domingo, julho 07, 2013

Surge, enfim, o nome da mudança - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

A revolta das ruas produziu um milagre. Não as votações espasmódicas do Congresso Nacional, nem a revogação de aumentos das tarifas de ônibus. Esses foram atos oportunistas, que logo sumirão na poeira da história, embora tenham sido celebrados como vitórias revolucionárias. O milagre também não foi a reação do governo Dilma Rousseff, que propôs ao país um plebiscito para reformar a política. Outros governantes já usaram alegorias para embaçar o debate. Como a alegoria de Dilma é especialmente fajuta, não será comentada neste espaço. O milagre da onda de passeatas foi a reabilitação dele - o filho do Brasil, o homem e o mito, Luiz Inácio Lula da Silva.

A opinião pública brasileira é um show. A pesquisa Datafolha que registrou queda na avaliação do governo Dilma quase à metade revelou que, hoje, a eleição presidencial iria para o segundo turno. A não ser que Lula entrasse no páreo. Aí ele seria eleito em primeiro turno.

O povo, revoltado com tudo isso que aí está, puniu Dilma nas pesquisas porque quer mudança. E sua opção de mudança é Lula. Viva o povo brasileiro! A pesquisa revelou mais. Quem teria, hoje, o melhor preparo, entre os candidatos, para resolver os problemas econômicos do Brasil? Em primeiro lugar, disparado: Lula. É um resultado impressionante.

A maioria do eleitorado deve estar escondendo alguma informação bombástica. Devem ter algum segredo, guardado a sete chaves, sobre o novo Lula. Diferentemente do velho, esse aí não deve ter nada a ver com Dilma, Guido Mantega, Gilberto Carvalho, José Dirceu, enfim, a turma que estourou as contas nacionais para bancar o populismo perdulário.

Não, nada disso. O novo Lula - esse que a voz do povo descobriu e não quer nos contar - é um administrador moderno, implacável com o fisiologismo. Um Lula que jamais daria agências reguladoras de presente a Rosemary Noronha, para ela brincar de polícia e ladrão com os companheiros (é bem verdade que a polícia só chegou ao final da brincadeira). Esse Lula, que hoje seria eleito para desenguiçar a economia brasileira, sabe que politizar e vampirizar uma Anac compromete o serviço da aviação. O povo foi às ruas por melhores serviços de transportes, e o novo Lula não faria como o velho Lula - aquele que transformou as agências do setor num anexo do PT e seus comparsas. Jamais.

O povo brasileiro é muito sagaz. Descobriu o que nem um sociólogo visionário descobriria: o sujeito que pariu Dilma, montou seu modelo de administração e dá pitaco nele até hoje fará tudo completamente diferente, se for eleito presidente em 2014. Quem poderia supor uma guinada dessas? Só mesmo um povo sacudido pela revolta das ruas faria essa descoberta genial. O grande nome da oposição a Dilma é Lula. É ele quem saberá levar as finanças nacionais para onde Dilma, segundo a pesquisa, não soube levar. O eleitor brasileiro é, desde já, candidato ao Prêmio Nobel de Economia por essa descoberta impressionante.

Como se sabe, Lula manteve a política econômica de Fernando Henrique - até porque seu partido não tinha política de governo, não tinha projetos administrativos (continua não tendo), não tinha nada. Para manter a militância acesa, o ex-operário assumiu a Presidência criticando o Banco Central. Auxiliado pelo vice José Alencar, inaugurou o primeiro governo de oposição da história. (Longe dos holofotes, pedia pelo amor de Deus para o BC continuar fazendo o que estava fazendo, já que ele não entendia bulhufas daquilo.) A conjuntura internacional foi uma mãe para o filho do Brasil, e ele torrou o dinheiro do contribuinte na maior festa de cargos e propaganda já vista neste país. Lançou então a sucessora, que fez campanha dizendo que o PT acabara com a inflação.

O único erro de cálculo dos companheiros foi esquecer que a desonestidade intelectual tem pernas curtas. E a conta do charuto do oprimido chegou: eis a inflação de volta. (Ao negar esse fato, Mantega foi convidado pelo companheiro Gilberto Carvalho a dar um passeio na feira.) Mas vem aí o novo Lula, ungido pela sabedoria das massas, para salvar a economia brasileira. Qual será seu segredo? Será a substituição de Guido Mantega por Marcos Valério? Pode ser. Até porque o país não suporta mais amadorismo. 


Capitalismo: êxito ou fracasso? - MAÍLSON DE NOBREGA

REVISTA VEJA

O capitalismo é a forma natural e mais bem sucedida de organização econômica desde a Antiguidade. Inexiste substituto melhor. Frei Betto, porém, não pensa assim. Ele duvida do êxito do capitalismo. Em entrevista à Rádio CBN (15/6/2013), disse: "Enquanto o Evangelho prega a solidariedade, o capitalismo prega a competitividade" (ele quis dizer competição, concorrência). "Enquanto nós cristãos pregamos que o ser humano tem de estar acima de tudo, com seus direitos preservados, ele prega que a prioridade reside no capital" (não há prova dessa afirmação). Sua conclusão: "O capitalismo é bom apenas para um terço da humanidade. Todo mundo fala no fracasso do socialismo. Engraçado, ninguém fala do fracasso do capitalismo para dois terços da humanidade".


Segundo Max Weber (1864-1920), o capitalismo sempre existiu nos países civilizados. Havia empresas capitalistas "na China, na índia, na Babilônia, no Egito, na Antiguidade Mediterrânea e na Idade Média, tanto como na Idade Moderna". Imagino que os vendilhões que Cristo expulsou do Templo (Mateus 21:12) praticavam um capitalismo primitivo.

O capitalismo moderno surgiu na Europa entre os séculos XVIII e XIX. Derivou de longa obra institucional, da qual se destacam dois eventos na Inglaterra: a Carta Magna (1215) e a Revolução Gloriosa (1688), que eliminaram o absolutismo. A supremacia do poder foi transferida para o Parlamento. O rei perdeu a prerrogativa de demitir juízes e de gastar a seu bel-prazer. O Judiciário independente passou a garantir direitos de propriedade e respeito a contratos. A ordem capitalista começou a emergir da segurança jurídica. Nasceu a liberdade de imprensa. Com a lei de patentes (1624), a propriedade, antes restrita aos bens físicos (finitos), se estendeu às inovações (infinitas). Graças à criação do Banco da Inglaterra (1694), a taxa de juros caiu, e surgiu um amplo mercado de crédito para empresas. A inovação e o empreendedorismo explodiram, desaguando na Revolução Industrial.

Adam Smith (1723-1790) realçou o papel do mercado na prosperidade. Sua obra A Riqueza das Nações (1776) é um portento filosófico que realça as liberdades individuais e destaca a divisão do mercado, a concorrência e a produtividade como motores da expansão econômica e da geração de riqueza. Depois, a pesquisa e o ensino ampliaram o conhecimento sobre o funcionamento da economia. Os governos aprenderam a construir instituições que lidam com os excessos do capitalismo e asseguram a melhor distribuição da riqueza gerada pelo mercado. Na época de Smith, 90% dos europeus ocidentais eram pobres. Atualmente, apenas 10%. Foi a maior revolução social da história até então. A partir de 1978, com o primeiro-ministro Deng Xiaoping (1904-1997), a China protagonizaria outra revolução, mais rápida. Quando as reformas de Deng reinstituíram o capitalismo, a renda per capita era um terço da prevalecente na África subsaariana. Em três décadas, a China passaria a país de renda média, retirando da pobreza mais de meio bilhão de pessoas.

O capitalismo é um gigantesco processo de coordenação de expectativas e de cooperação entre indivíduos, empresas e governo. Não depende de um comando central como no socialismo. Ao contrário deste, incentiva a criatividade, a inovação, o avanço tecnológico e, em última instância, a criação de riqueza.

O capitalismo não é perfeito. Crises financeiras e de outra natureza provocam recessões que prejudicam a economia e o bem-estar. Sua vantagem é aprender com elas, renovar-se, e promover mudanças que previnem a repetição de erros e suscitam a recuperação. No socialismo não há tais crises, mas o regime fracassou. A União Soviética morreu. As crises do capitalismo tampouco ocorrem em Cuba e na Coreia do Norte, os sobreviventes, pois não têm sistema financeiro. Lá, o socialismo legou uma economia decadente e igualitária na pobreza.

Hoje, a pobreza se concentra nos países que não construíram as instituições propícias ao florescimento do capitalismo. Eles constituem a maior parte dos dois terços citados por Frei Betto. Se um dia se transformarem, o capitalismo também lhes trará o êxito. O fracasso ficará para trás.

Henrique e Renan não me representam - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Sugestão para um plebiscito simples: os presidentes da Câmara e do Senado devem renunciar? Sim ou não?


Sugestão para um plebiscito simples e objetivo: os presidentes da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devem renunciar? Sim ou não? Henrique e Renan agora querem ouvir a voz das ruas, embora tenham sido eleitos em voto secreto por seus companheiros. Que tal perguntar ao povo se Renan & Henrique têm estofo ético para presidir o Legislativo e conduzir a moralização?

Os dois usaram jatos da FAB para lazer pessoal e da família em fins de semana. Henrique foi de Natal ao Rio de Janeiro com filho, noiva, cunhado, concunhada e enteados para assistir à final Brasil x Espanha no Maracanã. Quanta generosidade com a verba alheia. Num Brasil já conflagrado por protestos, Renan foi com a mulher, no dia 15 de junho, de Maceió a Trancoso, na Bahia, para o casamento da filha do amigo Eduar­do Braga (PMDB-AM), líder do governo no Senado.

São os aviões da alegria, transportando com nosso dinheiro políticos profissionais que vivem em outro mundo, dissociados da realidade, divorciados da moralidade, alheios ao anseio popular. A casta superior do País Partido.

E as desculpas? Henrique tinha um “encontro oficial” na casa do prefeito do Rio, Eduardo Paes, no sábado, véspera da final da Copa das Confederações: “Não era turismo”. Renan disse que o casamento na Bahia foi um “compromisso de representação”. “Sou um presidente de Poder”, disse Renan, “na lei não há nada que diga que só posso usar avião da FAB a serviço.”

Seu padrinho e mentor se chama José Sarney. Em agosto de 2011, Roseana Sarney cedeu um helicóptero da PM para levar o pai a sua ilha particular de Curupu. Ministros do STF desaprovaram como “desvio de finalidade” o uso pessoal de aeronave destinada à segurança e à saúde do povo. Lembremos a resposta de Sarney: “Tenho direito a transporte de representação, e não somente a serviço. É chefe de Poder”. Renan só deu um “copia e cola”.

Um decreto presidencial de 2002 restringe o uso a “segurança e emergência médica; viagens a serviço; e deslocamentos para o local de residência permanente”. Henrique pediu desculpas pelo “equívoco” de ter dado carona. Prometeu devolver R$ 9.700 aos cofres públicos. O jornalFolha de S.Paulo fez cotação com as empresas TAM e Líder Aviação, que fazem frete particular. Nas mesmas datas, trechos e passageiros, o valor mais baixo foi de R$ 158 mil. Renan achou – e continua achando – que pode usar aviões da FAB para ir a casamento na Bahia. Só depois do barulho e da pressão, ele disse que devolveria R$ 32 mil aos cofres públicos.

Em 2004, o filho do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Luís Cláudio Lula da Silva, usou um avião da FAB para uma excursão de amigos ao Palácio da Alvorada. No governo Fernando Henrique Cardoso, seis ministros usaram a FAB para ir com as famílias a Fernando de Noronha e foram condenados a ressarcir os gastos.

Deveríamos encher um Boeing com esses políticos profissionais e mandá-los a uma reeducação intensiva. Um reformatório da vida real, onde pegassem ônibus e trem, usassem o SUS, matriculassem filhos na escola pública.

Não precisamos desmoralizar os políticos. Eles desmoralizam a si próprios em golpes contra a cidadania. Alguém lembra o escândalo dos cartões corporativos em 2008 ? A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, foi demitida por gastar R$ 175 mil só com aluguel de carros. O ministro do Esporte, Orlando Silva, usou cartão corporativo, com brasão da República, para levar a família a um hotel de luxo em Copacabana... e até para comprar uma tapioca recheada de queijo coalho e manteiga da terra.

E os gastos de Rosemary Noronha com cartão corporativo? O jornal O Globo pede há seis meses acesso ao extrato da ex-servidora e secretária de Lula em São Paulo. A Presidência da República não vai liberar. Os gastos foram classificados como “reservados”.
Esta é a verdadeira reforma política: a reforma da cabeça de quem habita o Palácio do Planalto e o Congresso. A maioria tem ensino superior, mas não aprendeu o bê-á-bá: distinguir o público do privado.

Só um país da carochinha admite que Henrique e Renan elaborem sugestões para um plebiscito. Em janeiro, ÉPOCA revelou que, de acordo com a Polícia Federal, o empreiteiro da construtora Gautama pagou propina a assessores de Renan e Henrique por um contrato de R$ 77 milhões para construir uma barragem em Alagoas. Uma obra que recebeu R$ 30 milhões e parou. Renan amargou neste ano um repúdio inédito: 1,5 milhão de assinaturas de brasileiros exigiram sua saída da presidência do Senado.

Não é pelos 20 centavos, nem pela tapioca, nem pelos jatos da FAB. É pela transparência e decência. Não, Renan e Henrique, os senhores não me representam. Precisa explicar ou tem de desenhar?


Retratos da vida - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 07/07

Na homenagem que o Botafogo fez aos seus craques do passado na quinta, no Rio, Amarildo, o ex- atacante, 73 anos, virou-se para o companheiro do lado e disparou:
"Sabe quem também está vivo? Cacá, o zagueiro.'
Ao que o outro respondeu: "Eu sei. Eu sou o Cacá.'

Gois na Flip 1
Gustavo Franco, 57 anos, depois de escrever sobre economia nas obras de Fernando Pessoa, Shakespeare, Machado de Assis e Goethe, está mergulhado em "O Mágico de Oz', clássico infantil de L. Frank Baum.
O ex-presidente do Banco Central, em uma nova tradução do livro, faz um prefácio comentando aspectos políticos e econômicos ligados à obra.

Gois na Flip 11
O que se diz é que o americano William Jennings Bryan (1860-1925), candidato derrotado à Presidência dos EUA por três vezes, inspirou o personagem Leão do livro.
O Leão, como se sabe, metia muito medo. Mas no fundo era medroso.

Contas britãnicas
Semanas atrás uma coleguinha que cobriu os Jogos Olímpicos de 2012 foi surpreendida por um e-mail urgente, assinado pela equipe financeira de
Londres encarregada do evento.
Queriam ressarci-la em 1.930 libras esterlinas (R$ 6.465) que ela havia pago a mais, por engano, e estavam aflitos para fechar as contas. Ela pensou que fosse trote. Não era.

Zoológico
O bom humor marcou a primeira sessão de FH na ABL. O tema era Marques Rebelo, contista carioca, famoso por seu espírito cáustico.
Rebelo escreveu o "Guia antiturístico do Rio'. O verbete Jardim Zoológico diz: "Há dois: o verdadeiro e a Academia Brasileira de Letras.' Impressões do Rio
O compositor russo Igor Stravinsky, um dos mais influentes do século XX, que visitou o Rio nas décadas de 1930 e 1960, falou sobre suas impressões da cidade para a amiga e compositora brasileira Jocy de Oliveira.
O mestre, que morreu em 1971, achava que a desorganização da cidade não mudara em 30 anos, e que a Praia de Copacabana já tinha sido mais bonita.
Falou ainda sobre o amor livre: "O Hotel Glória era para se fazer amor clandestinamente. Já o Copacabana Palace era reservado aos casados.'

Música que segue...
Jocy de Oliveira compilou tudo e juntou correspondência que trocava com outros pesos-pesados da música clássica, como seu amigo John Cage.
O resultado está no livro "Diálogo com cartas', que sai no segundo semestre.

Gois na Flip 111
Moradores de Paraty fizeram ontem uma manifestação no centro histórico exigindo saneamento.
Querem que a cidade tenha em todos os meses do ano o padrão Flip. 

Mão armada
Quatro homens armados entraram, quinta, no estacionamento do Hospital Samaritano, em Botafogo.
Roubaram o carro de um médico. O hospital fica, como se sabe, a uns 100 metros da 109 DP.

Carnaval 2014
O MinC autorizou a Unidos da Tijuca a captar R$ 7.720.220 para seu desfile em 2014.
Como se sabe, a escola fará uma homenagem a Ayrton Senna.

A vez do Santa Marta
Moradores do Morro Santa Marta, em Botafogo, no Rio, farão uma manifestação amanhã. A concentração será às 16h, na Praça Corumbá.
Vão pedir obras de saneamento, redução das tarifas de luz e água...

Perigo na escola
A 29 Câmara Cível do Rio determinou que o município de Barra Mansa indenize em R$15 mil uma criança que, cruzes!, sofreu abuso sexual dentro de uma escola municipal.
Segundo o desembargador Cezar Augusto Costa, não há desculpa para a negligência. Eu apoio!

Cena carioca
Uma jovem e linda mocinha caminhava, dia destes, pela Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, quando dois rapazes mexeram com ela. Um deles, danadinho, disparou:
— Padrão Fifa, hein?!

A harmonia das esferas (atômicas) - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 07/06

Curiosamente, o sonho de Pitágoras e Kepler para a astronomia só se realizou na física de partículas


A busca pela ordem, seja ela emocional ou material, é mola mestre da criatividade humana. Nos mais antigos relatos de criação encontramos narrativas onde o caos precede a ordem, as trevas, a luz e, enfim, onde o processo de emergência da realidade material vem acompanhado de uma ordem que rege seu comportamento.

Nas ciências, a busca pela ordem se manifesta nas leis da natureza --princípios organizativos que visam descrever padrões de regularidade nos fenômenos que observamos.

Poucos exemplos na história da filosofia e da ciência ilustram essa busca e as transformações do conhecimento humano tão claramente quanto o conceito da Harmonia das Esferas, cujas origens datam do período pré-Socrático da filosofia, em torno de 650 a.C. Foi Pitágoras quem propôs que as órbitas planetárias obedecessem a um espaçamento predeterminado por leis matemáticas independentes da história de formação do Sistema Solar e dos planetas. Segundo ele e seus discípulos, as distâncias entre os planetas deveriam seguir padrões que espelhassem nos céus as harmonias da música: "Existe geometria no som das cordas; existe música no espaçamento das esferas", segundo um texto atribuído a ele. (Provavelmente não de sua autoria.)

Evidentemente, os estudiosos pitagóricos não sabiam que planetas e suas órbitas (elipses com maior ou menor excentricidade) são produto de uma história de formação que depende de uma dinâmica um tanto complexa, ainda hoje objeto de estudo da astronomia. Para eles, a geometria determinava a forma dos céus: as mesmas leis matemáticas atuavam em todas as escalas, do terrestre ao cósmico.

Essa visão foi revisitada pelo astrônomo alemão Johannes Kepler que tentou, no início do século 17, dar nova vida aos conceitos pitagóricos. Ainda jovem, Kepler fez uma pergunta que determinou o rumo de sua produção científica: O que determina o número de planetas (seis na época, os visíveis a olho nu) e suas distâncias ao Sol? Sendo um pitagoriano munido de dados, Kepler buscou a resposta na geometria, que acreditava ser a linguagem que Deus usou para criar o Cosmo.

O astrônomo propôs que os seis planetas e suas distâncias eram determinadas pelos cinco sólidos perfeitos. (Dois deles, a pirâmide e o cubo, são bem familiares.) Arranjando-os um dentro do outro como bonecas russas, Kepler situou as órbitas planetárias no espaço entre os sólidos. Usando geometria, calculou as distâncias que, com precisão de 5%, coincidiram com os dados.

A visão de Kepler nada tem a ver com a realidade; hoje, o número de planetas é oito e não seis, e suas distâncias são determinadas pela história de formação do Sistema Solar.

Curiosamente, o sonho de Pitágoras e Kepler se realizou na física atômica. As órbitas dos elétrons em torno do núcleo atômico obedecem a padrões geométricos semelhantes aos de cordas vibrando: cada órbita está relacionada a um padrão e tem uma energia associada. O elétron só pode estar nessas órbitas, espaçadas descontinuamente.

Ao contrário das órbitas planetárias, as órbitas eletrônicas e suas distâncias não são consequência da história do átomo, mas fixas matematicamente, justamente o que Pitágoras e Kepler queriam.

Coceira nas costas LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

ESTADÃO - 07/07

Quem sofre de coceira nas costas recorre a qualquer meio para acabar com o tormento

A CCC, coceira crônica nas costas, longe do alcance das nossas unhas, é um martírio constante. Quem sofre de CCC vive pedindo que alguém lhe coce as costas e, na falta de alguém, recorrendo a qualquer meio para acabar com o tormento.

É conhecido o caso trágico daquele agente do governo dos Estados Unidos encarregado de negociar com os índios peles-vermelhas no oeste americano que, depois do acordo concluído, quando o cachimbo da paz com sua haste longa lhe foi passado, não aguentou e usou o cachimbo para coçar as costas. Dos seus restos comidos por lobos só sobrou o escalpo.

A CCC provoca situações embaraçosas. É comum ver-se pessoas esfregando as costas numa quina de parede ou, em casos extremos, rolando pelo chão para aliviar a coceira. O que, obviamente, prejudica sua vida social.

— Cheguem para trás. É um ataque epilético!

— Não, não. É coceira nas costas.

A CCC também causa mal-entendidos. Como no caso daquele casal cujas vozes eram ouvidas em todo o prédio.

— Aí, aí. Um pouco mais para o lado.

— Assim? — Mais rápido. — Está bom assim?

— Está. Está! — Mais rápido?

— Não, assim está bom. Só um pouco mais para...

— Assim? — Isso! Ai, meu Deus. Sim! Sim!

O casal ficou com fama de ter uma vida sexual movimentadíssima, quando tratava-se apenas de CCC.

Pelo menos você sabe que presentes dar para alguém que tem CCC: qualquer objeto que lhe permita coçar as própria costas. Uma colher de madeira comprida, um telescópio portátil, um pedaço de antena... Até um cachimbo da paz.

À margem das vanguardas - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 07/07

A linguagem de formas suntuosas de Grassmann está impregnada de certa malignidade e requinte


A morte de Marcelo Grassmann, ocorrida no dia 21 de junho, significa uma enorme perda para a arte brasileira, já que ele foi, além de gravador e desenhista de extraordinária qualidade, uma personalidade original, criador de um mundo imaginário único e fascinante.

Grassmann começou como aprendiz de metalúrgico, para depois matricular-se na Escola de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde aprendeu a técnica da gravura em metal.

Logo em seguida, isto é, no começo da década de 1950, a arte brasileira sofre uma mudança radical com o surgimento da arte concreta, de linguagem geométrica e construtiva. Esse fato determinou uma ruptura drástica com a tradição modernista brasileira, surgida nos anos 20 e caracterizadamente figurativa e de temática nacional, ainda viva, àquela época, na pintura de Lasar Segall, Di Cavalcanti e Portinari.

A partir de então, a nova geração de artistas plásticos abandonou a arte figurativa e voltou-se para um tipo de expressão essencialmente geométrica, construtiva e objetiva.

Era, portanto, um tipo de expressão no extremo oposto à gravura de Marcelo Grassmann, àquela altura um jovem de 20 e poucos anos.

A nova tendência tomou conta do ambiente artístico, mas, apesar disso, o jovem gravador não se afastou um milímetro da opção artística que fizera: enquanto os demais pintavam formas geométricas, ele desenhava e gravava cavaleiros medievais, munidos de armadura, lança e capacete.

Eu que, àquela época, era também um jovem e interessado nas artes plásticas, não cansava de admirar a firmeza de Grassmann, que mergulhava num universo arcaico, demoníaco, figurativo, tido então como um anacronismo estético e ideológico, mas, apesar disso, fascinante.

Conheci Marcelo Grassmann em 1952, no apartamento de Mário Pedrosa, o principal defensor do movimento concretista, mas que tinha sensibilidade e amplitude intelectual suficientes para reconhecer o valor de manifestações diversas daquela, como a arte do jovem gravador paulista. Magrinho, alto, com o queixo levemente torto, sorria irônico das ideias da vanguarda. Mário não discutia com ele, mas simplesmente elogiava a qualidade e expressividade de suas gravuras. Embora, por seu físico, distante da prática esportiva, teve, na época, como namorada, uma moça musculosa que praticava boxe.

Os anos se passaram, aliás, décadas. A arte concreta esgotou sua proposta, em seu lugar nasceu a arte neoconcreta, audaciosa e inventiva, com os "Bichos" de Lygia Clark, as esculturas de Weissmann e Amílcar de Castro. Mas, logo, no lugar dela, surgiu a pop arte e, depois, a chamada arte contemporânea, que dispensa linguagem e critérios estéticos.

Tudo isso aconteceu sem abalar em nada a persistência de Grassmann na exploração de seu mundo imaginário, habitado por seres estranhos e satânicos, que mais parecem delírios que coisas reais.

Dizem que sua arte tem raízes no gótico, talvez por evocar o mundo noturno das gárgulas e das harpias. Na verdade, sua linguagem de formas suntuosas e estranhas está impregnada de certa malignidade e requinte, como se observa naquela gravura em que dois guerreiros medievais parecem arrastar para as profundezas da noite uma figura angelical de adolescente, enquanto seus capacetes metálicos relampejam como joias malditas.

Semelhante contraste parece constituir a matéria poética de sua arte perturbadora. Mas a essência dela não se limita a essa temática visionária; reside, de fato, na qualidade gráfica, que identifica linguagem e tema: é que aqueles seres estranhos, sejam demônios ou bestas satânicas, nascem dessa linguagem, do emaranhado de traços, das manchas negras, dos lampejos inusitados, que constituem seu universo imaginário. E é essa expressividade estética e visionária que torna sua arte surpreendentemente atual, enquanto muita obra daquelas vanguardas já não nos diz nada.

De certo modo, fazer arte é soprar espírito na matéria. Se isso é verdade, Marcelo Grassmann, em seus melhores momentos --ou quase sempre--, alcança esse nível de transmutação. Ali, cada linha, cada zona de luz ou treva, vira expressão, que assimilamos integralmente. É que a obra-prima não deixa resto.

A voz do povo - JOÃO UBALDO RIBEIRO

FOLHA DE SP - 07/07

Na qualidade de presidenta disso tudo aqui, apresentava logo tudo completamente resolvido, atendendo a todos os pedidos com grande satisfação e rapidez


Logo que as manifestações de rua começaram, Zecamunista, entremeando a fala com alguns suspiros nostálgicos, surpreendeu todos os presentes no Bar de Espanha, ao revelar que não iria a Salvador, tomar parte nos protestos. A cruel verdade era que o vigor combativo de sua juventude já o abandonava e longe, muito longe, iam os dias gloriosos em que, por exemplo, foi preso por ter planejado, comandado e quase concluído com êxito um plano de ação gastrointestinal, para neutralizar a Polícia Militar do Estado da Bahia e assim evitar a repressão de uma das muitas passeatas subversivas em que saía, desde o tempo de Getúlio. Na madrugada antes da passeata, à frente da Guarda Proletária do Alto das Pombas, esteve prestes a despejar, nas caixas d’água dos quartéis, um extrato concentradíssimo de erva-cagona que o finado Vavá Paparrão conseguiu nos matos da Ilha dos Porcos, capaz de levar a vítima a comparecer ao trono de cinco em cinco minutos, não se dedicando a mais nada durante pelo menos um dia ou dois.

— Mas fui traído, me dedaram, mataram a revolução brasileira no nascedouro — lembrou ele, com certo amargor. — E quase me enquadram como terrorista e mais uma porção de coisas e, se meu advogado não fosse o grande dr. Mococa, eu podia ter pegado uma cana feia. Mas o dr. Mococa defendeu a tese de que erva-cagona era arma de efeito moral e, se a PM podia usar armas de efeito moral, o cidadão também podia. Dr. Mococa é muito bom e o juiz era linha auxiliar do partidão, de maneira que me soltaram, só me enfiaram um funil na boca e entornaram aqui dentro meia caneca de óleo de rícino, antes de eu sair da cadeia. Naquela época isso era besteira e em alguns o funil nem era na boca, meu santo é forte. No tempo do petróleo é nosso, foi muito pior, uma vez me deram um banho de mergulho em petróleo cru que eu levei semanas para tirar todo, o pessoal da repressão engrossava numa boa.

Agora não. Chegara a pensar em fazer um esforço e aparecer nem que fosse para constar, mas podia até atrapalhar, já não era homem de linha de frente, o bom agitador deve reconhecer suas limitações e não comprometer o êxito da luta revolucionária. Mas isso não significava que ele estava abdicando de suas convicções, nada mais distante da realidade. Já se encontrava na ilha, por ele constituído e em treinamento por ele ministrado, o grupo das voluntárias avançadas do Memededê, o Movimento das Mulheres-Damas Democráticas, composto pela fina flor do Lupanar do Moura, tradicional estabelecimento do ramo, em Nazaré das Farinhas, além de diversas amadoras politizadas e ansiosas por participar da vida nacional, projeto de alto impacto. Além disso, diante da notícia do plebiscito, tinha decidido colaborar no esclarecimento dos eleitores itaparicanos. Se houver plebiscito, não podemos fazer feio, temos que mostrar preparo. Já ia até começar umas pesquisas preliminares e, para não dizerem que escolhia a seu bel-prazer, tinha preferido sortear um cidadão para entrevistar.

Sorteio é sorteio e quiseram os fados que o sorteado fosse Tucão de Evilásia, neto de finado Bidu da Misericórdia. Versado em várias artes, da pintura de paredes e da limpeza de pescado à colheita de mangas e à capinação, Tucão é pessoa por todos estimada na coletividade, pelo seu trato gentil, conduta incriticável e disposição prestimosa. Mas, ponderaram diversos, nunca se destacou muito pela cultura e há quem garanta que a professora Sazinha pediu aposentadoria depois de ter ficado repuxada dos nervos, por ter tido Tucão como aluno durante uns dez anos, sem que ele saísse do curso primário. Não haveria como Zecamunista escolher outro, um Ary de Maninha ou um Jacob Branco, campeões da oratória e do conhecimento? Zeca negou-se a fazer a troca, o sorteio estava sacramentado e era à prova de mutreta, o governo não se metia e nada de medalhões e elitismo. O objetivo era traçar o perfil do eleitor e ninguém podia negar que Tucão era um cidadão normal, como qualquer outro.

Falai no Mendes, à porta o tendes, já diziam os antigos. Eis que, nesse mesmo instante, assoma à entrada a figura afável de Tucão. Ainda bem que conseguira chegar antes de Manolo ficar com sono às seis horas da tarde e botar todo mundo para fora do bar. Estivera entretido com a televisão, vendo os protestos. E se detivera um pouquinho mais, para prestar atenção na explicação do plesbicítio.

— Plebiscito — corrigiu Zeca.

— Plebliscito — disse Tucão.

— Ple-bis-ci-to.

— Plesbicito.

— Plebiscito!

— É minha língua que não dá, mas eu sei como é — explicou Tucão. — Eu sempre tive esse problema da língua preguiçosa. Professora Sazinha…

— Tudo bem, mas pelo menos você já sabe o que é.

— Claro que eu sei, a televisão explicou. O pessoal saiu nos protestos, aquele sufoco medonho, bomba, porrada, todo mundo pedindo providências para os problemas, e aí chega a presidenta e discursa que ficou sabendo desses problemas que antes ela não tinha resolvido porque desconhecia e agora passou a conhecer e, na qualidade de presidenta disso tudo aqui, apresentava logo tudo completamente resolvido, atendendo a todos os pedidos com grande satisfação e rapidez, o qual atendimento era esse que hoje está tão falado.

— O plebiscito — disse Zeca.

— Isso mesmo, o plesbicíntio — disse Tucão, caprichando na pronúncia. — Ninguém pode dizer que não resolveu tudo, é ou não é?

Outra carta da Dorinha - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 07/07

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, participou de todos os movimentos cívicos da nação, mas nega que tenha estado presente na Proclamação da República. Ela marchou com a família contra a ameaça anarco-sindicalista em 64 e deu ouro para o bem do Brasil, depois se desiludiu com o regime militar, pediu seus anéis de volta, mas teve que se contentar com um vale. No grande comício pelas diretas já, Dorinha estava no palanque, mais especificamente embaixo do palanque dando uma aula de democracia participativa a um jovem ativista. Ela apoiou a eleição do Collor, mas foi dela a iniciativa das caras-pintadas contra o Collor, embora sua ideia original fosse pintar todo o corpo nu, não só a cara. Não surpreende, portanto, que ela e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, que querem implantar no Brasil o socialismo no seu estágio mais avançado, que é o seu fim, tenham aderido às manifestações de rua dos últimos dias. O único problema é que... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta lilás em papel turquesa, cheirando a “Mange moi”, um perfume proibido em vários países.

“Caríssimo! Beijos disseminados, você escolhe onde. As Socialaites Socialistas estão mobilizadas! Vamos para a rua, participar dos protestos contra o preço dos ônibus, a corrupção, os políticos, os gastos com a Copa e o resto depois a gente vê, como todo mundo. Antes de descer para a rua, no entanto, fizemos uma reunião preparatória do grupo no meu apartamento para responder a algumas dúvidas (a Suzana “Su” Ruru, por exemplo, queria saber o que é ônibus). E logo descobrimos que algumas de nós teriam problemas de consciência. Era o meu caso. Meu atual marido, cujo nome me escapa no momento, é um corrupto conhecido. Eu iria desfilar contra o meu próprio marido? Contra a minha própria mesada, minha própria qualidade de vida? Contra o meu dinheiro para lifting, botox e compras em New York? Problema mais grave seria o da Tatiana “Tati” Bitati, cujo marido acumula: é corrupto E político. Ela não desfilaria com naturalidade. Finalmente resolvemos: vamos todas desfilar com máscaras — e com a consciência tranquila. De qualquer maneira, não poderíamos perder esse programa!

Da sua agitadíssima Dorinha.”

Viagem pelo futebol - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 07/07

A seleção, pela maneira de jogar na Copa das Confederações, pode ser referência para os clubes


Repito, estou sempre me repetindo, pois, para falar de algo novo, recorro, com frequência, às origens. No período entre 1974 e 1994, houve uma grande queda de qualidade no futebol, no Brasil e em todo o mundo.

Uma razão foi, paradoxalmente, o avanço técnico, tático e científico da seleção de 1970. A partir daí, todos os grandes clubes brasileiros formaram comissões técnicas, com vários especialistas e com ótimas estruturas profissionais. Isso foi importante para a evolução do futebol. Esporte é também ciência.

Mas, durante esse período, entre 1974 e 1994, houve, progressivamente, uma supervalorização dos técnicos e do jogo físico, tático, defensivo e uma desvalorização do jogo criativo e da improvisação. Os treinadores e os brucutus tomaram conta do futebol. O jogo ficou feio, chato e com poucos gols.

Aí, a partir da Copa de 1994, a vitória passou a valer três pontos. Por esse e por outros motivos, o futebol melhorou, especialmente nos últimos dez, 15 anos.

O Brasil, apenas nos últimos anos, começou a acompanhar essa evolução. O Corinthians se tornou referência na maneira de jogar. A seleção da Copa das Confederações poderá ser outro exemplo. Essas equipes seguiram o modelo mundial, de pressionar quem está com a bola, de diminuir os espaços entre os setores, de trocar mais passes, de marcar e atacar com vários jogadores. Felipão mostrou que não é apenas um motivador. Está também atualizado.

O que era raro, anos atrás, agora, escuto, com frequência, treinadores e jornalistas esportivos falarem de marcação por pressão, de poucos espaços entre os setores, de volantes que têm bom passe, de posse de bola, de mais troca de passes, de meias que atacam e voltam para marcar o lateral, como fizeram Hulk e Oscar. Ouço falarem menos de três zagueiros, marcação individual, alas, jogadas aéreas, volantes de contenção.

Volto ao período entre 1974 e 1994. Trabalhava e estudava muito. Por falta de tempo e pelo desejo de ser um cidadão comum, afastei--me do futebol. Por isso, tive depois, como comentarista, dificuldade de compreender algumas coisas que aconteceram nesta época.

Procurei me informar, ver filmes, ler livros e aprender com jornalistas que entendiam do assunto. Mesmo assim, conheço hoje melhor os times, seleções e jogadores de antes de 1974 e de depois de 1994 do que os entre esses anos.

Após essa viagem pelo futebol, volto ao presente e a Neymar.

A cada dia, tenho mais convicção (não é certeza) de que ele estará, brevemente, entre os maiores jogadores da história do futebol mundial. Não estou surpreso. Quando o vi jogar, pela primeira vez, no Santos, escrevi que estava tão maravilhado quanto na época em que assisti aos primeiros jogos de alguns dos maiores jogadores da história.

Dilma, Cristina e o 'efeito Orloff' - SUELY CALDAS

O ESTADÃO - 07/07

Ao analisar as contas públicas do governo federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou para o risco de "argentinização do Brasil", referindo-se aos truques e maquiagens a que o governo Dilma Rousseff tem recorrido para manipular o resulta- do fiscal do País. Na Argentina, estatísticas sociais e indicadores econômicos ficaram desacreditados, desmoralizados desde que o governo interveio no Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), demitiu profissionais sérios e passou a maquiar pesquisas e índices econômicos. O divórcio da realidade é tal que o índice de inflação oficial em 2012 ficou em 10,8 % e o real, em 26,9%.
O alerta do TCU faz lembrar o fenômeno "efeito Orloff" nas relações Brasil-Argentina. Nos anos 1980, uma propaganda de TV no Brasil mostrava dois homens - um bebendo uma dose de vodca e outro sóbrio e saudável que respondia ao primeiro: "Eu sou você amanhã". O objetivo do anúncio era avisar que bebida de qualidade não provoca ressaca. Mas os economistas brasileiros rapidamente inverteram a ideia e passaram a chamar de "efeito Orloff" os erros cometidos pela Argentina e depois repetidos no Brasil no enfrentamento da hiperinflação. Para o TCU, o Brasil estaria começando a praticar o "efeito Orloff" ?
Não chega a tanto. Aqui seria impensável destruir quase 80 anos de trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), transformando-o em uma instituição servil, desonesta, mentirosa e desrespeitada mundo afora, como é hoje o Indec argentino. Obrigado a trabalhar com índices oficiais produzidos pelos governos dos países, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já ameaçou até suspender a Argentina, caso continue falsificando estatísticas.
É verdade que os mirabolantes truques do Ministério da Fazenda para alcançar a meta fiscal tornam nossa contabilidade desacreditada, carregando junto bancos públicos e empresas estatais, usados pelo governo como meros instrumentos de maquiagem. E acabam produzindo efeito contrário ao pretendido porque só o governo e mais ninguém acredita que a meta de 2012 foi cumprida e tampouco será a de 2013. Bancos, fundos de investimentos, instituições financeiras e consultorias calculam seus próprios números, já descontando a camuflagem, e é com eles que trabalham.
Ou seja, além de produzirem um resultado desacreditado, o ato de tentar falsear contribui para nutrir o cenário de desconfiança em relação à economia brasileira, já baqueada pela estranha combinação de inflação alta e crescimento medíocre. E este é um cenário ruim para um país que precisa atrair investimentos privados.
Mas há uma diferença fundamental: enquanto a Argentina resolve o descumprimento de metas e compromissos com falsificações grosseiras, gestos autoritários e desrespeito às regras da democracia, intervindo e demitindo funcionários honestos do Indec, o governo brasileiro não ousa fazer o mesmo com o IBGE. E as triangulações financeiras - criticadas e contestadas- que faz como Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobrás e Eletrobrás podem até desaparecer da dívida líquida, mas inevitavelmente aparecem e inflacionam a dívida bruta. E isso o governo não esconde.
No câmbio
É verdade também que o Brasil começa a enfrentar problemas na área cambial que a Argentina vive há tempos, desde 2011. Porém há outra diferença a favor do Brasil: até agora o País não perdeu reservas cambiais e a desvalorização do real em relação ao dólar não tem sido mais grave do que têm enfrentado outras moedas, desde que o Federal Reserve anunciou a retirada de estímulos à economia dos EUA. Apesar disso, preocupa a fuga de capitais de investidores estrangeiros: só da Bovespa saíram R$ 4,073 bilhões no mês passado. E a explicação maior é a desconfiança com os rumos da economia, além do desastre com as ações das empresas do Grupo X, de Eike Batista.
Já a vizinha Argentina vem perigosamente perdendo reservas desde outubro de 2011, quando o governo começou a aplicar medidas de controle do câmbio. Só este ano a perda chegou a US$5,242 bilhões e entre 2010 e o mês passado o estoque das reservas desabou de mais de US$ 50 bilhões para US$ 38 bilhões. E como reagiu a presidente Cristina Kirchner? Na segunda-feira anunciou anistia para quem fugiu do controle cambial: nos próximos 90 dias quem repatriar ou legalizar dólares guardados em casa ou em caixas-fortes de bancos poderá fazê-lo sem pagar qualquer taxa ou imposto: o cidadão entrega os dólares não declarados a qualquer banco e recebe em troca papéis garantidos pelo governo. Economistas argentinos apostam que a anistia vai transformar o país em temporário paraíso de lavagem de dinheiro.
Guardadas as diferenças (a favor da brasileira), há uma semelhança entre Dilma e Cristina: como as duas gostam de intervir na economia! E com enormes chances de cometer equívocos. Exemplo no Brasil foi o programa de renovação das concessões elétricas e redução da conta de luz: estrangulou a Eletrobrás e vem sendo desfeito pelos reajustes concedidos à tarifa das empresas. Além disso, o engessamento dos modelos dos leilões atrasou investimentos em rodovias, ferrovias e aeroportos, fundamentais para aliviar gargalos da produção industrial do País. Mas Cristina Kirchner faz muito pior.
Com a inflação fugindo do controle, desde fevereiro ela decretou congelamento de preços dos alimentos em supermercados. Era para ser temporário, mas já renovou duas vezes e, na quinta-feira, fechou quatro supermercados por "desrespeito ao congelamento". Criou uma lei determinando eleição com voto popular do Conselho da Magistratura, intervindo diretamente no Poder Judiciário. Felizmente, a juíza Maria de Cubría declarou a lei inconstitucional porque "suprime a necessária independência política dos juízes". Sem programas consistentes de governo, as duas vivem apagando incêndios, evidentemente com mais erros do que acertos. Mas as ações de Cristina são bem mais desastradas porque denotam desespero. Por isso, caro leitor,por enquanto estamos livres do "efeito Orloff" e vamos torcer para assim continuar .

A inaceitável caça ao islamismo - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 07/07

Interditar a via eleitoral a partidos islâmicos só pode dar certo se se aceitar ditaduras


O golpe no Egito reabriu a temporada de caça aos islamitas, do que dá prova a prisão não apenas do presidente Mohammed Mursi --presidente legítimo, é sempre bom deixar claro--, mas também de um punhado de lideranças de seu partido e da Irmandade Muçulmana, a matriz de todos os grupos islâmicos no Oriente Médio.

É não apenas condenável como cria o risco, se se estender, de marginalizar a participação político-eleitoral de mais ou menos um quarto da população mundial, a que é seguidora do islã.

No caso específico do Egito, movimentos islâmicos ficaram nos dois primeiros lugares na eleição parlamentar, a primeira democrática na história do país: o Partido Justiça e Liberdade, braço eleitoral da Irmandade, levou 43,4% dos votos, enquanto o mais radical Al-Nour recebeu 21,8% da preferência.

Portanto, dois terços dos egípcios confiam nos partidos de fundo islâmico. É verdade que o Al-Nour juntou-se aos protestos contra Mursi, mas não por discordar de seu islamismo e, sim, para aproveitar o desgaste do presidente para "tomar a dianteira junto ao segmento islamita da população", como escreve Nathan Brown, do Programa de Oriente Médio do Instituto Carnegie.

Derrubar Mursi pode ter sido festejado pelos liberais laicos que a ele se opunham, mas manter a Irmandade longe do poder só se alcançará se o Egito continuar sendo a ditadura que sempre foi, exceto nos últimos 12 meses.

Veja-se, por exemplo, a análise de Avi Issacharoff para o sítio "The Times of Israel", país que acompanha com lupa tudo o que ocorre nos vizinhos e, geralmente, tem uma percepção mais aguda do que no Ocidente mais distante:

"O movimento [a Irmandade Muçulmana] permanece o maior e mais forte corpo político no Egito. De fato, se outra eleição presidencial fosse realizada hoje, a Irmandade ainda teria a melhor chance de vencer."

Além de indecente, o golpe não resolve, como é óbvio, os problemas que minaram a gestão Mursi. Escreve, por exemplo, Marc Lynch (George Washington University):

"Ninguém deveria celebrar um golpe militar contra o primeiro presidente egípcio livremente eleito, não importa quanto ele tenha fracassado ou quanto se odeie a Irmandade Muçulmana. Tirar Mursi do campo não chegará nem perto de enfrentar as falhas que infernizaram a catastrófica transição egípcia nos últimos dois anos e meio. A intervenção militar é uma admissão do fracasso de toda a classe política egípcia, e os que agora celebram provavelmente já sabem que eles podem logo mais arrepender-se do golpe."

Interditar o islamismo, teme o sítio geoestratégico Stratfor, pode levar grupos mais radicais "a abandonar a política convencional em favor da luta armada", como de resto aconteceu na Argélia, nos anos 90, em circunstâncias parecidas.

Tudo somado, a melhor lição do que é democracia vem justamente dos perseguidos islamitas, em editorial de seu jornal marroquino, "At Tajdid": "A história demonstra que os islamitas voltam sempre. A solução é dar aos cidadãos o direito de castigá-los ou premiá-los [nas urnas]".

A economia está parando - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

O ESTADÃO - 07/07

Nossa economia está parando. Tudo indica que vamos repetir a trajetória do ano passado, quando projeções mais otimistas deram lugar a uma forte decepção. Como todos sabem, a expectativa de um primeiro trimestre forte foi frustrada por um crescimento de apenas 0,6% em relação ao PIB do último trimestre de 2012. Alguns, mais otimistas, rolaram suas projeções de recuperação para o segundo trimestre. Entretanto, tudo indica que o número a ser divulgado será pouco maior do que o primeiro trimestre, talvez algo como 0,8%, o que levaria a uma projeção para o ano de apenas 2,1% como temos na MB. Os números do mercado estão convergindo para a mesma magnitude.
Na nossa percepção, e como já coloquei em colunas anteriores, a forte aceleração da inflação de alimentos é que começou a alterar a trajetória da economia. Com os preços da comida subindo a uma taxa anual entre 14% e 19%, colocou-se uma pressão forte sobre os orçamentos da imensa maioria das famílias brasileiras, o que acabou por diminuir o espaço para outras compras, reduzindo o consumo. Todos os dados do varejo disponíveis até agora mostram uma forte desaceleração nas vendas, que deve continuar, uma vez que o índice de confiança do consumidor, elaborado pela FGV, apresentou em junho uma variação anual negativa da ordem de 10%.
Ao mesmo tempo, a mesma pressão inflacionária levou o Banco Central a iniciar uma elevação das taxas de juros que, na nossa avaliação, deve ir para a faixa de 9,5% até o final do ano. Naturalmente, a alta de juros desestimula adicionalmente todos os componentes da demanda interna. Também o setor externo tem mostrado uma forte piora no saldo comercial, com consequente ampliação do déficit em conta corrente. Esta situação, aliada à valorização do dólar lá fora, resultou numa depreciação da nossa moeda que, até o momento em que esta coluna está sendo escrita, andava na casa de R$ 2,25 por dólar.
Os movimentos de juros e câmbio resultam numa dupla pressão sobre a atividade. A brusca elevação dos juros de mercado resultou numa perda de capital para muitos poupadores e numa indução a uma menor expansão de crédito pelo sistema bancário, uma vez que os riscos se elevaram bastante. Neste momento, acredito que a capacidade dos bancos públicos de continuarem a tentar compensar a cautela do setor privado está limitada pela evidente pressão sobre seus balanços. Ao mesmo tempo, a desvalorização do real piorou os balanços das empresas que tenham algum passivo externo.
Também por aí, o risco de crédito se eleva, reforçando a observação acima. A desvalorização cambial também pressiona a inflação pelo repasse aos preços domésticos dos maiores custos de importação. Por exemplo, o índice de preços de commodities em reais calculados pelo Banco Central  (ICB) elevou-se 5,3% em junho. Estes dados sugerem que a atividade deverá continuar enfraquecendo. Por exemplo, o indicador de estoques calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) está subindo há quatro meses; o estoque médio de automóveis na rede de concessionárias já é de 53 dias, bem maior do que os 25/26 dias considerados normais.
Adicionalmente, o número de recuperações judiciais calculado pela Serasa já é o maior desde 2007. Sobre este pano de fundo, grandes acontecimentos políticos e sociais começaram a ocorrer, elevando as incertezas. Embora ainda não esteja pronta uma análise mais acabada sobre esses eventos, creio que podemos listar algumas consequências: - O partido no poder não tem mais o monopólio das ruas. - Existe uma insatisfação forte e difusa em parte significativa da população. -A tranqüilidade da reeleição evaporou-se e a sucessão transformou- se numa história ainda por ser escrita. - A resposta do governo tem sido desorganizada e bastante inconsistente, na política e na economia.
Na economia, ao lado de um discurso de restrição fiscal, continuamos vendo a continuidade de "velhos" projetos, como a entrega de R$ 15 bilhões para a Valec, parte do esforço de vender o projeto do trem- bala. Ao mesmo tempo, decide-se pela emissão de R$ 23 bilhões em títulos para a Caixa Econômica e o BNDES, para atingir vários fins, incluindo o de pagamento de dividendos que elevem o superávit primário do governo federal. A propósito, em várias entrevistas, o sr. Secretário do Tesouro Nacional insiste que todo batalhão está marchando errado e que apenas o seu passo é o correto. Incrível!
Este padrão de resposta sugere que a incerteza vai continuar elevada, que investimentos serão postergados, que os leilões de concessão terão menos brilho (talvez à exceção do petróleo) e que o crescimento do ano será ainda menor que o atualmente projetado. A volatilidade se manterá elevada e 2014 promete mais do mesmo. P.S.: Começou a ser escrito na semana que passou o último capítulo da história do Grupo X. Qualquer que seja seu desfecho, é certo que assistimos ao fim de uma era, a dos grandes campeões nacionais. Não apenas, mas também por isto, terminou a era do "nunca antes nesse país" e a do "momento mágico". A realidade que se desdobra para nós é bem mais árdua.

Dia do trabalho nas ruas - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 07/07

Centrais próximas do governo, de oposição e meio-termo tentam colocar 'pauta trabalhista' na rua


AS MANIFESTAÇÕES do gênero "o povo acordou", espécie "difusas", vinham minguando neste início de férias escolares. No vácuo ou no embalo apareceram manifestações "setoriais", vamos dizer assim.

Pelo menos em São Paulo e no Rio, eram a princípio protestos não muito numerosos de pobres periféricos contra a vida horrível em seus bairros distantes, para as quais não se deu muita bola.

Na sequência, apareceram algumas manifestações corporativas. Um sindicato ali, outro aqui, policiais em pequeno número, médicos etc. e, mais ruidosos, caminhoneiros.

Os bloqueios de estradas irritaram Dilma Rousseff, que chegou a falar em "ordem e progresso" (quem diria), e empresários. Os caminhoneiros tornaram-se até conversa de gente do mercado financeiro, a qual, em dia de mau humor geral na praça do mercado, falava do "risco de imagem [do país]" devido à "desordem".

Na quinta-feira que vem tem "Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações", mistura de greves parciais, "flash mobs" sindicais, paradinhas de duas horas, operações padrão e, provavelmente, bloqueio de estradas próximas de fábricas e portos, além de avenidas centrais de cidades maiores.

Há sindicalistas animados a dizer que "500 mil trabalhadores vão para as ruas em todo o país". Muitos dizem ter sido incentivados por Lula.

Mesmo que meio milhão vá para as ruas, as manifestações podem ser picadas em termos de multidão e divididas em termos políticos (há centrais de oposição e adeptas do governo do PT). Ainda assim, em caso de sucesso, é barulho, sinuca e dor de cabeça adicional para um governo [do Partido] dos Trabalhadores.

Partidos pequenos de esquerda e sindicalistas coligados pretendem azedar ainda mais o clima para Dilma Rousseff e o PT. Mas a CUT governista irá para a rua, assim como a Força Sindical oposicionista em termos, além de outras cinco centrais. Haverá "independentes". Motoboys. Motoristas de ônibus. Caminhoneiros. Metalúrgicos, bancários, portuários etc. MST.

Os sindicalistas pretendem parar por algumas horas as principais rodovias do país, além de metrôs e portos. Os protestos começam, divididos, às seis da manhã. No início da tarde, se juntam em algum ponto central das cidades.

O que querem as centrais? "Incorporar a pauta trabalhista no movimento de protesto". Especificamente, querem redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais sem redução de salário. Fim do fator previdenciário (na prática, aumento de aposentadorias). Derrubada de um projeto de lei que facilita e regula a terceirização (PL 4330). Despesa de 10% do PIB em educação; de 10% do Orçamento federal em saúde. Transporte mais barato. Suspensão dos leilões do petróleo (fim da "privatização" da exploração do petróleo). Reforma agrária.

A CUT quer ainda "democratização da mídia" e "reforma política por meio de plebiscito".

Empresários "aderiram" ao protesto do gênero "gigante acordou"; começaram a reclamar depois dos protestos dos caminhoneiros. Agora, estão entre ansiosos e irritados com essa história do "Dia de Luta", "que pode colar e levar o Congresso a fazer mais populismos", segundo um industrial paulista, também ele sindicalista, empresarial.

Não somos sapos, afinal - HENRIQUE MEIRELLES

FOLHA DE SP - 07/07

Escrevi, em coluna recente, que o trânsito de São Paulo lembra a experiência clássica do sapo na água fervente. Quando cai dentro dela, salta rapidamente. Mas, se está dentro da água enquanto a temperatura sobe gradualmente, o sapo morre sem reagir.

Minha questão era se a população assistiria passivamente à gradual paralisação das grandes cidades, com o trânsito cada dia mais obstruído e lentidão também no investimento em transporte urbano em diversos níveis de governo, seja em metrôs, trens, monotrilhos ou vias de trânsito rápido. As prefeituras não dispõem de recursos, os Estados alegam limitação financeira, e o governo federal tem outras prioridades.

As recentes manifestações, porém, mostram claramen- te que não somos sapos, afinal. Há uma forte reação à deterioração do serviço público, muito centrada nos transportes, mas também em saúde e educação.

A questão dos transportes é vital. Se não conseguirmos nos movimentar nas grandes cidades, o país não só não crescerá nas taxas ambicionadas como estará mais sujeito a crescer menos.

Não é possível exercer atividade produtiva --construir, produzir, tratar, educar, vi- ver, criar os filhos-- se não existe transporte eficiente nos grandes centros.

Diversos países do mundo têm discussões similares, inclusive os que têm infraestrutura de alto padrão. No Reino Unido, por exemplo, debate-se, de forma profunda, a via- bilidade da construção do trem de alta velocidade entre Londres, Birmingham, Manchester e Leeds.

O debate se concentra na avaliação de custos e benefícios do investimento no trem-bala comparado a metrô e trens suburbanos.

No Brasil, essa questão é ainda mais aguda.

A justificativa de que não há dinheiro suficiente para investir em transporte urbano tem que ser resolvida de forma prática e corajosa. Na administração pública ou privada, tudo é questão de prioridades. A arrecadação tributária bruta no Brasil é elevadíssima. Há recursos, a questão é como gastá-los de forma eficiente e estabelecer prioridades.

O transporte urbano é prioridade nacional e deveria ser assim tratado pelos três Poderes dos três níveis de governo, como é feito em questões como os megaeventos globais.

Não adianta muito falar em questões importantíssimas --educação, saúde e produtividade-- se não conseguirmos nos transportar nas cidades.

Portanto, é de fundamental importância que as manifestações populares sejam vistas como uma oportunidade para priorizar e resolver um elenco de problemas graves no serviço público brasileiro, para que possamos objetivar as demandas e resolvê-las.

Crise - a marcha da insensatez - NATHAN BLACHE

O ESTADÃO - 07/07

Há uma evidente insatisfação do mercado com o modelo econômico adotado no País nos últimos dois anos, denominado "Nova Matriz Econômica", que resultou em baixo crescimento e inflação elevada. Está cada vez mais dificil para o governo encontrar culpados pelo mau desempenho da economia nacional.
E um engodo atribuir as falácias dos últimos dois anos à conjuntura internacional. Os dados apontam que, em termos de crescimento econômico e inflação, o Brasil se descola de alguns países da América Latina, como México, Chile e Colômbia.
O fluxo médio de comércio exterior desses países é de 50% do produto interno bruto (PIB), enquanto o grau de abertura do Brasil continua perto de 20% do PIB. Os acordos de livre-comércio desses países englobam mais de 40 nações, enquanto os nossos se resumem ao Mercosul. A variação da produtividade do trabalho no Brasil em 2012 ficou em -0,7%, enquanto a média dos três países foi de +2,5%.
o fluxo da balança comercial está negativo, entre janeiro e junho, em US$ 3 bilhões (ante +US$ 7,1 bilhões no mesmo período de 2012) e o saldo do balanço de pagamentos acumulado até maio foi positivo em apenas US$ 7,6 bilhões (ante US$ 21,2 bilhões no mesmo período de 2012).
As dificuldades de financiamento externo aumentaram após as mudanças das expectativas positivas para os EUA e as declarações do Federal Reserve (Fed) sobre a possível reversão dos programas de expansão monetária. Adicionalmente, em junho as empresas de classificação de risco S&P e Fitch atribuíram viés negativo ao Brasil.
Nos últimos seis anos, as necessidades de financiamento das contas correntes foram mais de 100% cobertas por IED. De janeiro a maio de 2013 esses investimentos financiaram apenas 8% do déficit. As necessidades de financiamento externo previstas para 2013 e 2014 somam US$ 113,7 bilhões e Us$ 119,5 bilhões, nessa ordem. Atualmente, o prêmio de risco do Brasil ( CDS de cinco anos) sofreu elevação de 110 pontos no início de maio de 2013 para 210 pontos em 21 de junho. Adicionalmente, o real está entre as quatro moedas que mais se desvalorizaram no último trimestre.
Diante da deterioração das contas externas, o temor da Fazenda quanto aos impactos do real mais desvalorizado perante o dólar levou à revogação de medidas tributárias (IOF) e normativas que constituíam barreiras à entrada de capital estrangeiro, inclusive para o mercado de derivativos.
O problema central do Brasil associado às contas externas é o baixo nível de poupança doméstica (14,8% do PIB em 2012), que limita o crescimento à capacidade de captação de poupança externa. Com a piora dos fluxos estrangeiros a conta corrente, que já está em -3,2% do PIB no acumulado em 12 meses até maio, não mais pode avançar, reduzindo a possibilidade de expansão do investimento e do crescimento doméstico. Nesse cenário, as pressões de desvalorização sobre o real devem continuar.
Por fim, não se vê a possibilidade de o governo emitir uma nova Carta ao Povo Brasileiro, restabelecendo o tripé de política macroeconômica do crescimento sustentável de FHC e Lula, A volta de políticas monetárias mais contracionistas e a retirada dos controles cambiais devem ajudar a suavizar a piora da economia, evitando rupturas no curto prazo.
Já o ímpeto expansionista nas contas públicas é preocupante, sobretudo diante das novas medidas do endividamento público em prol do BNDES e da Caixa. A "fabricação" de receitas primárias por meio da geração de fluxos de dividendos só faz ampliar o receio com relação à inflação.
A manutenção da ambiguidade entre a política monetária ativa e a política fiscal expansionista é o problema central da "Nova Matriz Econômica". Os resultados mostram que reduzir os juros e promover a desvalorização da taxa de câmbio por decreto não constituem o caminho para o desenvolvimento econômico e dos ganhos de competitividade.
As idiossincrasias do regime econômico desenvolvimentista adotado pela presidente Dilma apontam numa direção perigosa, que pode limitar ainda mais o crescimento potencial de médio e de longo prazos. Na ausência de medidas que permitam ampliar poupança doméstica, dificilmente será possível expandir a capacidade de geração de renda e riqueza da economia brasileira.

Plebiscito não é bom para o país - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 07/07

A proposta atende às necessidades de oferecer resposta rápida às ruas, mas não às necessidades do país


Acuada pelas ruas, a presidente teve que dar uma resposta rápida e contundente. A resposta política escolhida foi a proposição de um plebiscito sobre temas ligados à forma de organização de nosso sistema eleitoral.

Os tópicos abordados aparentemente serão a forma de financiamento da campanha eleitoral; se o voto será distrital, misto ou permanecerá a forma proporcional; e se as coligações para votos proporcionais serão vedadas ou não, entre outras possibilidades.

Entende-se a preocupação da presidente. Do ponto de vista político, ela tenta sair o menos machucada possível do nosso conturbado outono e devolver a batata quente às ruas.

No entanto, a proposta de um plebiscito é péssima do ponto de vista da sociedade. É impossível tratar de questão tão complexa por meio de perguntas aos eleitores.

Além da enorme complexidade da questão em si, as diversas características de um sistema político são interligadas. Se mexermos em uma, teremos de mexer em outras de forma coerente para que o sistema mantenha a consistência.

Já a proposta de constituinte exclusiva revisora faz algum sentido. No entanto, apresenta tantas dificuldades práticas de implantação que não me parece o melhor caminho.

As ruas estão pedindo melhora da qualidade dos serviços públicos e expansão de alguns direitos, como é o caso da elevação do subsídio público à tarifa de transporte público nas grandes regiões metropolitanas do país. Não está claro como a alteração do sistema eleitoral aumentaria a capacidade do sistema político de abordar esses temas.

Seria importante que a política enfrentasse essas questões. Há duas agendas.

A primeira seria baseada na elevação da carga tributária. Pode ser realizada via aumento dos impostos gerais ou por meio de elevação/criação de tributos para atender algum propósito específico.

Por exemplo, elevar o imposto sobre a gasolina para punir o uso do transporte individual e subsidiar o uso do transporte público.

A segunda agenda é a de elevação da eficiência da gestão pública na educação, na saúde, na Justiça e na segurança. Parece-me que essa é uma longa agenda de direito administrativo, que demanda a reformulação dos mecanismos de gestão da máquina pública, incorporando instrumentos típicos do setor privado. A figura do contrato de gestão, por exemplo, poderia ser estimulada.

Além de reformar o Estado por dentro, a melhoria da eficiência dos serviços de saúde e educação implicará a criação e o aperfeiçoamento de instrumentos --vários deles já existentes-- de parcerias entre os setores privado e público.

Pensar a gestão é importante. Em termos internacionais, não há evidência de que gastemos pouco como proporção do PIB naqueles serviços. As despesas públicas de pouco mais de 5% do PIB com educação estão dentro da norma internacional. O gasto público de 3,5% do PIB em saúde, por outro lado, está um pouco abaixo --cerca de 0,5 ponto percentual do PIB, segundo meus cálculos. Isso indica claramente que não são excepcionalmente reduzidos.

A menos que desejemos elevar a carga tributária de 35% do PIB para 45%, não será possível gastar os "almejados" 10% do PIB em educação e 10% em saúde.

Voltando ao tema da reforma política, é importante que tenhamos claro que nosso sistema é funcional. Com ele, conseguimos debelar a inflação, levar a cabo o impedimento de um presidente eleito e processar uma transição política complexa de forma muito madura.

É também com o sistema político atual que finalmente conseguimos avançar no crescimento econômico, mesmo que bem mais lento do que todos gostaríamos, e na redução de nossas desigualdades.

O saldo de nosso sistema político é muito positivo para que, a cada turbulência, levante-se a bandeira da "mãe de todas as reformas". A probabilidade de sairmos de uma reforma política pior do que entramos é muito elevada.

O processo de construção institucional deve ser incremental. Se o Executivo quiser pautar o tema de reforma política, há espaço para fazer o debate no Congresso Nacional.

A proposta do plebiscito atende às necessidades imediatas de oferecer às ruas uma resposta rápida, mas não atende às necessidades do país.

Viva ou morra! O polegar das multidões - GAUDÊNCIO TORQUATO

ESTADÃO - 07/07

A reforma política volta, mais uma vez, ao centro do palco, desta feita sob o clamor da maior movimentação social da história brasileira. Se é a “mãe de todas as reformas”, como se tem argumentado, é razoável imaginar que a sua construção constitui uma alavanca para o progresso da vida institucional e, por consequência, para a melhoria do bem-estar da coletividade. Nesse caso, a reforma de padrões políticos se insere no conjunto das prementes demandas nacionais, ao lado dos programas para fechar os buracos nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. Pode-se, até, atribuir à presidente da República o uso de um escudo maquiavélico, sob o qual se protege contra o bombardeio que, nas últimas semanas, atinge, indistintamente, governantes e atores de todos os naipes. Há quem tenha visto oportunismo na atitude da mandatária de sugerir ao Congresso a adoção de um plebiscito para consultar o povo sobre reforma política. O fato é que a questão foi posta e a locomotiva reformista começa a se movimentar.

Quanto à polêmica aberta pela divergência sobre os meios para fazê-la – plebiscito ou referendo – a régua do bom senso aconselha medir o tamanho da encomenda e verificar se as formas sugeridas atendem ao espírito do nosso tempo, ao calendário e às disposições constitucionais. O ajuste fino se faz necessário para evitar a montagem de um corpo franksteiniano, que, ao invés de contribuir para enterrar práticas antiquadas, poderia ensejar a continuidade de mazelas. A primeira condição que se impõe é vontade política. Sob a batuta de clara disposição, os músicos ajustam seus instrumentos e conseguem levar adiante a partitura, mesmo que, no meio da afinação, possa haver partes fora do tom. Aliados da base governista e partidos oposicionistas se opõem à sugestão de realização de plebiscito. É evidente que os 70 dias estipulados pelo Tribunal Superior Eleitoral e a agenda congressual inviabilizam o uso desse instrumento. Mais razoável é defender uma proposta para valer em 2016. Afinal de contas, o assunto está posto na mesa política há duas décadas, merecendo, agora, um projeto bem acabado e condizente com a nova ordem que se firma no país. Há pontos que podem ser aprovados pelo Congresso sem necessidade de plebiscito ou referendo, principalmente os anacrônicos, geradores de desvios, como coligações em eleições proporcionais. O fim do voto secreto, que acaba de ser aprovado pela CCJ do Senado, aponta também nessa direção.

Que aspectos devem balizar mudanças na forma de fazer política? Pelo menos, aqueles que contemplam as metas: fortalecer os partidos; aproximar os representantes dos eleitores; depurar as campanhas eleitorais da corrupção e motivar a participação das bases. Livrar os partidos da marca “geléia geral” é conferir a eles uma identidade, elementos de diferenciação. Na moldura contemporânea, os mecanismos políticos clássicos – ideologias, partidos, parlamentos, oposições, participantes– tornaram-se menos contrastados, fato que aproxima os atores políticos no arco ideológico. Se a maioria dos entes se posiciona na esfera da social-democracia, cujo escopo se volta para o estado de bem-estar social, resta-lhes agregar elementos de distinção, a partir do compromisso com temáticas de vulto, em defesa de minorias étnicas e sociais, gêneros, classes, setores, ativismo sexual, ou nas frentes das políticas de desenvolvimento econômico, social, cultural e político. Evitariam, assim, entrar no rolo dos “catch-all parties” (“agarrar tudo que podem”), designação dada pelo constitucionalista alemão, Otto Kirchheimer, para caracterizar o ciclo do “poder pelo poder”.

A crise da democracia representativa abriu grande distância entre a representação e as bases. Veja-se a situação nacional. O descrédito nos políticos atinge os píncaros. As manifestações que se multiplicam pelo território expressam tal sentimento. São poucos os eleitores que recordam os nomes de parlamentares que receberam seu voto, ficando evidente a necessidade de serem resgatados os vínculos entre representante e representado. Para tanto, o voto distrital – aos candidatos identificados com a região do eleitor – é o instrumento adequado. Mudança radical na maneira de votar gera embaraços ao eleitor? Que se implante, então, o sistema misto, pelo qual metade das vagas seria preenchida pela regra proporcional e a outra pelo modelo distrital. O eleitor votaria duas vezes, na lista proporcional (fechada) e no candidato do distrito. A depuração das campanhas poderia começar pela proibição das doações de recursos de empresas e adoção do financiamento público. Mas, e os controles? Alguém acredita ser possível evitar a entrada do bolso privado no domínio público? Espinhosa será a tarefa de explicar a injeção de dinheiro do Estado nos cofres das campanhas, quando o caos dos serviços públicos está a exigir absoluta prioridade (e recursos). Já a motivação das bases obedece a um longo processo de educação política, que pode se iniciar com a adoção do voto facultativo, no entendimento de que o sufrágio universal é um direito, não um dever.

O verbo indignado está nas ruas. A massa tende a associar signos, símbolos e perfis que representam o Poder com os dissabores da vida cotidiana. Na moldura, cabem Executivos, Congresso, representantes, juízes corruptos, empresários flagrados na maré de corrupção. Urge, porém, separar a expressão passional da locução racional. Fazer política sem as instituições é cair na escuridão das ditaduras. A imagem é tosca, mas lembra o momento. No Coliseu romano, gladiadores se engalfinhavam em lutas ferozes. Ao final, os berros: Viva! Morra! O imperador ouvia o clamor da turba para levantar ou baixar o polegar, permitindo ao perdedor viver ou consentindo ao vencedor a última estocada. Que os atores políticos e a nossa presidente consigam levantar, logo, logo, o polegar das multidões. Precisam de um Viva para evitar o caos.

COM AÇÚCAR, COM AFETO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 07/07

A modelo Letícia Weber, 34, já se prepara "para um novo momento", dizem amigos do presidenciável Aécio Neves, que namora com ela há cinco anos

"Aécio Neves não namora mulher feia. Ele sempre teve bom gosto", comenta o musculoso e bonachão Alexandre Accioly, 51, dono da rede de academias Bodytech, que se refere ao senador mineiro e presidente do PSDB como "meu irmão".

Os dois se conheceram em 1999. A solteirice os uniu, conta Accioly ""à época, ambos vinham de separações recentes. Desde então, e muitas vezes com outros amigos, cavalgaram pelas montanhas de Minas Gerais, percorreram enormes trechos do litoral brasileiro de moto e participaram das baladas mais exclusivas do circuito Rio/Florianópolis --de hotel Fasano a Jurerê Internacional.

Os réveillons na casa de Luciano Huck em Angra dos Reis já se tornaram uma tradição. Os empresários Alvaro Garnero e Luiz Calainho, o craque Ronaldo e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, também são próximos.

É conhecida a estima de Aécio pelo Rio de Janeiro. Accioly conta que o senador adora uma praia e zela por separar a vida profissional da pessoal nos finais de semana. "Com os amigos ele não quer discutir intelectualidade. Quer é relaxar", conta ele ao repórter Morris Kachani. "Muito embora ultimamente ele venha falando mais de política. Nunca vi Aécio tão focado em minha vida."

De fato, o rol de conquistas de Aécio é admirável. Se existe um traço comum entre suas namoradas ou affaires é que a maioria tem cabelos longos e lisos. A idade também as aproxima --quase todas elas têm uns 15 anos a menos. Ele tem 53.

Estrelam o grupo a jornalista Cynthia Howlett, a modelo Michele Pin e a estudante Luciana Milhomens. Já a lista daquelas por quem Aécio em algum momento se encantou, até como amigo, sem que namorassem, também é longa: a atriz Ana Paula Arósio, a ex-miss Brasil Natália Guimarães, as modelos Ana Luiza Castro e Marta Graeff. Na última década, Aécio ensaiou também um retorno com a ex-mulher, Andréa Falcão, mãe de sua filha, Gabriela. Não durou um ano.

Letícia Weber tem 34 anos e as iniciais "A" e "N" tatuadas atrás da orelha direita. Com idas e vindas, namora Aécio há praticamente cinco. Entre os amigos, a expectativa é a de que a fase "ioiô" do namoro --com aberturas de janelas para amizades mais próximas como a com a modelo Bianca Giacoia, que estava com ele em Paris em junho de 2012, como publicado pela colunista Lu Lacerda-- já passou. E que agora é para valer.

Recentemente, Aécio foi visto na praia do Arpoador, de boné, discreto, o que chamou a atenção de conhecida que prefere não se identificar: "Ele não está nada pegador".

O jornalista Roberto D'Ávila, que já viajou e costuma jantar com o casal em restaurantes como o Lorenzo Bistrô, no Rio, diz que os dois estão "bem juntinhos". "Letícia tem acompanhado bastante o Aécio. Acho que talvez ela esteja realmente se preparando para um novo momento."

"Eles fazem esporte juntos [corrida], são saudáveis, gostam da vida. Além de ser muito bonita, Letícia gosta de política. Aécio jamais iria escolher uma parceira que não tivesse uma qualidade grande", acrescenta D'Ávila.

Pouca coisa se sabe sobre Letícia, que não fala com a imprensa. O namorado também preferiria que ela ficasse longe das páginas dos jornais, já que não mantém atividade pública ou atuação que, no entender dele, justifique uma entrevista.

Ela nasceu em Panambi (Rio Grande do Sul), estudou em um colégio evangélico e se mudou com a família para Florianópolis ainda moça. Apresenta-se como modelo e faz parte do casting da agência Ford de SC. Fazia trabalhos fotográficos e em vídeo porque "é linda, mas baixinha para a passarela", de acordo com um profissional do mercado, que prefere não se identificar. Está afastada desde o início do namoro. Também já foi publicado que ela é estilista, mas sete profissionais do ramo ouvidos pela Folha disseram desconhecer seu trabalho.

Hoje, ela está fixada no Rio, mas circula ao lado de Aécio por Floripa, Brasília, BH. É figura conhecida nas casas noturnas mais caras e sofisticadas da capital catarinense, como o Parador 12 (onde uma garrafa de champanhe pode custar R$ 4 mil) e Café de la Musique (no verão, a conta de muitas mesas passa de R$ 80 mil). Frequenta ainda o Celeiro, no Leblon.

O acesso à sua página no Facebook é restrito. Ali, ela lista a clínica de nutricionismo Detox in Box e a academia Bodytech nas opções de "curtir". Já no Facebook de sua irmã Camila, na opção "curtir" aparece a página da bispa Lúcia Rodovalho, presidente da comunidade evangélica Sara Nossa Terra.

Em 2010, Juca Kfouri, colunista da Folha, informou em seu blog, citando testemunhas, que Aécio deu um tapa e um empurrão em Letícia em um evento no Fasano do Rio, para constrangimento geral.

Depois, Aécio e Letícia negaram a informação. Kfouri segue sustentando. E diz que Aécio prometeu medida judicial, mas não fez nada.

Em abril de 2011, Aécio se recusou a fazer o teste do bafômetro e apresentou uma carteira de habilitação vencida em uma blitz da lei seca, no Rio. Recentemente, o senador passou por uma pequena cirurgia plástica de "refrescamento" no rosto. Fez pequenos preenchimentos e uma blefaroplastia --retiradas das bolsas dos olhos.

O endereço carioca de Aécio, na Vieira Souto, de 250 metros quadrados aproximadamente, acaba de passar por uma reforma, de acordo com Roberto D'Ávila. Letícia teria "apitado" na decoração. Um dos destaques é uma obra de Vik Muniz que mostra a praia de Ipanema, em chocolate. A porta de entrada, de espelho, reflete o mar.

Nova embalagem - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 07/07

A prioridade do tucano Aécio Neves é se popularizar. Ele vai deixar a Zona Sul do Rio e conversar com as pessoas da periferia e do interior do Brasil. Sua missão é oferecer um futuro para a classe C e seus 90 milhões de eleitores. A equipe de Aécio não vê como tarefa do candidato resgatar o governo FH; comparar biografias num país que já elegeu Lula; ou liderar o antipetismo raivoso.

No divã
Aliados do governo consideram que a presidente Dilma está apanhando por seus desacertos políticos. Enquanto tudo estava bem, eles não faziam diferença, mas, neste momento de dificuldades, eles começam a pesar. As análises não têm uma síntese ainda, mas uma delas avalia que o PMDB está sub-representado no governo (participação menor do que no governo Lula). Muitos dos ministros escalados não têm liderança em seus partidos. São citados nessa condição os ministros Tereza Campello (Social), Gastão Vieira (Turismo), Miriam Belchior (Planejamento), Garibaldi Alves (Previdência), Antônio Andrade (Agricultura) e César Borges (Transportes).

“Isso acontece com todos os ministros da Fazenda. A campanha para substituí-lo começa um dia depois de sua posse” 

Francisco Dornelles Senador (PP-RJ), sobre os recorrentes boatos acerca da queda do ministro Guido Mantega

Os tudólogos
"Les éditocrates" virou livro de cabeceira de políticos e autoridades. Ele pode ser traduzido por "Os tudólogos". E descreve personalidades que detêm "suposto conhecimento universal" e usam a internet para falar sobre "quase tudo".

Reforma fatiada
A Comissão da Reforma Política da Câmara não vai esperar o plebiscito. Ao seu presidente, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi sugerida uma reforma fatiada. A ideia é dividir os adversários das mudanças. O plenário deve votar, na terça-feira, lei que, no caso de cassação de prefeito, prevê nova eleição, em vez da posse do derrotado mais votado.

Esbanjando bom humor
Os tucanos estão inebriados com as dificuldades enfrentadas pelo governo Dilma. Numa roda de aliados, consta que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria dito: "Vou ganhar esta eleição sem precisar trabalhar muito." Todos riram.

À queima-roupa
Em reunião no Planalto, para debater o plebiscito, um dos líderes aliados afirmou que os temas eram complexos demais para respostas binárias. A presidente Dilma fez cara feia. O deputado, então, pediu para chamar um garçom do gabinete e perguntou: "O senhor sabe o que é voto distrital misto?" O garçom pensou e devolveu: "Desculpa, não tenho a menor ideia do que é isso."

Piada no Salão Leste
Circula no Planalto uma piada: já que se fala tanto em redução de Ministério, bem que a presidente Dilma podia fundir Educação, Ciência e Tecnologia, Casa Civil e Relações Institucionais já que Aloizio Mercadante acumula as funções.

Rir é o melhor remédio
Diante do corte de ministérios proposto pelo PMDB e das versões de que o ex-presidente Lula estaria nessa onda, um ministro brincou: "O pessoal não entendeu, quando falam em cortar ministérios, é para cortar ao meio e fazer dois."

Para não ser acusado de surfista, o governador Eduardo Campos decidiu se recolher à espera de melhor hora para intervir no debate.