terça-feira, maio 08, 2012

Só dá Camila - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 08/05/12

Sábado, num estúdio, no Rio, onde gravou depoimento a favor da PEC contra o Trabalho Escravo, Camila Pitanga foi aplaudida, ao entrar, por uns 30 artistas que também participam da campanha. Inclusive, Caetano Veloso (veja o abraço que a musa ganhou do baiano). Tudo porque nossa Camila, como se sabe, quebrou o protocolo num ato com a presença de Dilma e pediu à presidente para vetar o novo Código Florestal.

A batalha de Lula

Lula, além das sessões diárias de fisioterapia, tem feito, três vezes por semana, numa clínica especializada, uns exercícios específicos.

Vida saudável

Dilma continua fazendo acupuntura com o doutor Gu.

A virgindade de Minh

Ainda sobre a passagem do revolucionário vietnamita Ho Chi Minh pelo Rio, em1911, como cozinheiro de um navio francês. Uma respeitada historiadora garante que Minh, com apenas 21 anos, foi levado por um grupo de jovens trotkistas para uma casa de meretrício, na Rua das Marrecas, onde o futuro líder perdeu... a virgindade.

Velho Lua
Este é o ano de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que faria 100 anos em dezembro. Além de um filme (“Gonzaga -— De pai para filho”, de Breno Silveira ), sua obra completa será lançada pela primeira vez em CD, numa caixa, pela Universal.

A MADAME, VEJA na foto, ajuda o filhinho a fazer xixi numa árvore, domingo, em plena Rua Rainha Guilhermina, no Leblon, ao lado de um dos muitos restaurantes com banheiros no bairro. Tomara que o flagrante seja uma daquelas raras exceções em que o pimpolho avexado não pode esperar mais uns poucos segundos até um mictório próximo. O fato é que muitos dos porcalhões que mijam nas ruas nos dias de Momo aprenderam o mau exemplo em casa. É gente que, às vezes, fica indignada com os políticos de Brasília, mas esquece que também pratica malfeitos. Com todo o respeito

Vista para o mar
Dilma, sem ter o que anunciar em relação a nossas florestas, vai investir no mar para ter algo novo a apresentar na Rio+20. Semana que vem, o governo inicia uma série de consultas públicas para referendar proposta de moratória de dez anos no entorno do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia.

Segue...

Em 2011, ambientalistas protestaram contra Eike Sempre Ele Batista por causa de um projeto de explorar petróleo na região. Mas a EBX alegou que o bloco em exploração está a 150 km de Abrolhos e não oferece risco ao paraíso ecológico.

Desembarque

O comandante Miguel Dau deixou a vice-presidência técnico- operacional da Azul, que ocupava desde o início da voadora.

Calma, gente
No show de Luan Santana, sexta, na Quinta da Boa Vista, no Rio, uns rapazes gays começaram a se beijar quando o cantor interpretou a canção “Amar não é pecado”. Um pai que estava com o filho pequeno no ombro protestou e chamou a polícia: “Vão fazer isso em casa”, dizia. A turma do deixa disso teve de entrar em campo.

Belle Époque

A Air France fechará sua loja na Maison de France, no Rio. Cada vez mais, as voadoras se escondem por atrás da internet ou do 0800.

Boletim médico

Evinha Monteiro de Carvalho, matriarca de conhecida família carioca, está internada no CTI

‘Fui só ouvir’

Paulo Henrique Cardoso, filho de FH, explica por que foi a uma reunião de artistas com Marcelo Freixo, do PSOL, embora o PSDB tenha candidato próprio a prefeito do Rio (Otávio Leite): — Quis ouvir o Freixo. Gostei muito. Mas isto não significa apoio automático. Ah, bom!

Sushi no morro

Uma carioca que foi sábado a uma festa no Morro Dona Marta, no Rio, ao ver um motoboy do Manekineko, a rede de comida japonesa, perguntou se ele recebia muitos pedidos da favela. — Temos muitos clientes aqui. E, ó, são as melhores gorjetas.

Os socialistas e a massa falida - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/05/12

Franceses e gregos votaram pela renegociação de dois acordos que deram impressão de mínima ordem às finanças dos governos europeus.

Mera impressão, na verdade, pois as finanças públicas de Espanha e Grécia, para citar apenas dois casos mais notórios, estão indo à breca. A crise europeia foi anestesiada pelo trilhão de euros que o Banco Central Europeuemprestou aos bancos da eurozona, a juros de pai para filho -o BCE doou dinheiro.

No entanto, as revisões do novo pacto de estabilidade europeu (corte de gastos, basicamente) e do acordo da dívida grega podem acabar com o resto de impressão de "mínima ordem" que a eurozona passava nas últimas semanas. Sem que, no entanto, se encontre solução alternativa para a eurozona.

Os socialistas franceses querem relaxar o pacto de março, que obriga os governos europeus a reduzir deficit a 3% do PIB até 2013 (que era o teto previsto na criação da união monetária, faz 20 anos).

Além do mais, sugerem que a União Europeia use seus fundos para estimular investimentos. De leve, ainda insinuam que gostariam de criar eurobônus (títulos de dívida, empréstimos), que levantariam dinheiro em nome da União Europeia a fim de tapar rombos e para outras finalidades "desenvolvimentistas".

A centro-direitista Angela Merkel não quer ouvir falar nem de relaxamento do pacto fiscal, que dirá do resto: fazer a Alemanha fiadora de fundos e empréstimos para a vizinhança "gastadora". Merkel terá uma eleição difícil em 2013, e a ideia de que a Alemanha deva "bancar" países "perdulários e ineficientes" é muito impopular.

Na pequena Grécia, todos os partidos do centro à esquerda querem rever o acordo da dívida. Não haverá governo grego que não seja composto majoritariamente pela esquerda. Logo, o caldo vai voltar a entornar pela Grécia. A não ser que não se forme governo algum e venham novas eleições, com resultados muito diferentes. Difícil que seja assim.

A Grécia está entrando em depressão e o governo em breve não terá dinheiro nem para pagar despesas cotidianas -o que entra no caixa, cada vez menos, sai em primeiro lugar para os credores.

Que bicho vai dar?

Mario Monti, o premiê que substituiu Berlusconi na Itália, tido como sátrapa da eurotecnocracia, mas um sujeito razoável, tem dito que arrocho apenas não vai resolver a crise. Monti, de resto, está sentindo a chapa esquentar na Itália. Mas o governo de centro-direita britânico, por exemplo, defende o arrocho, mesmo com o prestígio em ruína.

A vitória dos socialistas animou, porém, o governo de centro-direita espanhol, ainda novinho e muito impopular, além de estar com uma crise bancária quente nas mãos. O terceiro maior banco do país está bichado e terá de ser capitalizado pelo governo, que, porém, está na pindaíba e pode não cumprir as metas fiscais que prometeu à Europa (à Alemanha). De mansinho, a centro-direita espanhola espera que os socialistas franceses arranquem alguma coisa de Angela Merkel.

Mas "alguma coisa" seria o bastante para inverter o ciclo recessivo? Quanto a Alemanha vai ceder? O BCE vai dar apoio a "políticas de crescimento" (por vias indiretas, "acalmando mercados" com compra de títulos de governos)? Sozinha, a França não faz um verão.

Esses europeus revoltados - PAUL KRUGMAN


O ESTADÃO - 08/05/12


Eleições na França e na Grécia mostram na realidade que os europeus rejeitam a estratégia em curso de tentar sair da crise usando apenas planos que aprofundam a austeridade



Os franceses vão se revoltando. Os gregos, também. E já não era sem tempo.

Os dois países realizaram eleições no domingo que foram, na verdade, referendos sobre a estratégia econômica europeia corrente, e nos dois países os eleitores viraram os dois polegares para baixo. Não está claro em que prazo os votos produzirão alterações na política real, mas o tempo está claramente se esgotando para a estratégia de recuperação via a austeridade - e isso é uma coisa boa.

Nem seria preciso dizer, não foi o que se ouviu dos suspeitos usuais nas corridas eleitorais. Na verdade, foi até um pouco engraçado ver os apóstolos da ortodoxia tentando retratar o cauteloso e polido François Hollande como uma figura ameaçadora. Ele é "bastante perigoso", declarou The Economist, que observou que Hollande "genuinamente acredita na necessidade de criar uma sociedade mais justa". Quelle horreur! O que é verdade é que a vitória de Hollande significa o fim de "Merkozy", o eixo franco-alemão que aplicou o regime de autoridade nos dois últimos anos. Isso seria um desenvolvimento "perigoso" se essa estratégia estivesse funcionando, ou mesmo tivesse uma chance razoável de funcionar. Mas não está e não tem; a hora é de avançar. Os eleitores da Europa, como se viu, são mais sábios que os melhores e mais brilhantes do Continente.

O que está errado na receita de cortar despesas como o remédio para os males da Europa? Uma resposta é que a fada da confiança não existe - isto é, as afirmações de que cortar os gastos de algum modo encorajaria consumidores e empresas a gastarem mais têm sido arrasadoramente refutadas pela experiência dos dois últimos anos. De modo que cortar gastos em uma economia deprimida apenas aprofunda a depressão.

De mais a mais, parece haver pouco ganho, se houver algum, em troca dos sofrimentos. Considere-se o caso da Irlanda, que foi um bom soldado nesta crise, impondo uma austeridade cada vez mais dura na tentativa de recuperar as graças dos mercados de bônus. Segundo a ortodoxia dominante, isso deveria funcionar. Aliás, o desejo de acreditar é tão forte que membros da elite política europeia continuam proclamando que a austeridade irlandesa de fato funcionou, que a economia irlandesa começou a se recuperar.

Mas não começou. E embora não se saberia disso pela cobertura da imprensa, os custos de captação de empréstimos pela Irlanda continuam muito mais altos que os de Espanha ou Itália, para não falar da Alemanha. Então, quais são as alternativas? Uma resposta - uma resposta que faz mais sentido do que quase ninguém na Europa está disposto a admitir - seria o desmantelamento do euro, a moeda comum europeia. A Europa não estaria nesses apuros se a Grécia ainda tivesse seu dracma, a Espanha sua peseta, a Irlanda seu pint, e assim por diante, porque Grécia e Espanha teriam o que agora lhes falta: uma maneira fácil de recuperar a competitividade de custos e incrementar as exportações, a saber, a desvalorização.

Como contraponto à história triste da Irlanda, considere-se o caso da Islândia, que foi o marco zero da crise financeira, mas conseguiu responder desvalorizando sua moeda, a coroa (e também teve a coragem de permitir que seus bancos quebrassem e dessem calote em suas dívidas). A Islândia está seguramente experimentando uma recuperação que a Irlanda supostamente devia estar, mas não está.

O desmantelamento do euro seria altamente disruptivo, contudo, e representaria uma enorme derrota para o "projeto europeu", o esforço de longo prazo para promover a paz e a democracia mediante uma maior integração. Haverá outro caminho? Sim, há - e os alemães mostraram como esse caminho pode funcionar. Infelizmente, eles não compreendem as lições de sua própria experiência.

Quando se conversa com dirigentes alemães sobre a crise do euro, eles gostam de apontar que sua própria economia estava na lona nos primeiros anos da década passada, mas conseguiu se recuperar. O que eles não gostam de reconhecer é que essa recuperação foi impulsionada pelo surgimento de um enorme superávit comercial alemão ante os outros países europeus - em particular, ante as nações hoje em crise - que estava se expandindo, e experimentando uma inflação acima da normal, graças às baixas taxas de juros. Os países da crise da Europa deveriam ser capazes de imitar o sucesso da Alemanha se enfrentassem um ambiente comparativamente favorável - isto é, se desta vez fosse o restante da Europa, especialmente a Alemanha, que estivesse experimentando um pequeno boom inflacionário.

De modo que a experiência da Alemanha não é, como os alemães imaginam, um argumento para a austeridade unilateral no sul da Europa; é um argumento para políticas muito mais expansionistas alhures e, em particular, para o Banco Central Europeu (BCE) dar um fim na sua obsessão por inflação e se concentrar no crescimento.

Os alemães, é dispensável dizer, não gostam dessa conclusão, e os dirigentes do BCE tampouco. Eles se aferrarão a suas fantasias de prosperidade pela via dos sacrifícios, e insistirão em que dar continuidade a suas estratégias fracassadas é a única coisa responsável a fazer. Mas tudo indica que eles não terão mais um apoio inconteste do Palácio do Eliseu. E isso significa, acreditem ou não, que tanto o euro como o projeto europeu têm agora uma chance melhor de sobreviver do que tinham alguns anos atrás. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Cores e nuvens na festa francesa - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 08/05/12


Há um fantasma nos ares da Europa: uma ultradireita que veio para ficar algum tempo


PARIS - Foi bonita a festa da noite de domingo na Bastilha, em comemoração da vitória do socialista François Hollande.

Para um brasileiro, então, acostumado à apatia da pátria, o simples fato de se conseguir lotar um espaço público tão amplo já é uma proeza. Aliás, estamos mais habituados a festas cínicas -aqui mesmo em Paris, não é mesmo, Sérgio Cabral?- do que a festas cívicas como a dos eleitores de Hollande.

Do meu ponto de vista, a beleza foi fornecida menos pela euforia dos socialistas -previsível, depois de 17 anos sem ganhar eleição presidencial- e mais pela presença de negros e árabes, atrás de bandeiras de países como Marrocos e Costa do Marfim.

Que tenham podido exibi-las -e exibir-se- é formidável, depois de uma campanha em que a xenofobia, o ódio ao imigrante, a islamofobia ganharam patente de corso ao saltar da retórica da extrema direita para o discurso do chefe de Estado, o presidente Nicolas Sarkozy.

Meu medo, no entanto, é que as bandeiras e as cores da imigração tenham que continuar encolhidas porque a extrema direita veio para ficar no panorama político europeu, pelo menos até que a crise dê uma folga.

Hollande só ganhou de Sarkozy porque 2,147 milhões de eleitores votaram em branco e/ou anularam o voto, supõe-se que seguindo a orientação de Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional. A diferença entre o vencedor e o presidente-candidato foi de magro 1,131 milhão de votos.

Hollande teve 18 milhões de votos em 46 milhões possíveis, o que dá 39%, porcentagem que não chega a ser consagradora, ainda mais em um momento de crise aguda que exige firme adesão ao líder.
A julgar pelas pesquisas, não se trata de um fenômeno passageiro: todas as pesquisas para as eleições legislativas de junho dão empate técnico, na altura dos 30% das intenções de voto, entre o PS e a UMP (União para um Movimento Popular, a direita clássica, que outrora via na ultradireita um adversário, não um interlocutor como agora).

Quem realmente ganha votos, na comparação com a legislativa anterior (2007), é justamente a Frente Nacional, que pula de 4,3% para 18%.

Tome-se agora o caso grego, em que os nazifascistas da "Aurora Dourada" (lindo nome para ideias tão sórdidas) saltaram dos 0,29% de 2009 para 7% agora -e tem-se um cenário alarmante.

O fato é que o tecido político-partidário europeu está sendo corroído de forma assustadora pela crise e pela fuga do eleitor para propostas extremistas ou exóticas (o Partido Pirata na Alemanha conseguiu no domingo entrar em um terceiro Parlamento regional).

Ponha agora na contabilidade político-social uma pesquisa do instituto Ipsos feita na própria noite eleitoral que mostrou que 46% dos franceses acreditam que a situação econômica vai se degradar e 28% acham que ficará igual -e está bem ruim- ante apenas 26% que esperam melhoras. Pronto, você tem o terreno adubado para que a festa da Bastilha seja apenas uma flor de primavera. Pena.

As difíceis negociações entre o Mercosul e a UE - RUBENS BARBOSA


O ESTADÃO - 08/05/12


A crise econômica na Europa, com a queda do crescimento e o aumento do desemprego, não impediu entendimentos ou o início de negociações comerciais da União Europeia (UE) com os EUA, a Índia, o Canadá, o Vietnã, a Coreia do Sul. O mesmo não ocorre com as negociações com o Mercosul.

Na última reunião entre o Mercosul e a UE, em março, os grupos de trabalho avançaram nos textos sobre regras - concorrência, defesa comercial, solução de controvérsias, compras governamentais, investimentos, regras de origem, barreiras técnicas, medidas sanitárias -, continuando pendente a troca de ofertas de produtos. A decisão de Bruxelas de manter os subsídios agrícolas na UE até 2020 e a posição do governo uruguaio de rever a decisão de negociação conjunta dos países do Mercosul poderão representar dificuldades adicionais para a retomada desses entendimentos.

Existe uma série de questões pendentes que compõem o estágio atual do contencioso com a UE e que de alguma forma deverão ser examinadas visando a um acordo de livre-comércio:

Dois painéis sobre açúcar e pneus no Mecanismo de Solução de Controvérsias (MSC) da Organização Mundial do Comércio (OMC), ambos com o Brasil tendo ganho de causa. Os dois processos foram encerrados e estamos hoje cumprindo plenamente a decisão, tendo permanecido a proibição de importações de pneus usados da UE.

A questão das apreensões abusivas, por alfândegas europeias, de medicamentos genéricos em trânsito. Essa questão não evoluiu para um painel, tendo sido satisfatoriamente encaminhada, pelo menos até o momento, por meio de consultas.

Embora não haja em curso nenhum processo Brasil-UE no MSC, existem questões que poderão evoluir na direção de um contencioso. No caso de restrições técnicas a exportações brasileiras de carne de frango, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) já chegou a autorizar o início de procedimento no MSC, mas a decisão final ainda não foi tomada. No caso de restrições à carne bovina, há outras duas barreiras que poderão motivar procedimentos no MSC: barreiras técnicas à exportação de carne e a Resolução 61, que instituiu a obrigatoriedade de rastreamento/registro de propriedades rurais aptas a exportar para o mercado europeu.

Discriminação sofrida pelo café solúvel brasileiro. As exportações de outras origens para a UE, beneficiadas pelo Sistema Geral de Preferências (SGP) europeu, recebem tarifa zero, enquanto o Brasil paga 9%. Há pressões recorrentes em favor da abertura de processo, mas existem dúvidas quanto à possibilidade de êxito.

Do lado da UE, o aumento de 30 pontos porcentuais do IPI sobre automóveis importados gerou queixas e restrições.

Em sentido mais amplo, nosso principal contencioso com a UE diz respeito às barreiras concentradas nas exportações de produtos agrícolas, seja por picos tarifários, seja por motivos sanitários ou fitossanitários, como as da Resolução 61. Dentre os irritantes com a UE, cabe mencionar a questão dos subsídios agrícolas. As últimas estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o apoio recebido por produtores europeus sobe a mais de 20% do valor da produção, em comparação com 5% no Brasil. Como se sabe, subsídios agrícolas constituem um dos itens mais sensíveis no âmbito das negociações Mercosul-UE.

Sempre fui cético a respeito das perspectivas de conclusão dos entendimentos visando a um acordo comercial amplo e abrangente com a UE, por dificuldades políticas nos principais países do Velho Continente. Nunca acreditei que eles pudessem aceitar as condições do Mercosul na área agrícola como contrapartida às concessões nos setores industriais e de serviço de interesse europeu.

Se os entendimentos do Mercosul com a UE são difíceis, a grave crise entre a Argentina e a Espanha, em razão da nacionalização da empresa de petróleo YPF-Repsol, torna sua conclusão ainda mais problemática. A Argentina cancelou recente visita de alto funcionário europeu e a próxima reunião negociadora, que se realizaria em Buenos Aires, não foi marcada e teve de ser transferida para o Brasil.

Caso as negociações com a UE não prosperem, o Brasil continuará a ser um dos poucos países a não ampliarem sua rede de acordos de livre-comércio. Nos últimos 12 anos o Brasil negociou apenas um acordo comercial em vigor, com Israel. Os dois outros, assinados com o Egito e com a Autoridade Palestina, ainda não entraram em vigor e têm pouca relevância comercial.

A situação ficará ainda pior para o Brasil se a UE e os EUA formalizarem nos próximos anos um acordo comercial estendendo preferências na área agrícola para os EUA. Isso afetaria a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros no mercado europeu e acarretaria a perda de espaço para os dos EUA. Por outro lado, o já anunciado desaparecimento do SGP, que beneficia cerca de 15% das exportações brasileiras para a Europa, tornará ainda mais difícil o acesso de produtos manufaturados àquele mercado.

No difícil contexto político, agravado pela decisão argentina e pela reação espanhola, o Mercosul, para avançar nos entendimentos, não terá alternativa senão repetir com a UE o que foi feito com Israel e com a Comunidade Andina de Nações: formalizar um acordo-quadro Mercosul-UE, que incluiria normas comerciais, e aprovar, como propõe o Uruguai, a negociação de listas individuais, separadas, de produtos, com regras de origem e salvaguardas rígidas. Os países-membros do Mercosul, no futuro, poderão negociar a convergência da Tarifa Externa Comum, a qual, aliás, não está sendo respeitada por ninguém pelas sucessivas e crescentes exceções.

O Brasil não pode continuar sem uma estratégia de negociação comercial e permanecer, assim, à margem da tendência global de abertura de mercado via acordos de livre-comércio.

Zinedine Hollande - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 08/05/12

Desde os bons tempos de Zinedine Zidane os franceses não faziam tanta festa em praça pública para ninguém.
Naturalmente que ontem já estavam todos bufando e trocando muxoxos sob o céu cinza de Paris, mas durante algumas horas da noite de domingo o presidente eleito François Hollande mudou o humor do povo mais bipolar do mundo.
Desde a conquista da Copa de 1998 a movimentação de gente na Praça da Concórdia não se parecia tanto com o carnaval de rua do Rio ou da Bahia.
O cheiro de xixi em torno do Obelisco de Luxor após o comício da vitória sobre Nicolas Sarkozy dava bem a medida da descontração da multidão que entrou pela madrugada cantando, pulando, entre abraços e beijos, rindo à toa pra cima e pra baixo nos Champs-Elysées.
Os socialistas franceses - ô, raça! - saíram às ruas para comemorar a volta ao poder como se, depois das últimas derrotas do Barcelona, fossem eles uma nova esperança de que algo ainda pode dar certo na União Europeia.
Tomara que, ao contrário de Zinedine Zidane, François Hollande não acabe dando cabeçada pelo caminho antes do fim de seu mandato.

Avec éléganceDá gosto de ver a sucessão de primeiras-damas na França. A jornalista Valérie Trierweiler substitui Carla Bruni à altura!

Somos uns...Da série "Como é ridículo o nosso salário", o narrador esportivo Cléber Machado recusou proposta de R$ 600 mil por mês para trocar a Globo pela Record!

Ai, que filho!Ainda com seu Mercedes SLR McLaren no conserto, Thor Batista ficou também sem sua Ferrari 458, apreendida sem placa dianteira numa blitz policial. Isso quer dizer o seguinte: Eike Batista vai acabar comprando um Lamborghini para não deixar o filho a pé.

Exceção flexDepois de enquadrar ciclista na lei seca, o teste do bafômetro no Rio será estendido a skatistas, patinadores, surfistas e pilotos de asa-delta. Os cadeirantes continuam, por enquanto, liberados para beber à vontade.

Efeito colateralAmigos de José Serra estão preocupados! O tucano anda meio esquisitão depois que Geraldo Alckmin aplicou-lhe vacina contra gripe. Corre no PSDB o boato que o governador misturou qualquer coisa na injeção.

Fome de quê?Os fãs de heavy metal não têm do que se queixar da Virada Cultural paulistana. Teve gente batendo cabeça até na galinhada do chef Alex Atala no Minhocão!

Concorrência deslealDemóstenes Torres está preocupado com o tempo integral que seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, tem dedicado nos últimos dias ao vazamento das fotos de Carolina Dieckmann pelada na internet. O senador sente-se tão nu quanto a atriz perante a opinião pública.

O veto vem aí - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/05/12



O veto de Dilma Rousseff ao Código Florestal será a senha para que ela seja ovacionada pelos ambientalistas na Rio+20. Lá, pelo visto, o único constrangimento, se nada mudar, poderá vir da parte do governador Sérgio Cabral

Tudo indica que a presidente Dilma Rousseff conseguirá pular mais um obstáculo que parte da sua própria base aliada tentou colocar na sua frente. Ao se preparar para anunciar uma penca de vetos no Código Florestal aprovado na Câmara, ela começa a produzir uma doce limonada para substituir o limão azedo que a esperava na Rio+20, isso para não dizer o troféu motosserra de ouro — o mesmo que o senador Blairo Maggi havia recebido dos ambientalistas quando era governador do Mato Grosso.

Grupos de ambientalistas pretendiam entregar o troféu à presidente brasileira na Conferência de Desenvolvimento Sustentável da ONU, no Rio de Janeiro, mesmo se a Câmara ficasse com o projeto do Senado — fruto de acordo entre ruralistas e ambientalistas com assento naquela casa. E essa proposta Dilma teria que sancionar praticamente sem vetos — talvez houvesse algum por conta de uma vírgula mal colocada, mas não seria nada que comprometesse o corpo da proposta. Estaria assim presa na armadilha das vaias e manifestações contrárias a ela na conferência de junho. Agora, não está mais.

O veto de Dilma ao Código Florestal será a senha para que ela seja ovacionada pelos ambientalistas. Assim, o que era para ser negativo será positivo. E, para completar, ela ainda terá ali a companhia do presidente eleito da França, François Hollande, que toma posse no próximo dia 15. Ou seja, pelo andar da carruagem, o único constrangimento que Dilma terá na Rio+20 pode ser mesmo a companhia de Sérgio Cabral. Isso, se até ele não conseguir explicar suas viagens ao exterior nos últimos quatro anos.

Por falar em CPI…
Na época da Rio 92, a CPI sobre o esquema PC-Collor estava apenas começando. O presidente ainda detinha o controle da situação e pôde fazer bonito perante os demais chefes de estado. Dilma Rousseff, pelo menos até onde a vista alcança, parece não ter o que temer em relação à CPI. Não se sabe se o mesmo ocorrerá com o governador do Rio, Sérgio Cabral, que até o momento não deu um chega pra lá nas especulações sobre suas despesas no exterior em companhia de Fernando Cavendish, o ex-dono da Delta Engenharia.

Cabral ainda tem um mês e meio antes da Rio +20. Basta demonstrar que pagou suas despesas e ponto. Não se fala mais nisso. Se fizer isso, será feliz igual Henrique Hargreaves, que, citado na CPI dos Anões, voltou mais forte para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco e virou exemplo de boa conduta. Por enquanto, a sala “inviolável” da CPI ainda não recebeu os documentos relativos à Delta Engenharia, muito menos sobre as obras da empresa no Rio. Mas é só questão de tempo até que esse material seja requisitado.

Por falar em felicidade…
A eleição de François Hollande foi vista com muita simpatia no Palácio do Planalto. Ali, houve quem comparasse a vitória dele à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, que chegou ao poder prometendo mudanças radicais. Ocorre que Lula não mudou à época as bases da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. E não se sabe hoje se Hollande terá esse poder na França, embora o país seja hoje a quinta economia do mundo. Os franceses, entretanto, estão atrelados ao Tratado Europeu, que prevê austeridade e amarra certas decisões.

Da mesma forma, as preocupações com o futuro do Real representaram um freio no projeto que Lula apresentara em sua campanha. No Brasil, o crescimento foi retomado aos poucos, graças a um bom cenário internacional no início do governo Lula e à capacidade de preservar várias ações do governo anterior. O que o governo brasileiro espera de Hollande é que ele tenha o mesma sorte para poder servir de inspiração a outros países europeus. O desafio está lançado.

Pobres bancos - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE SP - 08/05/12


Quando o governo resolveu, enfim, denunciar a "lógica perversa" que guia o sistema financeiro brasileiro, era de esperar que os consultores e economistas regiamente recompensados pelos bancos aparecessem para contemporizar. Como em uma peça de teatro na qual as máscaras acabam por cair, foi isto o que ocorreu.

Há algo de cômico em ver adeptos do livre mercado e da concorrência procurando argumentos para defender uma banca de oligopólio especializada em espoliar os brasileiros com "spreads" capazes de deixar qualquer banco mundial corado de vergonha.

Se os bancos brasileiros estão entre os que mais lucram no Universo, é porque nunca precisaram, de fato, viver em um sistema no qual o poder estatal impediria a extorsão institucionalizada à qual ainda estamos submetidos.

No mundo inteiro, o sistema bancário faz jus à frase do dramaturgo Bertolt Brecht: "O que é roubar um banco se você imaginar o que significa fundar um banco?".

Nos últimos anos, vimos associações bancárias com comportamentos dignos da máfia, pois são especializadas em maquiar dados e balanços, criar fraudes, ajudar a evasão fiscal, operar em alto risco e passar a conta para a frente, além de corromper entes públicos.

Mas a maior astúcia do vício é travestir-se de virtude. Assim, o sistema financeiro criou a palavra "austeridade" a fim de designar o processo de assalto dos recursos públicos para pagamento de rombos bancários e "stock-options" de executivos criminosos, com a consequente descapitalização dos países mais frágeis.

Se não tivemos algo da mesma intensidade no Brasil, vemos agora um processo semelhante do ponto de vista retórico. Assim, os "spreads" bancários seriam o resultado indigesto do risco alto de inadimplência, já que a população brasileira teria o hábito pouco salutar de não pagar suas dívidas e se deixar endividar além da conta.

Neste sentido, os lucros bancários seriam (vejam só vocês) o remédio amargo, porém necessário, até que a população brasileira aprenda a viver com o que tem e assuma gastos de maneira responsável. O mais impressionante é encontrar pessoas que se acham capazes de nos fazer acreditar nessa piada de mau gosto.

A verdade é que quanto menos poder e margem de manobra o sistema financeiro tiver, melhor é a sociedade. Há sempre aqueles "consultores" que dirão: "É fácil falar mal dos bancos", apresentando o espantalho do populismo. A estas pessoas devemos dizer: "Sim, é fácil. Ainda mais quando não se está na folha de pagamento de um". Já sobre o "risco" do populismo, pobres são aqueles para os quais a defesa dos interesses econômicos da população sempre é sinal de irracionalidade.

Mercado de órgãos - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 08/05/12


SÃO PAULO - O "Equilíbrio" de hoje mostra a dificuldade que é conseguir uma doação de óvulo no Brasil. O problema tem uma solução simples, óbvia e quase certamente eficaz -modificar a lei para permitir que a doadora seja paga-, mas que, por uma mistura de hipocrisia com intuições morais difíceis de justificar racionalmente, preferimos ignorar.

Ora, se o médico e a sua equipe podem ser remunerados quando fazem um procedimento de fertilização "in vitro", se a clínica, os laboratórios e as farmácias também ganham, por que só o doador deve ser excluído dos lucros? Se é o altruísmo que deve animar o processo, por que não aplicá-lo a todas as partes envolvidas?

E, já que sujeira pouca é bobagem, não vejo motivo para pararmos nos óvulos. Deveríamos autorizar também a comercialização de rins e partes do fígado, além de pagar às famílias de acidentados em morte cerebral que autorizem a retirada de seus órgãos, assim como o SUS já remunera o hospital que faz o procedimento.

É claro que o mercado precisaria ser regulado com cuidado, para evitar o risco de apenas pessoas ricas conseguirem o transplante. Mas isso é perfeitamente factível. Um exemplo: não precisamos "privatizar" todo o sistema. Admitir doações intervivos mediante pagamento não implica pôr fim à atual rotina pela qual os órgãos de cadáveres são distribuí-dos por meio de uma lista pública.

Outra objeção frequente é a de que uma pessoa com dificuldades econômicas se veria compelida a vender uma parte de si mesma, no que configuraria uma espécie de extorsão orgânica. Falácia. Muita gente passa por constrangimentos financeiros, mas não sai por aí roubando, se prostituindo ou vendendo pedaços do corpo no mercado negro.

Ainda que muitos ficassem tentados a vender rins, não vejo por que tirar-lhes o direito de decidir por si mesmos, o que, de resto, teria como subproduto a melhora da qualidade de vida de milhares de pacientes.

Não é o mordomo - SONIA RACY


O GLOBO - 08/05/12


Muitos se perguntam como é que Garotinho conseguiu os vídeos de Sérgio Cabral com Fernando Cavendishem Paris. Esta coluna apurou que eles teriam saído do computador pessoal de Jordana Kfuri Cavendish, mulher do empreiteiro, morta juntamente com o filho Luca Kfuri Magalhães Lins, no acidente aéreo de Trancoso.

A família de Jordana (que também perdeu outra filha, Fernanda, e mais um neto Gabriel Kfuri Gouveia no mesmo desastre) está inconformada. E culpa Cabral e Cavendish pela queda do helicóptero.

Consideram que eles foram irresponsáveis ao embarca-las no voo sabendo das más condições para voar.

De peso

O Banco Pátria está entrando com aporte de recursos na empresa Vulcabrás. Que podem se tornar ações.

Não e não

A Justiça baiana acaba de negar pedido de exumação dos restos mortais do senador Antônio Carlos Magalhães.

Em busca de dados de seu DNA.

Truque

Uebe Rezeck, secretário de Participação e Parceria de Kassab, estica a corda. Foi notificado sexta-feira pelo PMDB para deixar a Prefeitura em 10 dias. O que fez? Pediu férias.

Tijolo em tijolo.

Julio Semeghini, secretário de Planejamento, prepara, ainda este ano, um leilão para vender mais de 150 imóveis do Estado que não possuem utilização. 

Direto da França

Sai Carla Bruni e entra Valérie Trierweiler. Com um pequeno detalhe: a jornalista francesa é “namorida” de François Hollande, o ‘nouveau président’. E não casada no papel, coisa importantíssima na Europa.

A grande expectativa é saber se eles enfrentarão os atuais padrões ou se formalizarão a união para cumprir os protocolos.

Da França 2

A nova “primeira dama” aliás, caiu no agrado do eleitorado feminino em geral. Motivo? Conhecida por ser uma mulher charmosa “naturalmente”, ela resistiu à tentação das intervenções cirúrgicas.

Nos últimos tempos, as plásticas de Carla Bruni dividiram opiniões.

Da França 3

Nos bastidores do partido de Nicolas Sarkozy, tem queda de braço à vista: François Fillon disputa a liderança com Jean-François Copé.

Já brigam pela possibilidade de se candidatar nas próximas eleições na França.

Da França 4

E o FMI está se transformando em “ninho” presidencial.

Se Dominique Strauss-Kahn, ex-fundo, foi o candidato favorito dos socialistas (antes do escândalo que o envolveu em NY), agora o nome de Christine Lagarde ganha força dentro do partido de Sarkozy.

Mas de maneira ainda tímida.

Na frente

Novo projeto de RH mundial da Vale nem foi implantado nos 38 países onde atua e já rende frutos. A empresa apresenta seu Global Onboarding hoje, em evento internacional na cidade de Denver.

Acontece hoje na biblioteca do Senado Federal, o lançamento do livro Poesia&Teatro, do ex-presidente tcheco, Václav Havel.

A Esencial expõe a partir de hoje joias de Jyotsna Singh, neta de Maharaja Bhupinder Singh. Com direito a presença da moça.

A Animale inaugura loja no Iguatemi. Amanhã.

Ivald Granato abre exposição hoje. No James Lisboa Escritório de Arte.

Chris Pitanguy pilota jantar para Massimo Piombini, da Valentino. Hoje, no Rio.

Ana Prata abre exposição bo Thomie Ohtake. Hoje.

Bruno 9li inaugura mostra na Galeria LOGO. Hoje.

A exposição Parece mas não é tem coquetel de inauguração hoje. Na Firma Casa.

Entre os integrantes do Casino, manifestações de alegria ontem com o novo presidente da França. Ele é próximo de Jean-Charles Naouri.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 08/05/12


Vendas de asfalto sobem mais em São Paulo

O crescimento da venda de asfalto no Brasil perdeu ritmo no primeiro trimestre deste ano, enquanto no Estado de São Paulo o aumento percentual está mais acelerado.

No Brasil a elevação ante os primeiros três meses do ano passado foi de 10,95%, com venda de 567,4 mil toneladas. Em 2010, o crescimento superou 30% no ano.

Impulsionado, principalmente, pelas regiões Norte e Nordeste, o consumo de asfalto disparou no país nos últimos anos. Sem ter como suprir a demanda, o país recorria a importação.

São Paulo atingiu crescimento de 15% na comparação dos trimestres, com a comercialização de 167 mil toneladas.

Na comparação entre março deste ano com o mesmo mês do ano passado, a diferença é mais significativa.

No Brasil, a alta foi de 29%. Em São Paulo, 38%.

"As obras federais sofreram uma redução grande de ritmo. São Paulo voltou a deslanchar. O Rodoanel está andando e as prefeituras, contratando mais. Isso tem impacto nos números de pavimentação", diz Helcio Farias, do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo).

Termômetro do setor da costrução pesada, o nível de mão de obra no Estado no início do ano representa também o avanço paulista, de acordo com Farias.

A contratação, que tradicionalmente cai em meses de chuva, de dezembro de 2011 a fevereiro deste ano teve altas expressivas.

pesquisa local

Com investimentos na ordem de R$ 60 milhões, a francesa Faurecia instala nova fábrica em Limeira (SP) para produzir escapamentos.

A empresa já tem uma planta na cidade, que será transferida para o novo local, onde também será instalado um centro de pesquisas.

O empreendimento começou a ser planejada há dois anos. "[O centro] era uma solicitação dos clientes para agilizar o desenvolvimento de produtos", diz Abdo Kassisse, gerente da companhia.

Hoje as peças precisam ser enviadas para os EUA ou para a Europa para serem testadas.

A nova unidade aumentará a capacidade de produção em 35%. A atual fabrica 1,5 milhão de escapamentos por ano.

A empresa está com outras duas plantas em construção no país -em Piracicaba e em Sorocaba. Essas unidades, menores, irão atender as montadoras das cidades.

CATRACA LIVRE

A Madis, que atua na fabricação de pontos e controles de acesso, vai lançar uma catraca com dois braços para atender a demanda dos eventos esportivos no Brasil.

O produto será usado em locais de grande fluxo de pessoas, para aumentar a velocidade nos acessos. "Ela tem um sensor que evita o contato, por isso, a capacidade de passagem por hora sobe", diz Rodrigo Pimenta, presidente da empresa.

A ideia é elevar as vendas em 25% com outros lançamentos que incluem biometria facial, controle de acesso portátil e catracas para padarias com emissão de comandas descartáveis para aumentar a higiene.

Os novos produtos vêm no momento em que a empresa eleva a quantidade de revendedores.

"Pretendemos dobrar o número de revendas para pulverizar o atendimento. Isso inclui investimento em capacitação", diz.

bola em campo

Os segmento de turismo e de construção devem ser os mais beneficiados com a Copa do Mundo no país, seguidos pelo de infraestrutura, de acordo com levantamento da Grant Thornton.

O estudo também aponta que só 36% das empresas brasileiras planejam aumentar o volume de investimento em função do mundial.

Apesar disso, para a grande maioria dos executivos entrevistados (80%), sediar o evento esportivo contribuirá para o crescimento da economia brasileira.

IMAGEM MELHOR

A percepção dos brasileiros em relação aos produtos de marca própria do varejo supermercadista melhorou no ano passado em alguns quesitos.

De acordo com estudo da Ipsos, a visão positiva dos brasileiros em relação à singularidade e à inovação desse tipo de produto teve alta maior que a média em 2011 na comparação com 2010.

Em singularidade, o Brasil teve aumento de oito pontos percentuais ante dois da média global. Em inovação, a alta foi de seis pontos, enquanto a média foi de três.

"O consumidor brasileiro, mais exigente, quer outras coisas, não adianta hoje só oferecer preço", diz Roberto Nascimento de Oliveira, do núcleo de estudos e negócios do varejo da ESPM.

Segundo a pesquisa, de 2010 a 2011, as marcas próprias ganharam força entre os consumidores globais em áreas em que as líderes costumavam ser mais fortes, como qualidade, inovação, singularidade e embalagem.

Receita A receita da Hermès atingiu € 776,9 milhões no primeiro trimestre de 2012, um crescimento de 21,9% ante o mesmo período do ano passado, considerando as taxas de câmbio atuais, ou 17,6% a câmbio constante.

Em terras nacionais A norte-americana Exinda, fabricante de softwares corporativos, acaba de abrir uma subsidiária no Brasil, com foco nos segmentos de telecomunicação, finanças e industria. O país deve representar 60% dos negócios da empresa na América Latina.

Turismo... O número de pernoites de turistas brasileiros em Portugal cresceu 87% no mês de fevereiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatísticas), entidade portuguesa.

...brasileiro O crescimento do Brasil foi superior ao de outros países, deixando para trás a Holanda (13,1%), a Alemanha (9,5%) e a França (4,4%). As regiões mais procuradas foram Centro e Norte. Em 2011, o Brasil foi o quinto maior mercado emissor para o país.

Alerta geral! - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 08/05/12

A data do julgamento do mensalão ainda não foi marcada, mas os ministros do STF começam a se preocupar com eventuais manifestações. No julgamento das cotas raciais, um índio interrompeu, com um protesto, o voto do ministro Luiz Fux. Os ministros concluíram que é muito fácil entrar no plenário, gritar ou até mesmo atirar algum objeto contra um deles. Por isso, o tribunal encomendou um esquema novo e que seja mais eficiente para garantir a segurança no julgamento do ano.

De Eduardo Suplicy a Roberto Freire
Desde que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi aos Estados Unidos, em 1993, atrás da mulher (que já estava morta) do ex-assessor da Comissão do Orçamento, José Carlos Alves dos Santos, que não acontecia nada igual. Ontem, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), brilhou no Twitter. Após ler num site (de humor) que a presidente Dilma tinha mandado o Banco Central substituir, nas cédulas do real, a frase "Deus seja louvado" por "Lula seja louvado", ele protestou: "Isso é uma ignomínia!". Virou piada. Freire acabou pedindo perdão pela ligeireza: "Deveria ter analisado melhor e visto que a ignomínia era demais para ser verdade. Peço desculpas pelo erro".

"Estou pronto para dar explicação ao PSDB e à CPI. Eu quero ser ouvido pela CPI. Não é teatro. Não tenho dificuldade para explicar nada” — Carlos Alberto Leréia, deputado federal (PSDB-GO)

NOVA FORMA. Em sua primeira reunião no comando do Conselho Nacional de Justiça, hoje, o presidente do STF, ministro Ayres Britto, vai anunciar que na sua gestão haverá preferência para o julgamento de atos de improbidade administrativa. Ele pretende também aprovar uma resolução recomendando aos Tribunais de Justiça dos estados que deem prioridade para julgar os processos com o objetivo de ressarcimento do Erário Público.

Um de cada vez
Não haverá uma sessão conjunta de governadores, como quer o PSDB. Se depender da cúpula da CPI, eles serão ouvidos separados e nesta ordem: Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

Blindado
Se depender do Palácio do Planalto, o governador Sérgio Cabral (Rio) não será chamado para depor na CPI do Cachoeira. A avaliação no governo, de conhecimento do PT e do PMDB, é que não há elementos que justifiquem ouvi-lo.

Zarattini contesta municipalistas
O relator da Lei dos Royalties do Petróleo, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), contesta as perdas anuais de R$ 6 bilhões, previstas pela Confederação dos Municípios. "Comparando meu relatório com o texto do Senado, os municípios não produtores perdem R$ 1,25 bilhão de 2013 a 2015. No ano seguinte, produtores e não produtores ganham o mesmo valor para dividir: R$ 7,3 bi. E, a partir de 2017, os não produtores vão receber mais com meu relatório do que com o texto do Senado", diz.

Na fila
Na próxima reunião da CPI do Cachoeira, dia 17, serão votadas as convocações do ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot e do empresário Fernando Cavendish. Este, com os pedidos de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Os vices
O presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), já definiu os seus vices. Nenhum da oposição. Os nomes são Sérgio Silva (PMDB-PR), Vicentinho Alves (PTR-TO) e um deputado petista: Cândido Vaccarezza (SP) ou Paulo Teixeira (SP).

NA MARCAÇÃO. Os deputados Iris Rezende (PMDB-GO) e Luiz Pitiman (PMDB-DF) amanheceram ontem na CPI. Foram ler tudo sobre os governadores Marconi Perillo (GO) e Agnelo Queiroz (DF).

UM GRUPO de artistas, entre eles Letícia Sabatella, Marcos Winter e Osmar Prado, vão hoje na audiência da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Eles querem que a PEC do Trabalho Escravo seja votada até 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura.

QUEIXA de quem foi ler os documentos das operações Vega e Monte Carlo: "não há nada lá que já não tenha saído na imprensa". 

Se quiser ter um neném - JAIRO MARQUES

FOLHA DE SP - 08/05/12

Me coça a mão quando penso que um pai cadeirante pode ter um moleque craque de bola

Previ que o caldo entornaria quando ele surgiu, todo fofo e cambaleante, na tela da TV. A publicidade está cada vez mais se aperfeiçoando em escolher bebês com o poder de acertar sem piedade o coração de consumidor da gente, inclusive para aguçar o desejo por "produtos" risonhos, chorões, guti-gutis e manhosos iguais a eles mesmos.

-Amor, quando vamos ter neném?

Mantive o ritmo da respiração, preparei o melhor olhar blasé, acheguei-me da cintura dela insinuando preguiça de conversar. Tentei ganhar tempo, mas nada que prestasse ou fosse o golpe final para o assunto me veio à mente.

--Oi, meu bem? A canjica tá uma "deli". Acertou o ponto. O amendoim tá tão crocante...

-Quero ser mãe! Você sabe disso, não desconverse. Vamos ter de tomar essa decisão uma hora ou outra. Certeza que você será um ótimo pai! Ah, o Natal em família...

Estou a cada dia mais encalacrado. Já houve o momento dos nomes -Elis, se for menina, está fechado-; já pensamos na logística para a tenra infância, quando iremos arregimentar as avós para dar conta dos momentos mais tensos do rebento; já decidimos voar para um ninho um bocadinho maior onde haverá mais espaço para dois "carrinhos" -o meu e o do baby.

Mas ainda não conseguimos fechar o "acordo" para acionar o botão verde que poderá abrir o caminho da possível vinda de um serzinho metade mineiro, metade sul-mato-grossense, torcedor do Santos e de coração canarinho. Um luxo de miscigenação!

-Você já tem trabalho demais comigo. Haja força para catar meus cacos quando caio da cadeira, haja saco para aturar meus poemas barrocos sobre meu chefe, haja paciência para rediscutir aquela cena do filme do Almodóvar. Como um bebê vai caber nisso? Os juros nem começaram a cair direito.
-Tudo se ajeita. A gente cria uma nova rotina, reorganiza o cotidiano, o tempo. Caso contrário, ninguém teria filho. Vai ser lindo. Quando?

Tenho pânico de botar no Brasil mais um "serumano" desacreditado de valores. Já tem gente demais que cultiva ganância, brutalidade, competição exacerbada, egoísmo, preconceito, falta de cidadania.
-O finado Renato Russo já dizia, nos anos 90, que o "o mundo anda tão complicado", pense como serão as coisas no tempo desse menino. A raça humana não melhora, deusa. Ainda tem tanta maldade, tanta CPI. Imagina o terror que será caso ele não goste de arroz com brócolis.

-Por isso mesmo. Vamos tentar contribuir para mudar. Fazer o melhor para criar uma menina amável, justa ou um menino solidário, amigo, batalhador. Alguém precisa ter esperança na vida.

Apaga a luz, Jesus! Não será com argumentos que considero racionais que vou conseguir driblar um desejo tão legítimo, tão natural e tão profundo da maioria das mulheres.

Vá lá, admito também que me coça a mão quando imagino receber um abraço de bracinhos de filho, quando penso que um pai cadeirante pode ter um moleque craque de bola ou uma mocinha que irá empurrá-lo com algum orgulho.

Tenho pensado muito em seguir o mesmo caminho que o Frejat adotou em uma música que não para de tocar no rádio e na minha cabeça. "O nosso amor não é só de pele/ E de pelo/Se quiser ter um neném/Tudo bem, vamos tê-lo."

Concreto armado - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 08/05/12


A CPI do Cachoeira levou desconforto às empreiteiras, que se ressentem de voltar à berlinda depois de ficar estigmatizadas como fonte de corrupção em escândalos anteriores, como o dos anões do Orçamento, nos anos 90, e a Operação Castelo de Areia da Polícia Federal, de 2009, que depois foi sustada pela Justiça.
Um dos expoentes do setor, Emílio Odebrecht, deixou clara a contrariedade em conversa reservada com o ex-presidente Lula, recentemente. O empresário disse que temia que, ao apoiar a CPI, Lula tivesse cometido seu primeiro erro político. Lula a princípio contra-argumentou, mas, depois de escutar bastante, silenciou.

Fora... O vice-presidente da República, Michel Temer, conversou com Lula sobre o risco do rompimento do PT com o prefeito de Campina Grande, Veneziano do Rêgo, irmão do presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB).

... da curva Lula, então, ligou para o presidente do PT, Rui Falcão, que informou que o partido deve se aliar à candidata do PP no município, Daniela Ribeiro, irmã do ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades). Em troca, o PP apoiará o PT em João Pessoa.

Reação Peemedebistas acreditam que Vital, que só aceitou presidir a CPI por apelo do Planalto, irá criar constrangimento a governistas se a decisão do PT for irreversível. "Vital está chutando o balde e isso vai respingar na CPI'', diz um cacique.

Mesma tecla Emissários de Fernando Cavendish dizem que o ex-diretor da Delta Claudio Abreu teve evolução patrimonial de R$ 17 milhões entre 2010 e 2011. O recado faz parte da estratégia de restringir a Abreu o elo entre Delta e Carlos Cachoeira.

Não digam... Apontado como informante de Cachoeira, o delegado Deuselino Valadares, que foi flagrado usando carro do grupo, ligou para o comando da PF em 7 de março para reclamar do bloqueio de suas contas.

... que não avisei Com voz de choro, ele reclama: "Bloquearam minha conta, meu salário. Tenho dois filhos pra criar. Estão querendo me fazer virar bandido. Se for fazer eu virar bandido, vou virar bandido. Vou ter que assaltar na rua pra dar comida pros meus filhos".

No colchão Dilma Rousseff, que ontem disse que pretende manter suas economias na caderneta de poupança, como forma de prestigiar o investimento, declarou na campanha de 2010 ter R$ 46.894,12 nessa modalidade, contra R$ 113.300 que disse possuir em dinheiro vivo.

Allez! O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, foi o responsável por acrescentar os "mais efusivos'' cumprimentos na nota do governo parabenizando o novo presidente da França, François Hollande. O Planalto quer aproveitar a vinda do francês à Rio+20 para uma visita oficial sua a Brasília.

Pop O PT pretende usar o crescente apoio a Fernando Haddad entre intelectuais como um trunfo para ampliar seu eleitorado. O comando petista resolveu promover no Twitter a hashtag #HaddadcomNicolelis, como forma de celebrar a contribuição do neurocientista Miguel Nicolelis na campanha.

Empurrão Foi necessária a intervenção do comando nacional dos dois partidos para que PT e PMDB fizessem acordo eleitoral em São José do Rio Preto (SP). O deputado federal Edinho Araujo (PMDB) desistiu de disputar a prefeitura e apoiará o deputado estadual petista João Paulo Rillo na cidade.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"A MP da Poupança desarma armadilha em que nenhum presidente teve coragem de mexer. Não devemos incorrer no erro que o PT cometeu ao não apoiar o Plano Real."
DO DEPUTADO PAUDERNEY AVELINO (DEM-AM), que defende que a oposição vote a favor da medida que alterou as regras de remuneração da caderneta de poupança, desde que resguardados os ganhos dos pequenos poupadores.

Contraponto

Velhos de guerra

Num de seus últimos discursos na Câmara, o ex-deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) brincou com o ex-presidente da Casa e hoje vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP):
-No trajeto até esta tribuna, o congestionamento no plenário me tirou quase um minuto. Peço que que me restitua esse tempo...
Temer concordou, mas Aleluia seguiu a piada:
-Já não tenho tanta mobilidade. Eu e o deputado Inocêncio Oliveira já andamos com cuidado para não cair.

Mobilidade emperrada - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 08/05/12


É cada vez maior o risco de um vexame nacional na Copa do Mundo - e não por causa do desempenho da equipe brasileira. As informações mais recentes sobre o andamento dos projetos não permitem outra conclusão. Quem se dispuser a vir ao Brasil para acompanhar os jogos terá de enfrentar aeroportos despreparados para um tráfego mais intenso de passageiros, cidades congestionadas e sistemas de transporte urbano inapropriados para metrópoles modernas. O governo terá de correr muito para garantir a conclusão a tempo das obras necessárias. Se não conseguir desemperrar em pouco tempo os investimentos programados, ainda acabará pagando muito mais que os valores atualmente orçados, porque não terá outro meio de compensar o tempo perdido. Os valores atuais já são muito maiores que os estimados quando o governo brasileiro assumiu o compromisso de realização da Copa.

A presidente Dilma Rousseff e o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, anunciaram em 24 de abril investimentos de R$ 32,7 bilhões em obras de mobilidade urbana. Destinados a preparar grandes cidades para receber multidões de torcedores, os projetos deverão estar concluídos antes dos jogos, isto é, no começo do último ano do atual mandato presidencial.

O programa inclui a modernização viária, ampliação da malha de metrôs e ferrovias urbanas e a compra de veículos e equipamentos. Só falta decidir como realizar as tarefas dentro do prazo fixado.

O programa anunciado em abril deve ser um desdobramento daquele já em execução e já caracterizado por enorme atraso. Neste ano, até o fim do mês passado, o governo da União desembolsou R$ 11,4 milhões em investimentos de mobilidade urbana. Mas está prevista no Orçamento-Geral da União a aplicação de R$ 1,4 bilhão. As despesas empenhadas, de R$ 227 milhões, correspondem a apenas 16,3% do total previsto. Mas esse é apenas o primeiro passo para a execução da obra e o gasto efetivo tem ficado geralmente muito abaixo do valor empenhado. Os números, extraídos de relatórios oficiais, foram divulgados pela organização Contas Abertas.

Esses investimentos seriam necessários mesmo sem a realização dos jogos. São indispensáveis, acima de tudo, para a melhora das condições de vida de grandes populações urbanas - 53 milhões, segundo a presidente Dilma Rousseff. O compromisso de realização da Copa tornou necessário o envolvimento do governo federal. Isso deveria tornar mais segura a execução dos projetos, mas, até agora, nada tem confirmado essa expectativa.

O atraso indisfarçável das obras de mobilidade urbana ajusta-se com perfeição aos padrões dos investimentos federais. Neste ano, até março, os desembolsos do PAC chegaram a R$ 8 bilhões, na parte financiada diretamente pelo Tesouro Nacional. Foi um recorde em termos absolutos, desde o lançamento do programa.

Foi também um recorde em termos proporcionais, porque os pagamentos corresponderam a 19,2% do valor previsto no Orçamento. Mas os famigerados restos a pagar - despesas comprometidas em exercícios anteriores - compuseram 92% do total desembolsado. Os gestores do PAC continuam correndo, sem muito sucesso, em busca do tempo perdido.

De modo geral, vão mal, neste ano, os investimentos previstos no Orçamento-Geral da União. O total pago até abril chegou a R$ 10,5 bilhões. No ano passado, no mesmo período, havia chegado a R$ 11,1 bilhões. Entre os Ministérios com desempenho pior que o de 2011 se destacam os da Agricultura, da Previdência, da Integração Nacional, das Cidades e dos Transportes. Este é o caso mais notável. Esse Ministério pagou até abril R$ 1,7 bilhão a menos que os R$ 3,8 bilhões desembolsados no mesmo período no ano passado.

Aparentemente, os novos dirigentes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) avançam com muito cuidado e lentidão excessiva em suas tarefas. Exageram, talvez, mas isso é pelo menos compreensível, quando se lembra a rica história de escândalos do setor de transportes.

A eleição de Hollande traz novos ares para a Europa - GILLES LAPOUGE


O ESTADÃO - 08/05/12


Nicolas Sarkozy derrotado. François Hollande será o presidente pelos próximos cinco anos. Os socialistas retornam ao centro do jogo. O último e único presidente socialista desde 1958 foi François Mitterrand, em 1981, que governou até 1995. Em seguida, houve Jacques Chirac e, então, Sarkozy, de direita.

Para os socialistas, a vitória pareceu o reencontro com sua própria história. Domingo, eles relembraram aquela noite de 1981 em que Mitterrand comemorou o triunfo diante de uma multidão enlouquecida na Praça da Bastilha.

Nessa mesma praça, depois da vitória, Hollande foi ao encontro do povo. O mimetismo foi impressionante. Não só porque Hollande parece uma "cria" de Mitterrand - a ponto de copiar a maneira de falar de Mitterrand -, mas o próprio céu resolveu colaborar. Se, para Hollande, a noite da vitória estava carregada de nuvens negras, na da vitória de Mitterrand caiu um dilúvio.

Com uma diferença: em 1981, os partidários de Mitterrand gritavam em meio ao vendaval: "Mitterrand, o sol!" Este ano, ninguém no meio da multidão da Bastilha teve a ideia maluca de gritar: "Hollande, o sol!" E por várias razões. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o novo presidente, com sua aparência de tabelião do interior ou de caixa de banco, não é um sujeito capaz de chamar de volta o sol que já se foi. Além disso, ele chega ao posto num momento dramático da história da França e da Europa.

Quando um novo presidente assume o poder, instaura-se aquele "estado de graça". Por algumas semanas, a paisagem parece sorrir. Para Hollande, porém, não haverá "estado de graça". Ele recebe um país deteriorado e em frangalhos, com uma economia em desordem, uma alta taxa de desemprego, déficits comerciais cada vez maiores e um endividamento vertiginoso.

Qual o motivo de tamanha catástrofe? Em parte, por causa da gestão caótica de Sarkozy, mas também por causa da crise e da deterioração da Europa toda, particularmente dos países que compõem a zona do euro: Grécia, Itália, Espanha, Irlanda e até a Holanda.

As primeiras semanas de Hollande serão, portanto, inteiramente dedicadas a tapar os buracos por onde o barco faz água. Como lançar novos programas quando todos os fundamentos da economia estão ameaçados? Por outro lado, ao mesmo tempo, Hollande será obrigado a compartilhar cada uma das suas iniciativas com seus parceiros europeus, os da União Europeia, do euro e do Ocidente atlântico.

Ocorre que ele não é visto com bons olhos pelos vizinhos. A Europa é governada, na maior parte, por conservadores: Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha. Na Grécia, até agora, dominava a direita, mas as eleições de domingo deixam prever um período conturbado.

A Europa era favorável a Sarkozy. Não gostava de Hollande. A ideia de ter um socialista em um dos dois países mais importantes da Europa era rejeitada pela maioria. A alemã Angela Merkel não só não quis receber o "candidato" Hollande como tomou partido de Sarkozy. O britânico David Cameron tampouco quis recebê-lo. Nos EUA, Barack Obama fez o mesmo. Washington mandou dizer que se ele fosse para lá, não poderia se encontrar com o presidente. Hollande não foi.

Nesse ponto é fácil perceber a incompetência dos grandes governantes. Ou talvez de seus embaixadores. Há três meses, o mundo via que, embora Hollande não estivesse com a vitória garantida, tinha boas chances. Os diplomatas, porém, comportaram-se como cegos e surdos, burros como portas. Ou limitaram-se a dizer a Merkel e a Cameron o que Merkel e Cameron queriam ouvir.

Por isso, na noite da vitória, esse pequeno mundo sofreu uma formidável virada. Merkel telefonou a Hollande para chamá-lo a Berlim. Obama também o convidou para participar da reunião do G-8 em Washington e se encontrará com ele no dia 19 em Camp David.

Novas ideias. Bastaram alguns segundos, na noite de 6 de maio, para que Hollande deixasse de ser uma "nulidade" e se tornasse uma pessoa frequentável e até mesmo notável. Nota zero para Merkel, Cameron e Obama. Há semanas, Hollande dizia em seus discursos que a gestão da Europa pela dupla Merkel-Sarkozy não era bem-sucedida. Os dois gurus da UE e do euro haviam optado por ministrar ao Velho Continente um remédio cavalar, programas de austeridade desumanos, capazes de curar a Grécia e a Espanha, mas até a morte.

Hollande sempre foi contra essa política de austeridade extrema. Ele defende que, quando o rigor é inevitável, deve estar acompanhado por medidas aptas a relançar a produção dos países em dificuldade. Ninguém o levou a sério. Cameron virava o rosto. Merkel dava de ombros e telefonava para Sarkozy.

No entanto, há alguns dias, e principalmente depois que Hollande ganhou no primeiro turno, as capitais europeias, pressionadas pela revolta brutal dos cidadãos na Grécia, na Itália, na Espanha e até mesmo na Inglaterra, questionam se, no fundo, Hollande não seria menos idiota do que parece.

Desde a noite de domingo, os governos de direita, que estão no poder na Espanha e na Itália, não param de pensar nas ideias de Hollande. A própria Angela Merkel, guardião da ortodoxia econômica, o rigor em pessoa, de repente, considerou que não seria tão incoerente dar um empurrão nos seus planos de rigor com iniciativas em favor do crescimento.

Agora, François Hollande, tão desacreditado por todos, está prestes a constituir uma espécie de alternativa ao poder dominante de Merkel. Evidentemente, ela ficará com o mínimo. Por exemplo, Hollande pretende uma revisão do pacto orçamentário assinado em março pelos membros da União Europeia, a pedido de Merkel e de Sarkozy.

Evidentemente, Merkel não aceitará nenhuma revisão. Quando muito, aceitará acrescentar ao tratado drástico o que ela chama de um "pacto de crescimento", mas nada muito expressivo. A diferença é que Hollande, na visão de um keynesiano, gostaria de voltar a fazer funcionar o motor gasto da Europa revigorando a oferta.

Ele sonha com uma espécie de New Deal europeu, nos mesmos moldes do grande programa de criação de infraestruturas elaborado por Franklin Roosevelt, que tirou os Estados Unidos da crise dos anos 30, modelo que Merkel, até agora, sempre recusou.

Será que Hollande conseguirá impor suas ideias numa Europa paralisada por dois anos de operações de salvamento inúteis e desastrosas para a Grécia? Nada garante uma política de "relançamento" em um continente em recessão (exceto na Alemanha).

Deve-se esperar, pelo menos, o surgimento de um novo pensamento político-econômico, de um pensamento diferente do de madame Merkel. Alguma coisa que permita rearrumar o terreno do jogo e substituir o "pensamento único" imposto por ela e por Sarkozy. Um pensamento diferente, colorido, contraditório, diversificado, certamente mais criativo, mais perigoso e mas mais fecundo. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Operação Valquíria - ANDRÉ GUILHERME PEREIRA PERFEITO


Valor Econômico - 08/05/12


No início de 2011 fiz um exercício democrático curioso. Convencido que estava que era possível baixar os juros no país, entre outros motivos por conta das taxas baixas nos Estados Unidos até final de 2014 pelo menos, escrevi uma carta à então recém-empossada presidente Dilma. Não usei nenhum canal especial, entrei na internet, descobri o endereço do Palácio do Planalto e da Granja do Torto e enviei o e-mail. O título era Operação Valquíria e nela descrevia o que acreditava ser a estratégia correta para derrubar os juros de vez a patamares civilizados. Não esperava obter resposta, só queria exercer um direito de cidadão. Espero que achem minha carta por lá agora.

Na Operação Valquíria, o ponto de ruptura seria a alteração da caderneta de poupança. Mas imaginava à época que, antes de destruir este piso, seria necessário fazer outros movimentos para evitar a volta dos juros. Tal qual o plano do coronel Stauffenberg para eliminar Hitler, matar o ditador era apenas uma etapa do processo e, na verdade, matar o Führer era a parte mais fácil; o difícil era impedir que o alto comando SS ao seu redor assumisse o controle, tornando o que era ruim ainda pior.

Acredito que estamos num momento parecido. Jogar os juros para baixo não é exatamente um mérito ainda da economia brasileira, e nem a parte mais difícil, mas antes de tudo uma consequência colateral das circunstâncias mundiais. Da mesma maneira que os escravos foram libertados nessas bandas tropicais por pressões irremediáveis do Império Britânico, os juros caem aqui sob a sinalização externa do custo do dinheiro em nada nas principais praças mundiais. A queda dos juros é, por assim dizer, um subproduto, e talvez não permanente, da crise mundial.

Jogar os juros para baixo não é exatamente um mérito ainda da economia brasileira, e nem a parte mais difícil

São três os eixos fundamentais para contornar de vez a ameaça dos juros altos no país. Dois são relativamente simples de entender.

O primeiro é a indexação. O governo tem que varrer de vez do mapa a utilização de índices como o IGP-M dos reajustes de contratos. Num país traumatizado pela inflação e que insiste lembrar-se do dragão enjaulado divulgando todo mês nada menos que 11 índices diferentes - entre IPCA, IPCA-15, IGPs do primeiro e do segundo decêndio, 10, M, DI e mais quatro quadrissemanas da FIPE, isso sem contar os IPC-S semanais, faça chuva ou faça sol -, criar mecanismos de desindexação é fundamental. Num país com a inflação sob certo controle a negociação é livre, é assim que o jogo funciona.

Sobre os títulos do governo cabe um comentário recorrente, referente ao segundo eixo da Operação Valquíria. O uso indiscriminado de LFTs, uma necessidade em épocas de inflação galopante, torna-se hoje um cadáver fétido na administração da dívida pública. Este é apenas o exemplo mais crucial das distorções do nosso mercado financeiro, a lista se estende.

No Brasil, o Estado arrecada muito, mas também transfere demais. A Constituição de 1988 criou um sistema amplo de previdência e de direitos ao cidadão e por estes canais o Estado gasta boa parte dos seus recursos. Mas o principal gargalo não é a previdência e sim o pagamento de juros à sociedade.

Anos de juros em patamar tão alto geraram distorções terríveis e uma delas foi justamente a carga tributária elevada. Se desde o segundo reinado temos um piso de 6% na taxa de juros isso quer dizer que as distorções por aqui são antigas e reveladoras de nossa formação como país. E como se paga juros tão altos? Somente arrecadando muito também.

Como antes os juros ganhos na ciranda financeira compensavam parte das perdas tributárias, as empresas iam bem. Vamos supor uma indústria de bens duráveis alguns anos atrás, é evidente que ela auferia na produção deste bem, mas também ganhava no seu financiamento; não por acaso todas as montadoras fizeram seus próprios bancos e o verdadeiro negócio do varejo popular é vender crédito caro.

Cortar os juros de fora para dentro está revelando anos de distorção econômica e o resultado líquido é uma economia grande, mas deformada pelo dinheiro caro e pela tributação alta. Antes os problemas ficavam submersos, agora o mar recuou e os destroços apareceram.

Um exemplo é o esforço do governo no câmbio. A justificativa válida é que o real forte está matando a indústria. O argumento tem algum fundamento. Se o governo quer transferir renda da sociedade para a indústria - que é o que está sendo feito, e não há nada errado nisso - o melhor seria fazer de maneira direta cortando impostos.

Este é o momento crucial de um projeto que começou no governo Itamar Franco com a criação do real, quando Fernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda, amadureceu com a dobradinha Lula-Meirelles e, agora, com Dilma e Tombini, pode se cristalizar de vez no país.

Matar o ditador é fácil, difícil mesmo é acabar com a ditadura. Está na hora de uma Operação Valquíria nestes trópicos, se não for Valquíria pode ser um nome indígena. A Polícia Federal tem nomes muito criativos para suas operações; perguntem ao delegado.