quinta-feira, janeiro 12, 2012

Nacionalismo antinacionalista - CHARLES TANG


O Globo - 12/01/12


Ainda não faz tanto tempo que o nacionalismo equivocado da época de "o petróleo é nosso" prolongou o período de pobreza no Brasil. Ao contrário de hoje, não tínhamos os recursos financeiros ou tecnológicos para nos beneficiarmos desta dádiva do ouro negro e não se admitia o capital e a tecnologia estrangeiros. Em consequência, a pobreza se expandiu e a economia estagnou.

À porta de uma brutal recessão mundial, que ameaça ser pior do que a crise que passou, não podemos erguer barreiras para empreendimentos que injetem capital, gerem empregos, tragam tecnologia e inovações, criando riquezas para o Brasil.

A nossa proibição à compra de terras por estrangeiros é festejada por nossos vizinhos da América Latina e da África, que passaram a receber a bonança por nós desprezada. De continente perdido, a África se transformou na esperança dos emergentes devido aos investimentos maciços dos chineses.

Aqui, o decreto que aumenta o IPI dos automóveis com menos de 65% de conteúdo nacional não só dificulta a importação de veículos estrangeiros, mas poderá coibir a construção de novas montadoras no país. Até montadoras já instaladas não conseguiram ainda atingir esse índice de nacionalização, que leva anos para ser conseguido. Nem existem indústrias de componentes nacionais suficientes para atender à exigência do decreto.

Acaso devemos proteger antigos investimentos estrangeiros da competição de novas inversões estrangeiras, a fim de que possam continuar vendendo suas carroças a preços exorbitantes?

Competir é saudável! Medidas de proteção criam parques industriais jurássicos nacionais. Necessitamos fortalecer a indústria e permitir que ela seja competitiva sem o nosso oneroso "custo brasil".

Algumas montadoras chinesas vieram investir no Brasil atendendo ao apelo da presidente Dilma, que em visita à China solicitou que empresas chinesas invistam mais e exportem menos ao Brasil. A reação da presidente pedindo um estudo que crie exceções para empresas que pretendam estabelecer montadoras no Brasil é encorajadora e deve originar diferenciais para quem queira investir no país.

Ademais, a presença de produtos chineses em nosso mercado ajudou o bem-estar do povo brasileiro ao provocar a baixa do preço dos produtos que eram acessíveis somente a nossas elites. Por que o nosso povo sempre tem que pagar mais pelo que consome, a fim de sustentar os oligopólios, monopólios e jurássicos de plantão?

O principal fator de riqueza do crescimento chinês foi sua incessante busca por investimentos estrangeiros, que chegou a discriminar a empresa chinesa a favor da estrangeira. Até 2008, a empresa de fora pagava 25% de imposto de renda, enquanto a empresa nacional era onerada em 33%. Durante as três décadas em que vigorou esse tratamento desigual, toda empresa chinesa queria ter um sócio estrangeiro.

Devemos entender, como os chineses sabiam, que os estrangeiros iriam trabalhar sob a soberania e leis chinesas. Sabiam que toda riqueza criada iria beneficiar a China e dar emprego e tecnologia ao povo chinês.

Como nos falta poupança interna, somente poderemos erradicar nossa pobreza, como quer a presidente Dilma, com a contribuição de capitais estrangeiros. O Brasil lutou muitos anos, inclusive com Lula como nosso mascate, a fim de construir a imagem de um país estável e de regras permanentes, tendo em vista a atração de investimentos.

Mudanças bruscas de regras no meio do jogo podem rapidamente alterar esta imagem.

Vida e morte na internet - MARION STRECKER

FOLHA DE SP - 12/01/12

Nenhuma indústria teve um ciclo de apogeu e declínio de empresas tão curto quanto a internet. Nesse aspecto, o Yahoo! é um grande sobrevivente. Serve uma audiência de meio bilhão de pessoas no mundo, somando os sites em 30 idiomas. Nos EUA está hoje em terceiro lugar.

Nesta semana o Yahoo! ganhou um novo CEO, Scott Thompson, vindo de uma bem-sucedida gestão na empresa de pagamento eletrônico PayPal. Ele vai enfrentar um desafio: reerguer um gigante, ferido no coração do negócio.

Um pioneiro da internet mundial, o Yahoo! surgiu em 1994 como um diretório de outros websites que começaram a aparecer aos montes na recém-inventada web. Em 2005, era o maior site dos EUA em audiência, mas perdeu a liderança para o Google, uma das muitas empresas que propuseram um novo modelo de navegação pela internet: a busca por qualquer palavra.

Mais recentemente, o Yahoo! foi ultrapassado também pelo jovem Facebook, que também atingiu o coração do negócio do Yahoo! ao servir a um só tempo como meio de comunicação entre pessoas e sistema de publicação de conteúdo pessoal, objetivos que o Yahoo! de alguma forma cumpria com e-mail, grupos de discussão, seu sistema de publicação de fotos, o FlickR, e suas extintas salas de bate-papo.

Sua homepage ainda é a página de internet mais vista dos EUA, embora as más línguas no Vale do Silício digam que esse número está inflado pelo pessoal do Meio-Oeste que não teria habilidade para trocar a página inicial do navegador.

Maldade à parte, é notório que há tempos o Yahoo! não demonstra inovação. Enquanto os concorrentes investem pesado em ideias novas, incluindo projetos malucos e coisas que o público odeia, o Yahoo! passou a ser visto como a empresa do "eu também". Isto é, a empresa que oferece serviços semelhantes aos dos outros.

O Yahoo! tem e-mail, busca, o Yahoo! Answers (você faz uma pergunta e pode eventualmente receber a resposta desejada), homepage personalizada, canal de finanças, notícias de esportes, famosos, previsão de tempo, mapas, mensagem instantânea e serviços para celular, entre outros.

Como outros grandes portais de conteúdo mundo afora, o Yahoo! também tem muitos parceiros para povoar seus canais específicos. Num dia qualquer, o Yahoo! publica como destaque principal de primeira página temas como "Por que deixamos de amar", que levam ao parceiro Match.com, site de namoro on-line conhecido por requisitar e-mail do usuário para em troca enviar publicidade não solicitada.

Chamadas assim obviamente geram clique, mas não necessariamente satisfazem o leitor. E cliques não necessariamente trazem prestígio. Nem fidelidade a uma marca.

O Yahoo! cresceu rapidamente nos anos 90 e se tornou um grande website, agregando notícias, serviços e comprando outras empresas. Entre 2000 e 2004, enquanto usou o Google como ferramenta de busca, aproveitou para desenvolver ferramenta própria. Também aperfeiçoou seu e-mail em 2007, para competir com o Gmail, do Google.

Em 2008, recebeu da Microsoft uma oferta não solicitada de compra no valor de US$ 44,6 bilhões, rejeitada sob o argumento de que desvalorizava a companhia. Nessa época, o CEO era o próprio cofundador Jerry Yang, que em 2009 foi substituído no cargo por Carol Bartz.

Nos anos seguintes, o Yahoo! continuou a perder fatia de mercado, tanto em audiência quanto em publicidade, sua principal fonte de renda. Em setembro passado, o Yahoo! fechou parceria de publicidade com dois concorrentes, a AOL e a Microsoft, e Bartz foi afastada do cargo.

O valor de mercado do Yahoo! é de US$ 19 bilhões no momento em que escrevo este texto. Menos da metade do que a Microsoft teria pago por ele em 2008.

Um ativo do Yahoo!, além da audiência, é a grande quantidade de informação pessoal que armazena do público. Acho que é algo que Scott Thompson tentará explorar. O futuro do Yahoo! é incerto, mas não impossível.

Na internet, nada sobrevive sem criatividade, inovação constante e confiança na marca. Tanto o público quanto o mercado de ações exigem isso.

GOSTOSA


Tudo como dantes - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 12/01/12


Nada até agora transpirou sobre a reforma do ministério esperada para janeiro. Por um motivo básico: não haverá reforma alguma na equipe da presidente Dilma Rousseff. Em entrevista no fim do ano, perguntada sobre o tema, ela disse que haveria surpresa.
Pois recolham os cavalos da chuva os que interpretaram a fala como sinal de mudanças substanciais à vista. A surpresa deve ser justamente a ausência delas.
Não haverá redução de pastas - até fusões de ministérios podem ser revistas -, não serão reformulados os critérios para o preenchimento de cargos, os partidos aliados não perderão nem ganharão espaços e gente que estava cotada para sair já começa a ser considerada para ficar.
Por exemplo, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Auxiliares de Dilma não têm percebido a "presidenta particularmente interessada em tirá-la do ministério".
Outro exemplo, o ministro das Cidades, Mário Negromonte. Envolvido em denúncias de alteração de pareceres técnicos em obras para a Copa do Mundo e acusado por gente do próprio partido (PP) de patrocinar um "mensalinho" na bancada em troca de apoio político, já é visto como sobrevivente. "Passou o vendaval", argumenta-se.
A reforma, então, estaria resumida a três nomeações e uma complicação. Seriam substituídos os dois ministros candidatos a eleições municipais - Fernando Haddad, da Educação, e Iriny Lopes, da Secretaria de Política para Mulheres - e Paulo Roberto Pinto que ocupa a pasta do Trabalho desde a saída de Carlos Lupi.
A complicação está na substituição de Haddad, razão pela qual a presidente pediu que ficasse mais um pouco no cargo. Pelo seguinte: como o substituto é Aloizio Mercadante, falta resolver quem ficará no lugar dele no Ministério da Ciência e Tecnologia.
O lugar é reivindicado pelo PSB (ocupante da pasta durante os dois governos Lula) e pelo PT, que não pretende abrir mão. A ideia é entregar o ministério para o deputado Newton Lima, a fim de abrir vaga para o suplente José Genoino, ou para Marta Suplicy, com o objetivo de incentivá-la a se empenhar na campanha de Haddad a prefeito de São Paulo.
Nesse momento em que o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, do PSB, está na berlinda, é tão complicado premiar o partido quanto ignorar um pleito do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, promessa eleitoral cortejada por partidos e governo e de oposição.
Daí a demora no anúncio.
A reforma tal como era esperada virou pó. Argumenta-se no Planalto que imprensa e partidos superestimaram a amplitude das mudanças. Ocorre que nem imprensa nem partidos trabalham no vazio. O governo durante algum tempo alimentou a versão da remodelação do governo à feição de Dilma Rousseff.
As circunstâncias é que mudaram. A principal, a troca de sete ministros nos últimos sete meses de 2011, impossibilitando substituições em tão pouco tempo. Alterou-se também a visão de que seria possível mudar o conceito da coalizão, reduzindo o número de ministérios e profissionalizando as regras de funcionamento.
Por duas razões. Uma evidente, a avaliação de que um governo político não poderia se arriscar a comprar uma briga desse tamanho com os políticos.
Outra subjacente: diz respeito ao compromisso de Dilma com Lula. Mudar muito equivaleria a dizer que durante oito anos ele fez tudo errado. E por mais diferente que seja seu estilo em relação ao antecessor, Dilma seria a última a renegar a herança de Lula, o dono do projeto político que a fez presidente.tararé. De onde menos se espera é que não sai nada mesmo, reza o dito que se aplica ao depoimento do ministro Fernando Bezerra, hoje, à comissão especial do Congresso. Na prática, mera simulação.
São três ou quatro oposicionistas contra 20 parlamentares governistas orientados a proteger o ministro com muitos elogios e ataques aos críticos de sua atuação de privilégios a parentes e concentração de verbas no Estado (PE) de origem.
Com a colaboração do PSDB, cuja orientação é pegar leve com o afilhado de Eduardo Campos.

Agir para fazer bonito - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 12/01/12

Não agimos segundo princípios, mas para fazer bonito e para evitar punições. É decadência?


Os psicólogos desconfiam um pouco da expressão "força de vontade", à qual todo mundo recorre (sobretudo para denunciar as fraquezas -as nossas e as dos outros), mas sem que a gente saiba direito o que ela designa.

Por isso, estou lendo "Willpower, Rediscovering the Greatest Human Strength" (a força de vontade, redescobrindo a maior força humana), de R. Baumeister (um psicólogo que aprecio) e J. Tierney (jornalista do "New York Times"), ed. Penguin. O livro (p. 152) me fez conhecer o site www.stickK.com (que foi criado, aliás, para servir de amostra para pesquisas).

No site, o usuário se engaja contratualmente a cumprir um plano que implique um engajamento sério, se não uma reorientação de vida -desde o trivial, como emagrecer ou parar de roer as unhas, até metas, aspirações, desejos e ambições que justificam uma existência, passando por aquelas experiências irrenunciáveis que alguém quer ter ao menos uma vez, antes de morrer.

Ao escolher sua resolução, o usuário é convidado a nomear um árbitro: alguém que lhe seja próximo, que não seja um cúmplice qualquer e que possa, portanto, confirmar honestamente os progressos que o usuário declarará conseguir, no diário de seus esforços, que será acessível no site.

Além do árbitro, o usuário é também encorajado a escolher um número indefinido de amigos, que serão informados de seu propósito inicial e de seus avanços ou fracassos (eles terão acesso ao diário e aos comentários do árbitro).

Na hora em que ele declara seu propósito, o usuário também estabelece uma punição para si mesmo, caso ele fracasse.

Essa punição pode ser moral (um e-mail contando a história do malogro para uma lista de amigos e conhecidos) e/ou financeira -por exemplo, uma doação para a instituição que o usuário mais deteste (imaginemos que você pertença a uma igreja que é ferozmente contra a ideia do casamento gay e que você não consiga, sei lá, estudar seis horas por dia; pois bem, você passara a contribuir ao Grupo Gay da Bahia, de acordo com suas possibilidades financeiras).

A análise de 125.000 contratos feitos nos últimos três anos indica que os usuários que não nomearam um árbitro ou não se impuseram punições financeiras chegaram a um resultado positivo só em 35% dos casos. E a porcentagem de sucessos foi de 80% quando houve árbitro, amigos e punição financeira.

Existem experiências similares. Nas Filipinas, houve fumantes que depositavam a cada dia um dinheiro que eles perderiam se, depois de seis meses, houvesse rastos de nicotina em sua urina (o cigarro é poderoso: mais da metade perdeu seu depósito -em compensação, os que conseguiram pararam de fumar de vez). E houve a "Dieta da Humilhação Pública" de Drew Magary, que se engajou a tuitar seu peso a cada dia e conseguiu assim perder 30 quilos em cinco meses.

À primeira vista, em suma, não agimos segundo o que achamos certo, por "força de vontade", mas para evitar punições e vergonhas. Ou seja, não somos nunca verdadeira e corajosamente bons, apenas queremos fazer bonito e não perder dinheiro (ainda menos em prol de nossos inimigos).

Haverá moralistas para dizer que a sociedade contemporânea nos transforma nesses invertebrados morais -sem princípios, apenas interessados na opinião dos outros e em nosso interesse imediato. Mas, nos exemplos de Baumeister e Tierney, eu não vejo um sinal de decadência moral -ao contrário.

Claro, como muitos, eu mesmo acharia mais fácil ser dotado de um caroço moral, do qual eu pudesse dizer: "Este sou eu, quer os outros me reconheçam ou não, e tanto faz que eu seja recompensado ou punido por isso".

Mas não é o caso de sermos nostálgicos: nas sociedades tradicionais (presentes, passadas ou futuras), menos ainda do que hoje, os cidadãos tampouco dispõem de um caroço moral. Eles agem por medo da punição -agora ou no além. E eles agem por vergonha, diante de grupos instituídos de anciões, padres, pastores ou notáveis.

No conjunto, quanto à punição, eu prefiro arriscar o que eu mesmo apostei ao assinar meus contratos. E, quanto à vergonha, prefiro que seja diante dos pares com quem eu me engajei, ou então, diante da sociedade inteira.

Ou seja, sem ironia, como penso há tempos, nossa época é mais de progresso do que de decadência moral.

Estatismos, álcool e gasolina - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 12/01/12

Sem plano de longo prazo, governo intervém cada vez mais para conter preços; BNDES vai subsidiar cana



O BNDES AVISOU ontem que vai subsidiar canaviais. O banco estatal de desenvolvimento oferece R$ 4 bilhões até o final do ano para a renovação de canaviais e para o aumento da área plantada.

Trata-se de mais um trejeito da série de malabarismos que o governo federal tem feito para regular o mercado de combustíveis, garantir o abastecimento e evitar que altas de preços de etanol e gasolina cheguem ao consumidor e, assim, à inflação.

O problema do malabarismo é saber se o governo vai conseguir manter no ar a dúzia de bolinhas intervencionistas e, ao mesmo tempo, criar condições para que o setor de combustíveis um dia ande sozinho. Explique-se.

Falta álcool. Por excesso de endividamento, má gestão, fusões e aquisições ambiciosas demais, alta de custos de produção (terra, salários, mecanização forçada) ou sabe-se lá o motivo, a produção e a produtividade dos canaviais caíram. Planta-se menos, planta-se menos cana boa, os canaviais envelheceram. Há usina de sobra (30% de ociosidade), falta cana para moer.

Os produtores reclamam de impostos, muito pesados, e do preço do álcool, que não seria alto o bastante para remunerar o custo marginal do negócio (renovação e ampliação de canaviais).

O governo de fato procura baixar o preço do álcool, hidratado (que vai direto ao tanque do carro) ou anidro (misturado à gasolina). Baixou a quantidade de álcool misturado à gasolina. Mantém baixo o preço da gasolina, o que faz o consumidor optar pelo derivado do petróleo em detrimento do álcool, diminuindo a demanda do biocombustível e, pois, contendo seu preço.

O governo manipula o preço da gasolina: 1) impede que a Petrobras eleve os preços; 2) faz a estatal petrolífera importar gasolina e vendê-la no mercado interno com prejuízo de bilhões por ano; 3) baixa a alíquota de um tributo, a Cide, quando deixa a Petrobras elevar preços, como no final do ano passado, de modo a manter constante o custo na bomba, para o consumidor final.

Não se sabe o quanto há de verdade na queixa do produtor de cana a respeito de preços (quanto houve de inépcia na gestão de empresas? Não sabemos). Alguma verdade há. Porém, não importa o teor de verdade, pois a produção caiu de fato. A fim de remediar o problema, o governo intervém cada vez mais.

No final do ano passado, decretou que haverá subsídio de R$ 500 milhões por ano (por cinco anos) para o financiamento da estocagem de álcool. A Agência Nacional do Petróleo pode ter em breve mais poderes de regulação do mercado de álcool. Agora, o BNDES vai financiar canaviais com dinheiro subsidiado, um remendo para o fato de que, em tese, os preços do álcool não remuneram o produtor de modo a incentivá-lo a produzir mais.

Não é possível liberar de pronto (e nunca liberar totalmente) esse mercado -a confusão seria certa. Mas o governo se enrola cada vez mais com os remendos, sem planos de longo prazo.

Quanto custa o alaranjado? - EUGÊNIO BUCCI


O Estado de S.Paulo - 12/01/12


As festas de fim de ano passaram, o Dia de Reis ficou para trás, tudo conforme previa o calendário: o Natal veio antes, o ano-novo, em seguida e, agora, o Brasil avança alegremente rumo ao carnaval. Sem surpresas. Nas festividades da televisão, porém, um detalhe destoou do óbvio, daquilo que era mera repetição anual da lengalenga publicitária. Ao lado das campanhas usuais, com os governantes fazendo seu papel predileto, que é o de Papai Noel - dezembro é a temporada preferencial da propaganda oficial -, com os astros entoando cantigas caridosas, com uso abusivo de crianças em peças de marketing, nós tivemos, nos estertores de 2011, uma peça distinta: a superconcentração de anúncios de uma certa casa bancária com o propósito não de fazer votos de feliz Natal, mas de tomar posse, para si, de uma das cores que a natureza nos deu. Para que o leitor visualize bem do que se trata, vamos dar nomes aos personagens: o banco é o Itaú e essa cor é o alaranjado. No final de 2011, o Banco Itaú virou o dono do alaranjado.

Antes de qualquer outra consideração, duas ressalvas preliminares são necessárias:

A campanha do Banco Itaú não é de agora, ela já vem de um bom tempo. Em 2011, no entanto, ela se acentuou. A cor laranja, que alguns poderão chamar de cenoura, ficou absoluta, ou mesmo total, em todos os comerciais do Itaú na TV.

Nada contra essa cor em particular - e muito menos contra esse banco, que também é particular. Aliás, ainda no clima conciliatório das conclamações natalinas, pode-se dizer que a campanha do Itaú só merece elogios. Ela não ataca ninguém, não fomenta a usura nem estimula o egoísmo. Em lugar disso, consagra atitudes pessoais meritórias, como a iniciativa, o sorriso, a confiança (atitudes que, de resto, viraram uma espécie de commodity em campanhas publicitárias dos bancos em geral). Não há nada de eticamente reprovável, enfim, na atual investida imagética do Itaú de pretender se associar ao alaranjado. A Coca-Cola tem a sua cor vermelha característica, que, aliás, é a mesma dos caminhões de bombeiro e das camisas dominicais de Hugo Chávez; Paulo Coelho só se veste de preto; o roxo tem alguma coisa que ver com a Quaresma, ou talvez não seja bem isso, mas, de todo modo, o roxo é praticamente patenteado pela Igreja Católica. Por que um banco não poderia ter a sua própria, digamos, faixa cromática, uma que fosse só sua, inconfundível? Não há nada que o impeça - e não há ninguém, aqui, que vá censurá-lo por isso.

Apenas é o caso de pensar um pouco. A começar pela constatação de que a campanha tem sido bem-sucedida.

O leitor, que é acima de tudo telespectador, haverá de se lembrar. Na peça publicitária do Itaú no final do ano havia um jovem de jeans, tênis e moletom fazendo um discurso a la Steve Jobs, tendo ao fundo uma tela descomunal de cor laranja. Era uma figura positiva, simpática, motivadora, boa de fazer palestras para equipes de vendas nessas confraternizações que algumas firmas fazem um pouco antes das férias coletivas. Por isso é provável que, hoje, cada um de nós já tenha associado esses dois elementos como se eles tivessem nascido juntos: o alaranjado e o Banco Itaú. Lembremos que o banco, por sinal, já tinha azul e amarelo em seu logotipo, mas trocou os dois por esse novo laranja. Repita-se: com alto grau de eficiência.

Sigamos pensando um pouco mais - e pensar, ao menos numa das acepções do verbo, significa enxergar problemas onde aparentemente só existem soluções. Vejamos, então, que problema existe na solução publicitária pela qual uma marca se apropria de uma cor.

Bem, talvez não seja bem um problema, mas estamos aqui diante de um dado novo, que, uma vez percebido, tem o poder de intrigar. Os significantes, como as cores, estão aí, à solta, no imenso cosmo disso a que chamamos imaginário. Sempre estiveram por aí. Hoje, porém, vira dono deles aquele que, tendo acesso ao olhar social, consegue juntar esse significante a um significado específico. Isso se constrói com a comunicação de amplo espectro. Assim, a cor laranja - que originalmente tem vocação para significar pouca coisa além de suco de frutas cítricas - adquire este sentido poderoso: ela agora quer dizer Banco Itaú. A ponto de, em breve, quando alguém olhar para um automóvel dessa cor, ou um caminhão, ou uma parede, um tapete, um paletó, vai vinculá-lo ao banco. Em poucas palavras, comprando fatias de tempo do olhar social, a indústria da comunicação - e a publicidade, de modo especial - consegue, atualmente, fabricar novos sentidos para significantes antigos. Nisso se resume um dos traços que distinguem a nossa era das outras - uma era em que é possível fabricar valor por meio da indústria que atua no imaginário.

Para fechar nosso precário pensamento, registremos aqui duas curiosidades:

O banco em questão, ao pôr no ar essa campanha, não tem o objetivo de simplesmente atrair correntistas ou vender a sua caderneta de poupança, mas de retrabalhar o seu próprio signo, distanciando-se e diferenciando-se dos demais. Por meio disso a que os publicitários chamariam de "estratégia", sua marca vai caminhando para poder ser lida e entendida sem que seja necessário o uso de nenhuma letra, de nenhum símbolo, nada. Basta-lhe uma cor.

O mesmo banco, de antemão, não tem nada que ver com essa cor especialmente. Ele não é fabricante de suco. Não tem plantações de cítricos. Não exporta extrato de laranja para a Flórida. A cor para a sua "estratégia" é um significante disponível, que, depois dessa intensa e nova construção de sentido, vai virar um sinônimo da marca.

O Homo sapiens já foi coletor de frutas, de pedras, de ossos que pegava no caminho. Hoje as marcas comerciais coletam cores na natureza. E os nossos olhos, ainda mal remunerados, trabalham para dar sentido a tudo isso.

Margem de segurança - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 12/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino) 


A despeito das queixas de violação de direitos humanos e dos questionamentos do governo federal, Geraldo Alckmin se ampara em pesquisas que circulam no Bandeirantes para respaldar a intervenção policial na cracolândia. Um dos levantamentos submetidos ao governador mostra 87% de aprovação à ação da PM no centro de SP, agora investigada pelo Ministério Público.

Outro indicador encoraja o tucano sobretudo no embate com o Planalto: a maioria dos entrevistados considera correta a dispersão dos usuários de drogas antes da oferta de tratamento na rede de saúde -ponto da operação mais criticado pela equipe de Dilma Rousseff.

Protocolo Reservadamente, auxiliares de Dilma consideram "atrapalhada" a ofensiva paulista contra o crack, em particular quanto ao encaminhamento dos viciados expulsos da região central. Como havia um plano federal em curso, o governo esperava ao menos ser avisado da ocupação.

Vitrine A manifestação do secretário Antonio Ferreira Pinto (Segurança Pública), para quem os promotores que investigam abusos da PM na cracolândia buscam "visibilidade na mídia", contribuiu para azedar ainda mais a já tensa relação do Ministério Público com o Bandeirantes.

Bordão De um dirigente petista, sobre o ingresso da Rota na caça aos traficantes: "Alckmin começa a mostrar identidade com os métodos do neoaliado Paulo Maluf".

Meteorologia Ainda que trate como prioritário o QG que monitora os estragos das chuvas, o Planalto está apreensivo com a estiagem no Sul do país. A área econômica teme que os problemas na safra, em especial do trigo, colaborem para pressionar os índices de inflação.

Viés de alta Governistas avaliam que a única ameaça à permanência de Fernando Bezerra na Integração Nacional seria a descoberta de novas encrencas com parentes e amigos na pasta. Nem oposicionistas atribuem relevância ao depoimento do ministro hoje ao Congresso.

Vaivém O deputado gaúcho Vieira da Cunha (PDT) caiu na cotação para assumir o Ministério do Trabalho. Brizola Neto (PDT-RJ) é hoje o favorito de Dilma para o posto.

Direto ao ponto Em reunião anteontem, ministros discutiam a segurança das "Fan Fests", feiras públicas destinadas a quem não consegue ingresso para os jogos da Copa-2014. Dilma interrompeu, orientando sua equipe a descolar atrações mais populares: "E o People's Fest, onde será"?

Onde pega A imediata rejeição do PT paulistano ao flerte de Kassab com Fernando Haddad reflete o instinto de sobrevivência da bancada petista na Câmara. Vereadores do partido temem não se reeleger caso tenham de pegar leve com o prefeito.

Menos Em privado, Lula diz considerar que Kassab avançou o sinal dando publicidade ao início das tratativas do PSD com haddadistas.

Veja bem Os tucanos Alberto Goldman e Aloysio Nunes negam restrições à estratégia de aproximação de Alckmin com PP e PDT. Lembram que as siglas apoiavam o governo de José Serra.

Visita à Folha Emmanuel Publio Dias, vice-presidente corporativo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, visitou ontem a Folha. Estava com Walter Fontoura, diretor da SPGA Consultoria de Comunicação, Natalia Arbex, gerente de contas, e Simone Negrão, coordenadora de contas.

com LETÍCIA SANDER e FLÁVIO FERREIRA

tiroteio

"As tragédias neste período de chuvas se repetem a cada início de ano no país. A novidade é que, pela primeira vez, elas pegaram quase todo mundo de férias."

DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), criticando o que chama de "mobilização tardia" dos ministros de Dilma, que tiveram de suspender a folga para dar resposta governamental aos Estados atingidos por enchentes.

contraponto

Tônico capilar

Durante solenidade oficial em Campos do Jordão, na segunda-feira, Paulo Maluf lembrou que quando conheceu o hoje calvo Geraldo Alckmin, na década de 70, o então prefeito de Pindamonhangaba exibia vasta cabeleira:

-Você era até cabeludo!

Sem perder tempo, o tucano contou que recentemente seu barbeiro sugeriu, após vê-lo na TV, que cortasse o cabelo logo. Achou que estava comprido demais.

-Eu disse que não precisava. Essa fama de cabeludo é boa. Que a deixe correr!

Nos bastidores - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 12/01/12


Aliado fiel do ex-governador José Serra, o deputado e presidente do PPS, Roberto Freire (SP), está sendo contestado em seu partido. Freire quer amarrar o futuro da legenda à candidatura presidencial de Serra em 2014. Ele sustenta que o DEM vai acabar, e seus quadros vão ingressar no PSDB, inviabilizando o projeto de Serra entre os tucanos. Mas um grupo liderado por Raul Jungmann prefere apoiar a candidatura de Marina Silva (ex-PV).

O PSDB opta por fazer oposição "light"
A Executiva do PSDB amenizou balanço do governo Dilma feito pelo vice-presidente do partido, Alberto Goldman. A primeira providência foi tirar os adjetivos "medíocre", "amorfo" e "insípido". Também não foi aceita a caracterização de "nono ano do governo Lula". E os tucanos rejeitaram o rótulo de fantoche para Dilma. Outra alteração foi retirar a afirmação de que a presidente é tolerante com a corrupção. "O ex-ministro Palocci, nas palavras da presidente, saiu porque quis", dizia o original. O partido optou ainda por substituir "constrangedora sucessão de fracassos" por "sérios problemas em diversas áreas".

"Ele (o ministro Fernando Bezerra Coelho) é um trator na política” — Humberto Costa, líder do PT no Senado (PE), sobre o ministro da Integração Nacional

SINUCA. Petistas que defendem o apoio do partido à reeleição de Márcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, buscam assinaturas no diretório municipal para um manifesto a favor da discussão do apoio em instâncias partidárias superiores. Precisam convencer um terço do diretório até domingo. Os fiéis da balança serão petistas ligados ao ex-ministro Patrus Ananias (na foto). O drama dos petistas é que eles temem ser responsáveis por viabilizar uma aliança que envolve o PSDB.

Justiça
A deputada Telma de Souza (PSDB-MT) está mobilizando as mulheres tucanas para irem a Maceió no dia 16, quando terá início o julgamento do ex-deputado Talvane Albuquerque, acusado de mandar matar a deputada Ceci Cunha, em 1998.

Cautela
Diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Samek disse a petistas que só vai deixar a estatal para disputar a prefeitura de Foz do Iguaçu (PR) se o partido construir um arco de alianças que lhe assegure chances reais de vitória em outubro.

Empurrando a batata quente
O ministro Fernando Bezerra (Integração) disse ontem, para aliados, que não é responsável por ter mantido o irmão, Clementino, durante tanto tempo na presidência interina da Codevasf. Confidenciou que sabia que não podia mantê-lo sob pena de nepotismo. E que conversou pelo menos três vezes sobre isso com as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Elas é que não tomaram as providências.

Portela
O governador Jaques Wagner (BA) participa hoje da Lavagem do Bonfim. Ele vai caminhar 10km e assistir ao encontro da bateria do Olodum com o casal de mestre-sala e porta-bandeira Jéferson Vasconcelos e Kátia Marchetti.

Tempero
Estudantes organizam manifestação, durante a Lavagem do Bonfim, por um transporte público de qualidade. O ato foi programado para coincidir com a chegada do prefeito João Henrique e do governador Jaques Wagner.

O LÍDER do PMDB, Henrique Alves (RN), está em Brasília para apoiar o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) no depoimento no Congresso.

LINHA DE PASSE. O PMDB quer manter seu indicado, Elias Fernandes Neto, na diretoria-geral do Dnocs.

A MINISTRA Izabella Teixeira (Meio Ambiente) está em Nova York para encontrar a administradora da Agência Ambiental Americana, Lisa Jackson, e tratar da participação do governo americano na Conferência Rio+20.

Socuerro! Rodízio de cracolândias! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 12/01/12
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! UHU!
Abriram o açougue! Começou o "BBB". O galinheiro mais vigiado do Brasil! O "Big Bagaça Brasil"! Bíceps, tríceps e bundas! Mudaram as pessoas, mas as pessoas continuaram as mesmas: gostosas e saradas! Tudo igual! Carne velha no pedaço! Rarará!
Loira farmácia de fio dental e rinocerontes de sunga! E uns tipos exóticos: bibona tatuada, baiana palhaça e gordinha engraçada! Estereótipos! E todos gritando "UHU"!
E o Bial já começou a surtar. Me explica o que quer dizer isto: "Esse participante emite sinais alfa nas noites de Curitiba". Emite por onde? Adoro uma acefalia televisiva!
E socuerro! Tá chovendo ou tão cuspindo na gente? Tão cuspindo. E deve ser um argentino. Rarará! São Paulo apresenta 63 pontos de alagamento. Já tem mais pontos do que o Palmeiras e o Galo -e já estaria na Libertadores.
Um leitor quer que o Aquassab faça rodízio de alagamento! E os impostos? Diz que em Minas tá rolando o IPI: Imposto sobre Produtos Inundados.
E no Rio tá rolando o ICMS: Imposto Cobrado de Mercadorias Submersas. E Congonhas opera por instrumentos! Cuíca, reco-reco e pandeiro! Rarará!
E começou a alta temporada do Datena, o nosso Galvão Bueno das enchentes! E a cracolândia? Sensacional como São Paulo acabou com a cracolândia: expulsou todos os drogados e eles se espalharam pelos bairros. Distribuíram cracolândia para vários bairros de São Paulo. Em vez de cuidar dos viciados, criou várias cracolândias.
Rodízio de cracolândias! Isso, queremos rodízio de cracolândias! E se a polícia continuar a jogar gás lacrimogêneo na cracolândia, os viciados vão voltar. O gás é de graça. Viciados em gás lacrimogêneo. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
País da Piada Pronta: "José de Jesus detido acusado de matar evangélico".
E adorei esta: " Homem é preso em operação na Favela do Rola, no Rio". Ueba, o que será que rola na Favela do Rola? Rarará!
E mais um predestinado. Direto de Campinas o protético dentário Leonardo Bocabella. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A um passo da xenofobia - CLAUDIA ANTUNES

FOLHA DE SP - 12/01/12

Escaldado pelos brasileiros deportados de Madri sem justificativa plausível, o país se juntou em 2008 à reação regional à Diretiva de Retorno da União Europeia, que endureceu o tratamento a imigrantes em situação irregular.

O Mercosul aprovou nota de repúdio. Exigiu "reciprocidade" pelos imigrantes europeus do passado e prometeu "lutar contra qualquer forma de racismo, discriminação, xenofobia".

Na abertura da Assembleia Geral da ONU naquele ano, Lula disse que "muitos dos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres".

É uma contradição, portanto, que o governo Dilma comece a ceder aos que demonstram pelos haitianos recém-chegados à região Norte a mesma intolerância condenada nos dirigentes da Europa.

Fala-se com exagero numa "invasão", quando o número de imigrados é de cerca de 4.000. Na região, o assunto é usado na campanha eleitoral deste ano. O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) sugeriu à Rádio Senado que parte dos autorizados a ficar poderia estar ligada ao narcotráfico.

Antes das restrições anunciadas anteontem, a Secretaria de Direitos Humanos prometera "acolher com humanismo" os que chegassem. O "New York Times" espantou-se porque os haitianos recebiam vacina, água e duas refeições diárias.

O tráfico de pessoas deve ser combatido, para evitar mortes como as já ocorridas aos milhares no deserto entre os EUA e o México. Mas o anúncio de deportação dos que chegarem sem visto precisa ser esclarecido. Não pode, por exemplo, impedir a reunião de famílias.

É verdade, como se repete, que temos nossas próprias carências. Em 2010, porém, 44 mil estrangeiros ilegais se beneficiaram de uma anistia aprovada pelo Congresso e não consta que tenham causado prejuízo ao país.

A nova vanguarda do atraso - JOSÉ SERRA


O Estado de S.Paulo - 12/01/12


O desempenho da economia brasileira em 2011 foi modesto: o PIB cresceu menos de 3%, a segunda pior performance desde 2004. O freio da economia foi a indústria de transformação, que permaneceu estagnada.

A produção de bens de consumo durável declinou quase 2%. Pior foi o caso dos não duráveis: no ramo têxtil, a produção caiu 15%; em calçados e artigos de couro, -10%; no vestuário, -3,3%. De fato, o setor industrial anda de lado, ou, dependendo de onde, para trás. Até hoje não retomou o nível de produção anterior à crise de 2008-2009.

O leitor pode perguntar-se: como é possível isso, se o consumo nos últimos anos aumentou tão rapidamente? Desde 2007 as vendas a varejo cresceram perto de 40% reais; em 2011, 5%.

A resposta é simples: crescem vertiginosamente as importações de produtos manufaturados. O déficit da balança comercial da indústria de transformação em 2011 (janeiro/novembro) cresceu 37% em relação a 2010, chegando a US$ 44 bilhões! Em 2006 a balança era superavitária em US$ 30 bilhões. Assim, boa parte dos empregos gerados pela febre de consumo dos últimos anos foi para o exterior.

Há uma desindustrialização em marcha no Brasil. Além do encolhimento do setor em relação ao PIB (faz mais de uma década), há uma desintegração crescente de cadeias produtivas, tornando algumas atividades industriais parecidas com as "maquiadoras" mexicanas.

Mas atenção! Os produtos manufaturados que importamos não são mais baratos e os que exportamos, mais caros porque a indústria brasileira seja mais ineficiente que a chinesa ou a coreana, embora, pouco a pouco, num círculo vicioso, isso possa ocorrer. A explicação principal é o elevado custo sistêmico da economia brasileira.

Primeiro, a carga elevada e distorcida de impostos sobre a indústria. Um exemplo simples: de cada R$ 1 do custo do kw de energia elétrica, R$ 0,52 vão para tributos e encargos setoriais!

Segundo, a péssima infraestrutura. O governo federal destina pouco para investir e investe pouco daquilo que destina, em razão de falta de planejamento, prioridades e capacidade executiva. O País realiza um dos menores investimentos públicos do mundo como fração do PIB. Mais ainda, por causa desses fatores, acrescidos de populismo e preconceitos, os governos do PT não conseguiram fazer parcerias amplas com o setor privado na infraestrutura.

Há uma terceira condição decisiva para a desindustrialização: a persistente sobrevalorização da moeda brasileira ante as moedas estrangeiras - cerca de 70% desde 2002, segundo estimativa de Armando Castelar. Isso aumenta fortemente os custos brasileiros de produção em dólares, dos salários à energia elétrica.

Isoladamente, a sobrevalorização é o fator mais importante que barateia nossas importações e encarece as exportações de manufaturados. Levá-la em conta ajuda a compreender por que temos o Big Mac mais caro do mundo e os nossos turistas em Nova York, embora em menor número que os alemães e os ingleses, gastam mais do que estes dois somados.

Economistas e jornalistas de fora do governo falam contra a ideia de existir uma política específica para a indústria. Opõem-se à teoria e à prática de uma política industrial, que, segundo eles, geraria distorções e injustiças. Já o pessoal do governo e seus economistas falam enfaticamente a favor da necessidade e da prática de política industrial. Nessa discussão se gastam papel, tempo de TV a cabo e horas de palestras.

É uma polêmica interessante, mas surrealista, pois não existe de fato uma política econômica abrangente e coerente, de médio e de longo prazos, que enfrente as causas da perda de competitividade da indústria. O programa Brasil Maior? Faltam envergadura e capacidade de implantação, sobram distorções. E a anarquia da política de compras de máquinas e equipamentos para a área do petróleo ou a confusão dos critérios de crédito subsidiado do BNDES, têm alguma racionalidade em termos uma política industrial? Nenhuma!

Alguém poderia questionar: "E daí? Qual é o problema de o Brasil se desindustrializar? Temos agricultura pujante, comércio próspero e outros serviços se expandindo. Tudo isso gera empregos e renda. Devemos seguir comprando mais e mais produtos industriais lá fora, pois dispomos dos dólares para tanto: vendemos minérios e alimentos e recebemos muitos investimentos externos".

Desde logo, nada contra sermos grandes exportadores de produtos agrominerais. Os EUA fizeram isso no século 19 e em boa parte do século 20 e ainda viraram a maior potência industrial do planeta, expandindo ao máximo a exportação de manufaturas. A riqueza em commodities não é a causa necessária de retrocesso industrial. Pode, sim, ser fator de avanço. O retrocesso só existe porque os frutos dessa riqueza não estão sendo utilizados com sensatez e descortino.

Ao se desindustrializar, o País está perdendo a sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e a longo prazos, esse modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial. Os países com desenvolvimento brilhante têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da economia.

O Brasil tem 190 milhões de habitantes, a 77.ª renda per capita e o 84.º IDH do mundo. É preciso ter claro: sua economia continental não proporcionará a renda e os milhões de empregos de qualidade que o progresso social requer tendo como eixo dinâmico o consumo das receitas de exportação de commodities.

A indagação retórica que fiz acima envolve um conceito que tornaria o futuro da economia brasileira vítima de um presente de leniência e indecisão. Conceito que pauta, de fato, o lulopetismo. É que um marketing competente consegue dar uma roupagem moderna a essa nova vanguarda do atraso.

Comissão de frente - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/01/12


Explicar para brasileiros a atual crise internacional é fácil. Há exemplo local para qualquer nova ideia ou complicação. Imposto financeiro lembra a CPMF; negociação com bancos credores é como a nossa dos anos 1990. Imposição do FMI, conhecemos bem. Intervenção em banco falido, tivemos o Proer. Pacto fiscal lembra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O Brasil foi um grande laboratório de soluções para crises. Sabemos bem o preço de ser o escalão precursor. A vantagem é que hoje o país pode evitar erros e se prevenir, porque sabe de antemão o que não levará a nenhum bom resultado. Sabemos que um país como a Grécia - que deve 150% do seu PIB, está em recessão e recebe a imposição de ajustes cada vez maiores - vai terminar dando calote. Qualquer brasileiro já sabia disso antes até de a chanceler Angela Merkel convencer o presidente Nicolas Sarkozy de que os bancos teriam que ter perdas.

Na nossa dívida dos anos 1980, o Brasil tentou aceitar programas impostos pelo FMI. Um atrás do outro. Perdeu-se a conta das cartas e programas assinados com o Fundo Monetário Internacional mas que não foram cumpridos. O Brasil assinava acordos para receber um dinheiro adiantado - empréstimo jumbo, como se dizia na época do ex-ministro Delfim Neto - e voltar a ficar em dia com os bancos. Assim que retomava os pagamentos aos credores, o Brasil descumpria as metas e tinha que negociar novos acordos.

Por isso, ver a "troika" - FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia - visitar a Grécia, chegando com suas pastas e exigências, nos lembra muito visitas semelhantes dos funcionários do FMI nos anos 1980. Tudo isso só terminou na década seguinte quando a velha dívida foi toda renegociada por Pedro Malan. Os bancos trocaram os velhos papéis por novos de valores menores.

Crise bancária, o Brasil conhece bem. Aqui, não foi apenas um banco de investimentos como o Lehman Brothers que quebrou. Foram três dos dez maiores bancos comerciais privados, sem falar dos estatais e de outros de menor tamanho. O Proer separou ativos podres de bons ativos, tomou os bancos dos banqueiros, capitalizou quem se dispôs a assumir o banco saneado.

Quando os estados estavam quebrados, o Brasil encontrou a solução de uma longa negociação com todos eles e as maiores cidades. A União emitiu títulos da dívida federal, esses bônus foram trocados pelas dívidas dos entes federados, e em compensação o governo central impôs parâmetros de gastos através da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Vários economistas de outros países têm sugerido que um mecanismo semelhante seja adaptado à Europa. Isso é que está por trás da ideia do pacto fiscal que está sendo negociado agora. Há também um pouco dessa ideia na proposta de lançar bônus federais para financiar os países.

O Brasil enfrentou praticamente sozinho suas crises e as superou em ambiente hostil. O Tesouro americano foi bem mais complacente com o México do que com o Brasil.

Tendo vivido com antecipação alguns dos dilemas atuais, o Brasil tem a vantagem de conhecer os caminhos e riscos. Olhando para trás, dá para saber que ajustes recessivos impostos pelo FMI produzem mais incapacidade de pagamento. Por outro lado, os limites para os gastos que o Brasil acabou impondo a si mesmo através da LRF foram o começo da solução dos problemas. Não existe uma receita que se aplique a todos os países, mas gastar além da medida é a origem de diversos problemas econômicos. A Grécia pode expulsar a troika do país, pode até sair da Zona do Euro, mas nada evitará o acerto de contas que ela tem que fazer com seus próprios excessos. Um Estado tão agigantado como o grego, que emprega um quinto da população economicamente ativa, não é financiável. O país tem que reduzir o custo da sua máquina ao que a população pode pagar com seus impostos. O mesmo vale para outros países mais poderosos e que ao longo das décadas do pós-guerra aprovaram benefícios cada vez mais generosos para suas populações e hoje descobrem que os custos são exorbitantes.

Os brasileiros sabem também que um imposto sobre transações financeiras, como a CPMF, começa sendo defendido como uma taxação sobre os bancos, mas quem acaba pagando o tributo é o distinto público através das mais diversas artimanhas das instituições financeiras.

Com toda a sabedoria que o Brasil adquiriu por ter superado, às vezes solitária e dolorosamente, tantas dificuldades, o país precisa estar atento para não repetir erros nossos e alheios. Nos últimos 15 anos a carga tributária aumentou 10 pontos percentuais do PIB e mesmo assim o país não atingiu o déficit zero. O Brasil vive as vantagens do aumento da expectativa de vida, com uma população ainda jovem, mas teve déficit de R$ 56 bilhões na previdência do setor público federal, com apenas 1,1 milhão de aposentados. Isso só para citar dois exemplos. Há muitas tarefas a executar para melhorar a qualidade do gasto.

Com as encrencas que outros países estão vivendo, e com as experiências das nossas próprias crises, o Brasil já sabe o risco dos desequilíbrios nas contas públicas.

O grande beneficiário - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 12/01/12


A Alemanha vai aparecendo como a grande beneficiária da crise do euro.

Há alguns anos, a competitividade do sistema produtivo alemão já era, de longe, a melhor do bloco. Mas as diferenças estão aumentando. A Alemanha cresce mais, tem um dos mais baixos níveis de desemprego, exporta mais e paga juros cada vez menores (veja mais detalhes na tabela).

Ontem, um leilão realizado pelo Tesouro da alemão, para captação de 4 bilhões de euros por cinco anos, teve interessados por quase 9 bilhões de euros em títulos. Os juros (yield) a serem pagos por esses papéis foram os mais baixos da história, de 0,90% ao ano. Ontem mesmo, a Espanha teve de pagar 5,26% e a Itália, 6,97% ao ano.

Na segunda-feira, para títulos de seis meses, em vez de receber, o mercado financeiro aceitara pagar rendimentos para a Alemanha: o retorno de quem aplicou foi negativo, de menos 0,01% ao ano. Ou seja, se em vez de emprestar dinheiro para a Alemanha o aplicador guardasse seu dinheiro no forro do colchão, no vencimento dos títulos teria mais euros do que terá com o pagamento do Tesouro da Alemanha.

São novidades assim que espantaram os técnicos da Agência de Financiamento da Alemanha, conforme relata Der Spiegel, uma das mais importantes publicações da Europa.

Os juros muito baixos e até mesmo negativos refletem a enorme abundância de recursos existente no bloco do euro e, ao mesmo tempo, o baixo nível de opções de aplicação. Emprestar dinheiro para a Alemanha ficou mais seguro do que deixá-lo depositado em conta corrente num grande banco.

E isso não é tudo. A cada vez maior disparidade entre o que paga o Tesouro alemão por sua dívida e a remuneração recebida dos países vizinhos eleva ainda mais a diferença de custos de produção dentro da Eurolândia. Os institutos de pesquisa e análise já apontam, para 2012, retração do crescimento econômico da França, Espanha, Itália, Bélgica, Grécia e Portugal. Mas a Alemanha deve avançar pelo menos 0,4%.

Até mesmo a barreira linguística, apontada como grande dificuldade para o fluxo de mão de obra dentro da Europa, está beneficiando a Alemanha. No período de 12 meses terminado em novembro, o país recebeu 435 mil imigrantes, a maioria deles, profissionais qualificados - descreve a Spiegel.

A desvalorização do euro, por sua vez, está beneficiando as exportações da Alemanha. Embora suas vendas para dentro da área do euro estejam caindo, para o resto do mundo estão crescendo. Também no período de 12 meses até novembro, as exportações aumentaram 8,3%, ultrapassando o patamar de 1 trilhão de euros.

Como já foi dito nesta Coluna no dia 1.º, é pouco concluir que há um forte desequilíbrio nas contas correntes dentro da zona do euro: há muito mais fluxo de capitais para a Alemanha do que para os demais países. Mais importante é examinar a causa desse desbalanceamento: a maior competitividade da Alemanha em relação aos demais. E esse fator, por sua vez, tem a ver com a contenção dos salários e das aposentadorias, fruto de acordos tríplices entre governo, sindicatos e empresas. Agora que a moeda é comum, esses desequilíbrios entre economias não podem ser escondidos com desvalorização cambial.

Se as enormes assimetrias estão na origem da crise atual e se elas estão se aprofundando, a perspectiva é de que, sem ajustes decisivos, o colapso tenda a se agravar. Ainda ontem, o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, advertiu na Rede BBC de Londres que o momento "pode ser apenas o fim do começo da crise do euro".

EUA reagem, Europa afunda - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 12/01/12


Enquanto a situação na Europa "caminha" para trás, nos Estados Unidos melhora. Os governos da Alemanha e França continuam se reunindo, levando pitos da diretora do FMI, a assustada Christine Lagarde, para que façam alguma coisa, que decidam não só sobre a dívida soberana com vencimento de 1,3 trilhão este ano, mas sobre a saída da recessão e a retomada do crescimento. Até agora, nada. A dívida pode continuar sendo rolada aos trancos e barrancos, se o Banco Central Europeu decidir comprar mais títulos dos países em crise, o que é absolutamente imprescindível - mas isso não evita a recessão.

Está engraçado. A posição da Alemanha contra aumentos de gastos para estimular a demanda - o desemprego na Eurozona já está em 10,3% e aumentando - é ridícula e está ficando até engraçada. Merkel impõe que todos os governos da Eurozona apliquem uma rigorosa política de austeridade, que aumentem impostos, cortem gastos, despeçam, para reduzir o déficit e a dívida soberana. Mas, se não houver consumo, se a economia do bloco não crescer, quem vai comprar sua produção, mesmo que reduzida, quem aí compraria a produção, mesmo reduzida? Ora, diz Paul Kugman, assinalando esse fantástico contrassenso, os "extraterrestres". Ou será que a Eurozona está pensando que poderá continuar exportando para os Estados Unidos e China? Eles têm seus próprios problemas e um deles é que também precisam exportar mais para a União Europeia - que tem um PIB igual ao dos Estados Unidos e mais de duas vezes o da China. Essa mesma União Europeia que Merkel quer paralisar.

EUA vão bem. Nesse cenário que desanima até os mais conservadores, em que o FMI continua reduzindo as revisões de crescimento da economia mundial e apontando para um recuo ainda maior dos G-7, a boa noticia é que a economia americana começa a reagir. Não são sinais isolados, mas sinais claros.

O principal é o desemprego que recuou de quase 10% da força de trabalho para 8,5%. Mais importante, não foi o governo, constrangido pelos ultraconservadores medievais do Partido Republicano no Congresso, mas a indústria que criou esses empregos. Um aumento de 6,6% sobre dezembro do ano anterior. Mas é um fato passageiro, dizem os pessimistas? Não! O desemprego vem caindo há seis meses consecutivos! Outro indicador, os americanos estão menos assustados e voltaram a pegar empréstimos nos bancos que estavam com dólares empossados à espera deles.

O que ainda preocupa é o setor imobiliário, onde tudo começou, e reage pouco. Mas o Fed, banco central americano, já afirmou que está atento, pede uma ação conjunta com o Congresso e o Executivo. Vai agir. Não afasta também que pode voltar a injetar mais liquidez, vai emitir mais dólares, mesmo porque o risco de inflação este ano é menor. A prioridade é aumentar o consumo interno com aumento de emprego e renda. E começam a conseguir isso.

Mas e a Europa? Será que ela não vai atrapalhar? Para os analistas, o fato de a economia americana estar reagindo bem enquanto a europeia estagna mostra que há um processo de isolamento da crise. Os bancos fizeram reservas, o Fed oferece liquidez, o crédito interno a juros reduzidos atrai o consumidor, os investimentos estrangeiros no país aumentam e, mais ainda, o governo está realizando uma agressiva política para exportar mais e importar menos.

Resumindo. Os Estados Unidos, que já saíram da recessão, estão fazendo, mesmo com atraso, tudo o que a Eurozona rejeita por imposição da Alemanha que pretende "crescer com austeridade". Como diz Krugman, só se for vendendo para extraterrestres. Para nós, no Brasil, é que não. Mais do que nunca, estamos sendo realistas, nos protegendo e pisando em terra firme. A propósito, uma terra que produz safras recordes e ajuda a alimentar o mundo. Agora é esperar que a economia americana continue reagindo e cresça 3% este ano. E a Europa? Ora, estamos, você, leitor, e a coluna, cansados dessa crise insensatez das Merkels e dos Sarkozys, que dura mais de dois anos. Se der, vamos deixar ela pra lá.

E SEGUE O 'BAZAR DO DOUTOR ROGER' - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 12/01/12


Condenado a 278 anos de prisão sob a acusação de estuprar pacientes, o médico Roger Abdelmassih, foragido da Justiça, deixou para trás uma série de móveis, utensílios e objetos de arte que estão sendo oferecidos à clientela amiga.

A liquidação estava sendo realizada havia seis meses na casa em que ele morava, nos Jardins. Mas agora os objetos foram reunidos num apartamento de dois quartos na rua da Consolação. A divulgação é no boca a boca. Só pessoas indicadas são atendidas por funcionárias que fornecem preços e selos de qualidade das coisas que estão à venda.

Há quadros do francês François Lemoyne (R$ 16 mil) e de Tikashi Fukushima (R$ 25 mil). "Tem um desconto, se for pagamento à vista", diz uma das pessoas que organizam o bazar.

A família de Abdelmassih informa que não há risco de, no futuro, os quadros serem confiscados, já que a Justiça suspendeu o bloqueio de bens do médico. "Tanto que não tem mais quase nada. E ninguém sabe quem comprou. Entendeu? Ninguém sabe nada", informa a mesma organizadora.

Em um aparador logo na entrada da sala, estão expostas taças de cristal da Hermès -o conjunto, de 72 peças, sai por R$ 5.800. As coloridas, da Saint Louis, custam R$ 396 cada uma. E o conjunto de cinco copos de uísque da marca tcheca Moser pode ser comprado por R$ 400. Tudo leva uma etiqueta com preços escritos à mão.

Sobre a mesa de jacarandá e mármore (à venda por R$ 18 mil), está exposta uma escultura de marfim e bronze em formato de bailarina, de Fournier (R$ 11.480). Perto dela reluz uma garrafa de cristal Baccarat com detalhes em ouro e, dentro dela, conhaque francês Rémy Martin Luís 13. Sem preço.

Todos os lustres pendurados no apartamento também estão no bazar. O plafon de estilo art déco Degué é vendido por R$ 13 mil. As arandelas custam R$ 18 mil.

Encalhado, o açucareiro baixou de R$ 240 para R$ 200. No fundo dele ainda dá para ver um pouco de açúcar grudado à prata.

MOTOR LIGADO
O tráfico na cracolândia continua ocorrendo a céu aberto, com a aglomeração de consumidores em torno dos que vendem a droga. A constatação é da própria secretária da Justiça de SP, Eloisa de Sousa Arruda. "Vou lá duas vezes por dia e vejo isso. Quando a polícia chega, eles jogam os pacotes de pedras nos bueiros."

CÉU ABERTO
Ela acredita que no prazo de até um mês o comércio diminuirá. Tráfico zero, no entanto, "é impossível, lá e em qualquer outro lugar da cidade e do mundo". A operação, afirma, pode frear ao menos a venda no meio da rua.

TEMPO REAL
Relatório enviado para o iPad dela ontem dizia que, até às 6h, a polícia já havia capturado 32 foragidos da Justiça na cracolândia -eram 25 até a véspera. Nenhuma internação compulsória tinha ainda sido feita.

REFORÇO DOS CÉUS
O Esporte Clube Bahia vai ter um bloco na lavagem das escadarias do Bonfim, hoje, em Salvador. Os 30 primeiros torcedores que chegarem ao centro de treinamento do clube poderão participar. Rezarão para atrair bons fluídos para o time, 14º lugar no último Brasileirão.

PEIXE VOADOR
Decidido a expandir a divulgação de sua marca no exterior, o Santos vai criar um departamento de relações internacionais dentro do comitê gestor do clube.

CURTA DISTÂNCIA
O ator Malvino Salvador estará na plateia do UFC Rio, no sábado. Ele vai viver no cinema o amazonense José Aldo, astro da principal luta.

LINGUAGEM CORPORAL
Pesquisa da revista "Você S/A", hoje nas bancas, mostra que 23% dos diretores de RH de 39 empresas consultadas acham que tatuagem tira credibilidade para um emprego: 90% vetariam pessoas com mão tatuada. Já o pulso marcado afugentaria 49%.

REIS DO BALCÃO
Chico Millan e Ticha Gregori, do Bar Balcão, nos Jardins, fizeram a tradicional festa de Dia de Reis. Amigos e clientes como a empresária Maribel Whately Neves estiveram lá.

CURTO CIRCUITO

Rodolfo Konder autografa hoje "2012 - O Fim do Mundo", na sede da ABI de São Paulo.

Roger Hodgson se apresenta no dia 26 de abril, às 22h, no Via Funchal. Classificação: 12 anos.

A peça "A História de Nós Dois" volta a ser encenada amanhã, às 21h, no Teatro Gazeta. 12 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Não sejamos eles amanhã - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 12/01/12


BRASÍLIA - Na mesma semana, a imprensa registra duas ondas que, de certa forma, se complementam: emigrados mineiros começam a voltar dos EUA e levas de haitianos vêm salvar a vida aqui. O Brasil é o futuro. Mas a boa notícia se esgota aí.
Há anos o Brasil lidera uma força internacional não apenas de paz, mas de recuperação do Haiti, e o país continua atolado na desesperança. O problema, assim, vem bater aqui. Agora, o que fazer com os haitianos que nos pedem socorro?
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alega que é preciso impedir que a situação fique "sem controle". E, ok, nem o Haiti é o México nem o Brasil é os Estados Unidos para que "coiotes" conduzam haitianos como gado através das fronteiras.
Mesmo assim, a decisão do governo de conter a "invasão" de haitianos é muito polêmica e remete não só para as fronteiras dos EUA com o México -nas quais muitas vezes os "haitianos" somos nós- mas também para movimentos racistas da Alemanha, partidos xenófobos da França e o nojo de países ricos diante de imigrantes "piolhentos" de países pobres.
Esquecem-se da causa e efeito entre a velha história de impérios e colônias e a nova realidade migratória. França e Inglaterra, por exemplo, pintaram, bordaram e deixaram rastros mundo afora e depois, como penitência, tiveram que abrigar os refugiados do norte da África e da Índia. Do que reclamar?
Atordoado pela sensação de "potência" e a guinada de exportador para importador de gente (em circunstâncias bem distintas das que trouxeram portugueses e africanos, depois italianos e alemães e assim por diante), o Brasil fecha fronteiras, limita vistos, devolve gente como entulho e discute a "ameaça aos empregos locais". Não é digno da fama, da história, da identidade e da formação da gente brasileira.
No mínimo, essa questão precisa ser muito mais bem discutida. Até para evitar mal entendido.

Como as abelhas exercem a democracia - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 12/01/12


Apesar de terem uma rainha, as abelhas tomam decisões usando um processo democrático, que envolve a formação de opiniões individuais e a construção de um consenso coletivo. Agora foi descoberto um novo mecanismo que atua nesse processo. Um sofisticado processo de inibição é capaz de transformar os proponentes da proposta perdedora em defensores da proposta vencedora. Esse mecanismo permite à colmeia atuar unida após o término da eleição.

O processo de formação de uma nova colmeia é bem conhecido. Uma jovem rainha e um grupo de operárias saem da colmeia original e se agrupam em um local próximo. Sua primeira tarefa é decidir onde vão construir a nova colmeia. É uma decisão importante, uma vez que a escolha de um local ruim pode levar a colmeia incipiente à extinção.

Na primeira etapa, o grupo envia as operárias mais experientes para sondar as redondezas. Cada uma delas escolhe o local que acha melhor e defende a sua escolha. Isso ocorre por meio de uma espécie de dança. Essa dança tem duas partes: a primeira consiste em caminhar rebolando em linha reta; a segunda, numa curva sem rebolado, que faz com que a abelha volte para onde iniciou seu rebolado.

O comprimento do percurso em que a abelha caminha rebolando indica a distância até o local proposto; o ângulo da curva indica a direção em que as abelhas têm de voar para chegar ao local. E o número de vezes que ela repete a dança indica a avaliação que ela faz do local. Normalmente, diversas abelhas visitam cada local e fazem a propaganda dele para as colegas. Os diversos partidos políticos (cada um defendendo seu local) dançam até convencer a maioria. Quando isso ocorre, termina a eleição e todas as abelhas, mesmo a rainha, partem para o local escolhido e começam a construir a nova colmeia.

Quando estudaram a maneira como as abelhas analisam as diversas propostas e tomam a decisão (apuração dos votos e declaração da proposta vencedora), cientistas observaram que durante a dança ocorria algo estranho. Enquanto uma abelha dançava, várias outras davam cabeçadas na dançarina - e, dependendo do número de cabeçadas, parecia que ela resolvia parar de repetir a sua dança. Aí eles se perguntaram quem eram as abelhas que davam as cabeçadas.

Para identificá-las, soltaram grupos de abelhas que procuravam um local para fazer uma colmeia em uma ilha deserta, sem locais adequados. Nessa ilha, colocaram duas caixas de madeira adequadas para a nova colmeia. Mas essas caixas continham pequenas quantidades de tinta; assim, as operárias que visitavam as caixas ficavam com as costas marcadas de amarelo (caixa 1) ou rosa (caixa 2). Assim, os cientistas puderam filmar as danças das operárias, identificar as que estavam propondo a caixa 1 ou a 2 (rosa) e contar os votos.

Intriga da oposição. A observação mais interessante foi a identidade das abelhas que davam as cabeçadas. Se uma abelha "amarela" estava dançando, as cabeçadas inibitórias eram sempre das "rosas" e vice-versa. Eles também demonstraram que o número de cabeçadas inibia a quantidade de dança e, portanto, o poder de convencimento das abelhas.

Como as abelhas que possuem maioria têm mais possibilidades de dançar sem levar cabeçadas - e ao mesmo tempo têm a possibilidade de dar mais cabeçadas nas defensoras da proposta adversária -, esse mecanismo leva a uma convergência mais rápida para o consenso. Os cientistas fizeram modelos matemáticos que simulam esse mecanismo de inibição e eles confirmam que a presença de um mecanismo de inibição leva a uma decisão mais rápida, convertendo os perdedores em adeptos da proposta vencedora, garantindo que as abelhas fiquem alinhadas com a proposta vencedora e juntem forças para construir a colmeia no local escolhido.

Nas democracias humanas, não temos um modelo semelhante. Mesmo depois de conhecida a vontade da maioria, é normal os perdedores sabotarem a vontade da maioria. É verdade que muitas vezes ouvimos discursos nos quais o candidato derrotado decreta que "decidido o pleito, vamos trabalhar juntos pela proposta vencedora", mas na maioria das vezes isso não passa de retórica.

É interessante observar como as abelhas, mesmo com um cérebro minúsculo e comportamentos relativamente simples, implementam um processo democrático eficiente, que resulta na execução rápida e eficaz da vontade da maioria. É uma evidência de que o ego dos políticos humanos é um dos componentes que prejudicam os processos democráticos. Abelhas, afinal, que se saiba, não possuem ego ou orgulho exacerbado nem pecam pela falta de humildade.

RELIGIÕES - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 12/01/12
Se for eleito, Mitt Romney será o primeiro presidente mórmon dos Estados Unidos, ou, que eu saiba, de qualquer outro país. A igreja mórmon foi criada no século dezenove pelo americano Joseph Smith, que a baseou em contatos pessoais que teve com Deus e com Jesus Cristo e em mandamentos que recebeu das mãos de um anjo chamado Morôni, na forma de tabletes de ouro.

Quando John Kennedy candidatou-se a presidente dos Estados Unidos diziam que ele jamais se elegeria, pois um católico teria que ser mais leal ao papa do que à constituição do país. Kennedy se elegeu e, no seu curto governo, nunca consultou o papa sobre nenhum assunto de estado. Hoje ninguém parece ter um temor igual com relação à religião de Romney. A religião tem mesmo estado ausente nos debates entre os republicanos que querem ser candidatos à presidência. Talvez porque Romney não seja um mórmon praticante. Sua religião permite a poligamia, por exemplo, e ele só tem uma mulher. Se bem que, depois de elegerem Barack Obama, os americanos provavelmente não hesitariam em experimentar esta outra novidade: três ou quatro primeiras-damas em vez de uma!

A religião de cada um é questão de cada um e não deve mesmo fazer parte do embate político, e o mundo e a vida são coisas tão misteriosas que nenhuma teoria sobre de onde viemos, para onde vamos e quem pagará a corrida é mais improvável ou menos absurda do que outra. Toda a civilização cristã se baseia em mitos e milagres apenas mais antigos dos que os relatados por Joseph Smith. Mas não há como não se assustar com o poder crescente em nossas vidas do fundamentalismo, que é a religião no seu estado impermeável. O poder real no Irã não é o do presidente Ahmadinecoisa e dos políticos, é dos aiatolás e suas mentes medievais. Uma minoria ortodoxa insiste em fazer de Israel uma teocracia sem concessões, e o radicalismo do lado palestino não é menor. O fanatismo religioso islâmico inquieta e a reação ao terror também. E o mais assustador é tudo que as pessoas estão dispostas a acreditar – ou tudo que uma mente religiosa está predisposta a aceitar, de pastores pilantras a martírios suicidas. O sono da razão gera monstros, diz aquela frase numa gravura do Goya. O sono da razão parece ficar cada vez mais profundo, na noite atual.

Como Romney ainda não foi chamado a falar da sua religião, não se sabe como seria uma hipotética intervenção do anjo Morôni nas suas decisões, na presidência. Por via das dúvidas, é melhor torcer pelo Baraca.

Ambição reduzida - MERVAL PEREIRA


O Globo - 12/01/12


A presidente Dilma parece estar com dificuldades para fazer a reforma ministerial que deveria marcar o recomeço de seu governo sem magoar sua base política, tão díspar e heterogênea que não cabe em um Ministério de tamanho normal. Esse Ministério tamanho GG - 39 ministros ou secretários com status de ministros - abarca não um programa partidário, mas os interesses dos vários partidos que tomaram a barca do governo, alguns deles quando a viagem já estava em andamento, como o PSD, que ainda não tem um lugar ao sol sob a proteção do governo Dilma, mas terá mais cedo ou mais tarde.

Como organizar esse xadrez político para fazer uma reforma que não desagrade a petistas e aliados? Como viabilizar a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura paulistana sem fazer um agrado à senadora Marta Suplicy?

Mas onde colocá-la, se o Ministério da Educação já foi prometido a Aloizio Mercadante, um adversário interno de Marta no PT paulista, pois os dois disputam a liderança petista regional?

A presidente Dilma já teve ambições maiores na reforma, reduzir o número dos ministérios a uma cifra razoável - algo em torno de 20 ministérios -, mas isso é passado.

Juntar Pesca com Agricultura e Portos com Transportes pode ser o máximo que conseguirá, mas mesmo assim há dúvidas.

Portos é uma área do PSB de Ciro Gomes, que teria que receber uma compensação. Mas como satisfazer Ciro sem melindrar o governador Eduardo Campos, presidente do PSB e adversário interno dos Gomes?

Já se teme que a presidente faça apenas mudanças pontuais, uma minirreforma, nada que permita dizer que agora, sim, começou o seu governo.

O que pode ser a indicação de que seu governo continuará sendo igual a este do primeiro ano, amorfo e sem grandes voos.

Especialmente num ano em que a crise econômica promete paralisar eventuais tentativas de ir além do mediano.

A sétima edição do estudo sobre riscos globais de 2012 produzido pelo Fórum Econômico Mundial, que começa no final de janeiro em Davos, na Suíça, analisa o impacto potencial de 50 riscos na próxima década, desde o crônico desequilíbrio fiscal à severa disparidade da renda, passando pela vulnerabilidade da segurança on-line.

O estudo, feito com base na entrevista de quase 500 especialistas e líderes empresariais, levanta a questão de que riscos fiscal, demográfico e social altamente interconectados podem reverter os ganhos da globalização.

Nacionalismo, populismo e protecionismo ameaçam o crescimento global, num momento em que o mundo continua vulnerável a choques financeiros e também a crises de comida e água.

As principais ameaças ao mundo foram divididas em três categorias:

As sementes da distopia - populações inchadas de jovens sem perspectivas, número crescente de imigrantes com países às voltas com grandes débitos, e uma diferença crescente entre ricos e pobres alimentam ressentimentos.

Salvaguardas inseguras - enquanto o mundo cresce em complexidade e fica cada vez mais interdependente, as políticas tradicionais, as normas e as instituições que servem como sistemas de proteção falham nessa manutenção.

O lado negativo da conectividade - Nosso dia a dia está praticamente todo dependente de sistemas conectados on-line, tornando-nos suscetíveis a indivíduos mal-intencionados, instituições e nações que têm a habilidade crescente de deslanchar ataques cibernéticos devastadores remota e anonimamente.

O publicitário Jorge Maranhão, dedicado à causa da cidadania e que no site "A Voz do Cidadão" coloca em debate nossos direitos e deveres, pôs em circulação pelo Rio de Janeiro, no último ano, o Cidadômetro, um utilitário que percorre os bairros do Rio, e também Niterói, para medir o grau de cidadania da população.

"A Voz do Cidadão" definiu três tipos de cidadãos: o "solidário", que deseja participar, mas o faz mais por caridade, convicção moral ou espírito humanitário do que imbuído de uma plena consciência de seu papel na sociedade.

O "consciente", que sabe o seu papel na sociedade e tem posição crítica em relação a governantes, gestores públicos e políticos, mas não passa disso e acha que tudo se resolve com o Estado.

E o "atuante", que, com base na percepção crítica que o cerca, não só pensa como age em direção à cobrança de resultados e à fiscalização de diferentes esferas de poder público, sempre estimulando os outros a fazerem o mesmo. Este seria o Cidadão Exemplar.

O utilitário do Cidadômetro esteve nas seguintes localidades: Central do Brasil, Maracanãzinho, Ipanema, Tijuca, Cinelândia, Centro, Niterói e Madureira.

Jorge Maranhão destaca que, mesmo numa locação de cidadãos de menor escolaridade, os índices de cidadãos intitulados "solidários" permaneceram baixos, desde a campanha de Ipanema e Tijuca, com uma média de 27%.

Os intitulados cidadãos "conscientes" permaneceram na média de 40%, enquanto os cidadãos que se declararam "atuantes" mantiveram-se um pouco acima da média geral de 30%.

O fato de que os mesmos índices de identificação de cidadãos solidários, conscientes e atuantes foram mantidos, independentemente do local ou da escolaridade do cidadão, demonstra que é preciso uma campanha mais intensa para que os verdadeiros valores da cidadania sejam incorporados pela população.

MARIA CRISTINA FRIAS -MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 12/01/12
Eletrobras e Petrobras divergem sobre dívida

Eletrobras e Petrobras estão em disputa por conta de uma dívida referente ao combustível comprado para produzir energia em áreas da Amazônia que não estão interligadas ao sistema elétrico nacional e que dependem de geradores a diesel.

A Eletrobras assume uma dívida de R$ 1,5 bilhão, acumulada desde 2009. A Petrobras avalia o débito em R$ 2,5 bilhões.

Segundo Marcos Aurélio da Silva, diretor de Distribuição da Eletrobras, quase todo o valor é devido pela subsidiária Amazonas Energia, que atende Manaus e o interior do Estado. A dívida tem origem, diz, na mudança das regras, a partir de 2009, da CCC (Conta de Consumo de Combustível) e o menor repasse, desde então, de recursos para as distribuidoras.

CCC é um fundo capitalizado por todos os consumidores do país, que contribuem desde os anos 70 com parcela da conta de luz para bancar a geração de energia no sistema isolado, de custo mais alto.

O fundo é gerido pela Eletrobras, sob orientação da Aneel. Desde 2009, a agência já antecipou recursos da CCC, mas em valores insuficientes para arcar com custos de combustível e manutenção da rede. Silva diz que só em outubro de 2011 as novas regras foram regulamentadas e que os recursos da CCC vão ressarcir "o passivo que foi acumulado" e assegurar os pagamentos futuros.

O executivo diz que os cálculos dos valores devidos estão sendo feitos e que os pagamentos serão retomados em breve. Ele não fixou data.

José Lima Neto, presidente da BR, confirma a negociação e o atraso desde 2009.

"Há outra parcela de R$ 1 bilhão devida à Petrobras, referente a dívidas dos anos 90." Silva, porém, diz desconhecer esse passivo.

Lima diz ainda que "a dívida não afetou o desempenho e BR nem prejudicou o pagamento a fornecedores da distribuidora".

Empresários vão ao Acre para contratar haitianos

Enquanto o governo federal anuncia medidas para conter a entrada de haitianos no Brasil, empresários de MG, SC e RS vão ao Acre para contratar imigrantes.

A catarinense Fibratec, que fabrica piscinas, foi a primeira a viajar para conseguir mão de obra, escassa no Oeste de SC. "Fomos a trabalho para Rio Branco em março e descobrimos que havia gente procurando emprego", diz Érico Tormem, sócio da empresa.

Desde então, contratou 25. Ele foi responsável pelas passagens e acomodação. "Mesmo assim valeu a pena."

A Massas Romena, fabricante de alimentos do RS, deve contratar até 20 haitianos.

"A mão de obra já não é abundante na região de Porto Alegre, e a demanda crescerá por causa das obras de infraestrutura e da Copa", diz André Rosa, diretor da empresa.

Uma construtora de Navegantes (SC) seleciona os haitianos nesta semana. "Temos dificuldade com mão de obra há três anos", afirma o dono da empresa, Alexandre Dias.

O secretário da Justiça do Acre, Nilson Mourão, afirma que uma empresa mineira de construção contratou 40 haitianos para trabalharem em uma obra no Mato Grosso.

Copa... A Prefeitura de Santos tenta incluir a revitalização portuária no bairro do Valongo, que inclui a construção de um novo terminal para passageiros, no PAC da Copa.

...turística O objetivo da medida é agilizar o processo de licitação do projeto, que será custeado pela iniciativa privada, de acordo com o prefeito João Paulo Papa.

ESPETO CANADENSE

A rede de churrascarias Fogo de Chão, que atua no Brasil e nos Estados Unidos, vai expandir seus negócios para o Canadá.

O primeiro restaurante da empresa no país deve ser aberto no final de 2013 em Toronto. Outras três lojas canadenses estão nos planos.

"Escolhemos o Canadá pelo bom momento econômico e, principalmente, por estar próximo aos EUA. A direção americana ficará responsável pelas lojas canadenses", diz o presidente da rede, Jandir Dalberto.

O projeto de expansão da Fogo de Chão foi traçado após a GP Investments (que detinha 35% da empresa) adquirir, no ano passado, os 65% restantes do negócio.

Consta no novo planejamento a abertura de uma loja por ano no Brasil. Em 2012, será em São Paulo (Zona Norte, Alphaville e Jardins são cogitados).

Nos EUA, a ideia é inaugurar três ou quatro unidades por ano. Em fevereiro, ficará pronta uma em Orlando. Boston e San Diego receberão restaurantes no segundo semestre.

Cada unidade da rede receberá aporte de cerca de R$ 9 milhões.

NÚMEROS

US$ 195 milhões foi o faturamento em 2011

38% desse valor refere-se às operações brasileiras

7 é o número de lojas no Brasil

17 são as unidades da rede nos Estados Unidos

CARTÕES LATINOS

O Itaú afirma ter alcançado 1 milhão de cartões de crédito na América Latina.

"O banco tem a liderança no segmento no Paraguai, com 60%, e no Uruguai, com 53%", diz Ricardo Marino, vice-presidente da Itaú Latam. "É o quarto maior no Chile e está presente também na Argentina e no México, onde tem uma pequena operação, com cerca de 50 mil cartões", afirma o executivo.

No Brasil, o Itaú Unibanco tem 47 milhões de cartões.

O banco tem crescido nos vizinhos por meio de parcerias. Fechou um acordo com a Tigo, líder do setor de telefonia no Paraguai, para oferecer um plástico para clientes da companhia.

No Uruguai, na Argentina e no México, a parceria é com a Movistar.

O banco estuda outras parcerias, segundo Marino.

Apoio... A decisão do governo de manter o bloqueio às embarcações das Ilhas Malvinas, como apoio à Argentina pela soberania desse território, deve representar queda de menos de US$ 55 mil no comércio exterior brasileiro.

...pelas Malvinas O recorde no intercâmbio comercial bilateral foi de US$ 53,1 mil, em 2010, segundo dados do Mdic. O valor representou menos de 0,001% no comércio brasileiro daquele ano.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ e PEDRO SOARES