domingo, janeiro 18, 2009

AUGUSTO NUNES

Jornal do Brasil 18/01/09

Sete Dias

De volta ao século 19 – Comandantes dos acampamentos ameaçam recomeçar a Guerra do Paraguai

Já excitados com a chegada do MST aos 25 anos de vida, os comandantes das tropas dos sem-terra eriçaram-se de vez, na virada para 2009, com a coincidência tremenda: faz 145 anos que a Guerra do Paraguai começou. Duas efemérides tão admiráveis, somadas à recente chegada ao poder do companheiro Fernando Lugo, mereciam muito mais que festejos ortodoxos, como a depredação de fazendas produtivas ou o confisco de prédios federais. Assim nasceu a idéia de retomar o grande conflito encerrado em 1870. Só que agora com o MST a favor da potência vizinha e contra o Brasil.

Na primeira semana de janeiro, o marechal João Pedro Stédile comunicou ao presidente Lugo que os soldados entrincheirados nas barracas de lona preta estão prontos para desencadear a revanche do século com a execução de duas missões. Primeira: invadir e ocupar as instalações da hidrelétrica de Itaipu, o que obrigaria o Planalto a reformular o tratado em vigor desde 1973. Segunda: expulsar do Paraguai agricultores brasileiros ali infiltrados há décadas.

"A Eletrobrás paga uma bagatela pela energia comprada do país vizinho", descobriu Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST. Quem sai lucrando, segundo a figura batizada em homenagem ao atacante italiano que ganhou a Copa de 1994 para o Brasil, são "grandes grupos econômicos estrangeiros". Como a Eletrobrás.

Marco Aurélio Garcia, conselheiro presidencial para complicações cucarachas, não vê nada demais na declaração de guerra. "Vivemos em um país democrático", ensina o assessor de Lula. "Qualquer partido político ou qualquer movimento social pode defender suas posições à vontade. Considero legítimas todas essas manifestações".

Embora agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) andem monitorando os encontros entre autoridades paraguaias e dirigentes do MST, Baggio usa o salvo-conduto concedido pelo companheiro Garcia para provocar o governo de que faz parte o assessor Garcia em entrevistas ou nos textos beligerantes que publica no site do MST.

"Nada é mais nacionalista do que defender a soberania de um povo sobre os seus recursos naturais", argumenta o artilheiro sem-terra. "Defendemos a soberania de todos os países. Somos contra o imperialismo dos Estados Unidos sobre o Brasil e do Brasil sobre qualquer país da América do Sul". É isso aí, avaliza o comandante Stédile, no momento ocupado com os retoques finais no plano de abrir uma segunda frente na Bolívia, e botar para fora todos os brasileiros proprietários de terras ou empresas no reino de Evo Morales.

No século 19, o Exército imperial precisou aliar-se à Argentina e ao Uruguai, e lutar durante cinco anos, para derrotar um inimigo solitário. No início do terceiro milênio, o Paraguai tem o apoio de uma quinta coluna com a qual Solano Lopes sequer sonhou. Mas hoje as coisas parecem bem menos complicadas. Sucessor do Duque de Caxias, o general Nelson Jobim só precisa convencer o governo Lula a suspender a mesada e o rancho das tropas, além de enquadrar os recalcitrantes com pedagógicas temporadas na cadeia. Também para o ridículo há um limite.

 Essa crise é coisa para gente grande

No programa radiofônico semanal, o presidente Lula resumiu a receita que preparou para resolver de vez todos os problemas do Oriente Médio. "Nós precisamos detectar quem quer os conflitos e colocar essas pessoas numa mesa de negociação, junto com as forças políticas que têm influência, tanto na Autoridade Palestina, sobretudo no Hamas, e no povo de Israel, para que a gente possa começar uma conversação e encontrar uma fórmula, para que eles possam viver em paz e cada um desenvolver o seu país". Simples assim. Lula estudou a questão porque "gostaria que árabes e judeus vivessem em paz, no Oriente Médio, assim como convivem no Brasil". Foi por isso que despachou Celso Amorim para a zona conflagrada.

A rainha de Sabá tem mais chances que o chanceler brasileiro de participar do grupo de negociadores da paz improvável entre israelenses e palestinos. É coisa para representantes de países neutros, e o Brasil governado por Lula é hostil ao Estado judeu. É coisa para nações com relevância geopolítica, e o Brasil só influencia os destinos do planeta na cabeça dos mitômanos do Planalto e dos napoleões de hospício do Itamaraty. E é coisa para gente grande. A crise do Oriente Médio é séria demais para ser discutida por um ministro das Relações Exteriores que, antes da decolagem do avião, troca o terno pelo pijama e pede um copo de leite à comissária de bordo que oferece taças de champanhe aos passageiros da primeira classe.

Presidente do STF pisa no acelerador


No dia 9, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, libertou três integrantes da quadrilha de extorsionários a que pertence o incansável Marcos Valério. No dia 14, soltou também o ex-tesoureiro do mensalão, que horas antes fora obrigado a continuar na cadeia por decisão do Tribunal Regional Federal de São Paulo. No dia 15, Gilmar Mendes aproveitou o embalo e autorizou a volta à Assembléia Legislativa de Alagoas de 10 parlamentares afastados dos cargos por corrupção.

Janeiro mal chegou à metade. O mais rápido sacador de habeas corpus do mundo já merece o título de "Homem sem Visão do Ano".

Soberania agora rima com cinismo

"O Brasil é um país generoso e tomou uma decisão soberana", recitou o presidente Lula para justificar a absolvição pelo ministro Tarso Genro do italiano Cesare Battisti, condenado em seu país à prisão perpétua por assassinato. Nenhuma palavra sobre os dois pugilistas cubanos capturados no Rio quando tentavam escapar para a Alemanha e devolvidos a Havana por exigência de Fidel Castro. "Eles pediram para voltar", mentiu Genro de novo. Um já conseguiu fugir da ilha. O outro continua por lá, proibido de lutar pela mais antiga ditadura do planeta. No governo Lula, soberania é apenas uma rima pobre para ideologia. E generosidade é o outro nome do cinismo.

Medalha de ouro em pilantragem

O Diário Oficial da União informou que o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro resolveram melhorar o visual dos sete cartolas escalados "para a realização de ação de relações públicas internacional por ocasião de entrega do Dossiê de candidatura em Lausanne, Suíça". Cada um recebeu US$ 2 mil só para "Aquisição de Vestuário". Como a turma continua implorando por um banho de loja, ou os cabos eleitorais do Rio pagaram demais por roupas de quinta (e, portanto, são imbecis) ou embolsaram o dinheiro (e, nesse caso, são gatunos).

Para pagar o tratamento de lesões que a afligem desde os Jogos de Pequim, a ginasta Jade Barbosa vende autógrafos.

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