quarta-feira, setembro 23, 2009

JACKSON SCHNEIDE

Nem herói, nem vilão: necessário


Folha de S. Paulo - 23/09/2009

Não se trata, pois, de sacralizar ou demonizar o automóvel. Nem herói, nem vilão. Apenas necessário ao homem e ao mundo


ELES TIVERAM presença determinante desde o século 20, deram novo perfil à sociedade e à civilização, influenciaram comportamentos, encurtaram tempo e distâncias, criaram um sem-fim de atividades econômicas e estão nas artes, na literatura, na fotografia, no cinema.
Falamos do automóvel, aqui sintetizando todos esses sinônimos de mobilidade que são os carros, os caminhões, os ônibus. Veículos que deram impulso à moderna industrialização, ajudaram a construir economias e facilitaram a vida das pessoas. Impossível imaginar a vida contemporânea sem eles.
Econômica e socialmente, o veículo é muito mais que um meio de locomoção ou de realização de uma aspiração. É uma criação potente, com projeções para a frente e para trás, produto de uma indústria estruturante -a indústria automobilística-, no sentido de que está ao meio de uma longa e complexa cadeia econômica, antes, durante e depois de sua fabricação.
Por isso mesmo, é inovadora em gestão, processos e métodos.
O automóvel é resultado de uma indústria indutora de tecnologias e geradora de novas economias, com reflexos em vasto campo de atividades, como em cadeias importantes da siderurgia, da eletrônica, da informática, dos combustíveis e da agroindústria, além de uma infinidade de serviços. Só no Brasil, 200 mil empresas têm suas atividades ligadas ao setor automotivo, desde fornecedores de matérias-primas à oficina da esquina.
Porém, onde há virtudes há também dificuldades a superar. O automóvel ingressa em seu segundo século de vida, e as qualidades que lhe garantiram um centenário de afirmação também lhe trouxeram críticas, que o "Dia Mundial sem Carro", instituído para 22/9, procura expressar.
Dificuldades de trânsito, acidentes e problemas de emissões de poluentes e seus reflexos sobre a saúde pública são as principais "culpas" atribuídas ao automóvel.
A essas somam-se outras preocupações, como a necessidade de proteger o condutor, os passageiros e os demais atores do trânsito -pedestres, ciclistas, motociclistas...
A sociedade deverá ter respostas adequadas e positivas para todas essas questões. Algumas respostas estão na própria indústria automobilística. Outras estarão em novas tecnologias e em ações governamentais.
Há uma verdadeira revolução tecnológica nos centros de pesquisa e desenvolvimento de veículos, priorizando cada vez mais no DNA dos carros futuros os conceitos de segurança, qualidade ambiental e mobilidade urbana. Projetos que enfatizam carros compactos, motorizações de maior eficiência e menor consumo e combustíveis alternativos.
A eletrônica e a informática estarão em crescente presença nos veículos, acionando-os e movimentando-os, definindo e orientando operações de maior dirigibilidade ao condutor, com economia de tempo e de recursos em adequados padrões de segurança e ambiental. Novos materiais e a nanotecnologia tornarão os veículos mais leves e mais recicláveis ao final de sua vida útil.
A infraestrutura viária e a engenharia de trânsito serão especializadas em garantir fluidez e segurança. Os acidentes de trânsito exigirão arrojadas ações preventivas, começando por uma formação mais rígida dos condutores. Os veículos terão sempre equipamentos de segurança veicular, seja preventiva, seja defensiva.
As emissões de poluentes serão crescentemente menores e, em alguns casos, eliminadas -ao menos na fonte final, que é o veículo. Biocombustíveis, veículos híbridos e elétricos já são realidade que ganha campo.
Energias veiculares como célula de hidrogênio e outras ainda inimagináveis serão testadas em novas formas de mover o veículo nos anos futuros.
O veículo dos anos futuros será muito mais avançado em termos de performance, design, dirigibilidade, funcionalidade, eficiência energética, emissões baixas ou zeradas, segurança, acessibilidade, manutenção e reciclabilidade no descarte.
A mobilidade urbana deverá ser solucionada por políticas públicas que considerem a quantidade de carros nas ruas, a infraestrutura viária, o transporte público eficiente e abundante, a engenharia e a educação de trânsito, a inspeção veicular, o uso racional do automóvel e, enfim, o planejamento urbano das metrópoles.
A equação automóvel-segurança e meio ambiente-mobilidade urbana será construída com produtos corretos e avançados, com legislações e políticas públicas e com a disciplina do consumidor.
Não se trata, pois, de sacralizar ou demonizar o automóvel. Nem herói, nem vilão. Apenas necessário ao homem e ao mundo.

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