Surpreendeu pelo tom agressivo e até arrogante a entrevista que o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, concedeu aos repórteres Irany Tereza e Nicola Pamplona, publicada domingo pelo Estado. Não é de seu temperamento reagir publicamente com irritação. Na entrevista, porém, Gabrielli, além de afirmar que "nós estamos preparados para um vale-tudo" no caso de a CPI criada no Senado para apurar denúncias de irregularidades na Petrobrás vir a ser instalada e começar a cumprir o papel que lhe cabe - o que parece cada vez mais improvável dados o fogo cerrado do governo para esvaziá-la e as vacilações da oposição para fazê-la avançar -, disse não ter dúvidas de que está em operação um esquema na imprensa para a criação de "fatos artificiais" com o objetivo de atacar a direção da empresa.
Num ponto, de fato, a atuação da empresa vem sendo criticada praticamente desde sua criação. Ela nunca deixou claros os critérios que utiliza para fixar os seus preços. Por ser sistematicamente mantida longe do conhecimento público, a política de preços da Petrobrás transformou-se numa "caixa-preta". Essa crítica continua válida. Mas a "campanha da imprensa" contra a Petrobrás é produto fabricado pela imaginação de Gabrielli, ao que tudo indica, acionada pelo temor do que uma nova CPI poderia revelar.
Em seu modo de interpretar o trabalho da mídia, o presidente da Petrobrás entende que os principais veículos de comunicação do País - este jornal está entre os citados por ele - participam de uma espécie de ciranda, por meio da qual parlamentares da oposição alimentam a imprensa com denúncias e, depois, reproduzem as acusações no Congresso. Nos últimos meses, segundo ele, a imprensa vem sistematicamente publicando, no fim de semana, uma acusação bombástica contra a Petrobrás; na segunda-feira, publica a declaração de um parlamentar que reproduz a denúncia e pede que o assunto seja discutido numa CPI.
A verdade é que a Petrobrás, por sua história, suas realizações, seu corpo técnico, sua importância, sempre mereceu cobertura isenta dos veículos de comunicação do País que nunca lhe pouparam elogios que realmente mereça.
Seu peso na economia brasileira e nas finanças do governo fica nítido no relatório do Banco Central sobre as contas do setor público. Em razão da decisão do governo de retirar a Petrobrás do cálculo do superávit primário - para lhe dar mais liberdade de investir -, o resultado de maio ficou em R$ 1,12 bilhão, bem inferior ao valor esperado pelos analistas do mercado financeiro, de cerca de R$ 4,5 bilhões incluindo os resultados da empresa.
Nesta página, há cerca de um mês, se mostrou a grande diferença entre a gestão da estatal venezuelana PDVSA, à beira do colapso financeiro por causa de seu uso desabusado para o financiamento da política populista do presidente Hugo Chávez, e a da Petrobrás, que, desde sempre, tem conseguido rechaçar as tentativas de governos de colocá-la a serviço dos seus interesses políticos.
Há dias, houve problemas no seu relacionamento com a mídia, mas por sua própria culpa. A Petrobrás tentou entravar o trabalho da imprensa com a decisão - felizmente revista - de divulgar em seu blog a correspondência eletrônica trocada com jornalistas que buscavam informações, antes de sua publicação pelo veículo interessado. Além disso, se "campanha" contra ela houver, tem todas as condições de enfrentá-la, pois dispõe em seu quadro de pessoal de grande número de jornalistas.
Gabrielli disse na entrevista que a Petrobrás está pronta para responder a todas as questões levantadas no requerimento para a constituição da CPI, entre as quais possíveis irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nos contratos de construção de plataformas, indícios (também apontados pelo TCU) de superfaturamento na construção da Refinaria Abreu Lima e denúncias de emprego de artifícios contábeis que resultaram na redução de R$ 4,3 bilhões no recolhimento de tributos.
Mas não são dúvidas deste tipo que estão intrigando a opinião pública, mas sim aquilo que permite perguntar se o zelo da administração Gabrielli em relação aos interesses políticos do governo não é o mesmo de administrações anteriores. |
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