"VOU EXPLODIR"
Enrolado com sanguessugas, ex-líder ameaça arrastar cúpula do PMDB ao centro da crise
Diego Escosteguy
Fotos J. Freitas, Rosewelt Pinheiro e Beto Barata/AE
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador José Sarney: na mira de Suassuna
Entre os 72 parlamentares já emparedados pela CPI dos Sanguessugas, nenhum tem a musculatura política do senador Ney Suassuna. Manda-chuva do PMDB, ex-líder do partido no Senado, ex-ministro de Fernando Henrique e assíduo interlocutor do presidente Lula, Suassuna caiu em desgraça quando o empresário Luiz Antônio Vedoin decidiu expor as ventosas do esquema que drenava dinheiro público por meio da compra de ambulâncias superfaturadas. Depois de ter um assessor preso por receber dinheiro da máfia, e dos depoimentos do próprio colaborador confirmando que ele sabia do esquema, Suassuna teve seu processo de cassação aberto pelo Conselho de Ética do Senado na semana passada. Suassuna sabe que o relator de seu processo, o implacável senador Jefferson Peres, do PDT do Amazonas, dificilmente deixará de pedir sua cassação. Desesperado com a possibilidade de perder o mandato, ele vem distribuindo recados ameaçadores aos colegas de partido, incluindo o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros. "Não caio sozinho", tem repetido aos quatro ventos em Brasília.
Há duas semanas, quando foi obrigado a deixar o cargo de líder do partido no Senado por causa das suspeitas, Suassuna recebeu o senador Wellington Salgado, do PMDB mineiro. Salgado encontrou o colega colérico, mergulhado em papéis e separando cinco envelopes em sua mesa. Suassuna foi direto. "Estou indo agora ao plenário para ler estas cinco cartas", anunciou, em tom desafiador. "Vou explodir o Sarney, o Renan e o Amir", completou, insinuando que os envelopes continham informações supostamente comprometedoras para os senadores José Sarney, Renan Calheiros e Amir Lando. Salgado se assustou. "Calma, vamos resolver isso agora", disse o senador. Suassuna foi demovido da idéia – sabe-se lá com que argumentos. Segundo um assessor do partido que viu os envelopes, mas não seu teor, um deles tinha como objeto um quarto personagem, o senador Romeu Tuma, do PFL de São Paulo.
Os recados de Suassuna são transmitidos de forma sutil, sempre por meio de telefonemas, e em nada lembram a teatralidade do episódio das cartas. Ele costuma dizer que se sente "abandonado" pelo PMDB e que "todos estão juntos". O temor dos líderes é que o senador, dono de um humor instável, leve a cabo as ameaças. É difícil saber o tamanho de seu arsenal e a firmeza de seus propósitos. Mas que ninguém duvide de uma coisa: Suassuna conhece a engrenagem peemedebista no governo do PT. Ao lado de Calheiros e Sarney, ele controla postos endinheirados, como diretorias no Ministério da Saúde, nas Comunicações, na Eletrobrás, na Eletronorte, na Petrobras, no Banco do Brasil e – ufa! – até nos Correios, ninho do mensalão. Consultado por VEJA sobre sua movimentação atual, o senador mandou dizer, por meio de sua assessoria, que "não está ameaçando ninguém" e que mantém "boas relações" com Renan e Sarney. Bem, Roberto Jefferson, às vésperas de explodir o mensalão, dizia a mesmíssima coisa.
REVISTA VEJA HOJE
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