ARNALDO JABOR -HOJE NA VEJA
Veja – O senhor já disse que a eleição de Lula foi resultado da ignorância do eleitorado e da utopia dos intelectuais. A cada vez mais provável reeleição do presidente seria fruto de quê?Jabor – Das mesmas coisas. Acho que a grande massa da população não consegue entender as filigranas do que considero que deva ser a mudança política e administrativa do país e também não conseguiu compreender em detalhes o escândalo que ocorreu. A população não sabe o que é sigilo bancário, fundo de pensão, emenda ao Orçamento – acha que o Lula foi injustiçado, que é uma vítima da pancada das elites. Já os intelectuais, grande parte deles não consegue entender o país e continua tendo uma visão utópica do Brasil.
Veja – Em que consiste essa utopia?Jabor – É uma visão antiga do que seria "progressismo". Quando o Roberto Jefferson abriu a porta do bordel do Ali Babá e mostrou os 40 ladrões, nós tivemos uma visão de como o atraso, o clientelismo e a corrupção funcionam no Brasil. Também vimos como é utópica, frágil e louca, na minha opinião, essa idéia do que seria "progressista". É um ensopadinho feito de leninismo, de getulismo, de desenvolvimentismo, estatismo e sindicalismo. Esse ensopadinho nos joga de volta a um tempo de utopias irrealizáveis e impede uma agenda modernizadora, que é feita de mudanças óbvias. Óbvias, mas áridas para o gosto da velha esquerda: reforma tributária, reforma da Previdência, enxugamento do Estado. O que me dói no Brasil não é que seja difícil mudá-lo: é que me parece que seria fácil. VEJA, outro dia, deu uma matéria com sete prêmios Nobel. Todos, praticamente, receitavam a mesma coisa. As mudanças que têm de ser feitas no Brasil estão catalogadas cientificamente. Só que não têm a grandeza épica com que tantos intelectuais sonham. São um pouco mais sem graça. Com a diferença de que funcionam.
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