sexta-feira, março 30, 2012

Na meta este ano - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/03/12
A inflação ficará na meta este ano em qualquer cenário. Se os juros não caírem, o IPCA fica em 4,4%. Se caírem, fica no centro da meta: 4,5%. Essa é a aposta do Banco Central. Uma parte disso se confirma porque está havendo uma queda dos preços das commodities no mundo. Mas se o petróleo continuar subindo, e o dólar também, vai ficar mais difícil para a Petrobras não elevar o preço da gasolina. E se o combustível subir esse quadro se altera.

O Banco Central está moderadamente otimista em relação ao país: na sua visão, o nível de atividade melhora ao longo do ano e o Brasil crescerá 3,5% em 2012, mas com uma taxa de inflação na meta, o que torna esse ritmo mais sustentável. Mas o BC aumentou em 0,5 ponto sua previsão de inflação para 2013, de 4,7% para 5,2%, e isso significa que a pequena melhoria no ritmo de crescimento da economia já vai deixar a taxa mais distante do centro da meta.

De qualquer maneira, o quadro está bem melhor agora do que estava no ano passado, neste mesmo momento, em que a taxa de inflação ameaçava ficar acima do teto da meta. E, de fato, a ameaça se concretizou. Durante meses o IPCA ficou acima do limite e chegou a 7,31% em setembro. Mas o quadro agora é de "desinflação global", segundo o Banco Central, e a inflação acumulada em 12 meses já recuou para 5,85% em fevereiro.

Os preços das commodities, em qualquer índice internacional, estão em queda. Tanto os alimentos medidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), quanto pelo CRB (Commodity Ressearch Bureau), um índice que mede também outras commodities que não apenas alimentos, mostram isso. De acordo com o Relatório de Inflação do Banco Central, o índice CRB acumulado em 12 meses saiu de 30,4% de alta, em abril de 2011, para uma retração de 11%, em fevereiro de 2012. Ou seja, passou a ter viés deflacionário. A mesma coisa aconteceu com o índice da FAO, que foi de 38,1% para -9,5%.

Inflação menor é excelente notícia, mas, por outro lado, esses alimentos e matérias-primas com preços menores podem significar menos receita de exportação para o Brasil, altamente dependente de commodities no seu comércio exterior. Mesmo assim, a balança comercial está na verdade melhor do que estava há um ano. O saldo em 12 meses até fevereiro foi de US$ 28,6 bilhões; no ano passado, em abril, era de US$ 21,6 bilhões.

O Banco Central avalia que a economia mundial continuará com baixo crescimento, a crise da Zona do Euro está longe do fim, a economia americana começa a se recuperar, mas o preço do petróleo está instável. Se o petróleo continuar com preço alto, a recuperação dos EUA, que é a melhor notícia no cenário internacional, correrá risco. No ano passado, a alta da gasolina afetou o consumo dos americanos e anulou o início da recuperação.

Além disso, a alta do combustível tem impacto inflacionário independentemente do contexto recessivo em tantos países. É por isso que o primeiro-ministro francês, François Fillon, está tentando mobilizar os países a usarem suas reservas de petróleo para derrubar o preço, que ontem estava em US$ 123 o barril do tipo brent. Mantido esse patamar por mais algum tempo, ficará mais difícil para o governo e para a Petrobras segurarem os preços da gasolina congelados.

O preço do petróleo está volátil por temor de crise nos países produtores. Por isso, a única forma de baixá-lo é o aumento da produção pela Arábia Saudita. A venda das reservas de petróleo dos países pode ajudar por um tempo, mas o mercado precisa de certeza de fornecimento estável.

O mercado tem uma visão de inflação diferente da que o BC mostrou ontem no Relatório Trimestral. A pesquisa Focus feita pelo Banco Central junto às instituições financeiras e consultorias mostrou na última segunda-feira que a previsão para 2012 é de 5,28%, acima, portanto, da prevista pelo governo. Mercado e Banco Central concordam que no ano que vem a inflação vai subir em relação a 2012. Segundo o Boletim Focus, ficará em 5,5%, já distante do centro da meta.

O cenário do Banco Central depende de que os preços internacionais de inúmeros produtos continuem caindo e que o preço do petróleo se estabilize e não haja qualquer novo susto nas economias em crise da Europa. Aqui, o governo está incentivando o consumo através de reduções fiscais e ampliação do crédito para sair do quadro de baixo crescimento. Para evitar que isso produza inflação, o Banco Central tem que estar atento a todos os riscos no cenário. Do contrário, repete-se o mesmo enredo: os juros caem, a inflação sobe, e os juros precisam subir novamente. O mais importante seria ter juros mais baixos de forma permanente.

O risco do ano passado conseguiu ser superado e este ano a inflação está mais baixa, mas ainda não há garantia de que a taxa está mesmo convergindo para a meta em 12 meses como afirma o Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central.

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