domingo, abril 05, 2009

ELIANE CANTANHÊDE


O futuro do Samuel

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/04/09

DUBAI - Começaram as apostas sobre o destino do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães a partir do mês de outubro, quando completa 70 anos e deverá, ou deveria, se aposentar.
Todo-poderoso secretário-geral do Itamaraty, Samuel é bacharel pela Faculdade Nacional de Direito do Rio, mestre em economia pela Universidade de Boston e ex-professor da UnB, da UFRJ e da UERJ. Com tantos títulos, só virou secretário-geral depois de um jeitinho. Faltava-lhe um requisito funcional: ele nunca havia sido (como continua sem ser) embaixador em país nenhum.
Para a mão se amoldar à luva, foi editada MP abrindo o cargo para "ministros de primeira classe" em geral (embaixadores com ou sem embaixadas), retirando a exigência de que alguma vez tivessem apresentado credenciais no exterior. Agora, a melhor aposta é que um novo jeitinho está em gestação: um parecer da Consultoria Jurídica simplesmente dizendo que o cargo é de "ministros de primeira classe", agora sem especificar se têm de ser da ativa ou podem ser aposentados. Casado com uma americana, Samuel liderou o enterro da Alca e é o símbolo do antiamericanismo da atual gestão do Itamaraty -algo que ele, evidentemente, nega. Mas não nega e até se orgulha de ser o símbolo da política externa "de esquerda", de ser o petista número um entre os diplomatas e de frequentar os palanques eleitorais de Lula em 2006.
Enquanto Celso Amorim se digladia na OMC e faz o trabalho de campo para Lula brilhar com suas teses "de improviso", Samuel é uma espécie de técnico que cuida da casa, dos diplomatas, dos funcionários. Mas, enterrada a Alca, a luta continua. Nas horas vagas, é o fiel escudeiro do assessor internacional Marco Aurélio Garcia, em infindáveis idas e vindas à Argentina.
Aliás, essa é uma outra aposta: Buenos Aires. Seria uma forma de não encerrar a carreira como embaixador sem embaixada.

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