segunda-feira, agosto 10, 2009

RUY CASTRO

De volta aos 12 anos


Folha de S. Paulo - 10/08/2009

Um comboio de 15 carretas transportando cigarros vindos do Paraguai foi apreendido na semana passada pela Polícia Federal em Bataguassu, MS. A carga era composta de cerca de 10 mil caixas de cigarros, contendo 500 mil pacotes ou 10 milhões de maços, num total de 200 milhões de unidades.
O carregamento se destinava a São Paulo, o Estado mais hostil do Brasil à prática do tabagismo. Significa que os contrabandistas não se intimidaram com a ideia fixa do governador José Serra.
Tudo isso antes que a lei antifumo de Serra entrasse em vigor, o que aconteceu neste fim de semana. A partir de agora, fumantes que insistam em frequentar boates ou botequins deverão submeter-se a revistas por fiscais façanhudos, comprar uma pulseira para se identificar e pedir permissão ao bedel para ir fumar lá fora -desde que o estabelecimento não tenha um toldo na porta, o que, segundo a lei, caracterizaria aquele espaço na via pública como um lugar fechado. Em outras casas, estarão sujeitos à delação oficialmente estimulada e poderão ter seus cigarros apreendidos. Se Serra queria tornar irresistível o prazer de fumar, conseguiu.
É também a infantilização maciça da população, uma volta geral aos doce 12 anos, idade em que meninos e meninas costumam fumar escondido. A maioria das carreiras tabagistas começa ali, nas escadas de serviço, na burla à proibição dos adultos. É no que apostam os contrabandistas de cigarros, agora equiparados aos traficantes de drogas -no natural fascínio da juventude pelo proibido.
Algo me diz que o rigor dessa lei criará uma vasta geração de jovens fumantes. As estatísticas dirão melhor, e a quantidade de cigarros apreendidos pela Polícia Federal logo será o novo índice de consumo, assim como acontece com as apreensões de maconha e cocaína.

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