domingo, julho 26, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

Torcendo pela falta


JORNAL DO BRASIL - 26/07/09

Só de se constatar que um zagueiro de área é o artilheiro do time já dá para desconfiar que alguma coisa anda errada com o Botafogo. Juninho marcou 1/4 dos 20 gols – escrevo antes da partida de quarta-feira – e ainda vem permitindo que os atacantes justifiquem seus salários pegando o rebote de seus chutes, como aconteceu com Reinaldo contra o Náutico. Depois do gol Reinaldo ajoelhou-se e agradeceu a Deus, um ingrato que deveria, isso sim, ter beijado os pés de Juninho.

O treinador Ney Franco declarou que as cobranças de faltas do zagueiro vem sendo a melhor jogada de ataque do Botafogo. Permitam-me uma correção: os chutes de Juninho são a ÚNICA jogada de ataque do time!

Dizem que o zagueiro permanece depois dos treinos aperfeiçoando cobranças de faltas até o anoitecer para atender aos apelos dos cartolas (e dos torcedores). Os outros nove jogadores ficam treinando – como direi? – a melhor maneira de receber faltas entre a intermediária e a grande área adversária. Parece que estou vendo o Ney Franco se esgoelando à beira do gramado, orientando seus atacantes:

– Não chuta, Victor! Não chuta a gol pelo amor de Deus! Prende a bola. Prende a bola e espera a falta.

– Mas eu sou um atacante, professor. Tenho que chutar.

– Esquece, Victor, esquece. Você tem é que cavar faltas. Deixa os chutes para o nosso zagueiro!

Todo o esquema tático do Botafogo se baseia nas cobranças de Juninho. Os atacantes inclusive são orientados a não criarem situações de gol (não vão marcar mesmo!). Se você duvida basta olhar para o André Lima – como reclama esse cara! – de costas para o gol adversário fazendo corpo mole à espera de uma falta. Enquanto a torcida dos outros times se levanta quando a bola ronda a área adversária, a do Botafogo fica de pé quando a bola chega a intermediária inimiga, rezando por uma entrada faltosa. A torcida do Botafogo é a única que primeiro torce para o time receber uma faltinha para depois poder torcer por um gol. Já viu disso?

É para dar oportunidade às cobranças de Juninho que o Botafogo vive de chutões para frente (mesmo porque não tem meio de campo). Se sair tocando a bola de primeira, como pede a cartilha do futebol, dificilmente alguém vai levar falta. Sem falta como sairão os gols? Se você pensa que o Botafogo recua após abrir o placar porque é um time medroso, sem confiança ou para garantir o resultado, está redondamente enganado. O recuo faz parte da estratégia dos chutões. De repente num chutão desses o zagueiro adversário sobe nas costas do Reinaldo e a torcida, feliz, poderá gritar o nome de Juninho, o salvador da pátria alvinegra.

Foi assim contra o Náutico, um jogo em que o juiz Jose Henrique de Carvalho bateu o recorde de lambanças. Validou gol em impedimento, compensou com um pênalti que não houve, não viu a cotovelada em Lucio Flavio a um palmo do seu nariz. Diz o comentarista de arbitragens da TV Globo que ele é aspirante aos quadros internacionais. Pois pelo que apitou na quarta-feira eu não o deixaria passar nem na porta da Fifa. Conseguiu uma façanha inédita: ser pior do que o gramado dos Aflitos.

Ney Franco reclamou que o time não soube matar o jogo. Matar como? Só mata quem tá vivo!

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