a implementação em larga escala de tais atividades, se acompanhada por intensas campanhas de divulgação, poderia ser capaz de reduzir anualmente as emissões domésticas de CO2 nos EUA em mais de 20%.

Esse valor faria com que o país — historicamente o maior poluidor do mundo — tivesse uma diminuição total de emissões de aproximadamente 7,4% num período de dez anos. O número é superior às emissões totais de um país como a França.

Para os autores do estudo, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS), tais ações poderiam ser adotadas em curto prazo, com a utilização de tecnologias já existentes e sem “reduções no bem-estar individual”.

Com isso, as autoridades mundiais — que se reúnem em dezembro, em Copenhague, para discutir um novo acordo para substituir o Protocolo de Kioto, válido até 2012 — poderiam ganhar mais tempo para desenvolver políticas de médio e longo prazo para combater o aquecimento global.

Estudo toma EUA como referência

Nos EUA, o uso doméstico de energia respondeu, em 2005, por 38% das emissões de CO2 do país.

As emissões totais americanas (20% do total mundial) só são superadas pelas da China (que responde por 22% das emissões globais de CO2).

“Nós nos concentramos nos EUA não apenas por serem grandes poluidores, mas também por possuírem conhecimento e potencial para reduzir rapidamente essas emissões”, afirmam os autores, que estimam que boa parte desse total de reduções pode ser atingido nos primeiros cinco anos.

No estudo, liderado por Thomas Dietz, do Departamento de Sociologia e Ciências Ambientais da Universidade de Michigan, foram estimados os efeitos de 17 tipos de ações domésticas para reduzir as emissões, “com custo quase zero”. Eles consideram também a capacidade de mobilização e adesão da população americana, baseandose em iniciativas anteriores, como as tomadas no país durante a crise de energia nos anos 70.

Entre essas ações, estão o ajuste dos equipamentos de ar condicionado e calefação, o uso de geladeiras com certificação energética (que consomem menos). Ainda em casa, secagem de roupa ao ar livre em vez do uso de máquinas e até mesmo — para os consumidores abastados como os americanos — a opção por televisores LCD em vez dos aparelhos de plasma.

No carro, trocas regulares de óleo e manutenção da pressão dos pneus são recomendadas, além de ações ao volante, como moderação na velocidade e redução de manobras bruscas, como freadas desnecessárias, que aumentam o consumo de combustível.

Para os pesquisadores, tais ações deveriam ser incentivadas pelo governo através de grandes campanhas de marketing, para garantir a mobilização dos mais avessos. Segundo eles, uma grande oportunidade foi perdida durante o recente pacote de incentivo à economia do governo, que teria subestimado os ganhos da participação popular na redução de emissões do país.

O estudo afirma que tais medidas poderiam ser adotadas também por países como Canadá e Austrália, que possuem um perfil energético similar ao dos EUA. Metade de tais valores poderia ser alcançado também pelos países da União Europeia e pelo Japão, onde o consumo doméstico de energia é bem menos intenso e mais eficiente do que nos EUA.

Porém, um relatório, feito pelo Deutsche Bank, diz que interessados em negócios ligados às mudanças climáticas devem evitar os EUA e investir em países como Alemanha, Austrália, Japão, Brasil e até mesmo a China. Segundo o documento, divulgado ontem, tais países têm políticas “claras e transparentes” nas áreas de energia renovável e eficiência energética. A política americana para o setor foi considerada indecisa pelo relatório, que aponta a Itália como o país mais arriscado para tais investimentos.

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