sábado, agosto 29, 2009

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Por que sumiu logo o Belchior?
Ele não tem dinheiro no banco nem parentes importantes, como nossos senadores
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Tanta gente para sumir sem deixar vestígio – o Brasil agradeceria. E vai sumir logo o Belchior, apenas um latino-americano do Ceará sem parentes importantes. Não fez mal a ninguém, só a quem passou cheques sem fundos. Podia sumir a trinca Sarney, Renan e Collor. Podia sumir o ex-Mercadante com seus arroubos varridos para baixo do bigode. Podia sumir Suplicy com sua cartolina vermelha de efeito retardado. Mas o único que não tem dinheiro no banco é Belchior.

A melhor síntese do Senado em sua atual composição está numa charge assinada por Chico Caruso, que lembra o humorista Chico Anysio: “Só tem tantã, só tem tantã!”. Do ex-mercadante de ilusões ao ex-marido de Marta Suplicy, a performance recente dos dois senadores petistas era dispensável. Poderiam ter sumido antes. O Conselho de Ética do Senado sumiu.

Esperava-se mais dos dois senadores. Um pela macheza: “Minha renúncia é irrevogável”. Foi só o presidente Lula lembrar que Mercadante “já tem mais de 50 anos e sabe o que deve fazer”, e revogaram-se as intenções em contrário. E Suplicy, pela discrição quando a arquibancada se engalfinhava pela renúncia de Sarney. Na disputa do gesto varonil mais constrangedor, Mercadante e Suplicy empataram. Temi pela saúde dos dois – as olheiras de um incharam ainda mais. No outro, preocupou a fala periclitante de alguém alheio ao “tempo real” e ao apito final de jogo.

Ninguém some como Belchior. Pena. Até os fantasmas políticos, como Renan Calheiros e Fernando Collor, voltaram com muito dinheiro no banco e amigos importantes. O único fantasma que ronda hoje o Planalto usa colar, anel, brinco, flor na lapela e é uma leoa bonita de 61 anos, Lina Vieira.

Já desistimos de entender o que gravam e arquivam as câmeras de segurança do Planalto. Mas o governo garante que não há registro da visita de Lina à ministra Dilma Rousseff em dezembro. Ou Lina é uma mitômana – e não parece – ou Dilma realmente pediu à ex-secretária da Receita Federal favores de que se arrepende e não quer lembrar. O encontro era tão sigiloso que evaporou. Aliás, o governo sumiu com a Dilma também. Por um tempo.

Ele não tem dinheiro no banco nem parentes
importantes, como nossos senadores

Dezenas de funcionários do Fisco também sumiram, em solidariedade à ex-chefe Lina e contra a ingerência do Planalto. Além de ser uma atitude inédita tanta gente junta largar um bom emprego, essa demissão em massa é um bom lembrete. Quando alguém quer realmente sair, renunciar, desaparecer, não avisa antes. Não se diz “vou”. E sim “fui”.

Daqui a pouco vão sumir com o Mantega, derretido aos poucos por Lula. O presidente não está contente com o ministro da Fazenda e sua maneira peculiar de acentuar crises. Quem cai em desgraça hoje com “o cara” tende a desaparecer.

Um que andava quase tão sumido quanto Belchior era o tucano José Serra. O governador de São Paulo decidiu há tempo não aparecer em manchete de jornal. Driblou com o silêncio as provocações do mineiro carioca Aécio Neves, emudeceu durante a saga do Senado, não opinou sobre Marina Silva, ignorou Ciro Gomes. Só acompanha as pesquisas para a sucessão presidencial em 2010. Agora, já quer aparecer: está gastando R$ 680 mil por mês com 2,3 milhões de boletins que começam a ser distribuídos na casa de moradores de 52 cidades de São Paulo. Nos boletins, faz propaganda de sua gestão.

Não se sabe se Belchior reaparecerá logo. Num hotel em São Paulo, o cantor morou quase dois meses, até 30 de setembro, e deixou dois cheques sem fundos de R$ 12.260,44. Um Mercedes está no aeroporto em Congonhas, com dívidas acumuladas de estacionamento. Outro carro foi abandonado na rua. Não pagou mais a pensão da ex-mulher. Surgiu num show em Brasília com Tom Zé em março. Uma foto mostra o artista ou um sósia no Uruguai em junho.

Dá vontade de sumir quando se lê o noticiário político. Mas Belchior deve ter outros motivos para o exílio de si mesmo. Dizem que ele é marqueteiro, mas quem não é no Congresso? Dizem também que está numa praia. Belchior tem bigodão de senador, mas falta-lhe dinheiro. Faltam também parentes importantes no país do nepotismo.

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