terça-feira, novembro 06, 2012

Ideia fixa - BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SP - 06/11

O Brasil precisa multiplicar os investimentos. A redução dos juros ajuda, mas são necessárias mais medidas

Acabou a temporada eleitoral. Aliás, a eleição foi de novo uma bela demonstração cívica, tecnologicamente avançada e bem organizada -até o bagunçado futebol brasileiro abriu espaço na tabela para não atrapalhar as votações.

Mas não é sobre isso que desejo escrever. Além das eleições, chega ao fim o julgamento do chamado mensalão, faltando só a fixação de penas. O ano, nada favorável à economia, também vai terminando.

Nesse contexto, é hora, mais do que nunca, de pôr de lado divergências ideológicas ou partidárias e concentrar energias para pensar no país. E "pensar no país" significa principalmente buscar a todo o custo a retomada do crescimento sustentável da economia.

Muita coisa já se fez por aqui nesses quase cinco anos de conturbações econômicas mundiais. Felizmente, houve sensibilidade para incentivar o consumo nos primeiros momentos da crise global e atenuar seu impacto no mercado interno.

Também felizmente houve perícia do Banco Central para reduzir os juros a partir de agosto do ano passado, apesar da opinião contrária e comprovadamente equivocada de todo o mercado.

Também já caminhamos na desoneração de folhas de pagamento, com reflexos positivos nos custos de alguns setores.

Desde agosto de 2011, o Plano Brasil Maior atuou para alavancar a competitividade do país e incentivar o desenvolvimento das cadeias produtivas e das exportações. Neste último caso, a política cambial, que mantém o dólar estável e acima de R$ 2, também ajudou.

Vivemos, porém, um momento em que o país precisa multiplicar investimentos. Os juros mais baixos -a Selic está no menor nível de sua história, em 7,25% ao ano- já são um vigoroso incentivo ao investimento produtivo e um desestímulo à especulação financeira.

A forte redução dos juros básicos não teve ainda impacto equivalente nas taxas dos empréstimos às pessoas físicas e às jurídicas. Mas, de qualquer forma, não basta reduzir juros para destravar investimentos. São necessárias outras medidas, como desoneração, retirada de empecilhos que envolvem burocracias variadas, desapropriações, licenças ambientais e falhas de projetos, que prolongam indefinidamente obras públicas ou privadas.

Dados do próprio governo mostram que no setor de transporte foi gasto neste ano menos da metade do montante previsto no orçamento de obras públicas de rodovias, ferrovias e hidrovias, pouco mais de R$ 6,5 bilhões. Com certeza, as execuções não atingirão o valor orçado para o ano, de R$ 13,6 bilhões.

Além de criar empregos, investimentos em infraestrutura são uma necessidade premente num país que aspira ao desenvolvimento e já é a sexta economia do mundo.

Mais da metade dos domicílios brasileiros (54%), por exemplo, não tem rede coletora de esgoto e 60% do material colhido nas redes existentes é lançado a céu aberto.

Em seminário da Fiesp, na semana passada, estimou-se que o país precisa investir R$ 460 bilhões até 2030 para universalizar os serviços de água e esgoto, um trabalho que exige articulação entre governo, empresas e sociedade em geral.

Na área privada, nos setores industriais, a decisão de investir depende de como as empresas locais veem a capacidade de competir. Não há investimento quando o empreendedor está em inferioridade na disputa do mercado interno com fornecedores do exterior. As importações, beneficiadas pelo câmbio e por subsídios na origem, são um desestímulo ao investimento.

Medida correta foi incluída no novo regime automotivo, baseada na alta do IPI de 30 pontos e em descontos do imposto para as montadoras que seguirem exigências de conteúdo local, redução de consumo e investimentos em inovação.

A prova do acerto está no grande número de multinacionais que já trocaram planos de importação por produção local de automóveis.

Eis, portanto, uma estratégia que pode e deve ser repetida em outros setores da indústria.

Destravar investimentos deve ser a nova missão brasileira. E isso só pode ser conseguido com a alocação de recursos existentes, muito trabalho, perseverança e unidade nacional, sem preconceitos de qualquer natureza.

Crescimento e desenvolvimento devem ser ideias fixas de todos os brasileiros da área pública ou privada que pensam o país.


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