sexta-feira, maio 17, 2013

Viúva do Lobo - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 17/05

Uma senhora surpreendeu o público ao pedir a palavra num debate sobre a ditadura, quarta, na PUC-Rio. Era a viúva do médico Amílcar Lobo, que serviu no DOI nos anos 1970 e é acusado de tortura. Emocionada, disse que não se conforma em ver o marido apontado como único algoz dos porões da ditadura no Rio.

— Reconheço os erros do meu marido, mas onde estão os outros?

Tortura eterna...
Maria Helena, a viúva, disse que a família do médico sofre e é perseguida até hoje.

— A tortura que sofremos se renova a cada dia. Ninguém quer dar emprego a um parente de Amílcar.

Foi assim...
Em 1973, a psicanalista Helena Besserman Vianna, mãe de Bussunda e Sérgio Besserman, denunciou na Sociedade de Psicanálise do Rio o médico Amílcar Lobo como participante de sessões de tortura durante a ditadura militar.

Ele alegou que apenas examinava presos após sessões de tortura, mas teve o registro profissional cassado.

Calma, gente!
Anita Prestes, filha de Prestes com Olga Benário, não concorda mais uma vez com a viúva do pai, Maria, que pleiteia a patente de general para o líder comunista:

— Prestes sempre foi contrário à reintegração ao Exército, conforme é do conhecimento de companheiros e amigos mais próximos.

É. Pode ser.

Fator Odebrecht
As empresas brasileiras já estão de olho. O emir do Qatar decidiu construir agora três estádios para a Copa de 2022.

A Fifa avisou que era muito cedo, mas ele faz questão de mostrar logo ao mundo como serão os estádios.

Exposição garantida
O Ministério da Cultura conseguiu com a Caixa os R$ 4 milhões que faltavam para completar o patrocínio da exposição de peças dos museus italianos e do Vaticano.

“Pegadas do Senhor” reúne obras que não sairiam da Itália se não fosse a Jornada da Juventude. A exposição será no Museu de Belas Artes, de 11 de junho a 15 de setembro.

Turné nacional
Daniel, o cantor sertanejo, fará uma turnê por seis estados brasileiros para comemorar seus 30 anos de carreira. Será a partir de julho agora.

O MinC o autorizou a captar R$ 3.049.080.

Elogios
Graça Foster, presidente da Petrobras, que tem fama de durona, amoleceu. Em reunião, ontem, com executivos da área de exploração e produção, elogiou o desempenho da empresa no leilão de blocos de petróleo da ANP.

A estatal, como se sabe, foi a que mais adquiriu blocos: 34 dos 289 leiloados.

Crescimento acelerado
Eduardo Paes publica hoje no DO decreto tornando a Freguesia, o bairro mais valorizado de Jacarepaguá, em Área de Especial Interesse Ambiental.

É o primeiro passo para frear novas construções na região, que, nos últimos anos, ganhou imensos condomínios.

Apoio graúdo
Mais de 30 cientistas vão divulgar um manifesto a favor da descriminalização do consumo das drogas no país, terça agora, no Viva Rio.

Assinam o documento os ex-ministros de Lula José Gomes Temporão e Sérgio Machado Rezende, além da presidente da SBPC, Helena Nader.

Rio Sem Homofobia
O Programa Rio Sem Homofobia divulga hoje, Dia Mundial de Combate à Homofobia, dados preliminares sobre a violência contra gays no estado.

Acredite. Agressões verbais e físicas aparecem, respectivamente, em primeiro e segundo lugares com 38% e 22%. Entre os locais em que esse tipo de violência ocorre estão as vias públicas, com 18%, ficando atrás apenas do ambiente familiar, com 22%. É pena.

Caraaaaaamba!
A fundadora de uma ONG enviou uma foto dela pelada, com foco em seu bumbum, para um ex-namorado.

A namorada atual do moço não gostou, pegou a foto e espalhou pelas redes sociais com a legenda: “save the c...”.

Jovialidade - RUY CASTRO

FOLHA DE S. PAULO - 17/05
RIO DE JANEIRO - O técnico da Seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, deixou Ronaldinho Gaúcho de fora da convocação para a Copa das Confederações. Alguns vibraram ao ouvir a notícia, outros discordaram e todos ficaram surpresos --ninguém esperava por isso. Ao lhe pedirem uma explicação, Felipão, sem dizer o nome do jogador, admitiu que sua decisão avaliara os prós e os contras: "Podemos ter certa dificuldade sem a experiência. Mas também podemos ganhar com a jovialidade".

Jovialidade? O que diz o "Aurélio"? "Jovialidade. Qualidade de jovial". Donde: "Jovial. Alegre, prazenteiro, folgazão. Engraçado, espirituoso, chistoso". O "Houaiss" é ainda mais descritivo: "Jovial. Que tem e manifesta alegria. Que gosta de divertir-se. Alegre, contente, folgazão. Chistoso, engraçado, espirituoso. Influenciado pelo planeta Júpiter [Jove], símbolo da felicidade. Ver sinonímia de alegre e brincalhão".

Pois, se Felipão queria jovialidade em seu time, por que abriu mão justamente do jogador mais jovial de todos? O mais alegre, contente, prazenteiro e folgazão? O que mais gosta de se divertir? O mais influenciado por Júpiter? Ronaldinho Gaúcho, sozinho, concentra todas essas definições de jovialidade --como bem se lembram as torcidas de Paris Saint-Germain, Milan, Seleção brasileira de 2006 e Flamengo.

Está bem, eu sei que, ao usar a palavra jovialidade, Felipão queria dizer que, com a não convocação do balzaquiano Ronaldinho, havia baixado a média de idade da seleção --inoculando-lhe juventude. Sei também que não se espera de Felipão, ex-beque especialista em bola no mato, que seja um leitor de João Cabral ou Ferreira Gullar, mestres da palavra simples e exata.

Ele apenas segue a jovial tradição brasileira de, ao se ver diante de um microfone ou câmera, tentar falar difícil para parecer culto.

DOCE VENENO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 17/05

A taxa de gordura considerada de risco para o desenvolvimento de doenças ligadas à obesidade, como diabetes tipo 2, atinge 58% dos paulistanos. É o que indica estudo do programa Meu Prato Saudável, parceria do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP com a LatinMed.

QUE ISSO, GORDINHA?
Entre as mulheres 69% apresentaram risco de doenças pela obesidade e 93% têm níveis de gordura considerados acima do ideal, contra 37% e 79% dos homens, respectivamente.

CINTURA LARGA
Cerca de 400 pessoas passaram por testes de bioimpedância (exame que mede a gordura corporal) e aferição de IMC (Índice de Massa Corpórea) ou medição de circunferência abdominal no Pateo do Collegio, no centro. De 126 adultos, entre homens, mulheres e adolescentes, que fizeram o primeiro tipo de exame, 88% apresentaram níveis de gordura acima do considerado ideal.

ABENÇOADO SEJA
A Jornada Mundial da Juventude, maior evento católico do mundo, que ocorrerá em julho, no Rio, com a presença do papa Francisco, recebeu sinal verde do Ministério da Cultura para captar R$ 10,9 milhões, via leis de incentivo, para a realização de um show com dez atrações musicais.

A apresentação será gravada e lançada depois como CD e DVD.

MAIS MULHER
A modelo Lea T fez cirurgia para reduzir as próteses de silicone de seus seios, anteontem, em São Paulo. Sua intenção era deixá-los com a aparência mais natural.

DE HOLLYWOOD
O americano Ryan Woodward, que fez as ilustrações da abertura de "Amor à Vida", estará na festa de lançamento da nova novela das nove da Globo, amanhã, em SP. Woodward trabalhou em filmes como "Os Vingadores" e "Homem de Ferro 2".

4 X SHAKESPEARE
O ator Juca de Oliveira vai interpretar sua quarta obra de William Shakespeare no teatro. Ele protagonizará o espetáculo "Rei Lear", sob a direção de Elias Andreato.

Os ensaios começarão entre agosto e setembro, quando termina sua participação em "Flor do Caribe", novela das seis da Globo. "Será um monólogo e vou fazer todos os personagens, inclusive as filhas do rei", diz. A peça recebeu autorização para captar R$ 1,1 milhão.

CASA ARRUMADA
O evento de decoração Casa Cor, que começa no próximo dia 28, no Jockey Club de São Paulo, exibirá 15 peças de mobiliário do acervo permanente do museu MoMA, de Nova York. Os objetos e móveis foram adquiridos pela Fiesp na década de 70 e exibidos pela última vez no Brasil em 2006.

DIETA BRASILEIRA
A americana Esperanza Spalding, uma das principais atrações do BMW Jazz Festival, que acontece no início de junho em São Paulo e no Rio, já avisou a produção do evento sobre seus gostos gastronômicos.

Ela diz que adora feijoada, pão de queijo, guaraná, rodízio de churrasco e as tradicionais lojas de suco do Rio. A cantora também contou que, além de ser fã de Milton Nascimento, ouve Elza Soares, Guinga, Pixinguinha e Djavan.

LUAU
A segunda edição do Santos Jazz Festival, entre 18 e 23 de junho, em Santos e em Cubatão, vai homenagear o multi-instrumentista Egberto Gismonti. O trombonista Stafford Hunter, que já integrou as bandas de Amy Winehouse e Tony Bennett, se apresenta com seu quinteto pela primeira vez no Brasil.

AQUELE ABRAÇO
A Cia. dos Inquietos, dos atores Daniel Tavares, Ed Moraes, João Bienemann e Rita Barata, encena pela primeira vez um espetáculo no Rio.

"Limpe Todo Sangue Antes Que Manche o Carpete", de Jô Bilac, estará em cartaz entre amanhã e segunda, no Galpão Gamboa.

A peça trata de duas histórias que se cruzam, onde os personagens estão dispostos a tudo para vencer e se dar bem na vida.

O grupo prepara nova montagem teatral, a terceira neste ano: "Oliver", de Leandro D'Errico.

SINFONIA Nº 4
A Orquestra Sinfônica Brasileira fez concerto anteontem. Foram à Sala São Paulo a bailarina Ana Botafogo, o empresário Romeu Trussardi e a mulher, Maricy, o ex-governador Alberto Goldman, Marina Sanvicente e o chef Olivier Anquier, com a atriz Adriana Alves.

ISSO É O MEU COMPROMISSO
Marcelo D2 inaugurou loja temporária na galeria Ouro Fino, em SP, para divulgar o álbum "Nada Pode me Parar". Seu filho, o também músico Stephan Peixoto, o cantor Mr. Catra, a atriz Polly Marinho e a modelo Andressa Mello conferiram o espaço.

CURTO-CIRCUITO
Luisa Mell agora é embaixadora no Brasil da Non-Violence Project Foundation. Ela vai atuar na defesa dos animais.

Marina Lima estreia hoje temporada de shows no Tom Jazz, em Higienópolis. Até 26 de maio. 14 anos.

O canal Bis e a agência de conteúdo 14 vão transformar a turnê de 30 anos dos Paralamas do Sucesso em um documentário.

Paulo Omino, o sósia japonês de Roberto Carlos, é um dos jurados em premiação da Sakeria Karaokê, nos Jardins. Hoje, às 23h.

A festa Rock Stars terá DJs e show surpresa. Hoje, às 23h, em Pinheiros. 18 anos.

Barbara Walters, do começo ao fim - LUCAS MENDES

BBC Brasil

83 anos. Alerta, passo firme, telegênica. Uma das mulheres mais afluentes e influentes da televisão americana, Barbara Walters vai sair do ar daqui a um ano. Ou quase.


Não fará mais programas semanais, entre eles seu View, que criou e foi modelo de Saia Justa e tantos outros. Nem terá participações regulares na ABC, mas vai continuar a dar as caras em projetos especiais.

"Quero ter mais tempo para cheirar as rosas", foi uma das razões que levaram Barbara a tomar a decisão que começou a matutar quando fez 70 anos.

Nossas vidas, além de uma válvula aórtica suspeita, têm pontos comuns. Poucos. Quando a carreira dela deu uma guinada extraordinária e Barbara se tornou a primeira mulher a apresentar um jornal de rede eu levei a primeira bronca da minha carreira, que começava na rede Globo.

Minha editora-chefe, Alice Maria, mais tarde querida amiga, me mandou um fax cobrando o furo que eu tinha levado de outra amiga já querida, Sonia Nolasco, na época casada com Paulo Francis e correspondente de O Globo. Uma entrevista com Barbara Walters.

Sonia teria conseguido a entrevista que ninguém conseguia. Quando foi contratada pela rede ABC, por US$ 1 milhão por ano, então o salário mais alto do jornalismo americano, Barbara queria se livrar do estigma de celebridade entrevistadora de celebridades. Nada de entrevistas, badalações em colunas sociais e fotos em festas. A imprensa "séria" acusava a rede ABC, com a co-âncora Barbara, de tirar a seriedade dos jornais.

Sonia conseguiu permissão para ir ao set do estúdio acompanhar uma apresentação dos bastidores. Mandou a matéria, usou algumas citações de Barbara conversando com sua equipe e o jornal deu destaque à "entrevista" que a própria Sonia disse não ter acontecido.

A carreira de Barbara e a minha foram adiante, a dela com mais dólares do que a minha. A contratação da entrevistadora e ex-apresentadora do programa matinal Today, da NBC, era parte de um plano maior do novo chefão do jornalismo, Roone Arledge, para tirar a ABC do distante último lugar. Até então, ele revolucionava as coberturas esportivas na rede ABC, com os melhores salários e novas tecnologias. Quando assumiu o jornalismo, achou que podia transformar jornalistas em estrelas campeãs de audiência.

Houve um derrame de dólares numa época em que o maior dos âncoras, Walter Cronkite, no final de carreira, ganhava US$ 650 mil por ano.

O plano de Roone deu certo. Não foi com a rapidez que ele queria, mas a rede, mesmo sem Barbara na ancoragem, saltou para o primeiro lugar. A química entre ela e o veterano co-apresentador não deu certo.

Depois de três anos ela saiu para apresentar outros programas e especiais que deram prestígio e fortuna à rede. Nem Oprah entrevistou pessoas tão relevantes. O raio de ação de Barbara era de 180 graus, várias entrevistas com líderes políticos tiveram repercussão mundial.

Até a década de 70, o jornalismo televisivo dava prejuízo. Os presidentes das redes batiam no peito e anunciavam com orgulho que prestavam um "serviço público". Com jornalistas milionários e célebres, a chegada do videoteipe, satélites e escritórios espalhados pelo mundo, os gastos das redes e o faturamento com os comerciais se multiplicaram.

Era também o começo da televisão por assinatura, que até então era usada em áreas rurais para melhorar a qualidade da imagem. A CNN nasceu em 1980. Na década de 90, surgiu a internet.

Foi neste período de influência, prestígio e salários altos dos jornais de rede que começou a lenta queda de audiência, não só dos jornais, mas de toda a programação e a ascensão das TVs por assinatura.

A trajetória de Barbara Walters vai do berço de ouro de jornalismo aos picos de audiência e à decadência. Não só do jornalismo.

As redes abertas estão em perigo. A queda da audiência parecia contida e às vezes até revertida, mas as quatro grandes redes, no último inverno, tiveram uma queda de audiência de 17% na faixa dos 18 aos 49 anos, a mais importante para os anunciantes. Foi a maior na história.

A CBS foi a que menos perdeu na nobre faixa etária, mas está num ar um novo perigo: o Aereo. Com suas antenas, captura os sinais das redes abertas e os joga na internet.

A CBS reagiu com processo porque Aereo cobra pelo serviço, mas, por enquanto, perde nos tribunais. Uma opção dos canais abertas é tirar o sinal do ar e transmitir por cabo e satélite. O impensável está nas mesas.

Muitos shows e programas das redes hoje mendigam por 5 milhões de telespectadores. Nos 60 e 70, shows semanais davam audiências de 50 milhões. Anunciantes correm para a TV por assinatura, onde algumas séries ja passam dos 7 milhões.

Quando fez 80 anos, mesmo sem sintomas de fraquezas e outros problemas associados a válvulas esclerosadas, Barbara Walters trocou a podre por uma nova. Vai cheirar muitas rosas e poderá mandar coroas delas para o enterro das redes.

Piaget - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 17/05

Quando era alegre e jovem, o construtivismo traduzia os valores contrários à nefanda censura


Pirro de Élis, sábio grego que visitou o Oriente na companhia de Alexandre, julgava ser impossível conhecer a verdade absoluta do que quer que seja. Pirro fundou a doutrina do ceticismo, contrária ao dogmatismo.

Toda certeza é perigosa, bem faz o filósofo em desconfiar delas. Para uma mãe, no entanto, é impossível atingir a placidez dos céticos.

A maternidade é irmã da angústia. O antídoto mais comum para a impotência perante o destino, o acaso e as intempéries é a religião. Como alternativa, Pirro sugere um estado de indiferença consciente: a ataraxia.

A pequenez humana requer serenidade. Pirro deve ter aprendido sobre o desapego com os orientais, era homem e não teve filhos. Eu sigo engalfinhada com os dilemas insolúveis, sou mulher, ocidental e mãe de dois. Teimo no ideal.

Ouço os que defendem o ensino tradicional e concordo com os catedráticos, a disciplina é a ponte para o saber. Troco duas ideias com os construtivistas e me convenço de que a cartilha repetida à exaustão é um atentado à criatividade infantil. O espírito investigativo é a porta do conhecimento.

À eficácia relativa das diferentes correntes de educação soma-se a pressão da fluência no inglês. Colégios bilíngues forjam bebês poliglotas, provando que o domínio de um idioma exige prática intensiva na infância. Corra e garanta vaga. A comunicação é a ferramenta do futuro.

Mas o porém de criar um ser alheio à própria cultura e dotado de um português de segunda invade a alma. E volto à estaca zero da incerteza sem fim.

Venho de uma família de artistas autodidatas, franco-atiradores guiados pelo instinto. São péssimos exemplos. Dos parentes, só um primo fez faculdade.

Como se não bastasse a falta de acadêmicos no DNA, sou cria de Piaget, ou do que aqui se convencionou chamar de método Piaget. Quando eu era alegre e jovem, o construtivismo traduzia os valores contrários à nefanda censura. A escola experimental prometia dar aos alunos a liberdade negada aos pais.

Quarenta anos depois, Steven Pinker condena Piaget com a mesma ferocidade com que desdenha de Oscar Niemeyer. Em um discurso disponível no site da TED (fundação privada sem fins lucrativos dedicada à disseminação de ideias), o psicólogo americano, personificação do pragmatismo científico, garante que não há apuro sem treino árduo.

Creio na ciência e no sacrifício, mas o argumento do cientista remete às mães chinesas, fábricas de infantes virtuoses, mas donas de uma severidade que põe em xeque o valor do gênio engendrado a fórceps.

Em "Bouvard e Pécuchet", Gustave Flaubert denuncia as fragilidades da ciência e da arte, fazendo, dos dois personagens centrais, cobaias voluntárias dos compêndios de saber do século 19. Nada escapa: a agricultura, a arqueologia, a política, a literatura, a religião, a medicina.

No capítulo dedicado à educação, os copistas tornam-se preceptores de um casal de irmãos rebeldes. Convencidos de que a boa formação é a única saída para o descaminho da humanidade, aplicam as inúmeras teorias educacionais nos pivetes. Nenhuma age sobre a índole das pestes. Após o fracasso com a matemática, a gramática, a música, a história e a geografia, desistem da experiência ao dar com os pupilos no fogão, cozinhando o gato da casa em água fervente.

Flaubert era cético. E cínico. Morreu de sífilis, contraída nos bordéis que frequentou com afinco, não casou e nunca foi pai. Mais uma vez, é fácil exercer a descrença quando não há crias por perto.

Fui devota de Flaubert na juventude. Hoje, impedida pelo amor materno de ser niilista e mordaz à sua maneira, leio "Os Miseráveis" e invejo o positivismo romântico de Victor Hugo.

A Revolução Francesa é mãe da eloquência de Hugo. Flaubert a admira, embora confesse em "A Educação Sentimental" que não arriscaria uma unha por suas bandeiras.

O mundo anda mais para Flaubert do que para Hugo. Menos dado a grandes causas e mais afeito à ataraxia estatística.

O espírito demolidor do francês é mais fiel à crise moral do presente. Talvez a dificuldade em definir a escola de meus rebentos seja reflexo desta dualidade. Quando nasci, a ideologia fundada em 1798 ainda guiava a política, a economia e a educação.

Não mais.

Ueba! FOI, CORINTHIANS! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 17/05

A regra é clara: eliminado e roubado é mais gostoso! Juiz paraguaio anula dois gols e não dá um pênalti!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o grito de guerra de uma nação: "FOOOI, CORINTHIANS!".

A regra é clara: eliminado e roubado é mais gostoso! Rarará! Juiz paraguaio anula dois gols e não dá um pênalti!

Depois de La Bombonera, La Robalhera! E como um amigo postou no Twitter: "Esse juiz é pior que político brasileiro: roubou 30 milhões de corintianos em menos de duas horas".

E só um bando de loucos mesmo pra achar que o Corinthians ia ganhar duas Libertadores! Agora só daqui a cem anos!

E aviso aos corintianos: se sentiram roubados? Liguem lá pro SAC. Serviço de Atendimento ao Consumidor. Ops, Serviço de Atendimento ao Corintiano! Rarará!

E o site Futirinhas fez outra versão do vídeo "O Zizao Tá Lendo". Com o Zizao soletrando: "Eli-mi-na-do!". "Gente, o Zizao tá lendo." Rarará! O Zizao tá lendo "eliminado"!

E aí começa aquele monte de piadecas: ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. A torcida corintiana não ia embora porque tava com medo da polícia lá fora. Por que os corintianos ficam batendo a caneca no alambrado? Rarará!

E a manchete do "Olé": "La Mano de Amarilla". Los hermanos sempre com la mano. La Mano de Diós, La Mano de Amarilla. Los hermanos acabaram com los manos!

E o Pato deu uma desarranjada. E o Cássio parece filho do Cruz Credo com a Mãe do Sarampo!

E tudo virou uma granja: o São Paulo foi eliminado com um Ganso, o Palmeiras foi eliminado com um frango e o Corinthians, com um pato! E o site CornetaFC: "Riquelme bate e CA-I-XA!". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E essa votação da MP dos Portos? Surreal! Deputado no plenário: "Vamos aproveitar que tá todo mundo aqui e votar primeiro a MP dos Municípios". Adorei o "vamos aproveitar que tá todo mundo aqui".

E MP dos Municípios quer dizer grana no bolso! E aí no meio dessa confusão, o PSDB ficou coletando assinaturas para uma CPI baseada numa denúncia do Garotinho, que não contou qual é! Surreal.

Aí uma deputada levou uma galinhada. Aí eles comeram a galinhada e assistiram ao jogo. E a fila no porto aumentando. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A casta dos dodóis NELSON MOTTA

O GLOBO - 17/05
O país está muito preocupado com a saúde dos funcionários do Senado. Sobrecarregados de trabalho e estressados pelas pressões cotidianas, os combalidos servidores tiraram mais de 87 mil dias de licenças médicas em apenas dois anos, que custaram 50 milhões de reais. E quantos médicos trabalharam milhares de horas para examinar, diagnosticar, receitar e licenciar tantos servidores doentes?

Agora se entende por que o Senado precisa de tantos médicos concursados, terceirizados e comissionados. E por que os senadores voam para o Sírio-Libanês ao menor sintoma de qualquer coisa.

Talvez a saúde dos servidores do Senado seja mais frágil e sujeita a doenças do que a dos funcionários da Ford, da Ambev ou do Bradesco. Não seria o caso de contratar pessoas mais saudáveis para o Senado? Ou dar-lhes um adicional de insalubridade?

Imaginem se uma empresa privada com 10 mil funcionários - do tamanho do Senado, mas produzindo bens ou serviços para a população - tivesse esse volume de faltas. Falência ou demissão em massa? Nem dinheiro do BNDES daria jeito.

A verdade é que, mesmo com esse volume colossal de faltas, ninguém notou diferenças no funcionamento do Senado, nenhum projeto deixou de ser votado, nenhuma comissão deixou de funcionar, nenhuma determinação da Mesa deixou de ser cumprida. Ou seja, não fizeram a menor falta. Provaram que o Senado pode viver muito bem sem eles.

Já estou esperando a carta furibunda da associação dos funcionários do Senado, repudiando a crônica debochada, desclassificando o cronista, e enaltecendo a eficiência e probidade da corporação, exigindo respeito pelos servidores públicos. E o clássico "não é justo culpar todos pelas eventuais falhas de alguns poucos", embora ninguém os tenha acusado coletivamente.

Podem até dizer, à la Mantega, que o índice de faltas é só um pouco mais alto do que os padrões da iniciativa privada, mas vai cair. E talvez tenha sido motivado pela secura do ar de Brasília, talvez por epidemias de gripe que assolaram o Planalto.

Mas não há remédio para falta de vergonha na cara e de respeito pelo dinheiro suado do contribuinte.

Só teatro - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 17/05

Parece que Joaquim Barbosa anda irrequieto. Alega que um carro preto cheio de ho­mens deu para rondar sua casa. Hmmmm. Na minha modestíssima opinião, podem ser asseclas do Pinguim ou, quem sabe, do Coringa. Mas eu não descartaria algum estratagema terrível da Mulher Gato --nunca se sabe, daquela felina pode-se esperar qualquer coisa.

Quinzão não anda vendo espectros gratuitamente. Teme a hipótese de que o plenário do STF decida em favor de recursos que favoreçam os réus do mensalão que tiveram quatro votos a favor.

Joaquim Barbosa, super-herói da nação, salvador da pátria varonil, azul e anil, não admite hipótese que assegure os direitos dos 37 réus que ele reuniu em um só corpo e julgou simultaneamente. Batman quer jogar todos na cadeia já. Caso contrário estaríamos incorrendo em privilégio de poucos, estaríamos entrando no terreno da "impunidade".

Mas, vem cá: foram quatro os juízes que levantaram dúvidas razoáveis acerca da culpabilidade dos réus, não foram? E, que se saiba, há mais de 800 anos a possibilidade de recurso vem sendo assegurada por lei, certo? Não será a entrada desenhada de luva de Barbosa em campo na disputadíssima contenda do Fla-Flu que irá satisfazer a sede de punibilidade a qualquer custo por parte da torcida, não?

Em 20 ou 30 anos, quando o contexto político for outro; a composição do STF for outra e, quem sabe, a temperatura for mais baixa nas áreas da banca em que ficam empilhadas as revistas semanais, as pessoas quem sabe se darão conta de que o acórdão, a sentença final do mensalão, é um documento sem pé nem cabeça, sem sustentação alguma, sem lógica interna, e que não foi a "impunidade" que o fez naufragar, mas sua falta de coerência.

QUEM SABE.

Desde o dia 1º venho martelando que a peça é capenga. Não, não entendo xongas de direito. Eu mais os milhões de fãs de Barbosa que ficaram meses com o nariz grudado na TV vendo o juiz em ação --sem revide da defesa, diga-se. Mas muito especialista que examinou a papelada reconhece que existe ali mais populismo jurídico do que competência de fato --foram 37 réus julgados de uma vez só por crimes diversos, onde já se viu uma coisa dessas?

Ora, ora, por que será que vários ministros retiraram suas considerações da versão final da sentença, não é mesmo, juiz Fux? O caro leitor já tentou ler o documento? Também não li. Mas quem teve de se debruçar sobre a obra atesta que ela não diz lé com cré.

Em sua sentença, um juiz precisa deixar claro para a sociedade os motivos que o levaram a chegar às suas conclusões. No processo do mensalão, Joaquim Barbosa fabricou um teatrinho que criou na sociedade brasileira uma série de falsas expectativas. Havia ali o papel do bandido, do mocinho, tinha a pecha de "maior julgamento da história" e havia até a certeza indiscutível de que viríamos um final feliz.

Agora, quem criou todas essas esperanças, quem usou de fígado em vez de ciência, quem deu um chute no traseiro da oportunidade histórica e será o responsável pela frustração de um país inteiro, além de reforçar uma perigosa polarização entre correntes de esquerda e direita, é o mesmo homem capaz de se dizer tão desencantado com o sistema a ponto de abandonar a toga e se candidatar a presidente. Duvida? Bem, depois não diga que não foi avisado...

Desperdício - ANTONIO DIAS LEITE

O GLOBO - 17/05
Análise da economia de um país é tarefa tão ampla e abrangente que as pessoas ou grupos que a ela se dedicam tendem a se concentrar em algum de seus aspectos, de especial relevância no momento. Acompanhei a evolução, no Brasil, tanto da economia real como dos estudos ao meu alcance que sobre ela se fizeram nos últimos 66 anos. Novas gerações de economistas, na sua maioria com passagem por universidades americanas, construíram, e tornaram disponíveis para análise de especialistas, modelos quantitativos da economia nacional, cada vez mais sofisticados do ponto de vista matemático.

Nesse esforço ficam apagadas as inter-relações da economia com os fatores políticos e morais que a influenciam. Com base nesses estudos discute-se o que fazer em termos de política econômica. Parece-me, no entanto, que neste princípio de século o descaminho da economia nacional que nos preocupa tem forte relação com aspectos políticos que inviabilizam a boa gestão econômica e que, infelizmente, não podem ser incluídos nos modelos matemáticos.

Desde 1948 até a crise de 1981, e à exceção do curto período dos governos J. Quadros e J. Goulart, elevou-se a poupança nacional até situar-se em torno de 20%. Cresceram com regularidade os investimentos. O PIB evoluiu, com oscilações, para alcançar a média anual de 7,5%. A produtividade do trabalho aumentou ao ritmo de 4% aa. Intensificou-se o processo de urbanização, com forte redução da pobreza, de 68% em 1970 para 35% em 1980, embora acompanhada de aumento da desigualdade. Esse desenvolvimento ocorreu ao longo de variados tipos de governo, alguns de inclinação autoritária como os de G. Vargas e E. Médici e outros, mais abertos, como o de J. Kubitschek, criador do "desenvolvimentismo".

Após 33 anos de crescimento, a economia brasileira ficou capenga desde a década de oitenta, salvo alguns momentos de euforia. A poupança nacional passou a oscilar e a contribuição do governo manteve-se, em geral, negativa. Diminui o ritmo do crescimento demográfico, com relevantes efeitos na estrutura econômica do país.

O Plano Real de 1994 derrotou a hiperinflação, trouxe a estabilidade monetária que beneficiou os mais pobres e impôs a disciplina fiscal. Sem menosprezar esses benefícios que perduraram até os primeiros anos do século, bem como os advindos da recente redução da pobreza, de 23% em 2003 para 10% em 2011, o que interessa, agora, é a possibilidade de sairmos do crescimento medíocre e retomarmos robusto desenvolvimento, a ser alcançado de forma sustentável e com um mínimo de consequências climáticas.

Na minha própria percepção, a partir das análises quantitativas disponíveis, o fenômeno econômico fundamental, porém não único, foi a forte redução da relação entre a taxa de crescimento econômico e a taxa de investimento (relação produto/capital) que representa a perda de eficácia dos investimentos quanto à sua contribuição para o desenvolvimento do país. E isso tem a ver com vários fatores não econômicos, como o histórico atraso da qualidade da educação nacional, a fragilidade da estrutura política e a desorganização administrativa do governo central.

A coalizão partidária vigente baseia-se no aparelhamento do Estado mediante a designação de administradores, em geral inadequados, para cargos de chefia no governo e de suas inúmeras agências e empresas, que estão por aí batendo cabeça. Os ministérios passaram de 17 para 39, e o número dos funcionários públicos federais cresceu 22% nos últimos dez anos, com deterioração da qualidade dos serviços.

Lançam-se incessantemente leis e tributos que bombardeiam a sociedade, que emperram o funcionamento do país e geram insegurança institucional entre empreendedores. Foram 72 emendas à Constituição e 612 medidas provisórias.

Em outro domínio desperdiçam-se recursos com incompetente gestão de obras públicas, algumas acompanhadas de improbidade político-administrativa já na boca do povo, por se eternizarem sem produzir qualquer resultado útil, como a transposição das águas do São Francisco, a Refinaria Abreu e Lima e a paradigmática Ferrovia Norte-Sul, entre tantas outras do PAC. E ainda vem por aí o trem-bala.

Seria ainda possível, antes que se intensifique a campanha política, que a presidente Dilma coordene esforço de conciliação, pelo menos em alguns pontos-chave, entre parlamentares da base e entre objetivos partidário-eleitorais e os apontados pelos economistas para a recuperação da economia nacional?

Lembrar, para não repetir - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 17/05
O nome é curioso: Comissão Nacional da Verdade. Sugere que essa entidade, criada recentemente, surgiu para fornecer à nação algo que lhe faltava. Ou seja, informações sobre fatos que lhe eram escondidos. E, na verdade, é certo que, no Brasil como em muitos outros países, para não dizer todos, os agentes do Estado costumam manter em segredo fatos e processos que não consideram merecedores de divulgação. Porque, é impossível negar, são coisas feias.

A nossa comissão trata exclusivamente dos métodos e procedimentos usados pelo regime militar para combater ações de cidadãos que não gostavam deles. Há mérito nessa iniciativa: a ditadura militar, estabelecida para impedir que o país, como os generais sinceramente acreditavam, caísse nas mãos de políticos comunistas, agiu com mão de ferro na repressão aos seus adversários.

A Comissão da Verdade tem mérito evidente. Não se trata - pelo menos, assim se espera - de uma entidade revanchista. Não se trata de uma caçada a membros do governo militar. Ninguém fala nisso. O objetivo da comissão é relatar o que aconteceu, simplesmente para evitar que aconteça novamente. Uma prova disso está nas boas relações dos membros da comissão com o Ministério da Defesa e os comandos militares.

Paulo Sérgio Pinheiro, que está deixando a coordenação da comissão, afirma que não há atrito com os comandos militares. Ele fala num "diálogo discreto" entre os pesquisadores e as Forças Armadas. O que certamente é facilitado pelo fato de que os militares de hoje são de uma geração posterior à daqueles que participaram da repressão aos adversários do regime militar.

E ninguém fala em punir os chefes militares daquele tempo. O que, obviamente, é facilitado pelo fato de que quase todos já morreram. Há outro objetivo, mais difícil: rever o ensino de História nas academias militares, onde o regime militar é tratado com, pode-se dizer, muito mais simpatia do que acontece nas universidades civis.

O trabalho da Comissão da Verdade é obviamente necessário: vale a pena, a propósito, lembrar o que já foi dito há bastante tempo: quem esquece episódios históricos desagradáveis corre o risco de repeti-los.

Limites da economia no centro do palco - WASHINGTON NOVAES

ESTADÃO - 17/05

Não há como não prestar atenção: são cada vez mais frequentes na comunicação mais especializada informações sobre teses e análises no âmbito econômico que já não se referem às crises do nosso tempo apenas como ciclos em que se exaurem modelos de relações governamentais, empresariais e sociais - à espera de que novas fórmulas nesses âmbitos sejam capazes de levar a novos ciclos de crescimento econômico e prosperidade. Essas novas teses se centram progressivamente na análise do que está sendo chamado de caminhada rumo à exaustão dos "limites físicos" do planeta - o que implicaria a impossibilidade de continuar tentando trafegar por sendas que exijam maior consumo desses recursos com o objetivo de assegurar o crescimento econômico.

Ainda há poucos dias o tema voltou à baila com o lançamento do livro do ex-presidente do BNDES (governo FHC) André Lara Resende sob o título Os Limites do Possível - A economia além da conjuntura, onde o autor enfatiza o esquecimento da estrutura física da Terra, seus limites, nas análises da realidade econômica e social (Valor, 26/4). Para ele, "a economia não é uma ciência exata, é parte das ciências sociais", e "foi levada a um beco sem saída, ficou estéril", exatamente por não considerar devidamente os limites físicos da realidade. Nas condições atuais de recursos, "é impossível manter 7 bilhões de pessoas com padrão semelhante ao dos países desenvolvidos".

Outros autores têm até quantificado o impasse: hoje a média de uso/consumo de recursos materiais no mundo é de 7 toneladas anuais por pessoa - ou 50 bilhões de toneladas totais e, nos padrões atuais, evoluindo para 63 bilhões de toneladas anuais, com 9 bilhões de habitantes nas próximas décadas. Insustentável, a ponto de já haver quem planeje viagens espaciais para buscar em outros planetas materiais escassos ou em esgotamento por aqui, principalmente para áreas como informática, comunicações e outras. E com agravantes. Relatórios da ONU-Habitat e do Painel de Recursos do Pnuma, ao destacarem que é preciso investir em infraestruturas sustentáveis para reduzir a degradação ambiental e a pobreza, lembram que 75% dos recursos do mundo são consumidos nas cidades, que têm pouco mais de 50% da população, mas evoluirão para 70% até 2050 e para maior consumo de recursos.

Quem tiver memória há de se lembrar do pronunciamento do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na conferência Rio+20, quando causou polêmica ao afirmar que "o modelo econômico e social no mundo está falido", para depois substituir a palavra "falido" por "exaurido". O economista Gian Carlo Delgado Ramos, da Universidade Nacional Autônoma do México, comenta (Nueva Sociedad, março/abril de 2013) alguns números que corroboram o pensamento do secretário-geral da ONU: enquanto no século 20 a população mundial se multiplicou por quatro, o consumo médio de energia multiplicou-se por 12; o de metais, por 19; o de materiais para construção, por 34. Com a agravante de que 10% da população consome 40% da energia e 27% dos materiais. Ao mesmo tempo, 20% da população concentra 83% da riqueza, enquanto os 20% mais pobres ficam com 1,4%. E 5% da população gera 25% do lixo. Não seria, assim, espantoso que uma equipe de matemáticos e filósofos do Instituto do Futuro da Humanidade, da Universidade de Oxford, esteja prevendo que "o fim do Homo sapiens pode chegar ainda no final deste século". Ao lado dos "desastres naturais", a ameaça estaria no uso sem limites da biologia sintética, das nanotecnologias no nível atômico ou molecular, no uso de inteligência artificial (EcoD, 26/4).

Não estranha, também, que Mikhail Gorbachev, o criador da perestroika e da glasnost, que acabaram transformando a área socialista, venha dizer agora (Estado, 19/4) que o mundo sofre com um "déficit de líderes e essa situação pode ser catastrófica para o ambiente". Jean Ziegler, ex-relator da ONU para o combate à fome, ao lançar o livro Destruição em Massa - Geopolítica da Fome (5/5), transpõe a questão para o caso do Brasil - que, a seu ver, precisa de uma "virada de 180 graus em sua política de combate à fome", porque o Bolsa-Família chegou ao limite assistencial; e o governo não consegue avançar por causa dos acordos de sustentação política no Congresso, onde a bancada ruralista impede políticas adequadas para a agricultura familiar e de pequenas propriedades (que respondem por 70% do abastecimento interno). O ex-ministro Mangabeira Unger aponta para "o esgotamento do modelo desenvolvimento interno", segundo ele, "montado sobre a expansão do consumo e exploração da natureza". Um novo modelo precisaria de "produtivismo includente, educação capacitadora e democratização aprofundada" (Folha de S.Paulo, 9/5).

Chega-se a Herman Daly, da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Maryland, autor de numerosos estudos e relatórios da ONU. Estamos, diz ele, diante do fracasso da economia voltada para o crescimento; "é preciso tentar uma economia do estado estacionário(...) os países ricos devem reduzir o aumento de seu padrão para deixar livres recursos e espaço ecológico, de modo que estes possam ser usados pelos países pobres"; ao mesmo tempo, "concentrar seus esforços no plano interno no desenvolvimento de melhores técnicas que possam ser compartilhadas livremente pelo resto do mundo" (Nueva Sociedad, março/abril de 2013). E mais: "O crescimento econômico já se transformou em antieconômico. A economia voltada para o crescimento está fracassada. A expansão quantitativa do subsistema econômico faz com que os custos ambientais e sociais cresçam mais rapidamente que os ganhos da produção; e assim nós temos mais pobres, e não mais ricos".

No momento em que a ONU ressalta que faltam mil dias para a aprovação dos Objetivos do Milênio, essa discussão toda certamente ocupará o centro do palco.

Os hispânicos são burros? - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 17/05

Entre os cientistas sociais, não existe consenso quanto ao que os testes de QI medem de fato


"O quociente intelectual (QI) médio dos imigrantes aos EUA é mais baixo que o da população de raça branca nativa. Essa diferença persistirá durante várias gerações. As consequências são a falta de assimilação socioeconômica entre os imigrantes de baixo QI, condutas de classe baixa, menor confiança social e um aumento no número de trabalhadores não qualificados no mercado de trabalho americano. A seleção de imigrantes de alto QI poderia melhorar esses problemas nos EUA e ao mesmo tempo beneficiaria os imigrantes que são mais inteligentes, mas carecem de educação em seus países de origem."

É esse o resumo da tese de doutorado que Jason Richwine apresentou à Universidade Harvard em 1999 e que foi aprovada sem objeções por um comitê formado por três prestigiosos catedráticos da universidade. A tese fala de imigrantes em geral, mas suas conclusões se baseiam principalmente em uma análise do (baixo) QI dos hispânicos.

Quando o antigo senador Jim DeMint, um dos líderes do Tea Party e indicado recentemente para a presidência da Heritage Foundation, precisou confiar a alguém a tarefa de liderar um estudo para atacar a reforma da política de imigração norte-americana, escolheu Jason Richwine, que escreveria o relatório em companhia de Robert Rector.

Dylan Matthews, jornalista do "Washington Post", encontrou por acaso a tese de Richwine e publicou sua mensagem central. Dois dias mais tarde, Richwine renunciou ao seu posto na Heritage.

Há diversas surpresas em tudo isso, mas a principal talvez se relacione aos padrões que Harvard segue para conferir doutorados. A tese de Richwine supõe que exista relação de causa e efeito entre duas variáveis difíceis de medir: inteligência e etnia. Entre os cientistas sociais, não existe consenso quanto ao que os testes de QI medem.

Medem inteligência ou medem a capacidade de responder bem a esse tipo de teste? E, caso meçam inteligência, de que tipo de inteligência estamos falando?

Mas, se a inteligência é difícil de medir, como medir a categoria que Richwine designou como "hispânicos"? Não se trata de uma categoria biológica, mas de uma definição popularizada pelo Serviço de Recenseamento dos Estados Unidos, que usa "hispânico" ou "latino" para se referir a "uma pessoa de origem cubana, mexicana, porto-riquenha, centro ou sul-americana ou de outra cultura e origem espanhola, independentemente de sua raça".

Mas aqueles que desejam acreditar em estudos baseados em testes de inteligência se interessarão por um artigo publicado pela revista "Psychological Science" em 2012. Uma pesquisa que estudou quase 16 mil pessoas por diversos anos, no Reino Unido, determinou que "os níveis mais baixos de inteligência na infância prognosticam a presença de maior racismo na idade adulta".

Em outras palavras, pessoas racistas quando adultas não se saíam muito bem em testes de inteligência quando crianças.

Em resumo: se você acredita que os hispânicos são burros, precisa acreditar que os racistas também são. Ciência pura.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Os sonhos da mulher saudita - RASHEED ABOU-ALSAMH

O GLOBO - 17/05

Os fundamentalistas sauditas, como os do Brasil, têm uma força muito além de sua minoria, aos berros tentam apavorar e calar a população


Fui ver o filme saudita “O sonho de Wadjda”, na semana passada, aqui em Brasília, e saí do filme com esperança de que há um jeito para a situação precária das mulheres vir a melhorar, e muito.

Da diretora Haifa al-Mansour, o filme é sobre o sonho de uma menina de 12 anos, chamada Wadjda, de um dia conseguir bastante dinheiro para comprar uma bicicleta que ela viu numa loja perto da sua escola. Em paralelo, mostra a vida da mãe dela que trabalha num lugar longe de casa, e que é refém de um motorista caprichoso (já que mulheres são proibidas de dirigir no reino), e de um marido que insiste que tem que ter um herdeiro homem, custe o que custar.

Este filme começou a ser exibido no Brasil ao mesmo tempo em que a Fundação do Rei Khaled lançou uma campanha de conscientização do abuso de mulheres na Arábia Saudita. Anúncios em jornais e na televisão mostraram o rosto de uma mulher saudita, coberta pela burca preta, com aberturas para os olhos, um normal o outro roxo, com o slogan: “O que está escondido é muito mais”, querendo dizer que as consequências psicológicas eram muito maiores do que os hematomas deixados na pele por causa do abuso.

Quase imediatamente surgiu uma discussão sobre o assunto, com muitos críticos apontando que junto com campanhas de conscientização a Arábia Saudita tinha que ter leis severas que protegessem mulheres e punissem homens que batessem em suas mulheres e crianças. A colunista Samar Fatany escreveu no “Saudi Gazette” que de acordo com o Programa Nacional de Segurança Familiar 65% do abuso doméstico são praticados por maridos, e que 88,5% dos sauditas sondados pelo programa disseram que vítimas de violência doméstica precisavam de mais proteção.

A campanha da Fundação do Rei Khaled tem uma página na internet com todos os telefones dos grupos de direitos humanos e dos abrigos para que mulheres abusadas possam ligar para pedir ajuda jurídica, e às vezes abrigo, se for necessário sair de casa. O problema, com isso, é que nada está amparado por lei. Legalmente, mulheres são tratadas como menores perante a lei, necessitando da permissão dos seus guardiões masculinos, geralmente do marido ou do pai, para viajar, estudar, sofrer uma cirurgia médica, e até para trabalhar fora de casa. E as mulheres que acabam nos abrigos são geralmente mandadas de volta para a pessoa que abusava delas, porque mulheres na Arábia Saudita não podem morar sozinhas ou com outras mulheres.

A razão de não haver leis que protejam mulheres de abuso físico e mental se deve ao fato de que todas as leis no reino são baseadas no Shariah, ou lei islâmica. Infelizmente, muitos líderes religiosos na Arábia Saudita ainda pregam que maridos podem bater nas suas esposas e crianças para impor disciplina a elas. Isso vem de uma interpretação deturpada do Alcorão e dos ensinamentos do profeta Maomé. Eu já escrevi sobre o abuso de crianças e mulheres na Arábia Saudita, e como juízes têm aplicado sentenças muito leves nesses casos.

“Um grande desafio que não foi abordado ainda na sociedade saudita é a falta de compreensão do Shariah,” escreveu Fatany. “Muitos homens, que são os principais responsáveis da violência contra mulheres e crianças, acreditam que eles têm todos os direitos a recorrer a surras disciplinares, e que eles não podem ser responsabilizados por isso. Enquanto o comportamento violento não for criminalizado, nós nunca vamos acabar com a violência dentro de famílias,” ela adiciona.

Com certeza, o governo saudita não suporta ver toda essa violência deflagrada com mulheres, mas o medo de interferir na vida particular dos seus cidadãos o leva a não agir fortemente quando os excessos acontecem. E é aí aonde a voz da sociedade tem que soar mais alto e exigir dos seus dirigentes ações dramáticas e rápidas para pôr fim as essas barbaridades. E foi isso que exigiu a jornalista saudita Ebtihal Mubarak (radicada em Nova York), semana passada, no programa The Stream da Al Jazeera English, que eu tive que assistir na internet porque nenhuma operadora de TV a cabo no Brasil disponibiliza o canal. “Como nós podemos nos organizar para promover os direitos das mulheres se o governo não deixa mais de dez pessoas se reunirem de cada vez?” perguntou Mubarak, referindo-se à proibição de partidos políticos e de grupos cívicos não autorizados pelo governo.

Mesmo sem a violência doméstica, a vida de mulheres sauditas não é nada fácil. A cada passo parece que há mais uma restrição ou proibição nas vidas delas. “O sonho de Wajdha” mostra um pouco disso, num retrato intimista da vida da Wajdha, que é informada que não deve andar de bicicleta porque pode romper seu hímen e assim acabar com qualquer chance de se casar no futuro, e de sua mãe, que é punida porque não tem condições físicas para dar mais um filho ao marido.

Espero que, desta vez, essa campanha contra violência doméstica dê algum tipo de resultado. Não estou muito confiante, por causa da relutância dos fundamentalistas, que como aqui no Brasil têm uma força muito além dos seus números minoritários, e que aos berros tentam apavorar e calar a população. Para ter uma mudança radical na posição das mulheres na sociedade saudita, teríamos que ver a abolição da lei de tutela. Somente assim, mulheres sauditas não serão mais tratadas como crianças. E se tiver a chance vá ver “O sonho de Wajdha”. Eu recomendo, vale a pena.

Na estrada - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 17/05

Depois de reduzir sua exposição pública nas últimas semanas, Eduardo Campos retomou a agenda de pré-candidato a presidente. Na quarta-feira, participou de seminário sobre gestão em Joinville (SC), onde repetiu para 1.500 empresários palestra sobre o desequilíbrio entre União e Estados, com ênfase na falta de verbas federais para saúde. O governador de Pernambuco também intensificou as gravações para programas regionais do PSB, que vão ar neste semestre e no próximo.

Porta aberta Na passagem por Santa Catarina, Campos convidou Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento do Estado, a trocar o PSD pelo PSB. A família Bornhausen não vai apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, como o governador Raimundo Colombo.

Já passou Diante da atuação de Eduardo Cunha (RJ) na votação da MP dos Portos, petistas pressionam o Planalto a demitir indicados pelo líder do PMDB. A ordem no governo, no entanto, é "baixar o tom" e cessar a disputa com o peemedebista.

Cuco Para garantir quorum na madrugada, Cunha mandou buscar com seu carro deputados que haviam abandonado o plenário e já tinham ido dormir, como Geraldo Resende (PMDB-MS).

Sem lastro Emissários de Dilma lembraram ao PP, que votou contra o governo na Câmara, que nunca foi prometido à legenda cargo na Petrobras após a perda de diretoria no ano passado.

Fatura Nos bastidores, deputados justificavam o voto contra o governo por não terem sido contemplados com nova vaga na empresa.

Round 2 Parlamentares apontam como a próxima crise do Congresso com o governo a instalação anteontem de comissões especiais para a analisar as medidas provisórias 610 e 612. Peemedebistas prometem anular a sessão de instalação das comissões.

Reabilitado O PSDB vai homenagear o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante a convenção de amanhã que vai eleger o presidenciável Aécio Neves (MG) para comandar a sigla.

Neutro O discurso de José Serra na reunião tucana deve ir na mesma direção do proferido em evento da sigla em São Paulo, com críticas a Dilma e sem menção à pré-candidatura do mineiro.

O outro O deputado José Bittencourt (PSD) é o novo relator na Assembleia paulista da proposta de emenda que reduz o poder de investigação de promotores, depois que Mauro Bragato (PSDB) foi destituído da função. A troca agradou ao autor da proposta, Campos Machado (PTB), que pediu a mudança.

Pensão Foi publicado ontem no "Diário Oficial" de SP o projeto do novo auxílio-moradia dos deputados estaduais, com reembolso de até R$ 2.850 para quem não mora na capital. A verba foi batizada de "auxílio-hospedagem".

Palco O vice-prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar, deve trocar o PTB pelo PR de Valdemar Costa Neto. O cantor quer estar aliado ao PT em 2014, quando pode ser candidato a deputado federal.

Visitas à Folha Dan Conrado, presidente da Previ, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Renê Sanda, diretor de investimentos, Roberto Sabato, gerente-executivo de comunicação, e Gabriela Wolthers, assessora de imprensa.

Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Vera Esaú, gerente de comunicação, e Ricardo Viveiros, assessor de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA

tiroteio
"Chegou a hora da CPI dos Porcos, para investigar os homens de bens que chafurdam nas águas sujas dos portos brasileiros."
DO DEPUTADO DOMINGOS DUTRA (PT-MA), sobre acusações de corrupção feitas por deputados federais durante a votação da medida provisória dos portos.

contraponto


Vai indo que eu não vou
Às vésperas da fundação do PSDB, em 1987, o ex-governador de São Paulo Franco Montoro encontrou o correligionário Ulysses Guimarães, presidente do PMDB.

Montoro insistiu para que o amigo acompanhasse a ele e outros peemedebistas rumo à nova legenda, que seria uma dissidência ao grupo do então governador Orestes Quércia, majoritário no partido.

Frasista famoso e peemedebista desde a fundação da legenda, Ulysses rebateu de pronto:

--Mudar de partido é igual a trocar de mulher: só mudam os problemas!

Na corda bamba - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 17/05

A principal tarefa do senador Aécio Neves depois de se sagrar, amanhã, presidente do PSDB será atrair o DEM para sua candidatura ao Planalto. O partido, que tem tempo de TV, vive momento de dispersão. Seus líderes estão fechando acordos regionais. Hoje, Aécio só tem dois dirigentes de peso ao seu lado: o presidente Agripino Maia (RN) e o vereador Cesar Maia (RJ).

O que fazer?
Enquanto os tucanos esnobam o vereador Cesar Maia, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o senador Lindbergh Farias (PT) cortejam o DEM. "Tenho conversado com o Rodrigo Maia. Quero eles perto da gente", explica Pezão. O petista também tem procurado os Maias, e seu trunfo é a experiência da aliança PT-DEM na gestão da prefeitura de Nova Iguaçu (RJ). Atual aliado da candidatura Aécio Neves ao Planalto, o DEM conversa com outras forças para não correr o risco de ficar isolado. Como os tucanos querem o apoio do PDT, eles podem ficar tentados a se dividir nos palanques de Cesar Maia e do deputado trabalhista Miro Teixeira.


"A candidatura do PSB (Eduardo Campos) é irremovível. Estamos evitando acirrar ânimos. Temos que proteger nossos governadores"
Roberto Amaral
Vice-presidente nacional do PSB

Sonho de consumo
O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, tem procurado o governador Sérgio Cabral (RJ) para conversar. Aposta num racha entre PMDB e PT, caso se confirme o embate entre seu vice, Luiz Fernando Pezão, e o senador Lindbergh Farias.

Dominado
A oposição já sabia que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atropelaria na MP dos Portos. Sua leitura é que Renan sofre contestação na bancada do seu partido e tem uma imagem ruim na opinião pública. Nesse contexto, ele não teria condições de se contrapor ao Planalto, pois se segura na boa relação com o governo.

Louça quebrada
Os senadores governistas iam à tribuna, ontem, dizer "sim" à MP dos Portos, mas depois, no cafezinho, reclamavam que o clima era de constrangimento e que essa seria a última vez em que votariam uma MP goela abaixo.

O primeiro a saber
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi gentil com o governador Eduardo Campos (PE) no encontro de anteontem, em Recife. Kassab foi informar ao candidato do PSB ao Planalto que seu partido está comprometido com a reeleição da presidente Dilma. O gesto, segundo dirigentes do partido, deve-se ao fato de o PSB ter contribuído na construção do PSD em vários estados.

Os novos socialistas
O governador Eduardo Campos desfilou em Santa Catarina ao lado do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen e do secretário Paulo Bornhausen (PSD), convidado a ingressar no PSB. Jorge já abriu o voto em favor de Campos.

Êxtase
Desde que o ex-deputado ACM Neto (DEM) afirmou, na tribuna, que daria "uma surra" no ex-presidente Lula que não se via nada igual. Ontem, Mário Couto (PSDB-PA), na tribuna do Senado, berrava: "Fora, Dilma! Fora, Dilma!".

Ansiedade. 
Antes mesmo de ser aberto o painel de votação, a presidente Dilma ligou para felicitar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).

Deixa rolar - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 17/05

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou ontem a garantir que a inflação está em queda e que vai continuar caindo.

É uma declaração que, em parte, tem a função de ajudar a varrer o surto de pessimismo que tomou o País, como neblina que envolve um pedaço de serra. Toda autoridade tem o dever de influenciar positivamente as expectativas para melhorar a eficácia das políticas adotadas, embora nem sempre faça isso com suficiente habilidade. Desse ponto de vista, a declaração do ministro cumpre função importante.

Mas há um lado nessa declaração que precisa de reparo. Quando insiste em que a inflação vai cair, Mantega também repisa ponto de vista equivocado do governo Dilma: o de que não é preciso fazer nada para combater a inflação. É deixar rolar, que logo passa. Por trás dessa afirmação está o diagnóstico de que a maior parte da inflação foi provocada por choques de oferta, como enxurrada, que vai diminuindo logo depois que o aguaceiro deixa de cair.

Não se pode negar que há considerável pedaço da inflação provocado por choque de oferta, ou seja, gerado pela quebra acentuada da oferta da mercadoria, seja qual for a razão. Isso vale para a inflação do tomate (de 150%, no período de 12 meses terminado em abril), da farinha de mandioca (146%), da batata inglesa (124%) e da cebola (62%). Nesses casos, a própria alta de preços incentiva o produtor a plantar e a normalizar a oferta. Contra esse impacto, nem o Banco Central nem o governo federal têm muito o que fazer, a não ser acionar, quando possível, estoques reguladores ou importações.

O problema é que outra boa parcela da inflação, que em abril atingia a marca de 6,49% (em 12 meses), não tem a ver com choque de oferta, mas com elevação da demanda desproporcional à capacidade de oferta. Para atacar esse foco, o governo e o Banco Central têm muito o que fazer. A inflação de serviços, por exemplo, que teima em ficar acima de 8% ao ano, é consequência disso. Outra indicação de inflação de demanda acima do normal é mostrada pelo índice de difusão, que aponta o quanto a alta de preços está espalhada na economia. Em abril, o índice de difusão alcançava 65,8% dos itens que compõem a cesta do custo de vida.

O esticão de demanda é proporcionado por dois principais fatores: pela gastança do governo, substancialmente além do previsto; e pelo aquecimento excessivo do mercado de trabalho, que cria renda acima do aumento de produtividade da economia.

Contra esse foco de inflação há dois antídotos relevantes: mais disciplina fiscal (contenção das despesas públicas) e redução do volume de dinheiro no mercado financeiro (alta dos juros). Quanto mais o governo cortar gastos, menos o Banco Central terá de diminuir a ração de dinheiro no mercado, ou seja, menos terá de subir os juros.

Infelizmente, o que se vê no governo é a propensão a gastar, tanto mais quanto mais esquentar o clima das eleições. Nessas condições, ou o Banco Central puxa pelos juros, ou a inflação será realimentada, apesar das afirmações em contrário do ministro.

Os astros da economia se alinham - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 17/05

Se o Japão conseguir sair da armadilha da deflação, meu otimismo com a economia mundial ficará reforçado


Os sinais de que a economia americana está deixando para trás a crise em que se encontra desde 2008 são cada vez mais sólidos.

Nesta semana, o COB --órgão do Congresso americano responsável pelo acompanhamento das questões orçamentárias-- publicou um relatório atualizado sobre a situação do deficit fiscal nos Estados Unidos neste primeiro trimestre de 2013.

Sob o impacto de uma nova lei de gastos, aprovada por pressão do Partido Republicano, o desequilíbrio fiscal do governo Obama representa apenas 4% do PIB, contra expectativas anteriores que falavam de algo próximo aos 5,5%. Em 2010, ele chegou a mais de 10%!

E o COB vai mais longe ao prever que, se não houver mudanças na lei atual, o deficit fiscal em 2014 será de apenas 2,6% o PIB.

Ou seja, os Estados Unidos, depois de quase cinco anos de crise, consegue ficar de pé novamente com a volta do crescimento sustentado e da estabilização da dívida pública em cerca de 70% do PIB.

Bem longe do cenário de catástrofe previsto por muitos é um avanço extraordinário que abre espaço para que a maior economia do mundo volte a crescer a taxas superiores a 3% em 2014 e nos anos seguintes.

Para chegarmos a esse cenário rosa falta um último passo: a normalização das condições monetárias no país do Tio Sam, com a esterilização de quase dois trilhões de dólares de excesso de liquidez e a normalização da chamada curva de juros de longo prazo.

Os maiores riscos em relação a esse evento --que no limite pode estragar a festa que todos nós esperamos-- estão ligados ao comportamento especulativo que deve ocorrer nos mercados financeiros do mundo todo quando o FED começar a se mover.

Muitos agentes olham para essa normalização pelo lado dos riscos que podem ocorrer com o aparecimento de um "super dólar" nos mercados de câmbio.

Nessa situação, dizem estes eternos arautos dos desequilíbrios das economias de mercado, os preços das commodities vão derreter e, países como o Brasil, entrarão em crise.

Prefiro considerar o cenário do "super dólar" pelo lado positivo, com a economia americana funcionando como uma alavanca para o resto do mundo, inclusive o Brasil.

Nessa hipótese, o ajuste da economia chinesa, que já está em curso, vai se fortalecer e o fantasma do "hard lending" --aterrissagem forçada-- na segunda maior economia do mundo vai para o armário das catástrofes anunciadas e não acontecidas. Juntas, a primeira e a segunda maiores economias vão dinamizar o comércio internacional e irrigar as economias nacionais em várias regiões.

Vamos entrar em um período de crescimento sustentado, o mundo voltará a viver dias de maior otimismo e ficar longe dos fantasmas que assustaram os mercados nos últimos cinco anos.

Ontem soubemos de mais um dado que reforça este cenário de astros alinhados na economia mundial a partir de 2014.

Como um primeiro resultado da corajosa mudança de rumos na política econômica da agora terceira maior economia do mundo, o PIB do Japão cresceu 3,5% em bases anuais no primeiro trimestre deste ano.

Pela primeira vez em muitos anos, o consumidor japonês abandonou seu comportamento conservador e, estimulado pela alta da Bolsa de Valores de Tóquio e da perspectiva de um "boom" econômico, foi às compras com vigor.

Dos 3,5% de crescimento do PIB no trimestre, 2,4% vieram do consumo das famílias. Se finalmente o Japão conseguir sair da armadilha da deflação e juntar-se aos Estados Unidos e à China, meu otimismo com um novo período de crescimento da economia mundial ficará ainda mais reforçado.

O leitor da Folha pode perguntar nesta altura sobre a Europa, o outro bloco econômico importante no balanço da economia mundial.

Na minha opinião, a Europa é o elo mais frágil nesse cenário de recuperação, pois ainda se encontra paralisada pelos conflitos ideológicos entre o norte e o sul.

E vai ser, no meu cenário, apenas um figurante de menor importância e que se beneficiará do crescimento dos outros países para caminhar para frente.

Etanol - o papel do governo e do mercado - MAURICIO CANÊDO PINHEIRO

ESTADÃO - 17/05

O Brasil ostenta um dos mais bem-sucedidos programas de desenvolvimento e utilização de biocombustíveis em automóveis do mundo. Atualmente, mais da metade da frota brasileira (de mais de 30 milhões de veículos leves) está equipada para usar etanol. Também são misturados biocombustíveis - etanol, no caso da gasolina, e biodiesel, no do óleo diesel - aos derivados de petróleo usados nos veículos automotores brasileiros.

Esse resultado não teria sido alcançado sem o papel ativo do Estado. Na verdade, trata-se de um caso clássico em que a intervenção do governo não só é justificada, mas recomendada. O consumo de combustíveis gera o que os economistas chamam de externalidades. Na hora da decisão de consumo, os proprietários de automóveis não levam em consideração, ao menos não completamente, os efeitos negativos da emissão de poluentes sobre o meio ambiente. O resultado é que, sem intervenção do governo, o consumo de combustíveis e o nível de poluição são superiores ao que seria desejável do ponto de vista da sociedade. Há, ainda, a questão da dependência dos combustíveis fósseis, não renováveis, que reforça a importância do papel do Estado.

Além disso, há economias de coordenação envolvendo a produção de biocombustíveis, de veículos que os utilizem e a instalação da rede de distribuição. Assim, durante anos se concederam pesados subsídios à produção e consumo de etanol (e de veículos movidos a etanol), além de apoio público à pesquisa e desenvolvimento (P&D) na área de bicombustíveis. Boa parte do esquema de subsídios foi gradualmente removida, pela incapacidade fiscal do setor público em mantê-los e por eles se tornarem menos necessários.

Mais recentemente, o uso de etanol foi potencializado pelo advento dos automóveis bicombustíveis. A possibilidade de utilizar indistintamente gasolina e etanol fez com que os mercados dos dois combustíveis ficassem ainda mais interligados pelo lado da demanda. Existem evidências sólidas de que o preço da gasolina influencia o consumo do etanol e de que a competição mais acirrada entre os dois reduziu significativamente o preço de ambos.

E hoje, há espaço para a atuação do Estado? Certamente sim. Primeiro, no fomento à atividade de P&D ligada ao etanol (como o etanol celulósico). Depois, é o governo que calibra a carga tributária dos dois combustíveis. Como o etanol é menos poluente que a gasolina, a boa teoria econômica recomenda que a carga tributária incidente sobre ele seja menor que a da gasolina. Por muito tempo foi exatamente o que ocorreu. Nos últimos anos, porém, e a despeito da recente desoneração do etanol, tem ocorrido justamente o contrário. Ou seja, faz sentido econômico que o governo distorça os preços relativos dos combustíveis, mas isso tem sido feito na direção errada.

Essa tendência é reforçada pela contenção dos aumentos nos preços da gasolina, o que tem outro efeito colateral. Como os dois combustíveis fazem parte do mesmo mercado pelo lado da demanda, a incerteza sobre a formação dos preços da gasolina no mercado doméstico se transmite para os preços do etanol. O aumento da incerteza acaba por inibir novos investimentos para a produção de etanol. Linhas subsidiadas de financiamento do BNDES amenizam esse problema, mas estão longe de ser uma solução eficaz ou eficiente.

O governo, portanto, ainda tem papel importante a cumprir no mercado de combustíveis, particularmente na relação entre gasolina e etanol. Mas nem toda intervenção é boa: também é preciso deixar as forças de mercado funcionarem mais livremente. No entanto, se a opção de política do governo for o controle dos preços, que este ao menos seja feito de forma mais transparente. Que, pelo menos, seja definida uma regra clara para a formação dos preços da Petrobrás. Com a relação cada vez mais estreita entre os mercados de ambos os combustíveis, as decisões tomadas sobre a gasolina afetam o etanol. Sem um horizonte mais claro para o preço da gasolina, é difícil acreditar na retomada do investimento sustentado no setor de etanol.

Gradualismo ou tratamento de choque - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 17/05

O Brasil está caro. O custo unitário do trabalho em dólar triplicou de 2003 para cá e é, hoje, maior do que no auge do Plano Real, e a produtividade caiu. Tal como está, o país não tem a menor chance de ser competitivo no mercado externo. Esse é o fulcro do debate mais atual na área econômica do governo. Sem competitividade, parte da indústria não vai sobreviver.

Para enfrentar essa disfunção, em outros momentos do passado o país recorreu à maxidesvalorização da taxa de câmbio (nos moldes da desvalorização de 30% nos anos 80). Outra possibilidade, apontada por economistas do setor privado, seria promover uma "desvalorização interna", mediante políticas de contração fiscal e monetária.

Em ambos os casos, a resultante seria uma recessão mais ou menos intensa.

O governo de Dilma Rousseff rejeita fazer o ajuste pelo câmbio ou pelo corte dos salários e quer experimentar uma terceira via: a combinação de doses moderadas de desvalorização cambial (como a que já ocorreu) e de desoneração de tributos com uma maior oferta de crédito pelo sistema estatal (BNDES, Banco do Brasil e Caixa), entre outras providências, como as concessões de serviços públicos, para dar competitividade à economia e, particularmente, à indústria. Para isso, é preciso reduzir as metas de superávit primário das contas públicas por alguns anos.

Uma quarta hipótese seria uma substancial desoneração horizontal para o setor real da economia. Um "c h o q u e" fiscal de algo como R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões em redução de impostos para as empresas. Seria uma forma de reduzir rapidamente o "custo Brasil" que, associada à diminuição do custo financeiro, incentivaria os investimentos sem provocar desemprego ou redução da massa salarial. Essa possibilidade não faz parte da discussão, neste momento, mas já foi pensada no passado. Ela implicaria uma suspensão temporária da política de superávit primário das contas públicas.

O desafio para o governo está colocado: ele quer aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, preservar o emprego.

Acredita que com a desaceleração do crescimento da massa salarial e com o desaquecimento do mercado de trabalho, com menor crescimento da oferta de emprego, será possível atravessar esse rubicão.

Políticas gradualistas de aumento da competitividade devem produzir efeitos e colher resultados também de forma lenta, ao longo do tempo.

Essa estratégia tem risco. O gradualismo só será sustentável, avaliam técnicos oficiais, se houver uma boa recuperação dos investimentos e uma melhora substancial das expectativas. Se o governo for bem sucedido nos leilões das concessões de serviços públicos, ele atrairá capital estrangeiro para os investimentos em infraestrutura num montante suficiente para financiar as contas do balanço de pagamentos sem pressionar a taxa de câmbio.

Parte da área econômica acredita que um novo ciclo de crescimento já se instalou no país, liderado pelo aumento dos investimentos e não mais pela expansão do consumo. Trata-se, portanto, de um ciclo mais saudável, que não levará a surtos de exuberância, mas a uma performance de expansão da atividade normal e sustentável.

Crê, ainda, que a preocupação com o custo unitário do trabalho -que, como mostra o gráfico abaixo, teve uma pequena queda entre 2012 e 2013 por causa da desvalorização cambial - acabará sendo superada pelo aumento da eficiência da indústria local.

Outra parte não menos importante olha a melhora dos indicadores do nível de atividade com certa cautela. Ainda não está claro, para ela, que a retomada do crescimento pelo investimento já teve início, é sustentável e ocorrerá na intensidade necessária para aumentar a produtividade e tornar competitiva sobretudo a indústria de bens de capital e a de bens duráveis.

Se o governo não tiver sucesso na estratégia que quer seguir - é importante notar que não se tem, na história do país, qualquer experimento de aumentar a produtividade preservando a condição de quase pleno emprego - o mercado acabará fazendo um ajuste ao modo dele.

Não se pode desconsiderar por completo o perigo de o país ter, no caso de esse caminho ser mal sucedido, um rebaixamento do grau de investimento pelas agências de rating.

Clima de investimento - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 17/05

O governo tem criado um ambiente hostil ao investimento privado com mudanças intempestivas de regras e na maneira de impor seus pontos de vista. A MP dos Portos foi apenas um dos eventos. A mudança no setor elétrico foi outra. A mineração está na dependência de novo marco regulatório. O setor de petróleo perdeu cinco anos para, ao final, fazer uma rodada com o velho marco.

Nas negociações, a posição contrária é vista como inimiga. Dependentes do Estado, por causa do BNDES e do balcão de favores, os empresários se queixam, mas não reagem, mas suspendem investimentos.

O governo é errático. Um dos pontos da MP dos Portos era exatamente acabar com uma mudança feita por decreto presidencial em 2008 pelo presidente Lula: a que limita a movimentação de cargas de terceiros em terminais privados. Eles inventaram a regra e eles a derrubaram na MP.

A presidente Dilma parte de bons pontos, mas no meio do caminho a maneira de fazer tem sido atabalhoada. Na energia, era boa a ideia de rever o preço do quilowatt de usinas já amortizadas. Havia um prazo para isso. Ela decidiu antecipar para fazer disso o início de sua campanha de reeleição. Poderia ter feito de forma negociada, mas impôs com espantosa truculência as regras. A nova regulamentação criou distorções e acabou atingindo a Eletrobrás. A estatal ficou descapitalizada, perdeu valor de mercado.

Os portos precisam de fato ser modernizados e de regras que atraiam investidores. Mas serão modernizados com o novo marco? Essa foi a dúvida que ficou. Foram abertas possibilidades de investimento - ou reconhecidos investimentos feitos da forma que não eram permitidos pela antiga lei. Mas, ao mesmo tempo, o projeto dividiu o setor privado e não conseguiu desfazer o problema deixado pela Lei de 1993 que é o do monopólio da oferta de mão de obra através do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo). Quem tem que usar o Ogmo tem um custo extra de R$ 100 por contêiner.

Existem nove grupos privados, inclusive multinacionais, administrando terminais privados em portos públicos. Juntos, eles investiram R$ 8 bilhões desde a licitação. Uma regra aprovada na última hora por proposta derrubada pelo governo, mas depois reapresentada pelo PT, é a de que os portos da velha lei possam antecipar a renovação do contrato, desde que se comprometam com investimentos. O receio é que o governo vete, apesar de ter sido apresentada por deputado do PT.

O setor de petróleo a partir desta semana passa a ter a chance de receber bilhões de investimentos. Eles estavam represados porque o governo quis mudar o marco regulatório do petróleo do regime de concessão para o de partilha. Demonizou o antigo regime, perdeu cinco anos, e fez agora uma rodada pelo antigo regime.

No primeiro trimestre, a produção de petróleo e gás caiu 5,6% em relação a 2012, enquanto a produção de minérios ferrosos caiu 3,5%, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE. Ao todo, a indústria extrativa caiu 4,9%. O Ibram estima US$ 20 bilhões em adiamento de investimentos porque desde setembro de 2010 o governo não concede novas lavras para prospecção de minas. Fala-se de mudança no marco regulatório, mas ninguém sabe o que sairá dos gabinetes do governo. É mais um setor travado pela incerteza.

O governo subsidia os empresários via BNDES criando privilégios excessivos para alguns, mas com seu intervencionismo errático cria um ambiente de insegurança ao investimento para todos. O Brasil está criando uma imagem de país com incerteza normativa. O temor é que as regras podem mudar a qualquer momento ao sabor das ideias de um grupo muito restrito no qual a presidente confia. E ela nem sempre tem mostrado sabedoria na sua escolha de conselheiros.

Na MP dos Portos, o grande erro foi criar regras assimétricas para os velhos e novos investidores. O que o país precisa é de que todos sejam atraídos para mais investimentos. O país não pode escolher nem perder tempo. Está crescendo pouco e com um nível absolutamente insuficiente de investimentos.