quarta-feira, maio 23, 2012

Pacote falha ao não abordar os problemas estruturais - EDUARDO SODRÉ

FOLHA DE SP - 23/05


Os fabricantes de automóveis sabiam, desde o início do mês, que as regras de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) iriam mudar novamente.

Tudo ocorreu conforme o negociado, incluindo o curto prazo de validade da medida (até agosto), que estimula a corrida às concessionárias e antevê provável prorrogação. Contudo, questões importantes foram postergadas.

A manutenção dos empregos é uma boa notícia para os trabalhadores. Entretanto, faltam ações que colaborem para a ampliação da capacidade produtiva nacional (e consequente abertura de vagas), o que só acontecerá se houver condições para exportação.

As marcas que, após as restrições às importações, demonstraram interesse em fabricar veículos no Brasil sabem que o mercado interno não é o bastante para justificar grandes investimentos.

A benesse concedida agora não muda o cenário -e talvez tenha efeito oposto. Constantes mudanças de regras afugentam o investidor.

Fabricantes e importadores estão satisfeitos com a possibilidade de reduzir estoques sem ter de mexer nas margens de lucros -o "prejuízo" ficará com o governo.

O ganho será maior com ações que deem à indústria brasileira possibilidade de se tornar mais competitiva diante de gigantes exportadores como Japão, China e México.

Investir em facilidades para o escoamento da produção, consolidar acordos comerciais, conceder benefícios para a formação de novos polos industriais e corrigir distorções tributárias são medidas que podem gerar impacto positivo a médio e longo prazo, mas têm sido deixadas para um futuro impreciso.

Renúncia fiscal para estimular a indústria é um recurso válido, que tem se mostrado eficaz em momentos de desaceleração da economia. Mas a simples repetição da fórmula não soluciona problemas estruturais.

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