Não é apenas a caixa-preta do Airbus da Air France que está perdida. Há bem mais tempo ninguém consegue achar a caixa-preta do sistema financeiro, espalhada pelos Estados Unidos, pela Europa e sabe-se lá por onde mais. Até que acharam pedaços aqui e ali, mas o gerente-geral do BIS (o Banco de Compensações Internacionais, o conglomerado que reúne os 55 bancos centrais mais relevantes do mundo) acaba de confessar que não tem ideia de quando estará consertado o sistema financeiro. Jaime Caruana, o gerente-geral, afirma que é um trabalho complexo descobrir quanto cada banco perdeu e onde estão todos os chamados ativos tóxicos que entupiram o sistema. Posso até aceitar que seja um trabalho difícil, mas já passou tempo demais. Se cravarmos fevereiro/ março de 2007 como o início da crise, então chamada modestamente de crise das hipotecas subprime, já se foram dois anos e pico. Se formos condescendentes com a banca e marcarmos 15 de setembro de 2008 (quebra do Lehman Brothers) como o início da crise, ainda assim são nove meses e meio. Tempo mais que suficiente para parir um filho, mas não para expor a caixa-preta dos bancos? Em plena era da tecnologia da informação? Ao que se saiba não há nenhum computador de banco no fundo do oceano Atlântico. Detalhe adicional: Caruana diz, como é óbvio, que o conserto dos bancos é pré-condição para que o resto da economia fique de novo de pé de maneira sustentada. Parêntesis: é bom deixar claro que os bancos brasileiros não parecem ter caixa-preta. Mas, nos demais casos, enquanto o segredo não é desvendado, o sangue continua vazando: no Reino Unido, a economia teve no primeiro trimestre a maior queda em 50 anos; o Japão registra o maior índice de desemprego dos últimos 46 anos. E a caixa-preta? |
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